Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Flip começa com homenagem a Machado de Assis

Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 2 de julho de 2008


 


FLIP
Eduardo Simões e Marcos Strecker


FLIP menos estrelada


‘Um ano depois de reunir o maior elenco de prêmios numa mesma edição -quatro escritores acumulando dois Nobel, quatro Booker Prize e um Pulitzer-, a Festa Literária Internacional de Parati chega menos estrelada à 6ª edição, com Tom Stoppard e Neil Gaiman entre os detentores de prêmios mais prestigiosos: quatro Tony (teatro) para o primeiro e 13 Eisner (quadrinhos) para o segundo. A festa começa hoje com palestra do crítico Roberto Schwarz sobre Machado de Assis.


Também neste ano, a Flip tem o seu maior orçamento: R$ 5.088.146,59 (o valor é próximo aos custos de 2006 e 2007, levando-se em conta a inflação). Do montante, R$ 200 mil, cerca de 4%, vão para a diretoria de programação, que vem sofrendo com a descontinuidade. As duas primeiras edições foram organizadas pelo jornalista Flávio Pinheiro, as duas seguintes pela editora Ruth Lanna, e a última, pelo jornalista Cassiano Elek Machado, substituído em dezembro de 2007 por Flávio Moura.


Segundo o arquiteto Mauro Munhoz, diretor da Casa Azul, a associação que organiza a Flip, a saída de Machado se deu com o convite do jornalista para ser diretor editorial da Cosac Naify, o que criaria um conflito de interesses. Machado, no entanto, saiu da direção de programação da Flip em outubro de 2007 e assumiu o novo cargo somente em janeiro deste ano. O jornalista teve sete meses para organizar a Flip 2007, não contou com uma equipe de programação para auxiliá-lo e fez suas tarefas enquanto trabalhava na revista ‘Piauí’.


Já Moura teve menos de seis meses para criar a atual grade. Ele concorda que, num cenário ideal, deveria ter começado seu trabalho já em agosto, mês seguinte à festa, visto que autores renomados decidem suas agendas com uma antecedência muito grande.


‘Por uma série de razões, não foi possível. Não acho, no entanto, que tenha prejudicado. Foi possível colocar de pé uma programação de qualidade’, diz Moura, que não concorda que a Flip 2008 seja menos estrelada. ‘É normal que as pessoas perguntem por estrelas em função dos convidados que já vieram. É um risco de fetichismo em que a Flip não pode cair.’


Evento literário de maior prestígio no país, a Flip já teve autores do porte do sul-africano J.M. Coetzee, de Ian McEwan, do historiador Eric Hobsbawm, da americana Toni Morrison e do turco Orhan Pamuk.


‘Tem diferença entre a projeção no Brasil e a importância do autor. Em termos de qualidade, os convidados deste ano não devem nada aos que já participaram’, afirma o jornalista.


Ainda segundo Moura, a chancela de um prêmio Nobel não é tão importante. ‘Há vários prêmios Nobel que não têm projeção no país. Não vejo como falha da Flip, e sim como virtude, porque a projeção se dá aqui junto a editoras e público.’


Liz Calder


Uma das criadoras da Flip, a editora britânica Liz Calder elogia a programação feita por Flávio Moura (‘Ele fez um trabalho maravilhoso’). Ela, que mora na Inglaterra, já não tem residência em Paraty, mas continua ajudando nos contatos e convites aos autores. ‘A idéia sempre foi de que a Flip fosse totalmente tocada por brasileiros. Há muitas centenas de autores importantes que ainda querem vir à Flip. Consideramos que o evento deve ser uma celebração do mundo literário, seja qual for a forma.’


Em relação aos anos anteriores, uma novidade é a montagem de uma terceira tenda, vizinha à igreja da Matriz, e com custo aproximado de R$ 106 mil. Ela irá abrigar a Livraria da Vila, local para autógrafos e a loja da Flip. Segundo os organizadores, o espaço foi criado para desafogar a saída das mesas na Tenda dos Autores.


Mais renúncia fiscal


A festa deste ano será feita com mais patrocínio indireto, ou seja, com mais dinheiro de renúncia fiscal. Em 2006, a arrecadação com a Lei Rouanet foi de R$ 1.514.650,70, contra R$ 2.260.000 em 2008, um aumento de quase 50% em dois anos. A Flip, pela primeira vez, também recebeu R$ 300 mil do Ministério do Turismo. O sucesso da festa foi um dos fatores que ajudaram a Casa Azul a também receber pouco mais de R$ 400 mil do mesmo ministério, para tocar um novo projeto cujo objetivo é valorizar produtos culturais e belezas naturais.


Segundo Munhoz, o aumento da arrecadação com lei de incentivo compensa as perdas nas parcerias, sejam elas nacionais (desde 2006, a Flip não tem mais cortesias de companhias aéreas) ou locais (as pousadas de Paraty teriam diminuído os descontos, de olho no crescente público que vai para a cidade fluminense, num período de ocupação que já rivaliza com o Ano Novo e o Carnaval).’


 


 


Plínio Fraga


‘Não alimente os escritores’


‘RIO DE JANEIRO – No Brasil, o equivalente a 77 milhões de pessoas dizem não gostar de ler, segundo a pesquisa ‘Retratos da Leitura no Brasil’, divulgada em maio pelo Instituto Pró-Livro. As principais razões para aqueles não-habituados à leitura: lêem muito devagar (17%); não têm paciência para ler (11%); não compreendem o que lêem (7%); não têm concentração para ler (7%). O brasileiro que lê, em média, conclui 4,7 livros e compra 1,2 exemplar a cada ano.


Se a genialidade é 10% inspiração e 90% transpiração, a leitura deve ser 90% instrução e 10% transpiração, entendendo que as dificuldades apontadas pelos não-leitores vêm do sistema de ensino.


Hoje começa a sexta edição da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip. Paraty se inspira em festas literárias como a realizada em Hay-on-Wye, na Inglaterra, talvez a mais celebrada do mundo, cuja edição deste ano se encerrou no mês passado. Celebrada e pouco conhecida. Quando Arthur Miller foi convidado para Hay-on-Wye, perguntou: ‘É um sanduíche?’ Neste ano, os ingleses ouviram, por exemplo, Jimmy Carter, Salman Rushdie e Martin Amis -os dois últimos passaram pela Flip, que recebe Tom Stoppard, David Sedaris e Richard Price, entre outros.


Haverá os que apontarão como crítica à Flip o domínio das editoras ou o domínio das paulistas entre elas; haverá os que dirão que nos anos anteriores os palestrantes foram mais bem escolhidos; os que reclamarão de convidados decadentes, de debates sem sentido, de restaurantes e hotéis sem infra-estrutura. E haverá os que vestirão em Paraty a camiseta-campanha contra a exploração sexual: ‘Não alimente os escritores’. Mesmo que válidas algumas dessas restrições, a Flip ainda será um flerte sorridente com o livro num país de banguelas.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


FMI, Fed e a inflação


‘Só na manchete da BBC Brasil, desde a Argentina, Lula questionou que ‘até agora o FMI não deu um palpite de como os EUA devem fazer para consertar sua economia’. E que o Fed ‘estranhamente’ não elevou os juros. ‘Temos que ter cuidado para que eles não joguem com a inflação de alimentos ou vamos ver logo, logo o FMI vindo aqui e já sabemos o resultado: recessão, desemprego.’ A exemplo da China e da Índia, afirmou que a alta dos alimentos se deve à especulação, não à demanda nos emergentes. ‘Queira Deus que a cada dia mais um chinês possa estar comendo e que possamos vender mais os nossos alimentos.’


FORD EM QUEDA


Na manchete do site do ‘New York Times’, ontem, ‘Vendas mergulham e montadoras são atingidas duramente’ nos EUA, Ford sobretudo.


Os motivos foram ‘a desaceleração econômica e os altos preços da gasolina’. O site Drudge Report celebrou que pelo menos a ‘GM segurou a Toyota…’. A japonesa também sentiu a queda nos EUA.


STARBUCKS TAMBÉM


Na manchete do mesmo Drudge, porém, ‘Starbucks fecha 600 lojas nos EUA’. Os sites de ‘Wall Street Journal’ e ‘Financial Times’ também destacaram que a crise atingiu a rede de lojas de café, considerada um símbolo do país.


Outro símbolo, a cerveja Budweiser, seguia ontem sob pressão de compra dos brasileiros da InBev, no ‘WSJ’.


EUA, CHINA E O MERCOSUL


A agência americana Associated Press deu um despacho da reunião do Mercosul, com o título de que Hugo Chávez ‘chamou de bárbaras’ as leis de imigração da Europa.


Já a agência chinesa Xinhua, só ontem, despachou pelo menos cinco reportagens da Argentina -sobre o acordo de comércio do Mercosul com o Chile, o questionamento dos subsídios agrícolas dos países desenvolvidos etc. etc.


‘TOP PICK’


Desde a Argentina, na Reuters, Lula falou mais, que o Brasil ‘começa a tirar petróleo do pré-sal em setembro’. Não de Tupi, que produziria a partir de março do ano que vem, mas do poço Jubarte, ‘em pesquisa que a Petrobras perfurou um pouco mais’.


Petrobras que, diz a Bloomberg, ‘é cotada pelo JP Morgan como ‘primeira escolha’ entre empresas de petróleo’.


DE LOBÃO À GREVE


Já o ministro Edison Lobão segue na cruzada para tirar Tupi e outros da Petrobras e passar a uma estatal que ele pretende criar. No ‘Globo’, atacou o presidente da Petrobras, que ‘torce só pela empresa’ enquanto ele ‘defende o povo’ com sua nova estatal.


Não ecoa no exterior, onde Dow Jones e outras dão prioridade a uma ameaça de greve de funcionários da Petrobras.


ETANOL NO 4 DE JULHO


Deu no site do ‘WSJ’, ontem, que o ‘lobby do etanol’ Única está no ar com uma campanha voltada ao feriado do Dia da Independência nos EUA. O ‘ad’ traz depoimentos de americanos sobre o efeito ‘assustador’ do preço da gasolina e contra ‘o tratamento injusto’ dado ao petróleo, que não paga a tarifa de importação cobrada do etanol brasileiro.


Por outro lado, o ‘FT’ noticiou que o preço do açúcar chegou ao nível mais alto em quatro meses, com a notícia de que o Brasil está transformando mais cana em etanol.


AO AEROPORTO


No choque de celebridades na campanha dos EUA, a Fox News achou o ator Stephen Baldwin, que declarou, para escândalo de sites como o Huffington Post e Drudge: ‘Se Barack for eleito, eu vou deixar este país. É oficial’’


 


 


IMPRENSA NA JUSTIÇA
Folha de S. Paulo


Juiz condena fiel que moveu ação contra a Folha


‘O juiz Gustavo Assis Garcia, da comarca de Quirinópolis (GO), condenou Fabiano Nazário Marques por litigância de má-fé, ou seja, uso do Judiciário para fins ilícitos, ao extinguir ação de indenização contra a Folha e a jornalista Elvira Lobato por considerar que o autor era parte ilegítima.


Marques alegou ter sido ofendido com a reportagem ‘Universal chega aos 30 anos com império empresarial’, publicada em dezembro.


‘A ação mostra-se deslavada tentativa do autor para, usando o Poder Judiciário, causar gravame aos réus, por não concordar com a publicação da matéria jornalística. Trata-se de iniciativa orquestrada, arranjada, previamente preparada, com fim espúrio de gerar constrangimentos aos demandados’, afirmou o magistrado.


O autor da ação deverá pagar uma multa, as custas do processo e os honorários dos advogados.


Fiéis da Universal moveram 98 ações contra a Folha em todo o país. Até ontem, foram 39 decisões favoráveis ao jornal.’


 


 


SARKOZY
Folha de S. Paulo


Presidente bate boca com técnico de TV


‘O presidente francês, Nicolas Sarkozy, se aborreceu ontem com um técnico de televisão que ignorou seus cumprimentos, nos bastidores de uma entrevista ao canal público France 3. As imagens circulam na internet em um vídeo no site You Tube. ‘É uma questão de bons modos’, reclamou Sarkozy com o funcionário que lhe ajeitava o microfone e a quem havia antes desejado um ‘bom dia, senhor’. ‘Quando alguém é convidado, tem o direito de receber um ‘bom dia’. Ou você não deveria estar no serviço público, mas entre manifestantes! Incrível e grave.’’


 


 


LUTO
Associated Press


Morre Clay Felker, fundador da ‘New York’


‘Clay Felker, publisher que revolucionou o mercado de revistas dos Estados Unidos e criou a ‘New York’ em 1968, morreu ontem aos 82 anos vítima de um câncer na garganta.


Nos anos 1960 e 1970, a ‘New York’ de Felker se tornou o expoente dos últimos furos sobre a alta sociedade, negócios e política. ‘Ele criou um tipo de revista que nunca tinha sido visto’, diz o atual editor da revista, Adam Moss.


Sua fórmula de sucesso: designs ousados e o ‘novo jornalismo’ -textos que flertam com a literatura.


Felker também foi editor de dezenas de outras publicações, como ‘Life’, ‘Time’ e ‘Esquire’. Desde 1984, era casado com Gail Sheehy, com quem adotou uma criança de um campo de refugiados no Camboja.’



 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Para Record, espionagem é blefe da Globo


‘A cúpula da Record chegou à conclusão de que a acusação da Globo de que um funcionário dela estava servindo de espião à rede de Edir Macedo é blefe da concorrente. Na última quinta, a Globo emitiu nota oficial dizendo ter interpelado a Record, ‘sobre uma possível ação de concorrência desleal’, após demitir um funcionário que teria enviado, via e-mail corporativo, ‘informações sigilosas’ a uma profissional da Record.


As informações sigilosas, segundo a Record, seriam uma lista de fornecedores de madeira para a confecção de cenários.


A Record sustenta que não haveria nada de estratégico nessa lista. Argumenta que ninguém faz espionagem por e-mail corporativo e que, se fosse mesmo espião, o funcionário da Globo teria sido preso.


Para executivos da Record, a Globo usou a demissão e o comunicado para ‘intimidar’ seus próprios funcionários e alertá-los de que monitora e-mails e que não tolera troca de informações com ‘inimigos’.


A Record também sustenta que, até as 14h de ontem, não havia sido notificada pela Globo.


A Globo enviou à Folha cópia do protocolo da carta de notificação, registrada às 15h14 do dia 26 e distribuída para o 3º Ofício de Títulos e Documentos do Rio de Janeiro. A emissora reafirma que as informações enviadas à Record eram sigilosas e estratégicas porque poderiam transferir sua expertise na confecção de cenários.


VOCATIVO Os funcionários da Globo e da Record que trocaram informações consideradas sigilosas pela primeira se referiam um ao outro de forma bem peculiar, revelando intimidade. Nos e-mails, a moça da Record e o funcionário da Globo se chamavam de ‘nó’ e de ‘nó cego’.


SONDAGEM 1 Autor de ‘Os Mutantes’, produção da Record que está impedindo que a novela das oito da Globo ultrapasse a marca de 40 pontos no Ibope da Grande SP, Tiago Santiago foi sondado a mudar de emissora.


SONDAGEM 2 Segundo Santiago, um executivo da Globo o abordou em um restaurante e o convidou a consultar a emissora quando seu contrato com a Record vencer, o que só ocorrerá em 2011.


CONTRA O TEMPO Ao lado de Fábio Assunção, Thiago Fragoso será um dos protagonistas de ‘Negócio da China’, próxima novela das seis da Globo, na qual interpretará um lutador. O ator terá menos de um mês para aprender kung fu.


GUERRILHA Ney Latorraca também estará em ‘Negócio da China’. Segundo o autor, Miguel Falabella, ele fará um homem que permaneceu anos seqüestrado pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).


FIASCO Fracassou a idéia do SBT de melhorar a audiência do ‘Hebe’ transferindo o programa para as 20h. Anteontem, a atração deu só 4,2 pontos. Menos do que uma semana antes (5,1), quando entrou às 23h26.’


 


 


Lúcia Valentim Rodrigues


Franquias de ‘CSI’ fecham temporadas


‘O AXN termina duas temporadas dos subprodutos de ‘CSI Las Vegas’. Embora nenhuma delas se compare à qualidade do original, as franquias têm mantido uma boa parcela dos fãs com reviravoltas de última hora nos capítulos finais. O fim da sexta temporada da versão Miami (hoje) e o da quarta de Nova York (amanhã), ambos no AXN, repetem essa fórmula.


O ‘CSI: Miami’ sofre de uma mão pesada na direção, o que leva a mostrar cenas fortes, como a da abertura deste capítulo, em que um homem cai espatifado no chão para, em seguida, uma investigadora da equipe de Horatio Caine (David Caruso) ser morta com um disparo de um atirador na cabeça.


Com isso, o que era apenas mais um crime em uma cidade violenta vira questão pessoal. Mas há demonstração de força demais e um melodrama envolvendo a família do detetive e as gangues, um excesso provocado pelo ‘toque latino’ da série. Os últimos minutos são um belo suspense, que justificam o anseio pelo retorno do seriado.


Já ‘CSI: NY’, protagonizado por Gary Sinise, tem um ritmo mais arrastado, com o canastrão detetive Mac Taylor como refém e tendo de provar a inocência de um assaltante na morte do gerente do banco.


CSI: MIAMI – 6ª TEMPORADA


Quando: final hoje, às 21h, no AXN; 16 anos


CSI: NY – 4ª TEMPORADA


Quando: final amanhã, às 20h, no AXN; 16 anos’


 


 


ANATEL
Mônica Bergamo


É ela


‘O ministro Hélio Costa, das Comunicações, marcou reunião com o presidente Lula, amanhã, para bater o martelo em relação à indicação de novo diretor para a Anatel. A assessora do Senado Emília Ribeiro é o nome mais cotado.


O ministro vai propor que Jarbas Valente, outro candidato, seja indicado em novembro, quando vence o mandato de mais um diretor da agência.’


 


 


CINEMA
Folha de S. Paulo


Secretaria da Cultura cancela apoio a 4 longas


‘A nova lista de vencedores do concurso de patrocínio a longas de ficção promovido pela Secretaria Municipal de Cultura de SP, divulgada ontem, exclui os quatro títulos que terão suas filmagens realizadas fora da cidade e mantém dois dos filmes que motivaram a anulação do resultado original.


O secretário Carlos Augusto Calil impugnou no sábado passado, com publicação no ‘Diário Oficial’, a decisão do júri, que havia sido anunciada no último dia 14. Pelo concurso, a secretaria distribuirá R$ 5,6 milhões a 12 projetos.


Calil recebera denúncia, feita por cineastas preteridos no resultado, de que o distribuidor Jean-Thomas Bernardini (Imovision), membro do júri, possui contrato com dois dos vencedores -’O Lixo Nosso de Cada Dia’, de Philippe Barcinski, e ‘Trabalhar Cansa’, de Juliana Rojas e Marco Dutra.


Bernardini afirma que informou à secretaria sobre seu vínculo com os filmes. A Folha tenta ouvir o secretário Calil a respeito do assunto desde quinta passada, sem sucesso.


Edital


A vitória de quatro filmes cujas tramas se desenrolam fora de São Paulo também foi questionada pelos cineastas que pediram a impugnação do resultado. Eles argumentam que isso fere o artigo 1.2 do edital, que diz: ‘Somente serão selecionados projetos com vínculos culturais com a cidade de SP’.


‘Lamento que tenha sido essa a decisão’, diz Beto Brant, diretor de ‘Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios’, cuja vitória foi cassada. O longa de Brant tem filmagens previstas em Rondônia.


‘O personagem é paulista. É uma visão do paulista sobre outro Estado, além de a equipe ser paulista e haver a contratação de serviços de pós-produção e equipamento aqui’, diz ele.


‘Não tínhamos compreendido, de início, que os filmes classificados deveriam ser desenvolvidos ao menos em boa parte na cidade de São Paulo. Foi um desencontro de informação. Isso nos levou a rever todos os casos’, diz a poeta Renata Palottini, que presidiu o júri, integrado pelo escritor João Silvério Trevisan, o diretor da Cinemateca Brasileira, Carlos Magalhães, e o jornalista Alcino Leite Neto, da Folha.


Segundo Palottini, as notas que Bernardini atribuiu a todos os concorrentes foram descartadas na nova reunião do júri, realizada na segunda à tarde, sem a presença do distribuidor e após encontro dos jurados com Calil e o secretário-adjunto, José Roberto Sadek.


Em nota divulgada ontem, a Secretaria de Cultura afirma que ‘orientou o júri para que interpretasse o edital no seu sentido estrito e levasse em conta exclusivamente projetos que mantenham vínculo com a cidade de São Paulo’.


Segundo a Folha apurou, o júri da primeira reunião fora informado pela secretaria de que o critério de ‘vínculo cultural com a cidade de São Paulo’ era opcional, e não obrigatório. Por isso, decidiu não considerar o critério na avaliação, o que constou em ata.’


 


 


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Festival de Gramado anuncia brasileiros em competição


‘O Festival de Gramado (www.festivaldegramado. net) anunciou, na manhã de ontem, os seis títulos nacionais que disputarão os troféus Kikitos na categoria longa-metragem, em sua 36ª edição, que ocorre entre os dias 10 e 16 de agosto.


Um dos destaques na competição é ‘A Festa da Menina Morta’, estréia do ator Matheus Nachtergaele na direção, que já havia participado da mostra Um Certo Olhar, em Cannes, em maio.


Outros na disputa são ‘Juventude’, do veterano Domingos Oliveira (‘Feminices’), ‘Netto e o Domador de Cavalos’, de Tabajara Ruas, e ‘Vingança’, de Paulo Pons. ‘Pachamama’, de Eryk Rocha, filho de Glauber, é o único projeto de não-ficção nesta categoria.


‘Nome Próprio’, de Murilo Salles, completa a lista, mesmo não sendo inédito -já que tem estréia em São Paulo marcada para o dia 18 deste mês.


Resta anunciar os cinco concorrentes estrangeiros, o que deve ser feito até o próximo dia 14.


Os homenageados deste ano são o ator Walmor Chagas, que estrela o recém-lançado ‘Valsa para Bruno Stein’, o diretor Julio Bressane (‘Cleópatra’) e o cubano Julio Garcia Espinosa.


A organização também vai dar um prêmio especial para o humorista Renato Aragão, repetindo a homenagem feita ao cearense no Grande Prêmio Vivo do Cinema Brasileiro, em abril, no Rio.


‘Dias e Noites’, de Beto Souza, será exibido na abertura do evento, no dia 10 de agosto, fora de competição.’


 


 


FOTOGRAFIA
Folha de S. Paulo


Fotógrafa paulistana registra artesãos e paisagens do sul da Bahia


‘A paulistana Rosa de Luca, 46 anos, nunca tinha ido ao sul da Bahia. Decidiu passar lá as últimas férias, que acabaram se transformando em trabalho. A fotógrafa conheceu artesãos locais e decidiu registrá-los, ao lado de suas ‘obras’. O resultado é o livro ‘Arte Vida Sul Bahia’, que será lançado hoje, em São Paulo, e ganhará exposição em dezembro, em Trancoso.


O livro é uma espécie de ‘Contemporânea Arte Artistas’ -outro livro de Rosa, com registro de 60 artistas plásticos em seus ateliês- dos artesãos baianos. ‘Quis elevá-los ao status de artistas, porque sinto que são marginalizados’, diz.


Ao todo, são 260 imagens de 38 artesãos e de paisagens da Bahia. O livro traz, por exemplo, a artesã Valéria, que vende colares na praça do Quadrado, em Trancoso, e André Eduardo Néri, que usa miçangas para imitar formas de animais como calangos. ‘Não se pode chamar tudo o que [os artesãos] fazem de arte.


É diferente. Mas tem muito artista contemporâneo que faz coisa sem pé nem cabeça e que, por uma elite de colecionadores, acaba eleito artista’, diz. ‘É claro que há coisas incríveis em arte contemporânea, assim como tem gente que não é grande coisa. Aqui [no livro], acontece a mesma coisa.’


ARTE VIDA SUL BAHIA


Autor: Rosa de Luca


Editora: Alles Trade


Quanto: R$ 98 (240 págs.)


Onde: lançamento hoje, às 19h, na livraria Cultura (av. Paulista, 2.073; tel: 0/xx/11/3170-4033)’


 


 


PUBLICIDADE
Kate Greene, da Technology Review


Propaganda acompanha movimentos do público


‘Uma revolução pode estar a caminho na área dos cartazes de propaganda. Em vez de simplesmente apresentar uma imagem estática, por que não permitir às pessoas interagir com os anúncios?


Essa é a idéia da Samsung, um gigante do setor de produtos eletrônicos, e da empresa de publicidade interativa Reactrix Systems. As duas empresas uniram-se para, até o final do ano, levar ao lobby de hotéis da cadeia Hilton telões interativos de 1,5 metro. Esses dispositivos conseguem ‘ver’ pessoas de pé a até 4,5 metros de distância da tela; com gestos, o público pode disputar jogos, navegar por menus e usar mapas.


Mãos em ação


Com o sucesso em torno de produtos como o Wii, o iPhone e o Surface, da Microsoft, ‘as pessoas estão mais abertas e dispostas a interagir usando as mãos e os gestos’, afirmou Matt Bell, cientista-chefe e fundador da Reactrix.


Fundada em 2001, a empresa de Bell já possui alguma experiência: nos dias atuais, seu assoalho interativo atrai um grande número de pessoas em shopping centers nos EUA.


A idéia básica do sistema da Reactrix, e mesmo em tecnologias baratas como o PlayStation Eye, da Sony, consiste em usar uma câmera para detectar o corpo de uma pessoa e então usar algoritmos computacionais de visão para interpretar aquelas imagens.


Os sistemas da Reactrix e da Softkinetic -outra empresa que atua nesse mercado- diferem do PlayStation Eye pelo fato de que gravam as informações em 3D e não apenas informações bidimensionais.


Como funciona


Nos modelos atuais, feitos pela Samsung, a empresa utiliza uma câmera estereoscópica com duas lentes. Perto da câmera fica uma luz infravermelha que projeta um molde invisível sobre a pessoa posicionada na frente da tela.


Cada lente captura o que se passa de um ângulo um pouco diferente e, com base na disparidade entre as duas imagens, o sistema consegue calcular distâncias com uma exatidão de frações de centímetro. Bell explicou ainda que o molde de luz projetado ajuda o sistema a ter maior precisão em ambientes de iluminação desigual.


Ao gravar as informações, a câmera joga-as automaticamente dentro de um processador especializado em analisar os dados referentes à profundidade de campo, evitando assim a utilização de softwares incapazes de rodar em uma velocidade suficientemente alta.


Tradução de RODRIGO CAMPOS CASTRO’


 


 


Luisa Belchior


Governo fará consulta pública sobre restrição a anúncio de alimento


‘O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, confirmou ontem a intenção de fazer uma consulta pública sobre a restrição à publicidade de alimentos com quantidades de açúcar, de gorduras saturada e trans e de sódio consideradas elevadas pelo ministério.


Na semana passada, a pasta de Temporão apresentou estudo realizado pela UnB (Universidade de Brasília) apontando este tipo de propaganda como a mais freqüente na televisão brasileira.


A idéia, segundo o ministro, é colocar em prática a proposta de consulta pública da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) sobre a oferta e a propaganda e publicidade de alimentos com alto teor de gorduras, de açúcar e de sal (presente no sódio).


Esse tipo de alimentação, de acordo com Temporão, é fator de risco para diversas doenças, entre elas a hipertensão, o diabetes e as doenças coronarianas.


Embora elogie a política de apoio à redução da ingestão de alimentos desse tipo, Temporão disse que não quer ‘tomar decisões’ antes da consulta.


‘Vai ser feita a consulta pública. Vamos ouvir todo mundo para depois poder tomar as decisões’, declarou o ministro ontem, no Rio.


Ainda não há prazo estipulado para a realização da consulta pública.


Fast-food


Estudo da UnB, divulgado na semana passada, constatou que 18% de todas as propagandas de alimentos eram dos chamados fast-food, seguidos de guloseimas e sorvetes (17,%), refrigerantes e sucos artificiais (14%), salgadinhos de pacote (13,%) e biscoitos doces e bolos (10%).


A pesquisa analisou 128.525 peças publicitárias veiculadas em 3.108 horas de programação televisiva.


Dengue


Temporão fez um alerta a todos os governadores e aos prefeitos para que não interrompam os cuidados básicos de combate à dengue.


Embora a epidemia diminua naturalmente nos meses frios, com a chegada do calor, a partir do fim do ano, a tendência é que o mosquito Aedes aegypti, transmissor do mal, volte a se reproduzir rapidamente.


‘Nesta semana eu estou mandando ofício a todos governadores, chamando atenção para redobrar a vigilância, mobilizar a população e limpar as cidades’, afirmou o ministro.


‘Só o trabalho continuado, com muita informação, educação e mobilização da comunidade, vai permitir que nós tenhamos resultados melhores no ano que vem.’’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 2 de julho de 2008


 


FLIP
Ubiratan Brasil


Os anos de chumbo


‘Os anos de chumbo sofridos pela sociedade argentina nos anos 1970 e 80 inspiraram dois autores de origem distinta, que estarão juntos na Festa Literária Internacional de Paraty, que começa hoje – de um lado, o argentino Martín Kohan, autor de Duas Vezes Junho (Amauta, tradução de Marcelo Barbão, 148 páginas, R$ 25) e Ciências Morais (Companhia das Letras, tradução de Eduardo Brandão, 192 páginas, R$ 38), obras que retratam a pesada atmosfera que imperava no país; e, de outro, o americano Nathan Englander, cujo Ministério de Casos Especiais (Rocco, tradução de Paulo Reis) conta a história de uma família de judeus nada ortodoxos às voltas com os desaparecimentos ocorridos na ‘Guerra Suja’ na Argentina, em 1976.


Adolescente durante a ditadura, Kohan observa aquele momento sempre a partir de um ponto de vista aberto. Em Duas Vezes Junho, ele se prende à única derrota sofrida pela Argentina na Copa do Mundo de 1978 para mostrar que também o país perdia com a própria situação. E, em Ciências Morais, o trabalho de inspeção de alunos do Colégio Nacional é o ponto de partida para reproduzir os momentos em que o regime totalitário agonizava. Sobre isso, ele conversou com o Estado.


A ditadura militar argentina tem um peso fundamental em suas obras Duas Vezes Junho e Ciências Morais. Que importância a política tem na literatura e, mais especificamente, nos seus escritos?


Tenho minhas reservas a respeito de certa convenção do romance político que, em geral, tende ao realismo ou à explicitação de sentidos. Busco afastar-me dessas formas. No entanto, encontro em alguns aspectos da história política recente alguns elementos que me interessam questionar. Não faço para dar conta de uma realidade, tampouco para fixar um sentido como ‘mensagem’. Utilizo a política como um campo de significação do que me interessa questionar a partir de outro campo de significação, o da literatura.


Em Duas Vezes Junho, a Copa do Mundo de 1978 é lembrada a partir da única derrota da Argentina no torneio, contra a Itália. No momento em que são lembrados os 30 anos daquele Mundial, você acredita que a Copa foi o primeiro símbolo de aprovação popular da ditadura?


Não, não foi. A ditadura utilizou evidentemente o Mundial para se prestigiar, sobretudo diante dos olhos estrangeiros. Os festejos populares não implicaram necessariamente uma adesão política ao regime. Em todo caso, expressaram, segundo meu ponto de vista, a eficácia do fervor nacionalista, do triunfalismo pátrio, todas essas mitologias. Daí minha decisão de narrar, não uma vitória, mas uma derrota argentina.


A história de Ciências Morais se passa no Colégio Nacional, onde você estudou. Mas você aprofunda o mundo das autoridades e não dos estudantes. Por quê?


Nada poderia me interessar menos que uma obra autobiográfica, do tipo ‘memórias de estudante’. Minha motivação foi justamente contrária: imaginar a vida das autoridades, pessoas que pareciam não ter uma vida íntima. Conceber essas vidas, inventá-las, construí-las e narrá-las, justamente porque em minha passagem pelo colégio era o detalhe mais opaco e mais insondável – isso me interessou. Como já conhecia o mundo dos estudantes, não tive nenhum desejo de descrevê-lo.


Sua intenção foi criar, no colégio, um microcosmo do ambiente então vivido na época pela Argentina? Os preceptores e sua função de delatar erros dos alunos representam o poder que era tão enigmático e violento naquela época?


O Colégio Nacional sempre foi visto como uma versão concentrada do que havia de melhor na Argentina. Não digo que fosse assim, mas era o que se dizia a respeito. Ou seja, faz parte de uma mitologia da argentinidade, que me interessa interrogar pela literatura. Como funciona esse mito, como se fortalece e também como se enfraquece. Durante os anos de repressão, o colégio, o mais tradicional do país, funcionou igualmente a partir dessa relação de correspondência ou de metáfora.


A ditadura e a questão com as Malvinas aparecem, em geral, separadas nos livros de história. Você, ao contrário, preferiu mostrar a relação entre elas. A derrota de uma implicaria também a derrota da outra?


Parece evidente que o final da ditadura militar está diretamente ligado à derrota na guerra das Malvinas. Não vejo como se poderia separar um fato do outro. Por isso que a tal derrota nos deva parecer positiva e proveitosa: uma sorte ter perdido. O que implica uma verdadeira rachadura nos fundamentos do fervor do nacionalismo. Mas para ninguém esse conflito é tão terrível como para os ex-combatentes: eles arriscaram suas vidas em uma guerra que nem sequer convinha ganhar. Não era um conflito perdido, resultado que poderia ser suportável, mas uma guerra que era melhor perder e não ganhar.


Os detalhes com que mostra os mecanismos de controle disciplinar da escola são impressionantes. Por que eles lhe interessam tanto?


Minha escrita tende à lentidão, obrigando uma leitura com minuciosidade. Por isso, os detalhes me atraem: são objeto privilegiado da minha maneira de escrever, que tende mais à cadência e à pausa que à ligeireza. No caso particular desse romance, creio que tal característica sustenta um traço concreto: a obsessão maníaca de quem quer exercer o controle total, aquele que não deixa nada escapar.


Há, também, o falso moralismo do ‘cumprimento do dever’ dos preceptores, em que os fins justificam os meios. Qual sua opinião sobre isso?


Eu me interesso mais pelos fatos comuns do que por aqueles aberrantes, cometidos não em nome do mal mas em nome do bem. Os valores aparentemente mais sólidos e rígidos, o moralismo proclamado a toda voz, estão sempre à frente de coisas abomináveis. Eu me questionei sobre isso e alguns de meus romances se devem a isso: como funciona a obediência, como se forma um obediente e como os dispositivos que ativam as piores causas necessitam dessa classe de mecanismos.


Os preceptores mostravam-se como sinistros mas eram, na verdade, pobres tipos. O mesmo poderia ser dito do general Jorge Videla?


Essa superposição me parece reveladora: ele é, ao mesmo tempo, um criminoso e um infeliz. Sem que o segundo isente o primeiro, nem o debilite em absoluto. Parece-me um aspecto da criminalidade política a considerar: o substrato do miserável. Não digo que funcione sempre, mas sim em alguns casos. Videla pareceria ser um. Às vezes, penso como seria uma tarde na vida de Videla, na prisão domiciliar de sua triste região. Buscar a maneira em que essa imagem completamente patética não amorne a do criminoso, mas o inverso: que o revele em sua verdade mais profunda.’


 


 


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A crise familiar durante o horror da ditadura


‘Foram dez anos de preparação, cuidados, reescrita. Nesse período, o escritor americano Nathan Englander montou um paralelo entre a Buenos Aires martirizada pela ditadura militar (1976-1983)e Jerusalém, cidade onde esse jovem nova-iorquino nascido em 1970 viveu durante alguns anos. O resultado é O Ministério de Casos Especiais, seu primeiro romance (o anterior, Para Alívio dos Impulsos Insuportáveis, reúne contos de admirável firmeza) que acompanha a trajetória de Kaddish Poznan, judeu de temperamento difícil, que ganha a vida apagando lápides de prostitutas e cafetões de um cemitério, a pedido das famílias. A ditadura militar o afeta diretamente com o ‘desaparecimento’ de seu filho Pato.


‘Minha idéia foi criar uma história sobre uma família que é forçada a se unir por conta da dor comum’, conta Englander, que conversou com o Estado por telefone. ‘Também me interessei em falar de uma comunidade na qual certos membros encaram os demais como párias.’ Foi com o passar do tempo, aliás, que o escritor notou que O Ministério de Casos Especiais era, na verdade, uma metáfora sobre o período em que viveu em Jerusalém. ‘Quando me mudei para lá, buscava a paz, mas logo conheci momentos de grande tensão. O mesmo se parece com os cidadãos de Buenos Aires – eles gostam de sua cidade, se dedicam a ela, mas decisões do governo nem sempre colaboram para seu bem-estar.’


Englander passou uma pequena temporada, em 1991, na capital argentina, período em que começou a fermentar tal semelhança. Época também em que descobriu alguns meandros do período de ditadura militar, que aparece no livro sob seu aspecto mais terrível – em uma passagem, por exemplo, Poznan conversa com o piloto de avião que confessa ter jogado jovens prisioneiros no Rio da Prata.


Tal detalhe explica o longo tempo de gestação do romance – Englander cuidou de cada frase, encadeando-as de forma a compor um relato seco mas eletrizante. ‘Não posso negar que gosto de relatos sobre paranóia’, conta ele, lembrando-se do mistério envolvendo Pato que, de resto, ainda deixa obscura uma série de assassinatos cometidos a mando dos militares. ‘Seria ele realmente um revolucionário ou apenas teria aprendido algumas idéias subversivas na escola? Eis uma questão sem uma resposta definitiva.’


Englander, no entanto, faz questão de frisar que não pretendeu escrever um livro político – tampouco uma história sobre a relação entre pai e filho. ‘Trata-se de um relato que acontece durante uma fase obscura da Argentina e que, por acaso, trata de dificuldades familiares.’


A passagem pela Argentina, aliás, contribuiu para a veracidade da história narrada por Englander. Lá, ele conheceu o desespero sem-fim das Mães da Praça de Maio, que ainda clamam por notícias de seus filhos desaparecidos. ‘Ainda fico chocado com a persistência dessas mulheres, que visitam repartições do governo, que fazem testes de DNA, em busca de seus entes. É quando se observa a que caos uma sociedade pode chegar.’’


 


 


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Diversas homenagens a Machado


‘Escritor homenageado pela Flip deste ano, Machado de Assis será lembrado em diversas oportunidades. Uma das mais importantes ocorre hoje, às 19 horas, quando o crítico Roberto Schwarz apontar, em sua palestra, a Poesia Envenenada de Dom Casmurro. Trata-se de um trabalho inédito.


O Bruxo do Cosme Velho será lembrado também por diversos lançamentos. A Jorge Zahar Editor, por exemplo, lança, durante a festa literária, a versão em quadrinhos do conto A Cartomante, de Flávio Pessoa e Maurício Dias. Já a Editora Livro Falante lança dois títulos de Machado em audiolivro. Com narração de Rafael Cortez, os livros são Dom Casmurro e O Alienista. Em agosto, virão as versões de Quincas Borba e Memórias Póstumas de Brás Cubas.


A obra machadiana será lembrada também no cinema e teatro, em Paraty. A Casa de Cultura vai abrigar a mostra Machado de Assis ABL/Cineclube Paraty, com uma série de filmes consagrados como Missa do Galo e Azyllo Muito Louco, de Nelson Pereira dos Santos, e Quanto Vale ou É Por Quilo?, de Sérgio Bianchi. Uma palestra de André Klotzel, diretor de Memórias Póstumas, filme que também será exibido na mostra, abre o circuito. No cinema, aliás, aconteceu uma baixa de última hora: por problemas familiares, o diretor Karim Ainouz cancelou sua participação na Oficina Literária. Será substituído por Sérgio Machado.


No teatro, a programação traz a adaptação do conto Um Homem Célebre, em forma de musical e com direção de Pedro Paulo Rangel, estrelado por Suely Franco. E ainda a apresentação da peça Nonada, montada pela Companhia do Feijão, que retoma célebres personagens machadianos.


Ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco faz uma palestra baseada em seu livro A Economia em Machado de Assis (Jorge Zahar), que trata de temas financeiros da época. E diariamente estará aberta aos visitantes a exposição de fotos O Rio de Janeiro de Machado de Assis no Acervo do Instituto Moreira Salles, com imagens da cidade na segunda metade do século 19 e início do século 20, época em que viveu o escritor. Histórias, aliás, que também não faltam à Flip, cujo anedotário já está recheado, como mostram os seguintes exemplos:


A passagem por Paraty em 2007 parece ter feito bem ao sul-africano J.M. Coetzee. Segundo seu agente literário, coincidência ou não, depois de participar da Flip, o escritor tornou-se mais amável e menos irredutível em relação a participar de eventos. Apesar de não ter concedido nenhuma entrevista e de ter limitado sua participação à leitura de um capítulo inédito de seu novo romance, sem direito a perguntas da platéia, Coetzee foi visto distribuindo sorrisos pelas ruas de Paraty, onde comprava doces caseiros.


Já o rei da simpatia foi historiador inglês Eric Hobsbawm, participante da primeira Flip, em 2003. Além de atender pacientemente qualquer pessoa que o parasse na rua, ele tinha o hábito de diariamente, às 6 da manhã, dar longas caminhadas, de tênis e short. Um dia, chamou a atenção de um grupo de garotos, que passou a acompanhá-lo a distância. Buscando uma aproximação, o historiador foi se apresentar: ‘Oi, sou o Hobs.’


Quem brincou dizendo que quase teve uma crise de identidade foi o jornalista Zuenir Ventura. Embora autor de trabalhos famosos (1968 – O Ano Que Não Acabou), sua fisionomia foi confundida com a de outros escritores. Numa manhã, ele se surpreendeu cercado por um grupo de mulheres, ávidas por serem fotografadas ao seu lado. ‘Nunca imaginamos que ele tivesse um fã clube tão animado’, contou Ruy Castro, testemunha da cena. ‘Só que, na hora de ir embora, elas se despediram com um ‘tchau, Saramago’.’ No mesmo dia, Ventura foi novamente confundido, mas com Millôr Fernandes.


OFF FLIP E FLIPINHA


A Off Flip tornou-se importante opção para quem não consegue ingresso para as mesas oficiais. A programação literária prevê 40 escritores em encontros de leitura, debates, lançamentos e sessões de autógrafos. O Café Literário: Prosa & Verso recebe o escritor português José Luis Peixoto e os vencedores do Prêmio Sesc de Literatura 2007 (Maurício Fiorito de Almeida e Sérgio Guimarães), além das escritoras Beth Brait Alvim, Jeanette Rozsas e Lucila Nogueira. Já o Núcleo Lítero-Dramático Machado de Assis apresenta dois esquetes teatrais, Santa Joana das Idéias, baseado em texto de Hilda Hirst, e a adaptação do conto Noite de Almirante, de Machado. Haverá ainda show de Geraldo Azevedo. Mais informações no site www.offflip.paraty.com. Já a Flipinha traz, na programação infanto-juvenil, 38 apresentações de teatro, música, dança e poesia por 24 das 37 escolas participantes, 11 Cirandas de Autores, mais de dez sessões de contar histórias e uma Ciranda de Bonecos . A programação completa está no o site www.flip.org.br/programa_educativo.php3 .’


 


 


CAMPANHA
Ana Paula Scinocca


Em Caxias, no Maranhão, lista suja em outdoor


‘A candidatura de um casal de ex-prefeitos no município de Caxias, no Maranhão, que responde conjuntamente a 40 processos, levou o Ministério Público Estadual na cidade, localizada a 371 quilômetros de São Luís, a divulgar em um outdoor uma lista de candidatos com fichas sujas.


Às vésperas do início da campanha eleitoral, que oficialmente começa no domingo, a peça publicitária foi colocada à frente da sede da Promotoria e relaciona o nome de 11 ex-administradores públicos e o número dos processos nos quais são réus. Todas as ações, disseram os funcionários à reportagem do Estado ontem, são civis e foram propostas pela Promotoria.


Segundo estimativa do Ministério Público Estadual, o prejuízo aos cofres públicos por parte dos ex-gestores relacionados no outdoor atingiu a marca dos R$ 26 milhões.


Entre os citados que aparecem no outdoor estão o ex-deputado e ex-prefeito de Caxias Paulo Marinho (com 27 processos) e a ex-prefeita e mulher de Marinho, Márcia Marinho (com 13 processos). O Estado tentou, mas não conseguiu localizar o casal Marinho ontem.


Segundo o Ministério Público Estadual em Caxias, a decisão de colocar os nomes dos candidatos com ‘ficha suja’ em outdoor tem como objetivo informar a população sobre a existência das ações e dar, assim, transparência ao processo eleitoral.’


 


 


INTERNET
Fausto Macedo e Brás Henrique


PF retoma ação contra pirataria na internet


‘A Polícia Federal deflagrou ontem mais uma etapa da ação de combate à pirataria na internet iniciada em outubro de 2006. A operação I-Commerce 2, que tenta coibir a comercialização de produtos ilegais, como CDs , DVDs, jogos, filmes e softwares, resultou no pedido de indiciamento de 15 pessoas suspeitas de envolvimento na venda de produtos piratas, sete prisões em cinco Estados e mais oito mil apreensões de diferentes objetos.


A operação foi comandada pelos delegados Fabrício Galli e Elmer Coelho, do Núcleo de Operações da Delegacia de Combate a Crimes Fazendários da PF em São Paulo. Ao todos foram expedidos 49 mandados de busca e apreensão. Todos foram decretados pela Justiça Federal.


Segundo o delegado Galli, organizações dedicadas ao combate à pirataria estimam em US$ 522 bilhões o montante da sonegação no mundo inteiro por ano por conta de vendas ilegais.


As sete prisões em flagrante ocorreram em São Paulo – uma na capital e outra em São José dos Campos -, três no Rio Grande do Sul, uma no Paraná e outra em Rondônia. Eles poderão responder à Justiça pelo crime de violação de direito autoral, que prevê até quatro anos de prisão.


Cerca de 200 agentes federais participaram da ação em nove Estados e mais o Distrito Federal. De acordo com a PF, os produtos eram vendidos em sites na internet e destinados a vendedores ambulantes e também a consumidores finais.


‘A Policia Federal foi a responsável pela operação devido ao compromisso internacional que a União assumiu no combate à pirataria’, informou o delegado Galli, encarregado da operação.


A ação é resultado de investigações policiais feitas após representações de entidades de proteção do direito autoral feitas ao Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos Contra a Propriedade Intelectual do Ministério da Justiça. Entre elas estão entidades como Associação Brasileira de Software e a Associação Antipirataria em Cinema e Música.


De acordo com essa última associação, 48% do mercado fonográfico é dominado pela pirataria. A instituição acredita que quase 60% dos DVDs comercializados no País são ilegais.


INTERIOR


A primeira edição da operação I-Commerce ocorreu em outubro de 2006, quando a PF cumpriu 79 mandados de busca e apreensão em 13 Estados e no Distrito Federal. O objetivo era coibir a pirataria e a venda ilegal de jogos, softwares, filmes e aplicativos via internet.


Em Ribeirão Preto, a Polícia apreendeu CDs com cópias de programas e 33 tipos de jogos de computador durante a operação I-Commerce 2. Esses produtos, além de 20 placas de computadores sem nota fiscal, foram apreendidos numa residência em Monte Azul Paulista.


Os policiais federais fizeram até compras para formar as provas. Não houve prisões na região, já que foram feitas apenas cópias de programas utilizados para reproduzir os CDs.


Segundo o delegado Edvaldo Gênova, se comprovada a pirataria, o responsável vai responder a processo por crime de violação de direitos autorais, que prevê pena de dois a quatro anos de reclusão.’


 


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


A Hebe se enganou?


‘A mudança de horário no SBT pedida por Hebe não deu certo, pelo menos por enquanto. A atração da loira, que foi ao ar anteontem pela primeira vez às 20 horas, registrou média de 4 pontos de audiência, um ponto a menos de quando o programa era exibido após 23h30.


Hebe chegou a reclamar no ar que seu programa estava sendo exibido tarde demais, por conta da estréia de Pantanal. Silvio Santos aproveitou para mexer no horário, antecipando sua linha de shows. Com a mudança, o SBT Brasil, que foi ao ar às 21 horas, não sofreu alteração em seu ibope, mantendo média de 5 pontos.


Já entre as mudanças que deram certo está a alavancada que a volta do Programa Silvio Santos deu no Domingo Legal.


O programa de Gugu registrou um crescimento de 20% em audiência em junho, em comparação com maio, e retomou de vez o segundo lugar em ibope. De médias na casa dos 13 pontos, o programa saltou para 26 pontos de ibope na última semana.


Coincidentemente ou não, o crescimento de Gugu no SBT ganhou corpo com os boatos de sua possível ida para Record.


COLABOROU THAÍS PINHEIRO’


 


 


 


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