Na noite de 5 de outubro aconteceu a cerimônia de premiação da Première Brasil, a mostra Nacional competitiva do 12º Festival de Cinema do Rio de Janeiro. Quem levou o troféu Redentor foi o filme VIP´s, do diretor Tonico Melo (oriundo do Olhar Eletrônico, produtora de mídia paulista que já abrigou Fernando Meirelles, Marcelo Tas e outros). O filme ganhou também os prêmios de melhor ator (Wagner Moura), melhor ator coadjuvante (Jorge D´Elia) e melhor atriz coadjuvante (Gisele Fróes). O roteiro, escrito por Bráulio Mantovani e Thiago Dottori, conta a história do farsante Marcelo Nascimento da Rocha, aventureiro e golpista, preso em 2009, quando acabava de aplicar um golpe numa empresa de informática em Rondônia. Marcelo vendeu os diretos de venda sobre um livro a ser escrito sobre ele a Mariana Caltabiano. A autora publicou em 2005, pela editora Jaboticaba, o livro VIP´s – A História real de um mentiroso. O filme é baseado no livro.
Marcelo é um sujeito curioso e pode muitas vezes parecer engraçado. Há quem o considere publicamente ‘um gênio’, ou inofensivo anti-herói. A admiração pela ousadia, imoralidade e cinismo de Nascimento nos leva a concordar com o repórter Caco Barcelos, que disse recentemente à apresentadora Marília Gabriela que o nosso povo, em sua totalidade e sem distinção de classes, ‘tende fortemente ao ilícito’. O Caco está certo…
‘Heróis’ e ‘anti-heróis’
Marcelo é um predador que explora a ganância que reina hoje soberana em todo o Brasil. Em todo o mundo. Foi condenado por cinco crimes. Jamais clamou inocência e seu ar zombeteiro desafia qualquer um que deseja fazer do Brasil um país melhor. Adaptou-se a um mundo cruel e injusto e tornou-se indiferente ao sofrimento de outras pessoas. Anunciava-se como poderoso e rico, sabendo colher os frutos de suas imposturas. Admirar seus feitos tem o mesmo significado social danoso que rir da brincadeira bizarra e perigosa retratada pela eleição do palhaço Tiririca. O homem que já se passou por membro do Bope, a ‘tropa de elite’ do Rio, mediou rebelião de presos nesta mesma cidade, conviveu com Fernandinho Beira-Mar e seus companheiros do narcotráfico, fez do engano e do logro seu modo de vida, agora está nas telas dos cinemas cariocas. Nada contra o filme. Mas a mentalidade maliciosa e pouco sábia que adota farsantes qualificados como heróis (ou anti-heróis; dá no mesmo…) deve ser repudiada. Urgentemente.
O festival continua até quinta-feira, dia 7 de outubro. Confira a lista de premiados no site do mesmo.
Fontes: G1.com.br; blogs.abril.com.br/lineucagni/2009/10/marcelo-nascimento-rocha; Festival de Cinema do Rio de Janeiro; O Redentor – Jornal do Festival de Cinema do Rio de Janeiro – Edição 2010.
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Consultor de Urbanismo, professor e tradutor