Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Filme adiado por temor de represália

A Paramount Vantage, distribuidora do longa O Caçador de Pipas, decidiu adiar o lançamento do filme até que o ano letivo dos atores mirins chegue ao fim, para poder tirá-los de Cabul, no Afeganistão. Há temores de que os meninos e suas famílias sofram represália por causa de uma cena de estupro.


Críticos alegam que o longa, baseado no livro homônimo do escritor Khaled Hosseini, pode vir a agravar tensões entre as etnias pashtun, dominante, e hazara, oprimida. Para tentar evitar não apenas um desastre em termos de marketing, mas também possíveis manifestações de violência, profissionais jurídicos e de relações públicas do estúdio convocaram um time eclético de consultores.


Em agosto, um agente aposentado da CIA, especializado em contraterrorismo, foi enviado a Cabul para calcular os perigos corridos pelos jovens atores. Na semana passada, um assessor político foi de Washington aos Emirados Árabes Unidos para buscar abrigo seguro para as crianças e seus parentes. ‘Se estivermos sendo cuidadosos demais, não tem problema’, diz Karen Magid, advogada da Paramount. ‘Estamos em território desconhecido’.


Cena crucial


O best seller O Caçador de Pipas, lançado em 2003, passa por três décadas da História do Afeganistão, desde antes da invasão soviética até o surgimento do talibã, para contar a amizade entre os personagens Amir e Hassan. O primeiro é um menino rico pashtun, e o outro, um hazara filho do empregado da casa. Em uma cena crucial da trama, Hassan é estuprado por um menino pashtun mais velho.


Ainda que o talibã tenha destruído praticamente todas as salas de cinema do Afeganistão, DVDs piratas costumam chegar ao país logo após o lançamento de longas no Ocidente. Para evitar problemas, a Paramount Vantage adiou em seis semanas o lançamento do filme, para 14/12, quando já terá terminado o ano letivos dos atores mirins. Em janeiro, DVDs do filme indiano Kabul Express, em que um personagem insulta um hazara, levou a protestos e pedidos de execução do ator, que teve que deixar o país. Informações de David M. Halbfinger [The New York Times, 4/10/07].