Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Figurinha também é informação

Quando chega a Copa do Mundo, muitos tabus reaparecem e cada cidadão retoma seu ritual de comemoração. Uns pintam ruas e muros, outros usam camisas antigas da seleção, muitos compram cornetas barulhentas e tantas coisas mais. Para um grande grupo, Copa é sinônimo de álbum de figurinhas, que os colecionadores consideram documento histórico. Gastar nas bancas, trocar com os amigos e negociar a desejada figurinha – tudo faz parte da brincadeira que atrai pessoas de todas as idades.

O álbum, da editora Panini, custa R$ 3,90, e cada envelope, R$ 0,60. A mania atinge todas as gerações. O comerciante Luiz Carlos Garcia, 38 anos, coleciona o álbum da Copa desde 1982. ‘Coleciono por vício. É uma curtição, um hobby, um prazer. Abrir os envelopes é um tesão’. Ele tem todas as edições completas: ‘Ficarei velho e continuarei a comprar’, afirma. Pretendo passar a tradição de pai para filho’. A estudante Aline Milício, 15 anos, estreou este ano, e pretende continuar nas próximas Copas. ‘Adoro futebol e achei o álbum interessante, até mesmo para ficar um pouco mais informada’, diz a jovem. O assessor de imprensa Juliano Macedo, 19 anos, que começou em 1990 e também coleciona camisas e ingressos de futebol, diz que fica mais informado sobre o mundial.

Já foi criada no Orkut uma comunidade sobre o assunto. Com o nome ‘Figurinhas da Copa 2006’, colecionadores do Brasil inteiro comentam jogos, fazem bolões e combinam encontros para trocas. No Mercado Livre, um colecionador do Rio Grande do Sul, que se identifica como Webnauta, colocou à venda o álbum da Copa de 70 por R$ 5 mil – ‘uma jóia rara para colecionadores, inexistente no Brasil’.

Paixão e vício

Fabricado desde 1970 pela Panini, o álbum de figurinhas do mundial é o único guia oficial com fotos e informações licenciado pela Fifa (Fédération Internationale de Football Association). É vendido em 110 países, traduzido para diversos idiomas e, segundo o diretor-presidente da Panini Brasil, José Eduardo Severo Martins, 56 anos, é o produto mais vendido atualmente pela empresa. ‘Este ano as vendas estão maiores que as de 2002’, diz. ‘O Brasil está mais qualificado, tem chances de ser campeão e a procura é grande por quem gosta do esporte’.

Foram colocados 500 mil álbuns à venda nas bancas até agora, com tiragem de 30 milhões de envelopes – com cinco cromos cada – de abril a maio. Em toda a América Latina, são fabricados por dia 2 milhões e 800 mil envelopes. A distribuição de 3 milhões de álbuns gratuitamente nos jornais Folha de S. Paulo e Agora incentivou ainda mais os leitores a colecionar.

Para o sociólogo Aurélio Eduardo do Nascimento, 49 anos, a tradição de colecionar o álbum da Copa do Mundo não é besteira, pois pode servir de registro histórico. ‘Não vejo tolice nas ações humanas desde que não prejudiquem terceiros’, diz. ‘Se é um desejo e a pessoa se satisfaz com ele, não vejo problema, muito pelo contrário, que ela seja feliz na atitude dela, que é como outra qualquer da vida cotidiana’. Para o sociólogo, a coleção é um recurso de lembrança, de memória e de documentação histórica.

Nascimento acredita que o hábito da coleção reflete o amor pelo futebol. ‘Coleção não é uma questão brasileira, é algo que perpassa sociedades, histórias e comunidades, e de certa forma está vinculado à paixão, que é globalizada, pelo futebol’. A proximidade da Copa faz aflorar a paixão pelo esporte’. O sociólogo observa que é preciso tomar cuidado com o vício, que pode tornar o colecionador um consumidor desenfreado. ‘A gente tem que negociar essa compra’.

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Estudante de Jornalismo, Osasco, SP