Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Folha de S. Paulo

VAZAMENTOS

Amaro Grassi

Jornal da Noruega fura pacto do WikiLeaks

O restrito círculo de veículos de imprensa que tiveram acesso antecipado aos mais de 250 mil reservados documentos da diplomacia americana obtidos pelo WikiLeaks foi rompido pelo pouco conhecido jornal da Noruega ‘Aftenposten’, o principal do país.

Desde o último dia 3, o periódico vem fazendo importantes revelações a partir de despachos aparentemente negligenciados pelos grandes veículos que firmaram o acordo com o criador do site, Julian Assange.

Entre elas estão a existência de um projeto entre EUA e Alemanha para produzir ‘satélites-espiões’, a admissão de Israel de que pretendia levar a faixa de Gaza ‘à beira do colapso’ e a cobrança de propina para entrada de produtos no território palestino.

Desde o fim de novembro, quando foram divulgados os primeiros documentos, as revelações tinham ficado quase que restritas a cinco grandes periódicos: ‘Guardian’ (Reino Unido); ‘New York Times’ (EUA); ‘El País’ (Espanha); ‘Le Monde’ (França); e ‘Der Spiegel’ (Alemanha).

No Brasil, Folha e ‘O Globo’ têm acesso antecipado a despachos do país.

Os vazamentos de documentos são previamente combinados com o WikiLeaks, mas o diário norueguês furou esse pacto.

Procurado ontem pela Folha, o ‘Aftenposten’ confirmou ter recebido os documentos por volta do Natal.

Uma possibilidade é que a fonte seja um ex-funcionário do WikiLeaks que deixou o site insatisfeito.

Fundado em 1860, o jornal conservador possui tiragem de cerca de 380 mil exemplares por dia.

Anteontem, a revista ‘Vanity Fair’ revelou que o ‘Guardian’, além de receber o material de Assange, obteve os documentos paralelamente, a partir de vazamento de dentro do WikiLeaks.

O fato gerou atrito entre as partes, e o criador do WikiLeaks ameaçou processar o jornal caso os papéis fossem revelados antes do seu aval.

 

LITERATURA

Ruy Castro

Grande Huck

Certa vez, ao saber que seus livros ‘As Aventuras de Tom Sawyer’ e ‘As Aventuras de Huckleberry Finn’ tinham sido proibidos numa escola americana do 2º grau, Mark Twain (1835-1910) exclamou: ‘Fizeram bem. Estes livros não são para crianças’. Podia ser só uma frase de efeito, e podia ser que de fato ele pensasse aquilo.

Mas o que Twain diria de Alan Gribben, o professor de inglês que, em 2010, propôs a uma editora do sul dos EUA sanear ‘Huck Finn’ da palavra ‘nigger’ (crioulo), onde ela aparece 219 vezes, e substituí-la por ‘slave’ (escravo)? A nova versão sai em fevereiro. Para Gribben, ‘nigger’ é tão ofensiva que está afastando os jovens da obra de Twain. Daí, resolveu ‘corrigi-lo’.

Bem, se quisesse, Gribben teria muito mais que ‘corrigir’. Em ‘Tom Sawyer’, um homem é assassinado ao violar um túmulo; outro é emparedado numa caverna e morre de fome depois de comer os últimos morcegos e tocos de vela. Em ‘Huck’, a brutalidade ainda é maior: contém 13 cadáveres, além de cenas de escravidão, guerra, miséria e corrupção. E o herói, o menino Huck, detesta ir à igreja e à escola e tomar banho, e adora andar descalço, dizer palavrões e mentir. Grande Huck.

O próprio Twain tinha ojeriza à religião organizada, abraçava qualquer causa política minoritária e era contra quase tudo o que se referisse à ‘maldita raça humana’. Quando saiu, em 1884, ‘Huck’ era um vasto painel da vida no Mississippi, com seu racismo, atraso, costumes, superstições, jeito de falar etc. Daí ‘nigger’ a três por dois. Mas basta saber ler para entender por que Twain usava essa palavra.

Cem anos depois de morto, Twain é o maior autor, até agora, a ser vítima do ‘politicamente correto’ -nos EUA. Como sempre macaqueamos o que eles têm de pior, já demos o primeiro passo por aqui: vamos sanear a Tia Nastácia de Monteiro Lobato.

 

Juliana Vaz e Marco Rodrigo Almeida

História adulterada

No capítulo 32 do livro ‘As Aventuras de Huckleberry Finn’, quando tia Sally pergunta se havia feridos num acidente com um barco a vapor, o garoto Huck responde: ‘Não. Só matou um negro’.

‘Que sorte; porque às vezes tem gente que se machuca’, diz, aliviada, a tia.

Publicado por Mark Twain (1835-1910) em 1884, o romance conquistou milhares de fãs apaixonados e também muitos detratores que o acusavam de racista por conta de passagens como a descrita acima. Por anos foi proibido nas escolas dos EUA.

Quase 130 anos depois, o livro continua a provocar controvérsia. Uma nova versão de ‘Huckleberry Finn’, que deve sair em fevereiro nos EUA pela NewSouth Books, substitui a palavra ‘nigger’ [algo como crioulo] por ‘slave’ [escravo].

Termo racial pejorativo, ‘nigger’ aparece mais de 200 vezes no livro. Autor da ideia da troca, o professor universitário Alan Gribben disse que se sentia constrangido em ter que pronunciar a palavra nas aulas.

Professores e tradutores brasileiros ouvidos pela Folha foram unânimes em criticar a proposta.

‘A onda do politicamente correto pode levar ao apagamento do processo histórico’, disse Sandra Vasconcelos, professora de literatura na USP. ‘Como professora, não posso concordar com essa ‘limpeza’. O uso da palavra deve ser interpretado de acordo com o contexto.’

Heloisa Helou Doca, professora de literatura americana da Universidade de Marília e autora de tese de mestrado sobre Twain, diz que o autor, na verdade, era um idealista que lutou pelos desfavorecidos, incluindo os negros.

‘Twain deu luz a personagens subalternos. A intenção dele era parodiar a mentalidade racista do americano médio do século 19.’

Para Doca, mais útil seria incluir notas explicativas no livro. ‘O importante é mostrar ao aluno o sentido do uso do ‘nigger’ e outras situações que despertam polêmica.’

LOBATO

O caso guarda semelhanças com o de Monteiro Lobato, cuja obra ‘Caçadas de Pedrinho’ (1933) foi, no ano passado, acusada pelo Conselho Nacional de Educação de conter trechos racistas.

Mas os dois autores se aproximam não apenas por terem sido alvo de julgamentos alheios a seu tempo.

Admirador de Twain, Lobato trouxe a prosa do autor americano para o Brasil, na década de 30.

Sua versão de ‘Huck Finn’ contém as palavras ‘negro’, ‘escravo’, ‘preto’ e variantes. Em uma passagem, ‘big nigger’ vira ‘negrão’.

Tradução mais recente do clássico, feita por Sergio Flaksman nos anos 90, traduz o trecho como ‘escravo alto’, mas também usa ‘negro’ ao longo do livro.

Sobre a alteração na nova edição americana, Flaksman disse que ‘me deixa indignado que qualquer editor ou revisor considere legítimo qualquer manipulação a posteriori de uma obra literária’.

Tradutores fazem coro. ‘É o equivalente a estuprar um livro’, afirma Jorio Dauster. ‘Sou contra as atualizações porque desfigura a obra de arte’, conclui Ivo Barroso.

 

Ivan Finotti

Sanitarização de obra de arte é monopólio da estupidez

O que é uma obra de arte, senão um retrato de seu tempo? Não mais, segundo atuais padrões do império norte-americano. Para a nação mais politicamente correta do mundo, voltar atrás e refazer a realidade como ela deveria ter sido (na opinião de alguns) não é problema.

Atentados contra a realidade acontecem há milênios. A própria história, com seu clichê ‘escrita pelos vencedores’, não é fonte de verdade absoluta.

Mas o que espanta no caso desta semana é que quem propôs a alteração no livro de Mark Twain é um professor universitário. E quem concordou são pessoas supostamente comprometidas com as letras, editores de livros.

O professor disse que não quer sanear a obra de Mark Twain. ‘A crítica social aguçada continua lá’, opinou ele. Sim, está lá a crítica social que ele considera digna de estar lá.

Se Mark Twain escrevia crioulo para se referir a escravos em ‘As Aventuras de Huckleberry Finn’ (1884), e não se usa mais essa alcunha no século 21, trata-se de prova incontestável de evolução social. Ao censurar a palavra, o professor e a editora desrespeitam 126 anos de luta por direitos humanos.

Essa mesquinhez histórica não é monopólio norte-americano. Quando a igreja torturava pessoas, aproveitava para pintar panos em cima do pênis e seios de seres bíblicos retratados em quadros e afrescos.

SEXO E ROCK

Séculos depois, lembrou o site do ‘New York Times’ anteontem, o apresentador Ed Sullivan obrigou os Rolling Stones a cantarem em seu programa de TV americano ‘vamos passar um tempo juntos’ em vez de ‘vamos passar uma noite juntos’ (‘Let’s Spend the Night Together’, 1967).

E em 2003, pôsteres da capa de ‘Abbey Road’ (1969), dos Beatles, foram vendidos nos EUA sem o cigarro nas mãos de Paul McCartney, em uma ação feita sem a anuência dos ingleses.

Não, a sanitarização da obra de arte não é monopólio norte-americano; é monopólio da estupidez. Mas eles se esforçam nessa tarefa.

 

TECNOLOGIA

Fernando Mexía, da EFE

Estúdios preparam fim do filme em DVD

A pirataria e o consumo on-line de filmes terminaram por vencer a resistência dos estúdios de Hollywood, que se preparam, ainda que a contragosto, para lançar plataforma de distribuição de filmes via internet, em detrimento dos decadentes DVDs.

Fox, Paramount, Sony, Universal e Warner encabeçam um consórcio de empresas de tecnologia e audiovisuais chamado Digital Entertainment Content Ecosystem (Dece), criado para promover a transição do setor de entretenimento do universo rígido dos suportes físicos à flexibilidade do mundo digital.

A resposta de Hollywood ao desafio da internet terá o nome UltraViolet e chegará ao mercado na metade do ano, primeiro nos EUA e depois no Reino Unido e no Canadá; não está decidido ainda quando o sistema será lançado em outros países.

Mais que filmes ou programas de TV, essa plataforma venderá ao usuário licenças que lhe darão direito vitalício de assistir ao conteúdo que adquira, armazenado em nuvem e acessível via aparelhos conectados à internet.

PROTEÇÃO

O comprador também poderá baixar os filmes, armazená-los no suporte que preferir e fazer cópias sem custo adicional, se bem que o UltraViolet só deve autorizar um máximo de 12 aparelhos para uso do conteúdo.

Essa medida limita a liberdade de uso do conteúdo e foi adotada como forma de combater a pirataria. Além disso, todo o software associado ao UltraViolet incorporará um sistema de proteção que impedirá seu uso ilegítimo.

O consórcio Dece, integrado também por multinacionais como Microsoft, IBM, Nokia, Intel, Motorola e Samsung, anunciou a chegada do UltraViolet durante a maior feira mundial de eletrônica, a Consumer Electronic Show (CES), em Las Vegas.

A ideia é criar um formato padronizado para a distribuição digital de conteúdo, tal como ocorreu quando do lançamento dos vídeos VHS, dos DVDs ou mais recentemente do Blu-ray, ainda que nem todos os grandes nomes do setor apoiem a iniciativa.

A Disney e a Apple vão adotar estratégias próprias.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

Rodolfo Lucena

Indústria de eletrônicos revela otimismo

O mercado de eletrônica de consumo vive um bom momento, já tendo superado a crise de 2009 e se preparando para crescer.

Essa é a visão apresentada pela Consumer Electronic Association, que organiza a CES (Consumer Electronic Show), maior feira de tecnologia do mundo, que acaba amanhã em Las Vegas.

Segundo Steve Koenig, diretor de análise da indústria da CEA, o setor teve em 2010 um crescimento de 13% ante 2009, atingindo vendas de US$ 873 bilhões no mundo.

Os números indicam recuperação ante as perdas sofridas em 2009, quando o mercado global de eletrônica de consumo teve queda de 9% na receita.

Para a organização, a retomada foi em parte devida à demanda reprimida por produtos eletrônicos (por causa das vendas menores em 2008) e em parte provocada pela atração exercida nos consumidores por produtos inovadores, especialmente celulares inteligentes e tablets.

Esse processo deve continuar neste ano, acredita Koenig, citando pesquisas que preveem um crescimento de 10% em 2011.

Um dos fatores notados pelos analistas da CEA foi a sofisticação do consumo, que fica clara no setor de telefonia: enquanto o mercado de smartphones cresceu, o de celulares comuns encolheu.

Outros produtos em alta são os televisores com tela de cristal líquido e os tocadores de Blu-ray. As vendas desse aparelho passaram de 14 milhões de unidades, em 2009, para 23 milhões no ano passado.

Outra batalha surda pelo interesse e pelo bolso do público se trava no terreno da computação portátil.

As previsões são que as vendas de netbooks fiquem estabilizadas neste ano, deixando espaço para o crescimento dos tablets -em termos de produtos anunciados, isso é bem visível na CES, que oferece lançamentos em penca de candidatos a tirar uma casquinha do mercado hoje dominado pelo iPad, da Apple.

O jornalista RODOLFO LUCENA viaja a Las Vegas a convite da Motorola.

 

Brasil pode ter tablet com novo sistema do Google

O festival de tablets que toma conta dos estandes da maior feira de tecnologia do mundo promete se espalhar para o Brasil.

Alem de grandes empresas que já anunciaram a venda no país de seus equipamentos recém-lancados na CES (Computer Electronic Show), que termina amanhã em Las Vegas, também companhias menos conhecidas estão de olho no potencial do mercado brasileiro.

Uma delas é a Stream TV Networks, empresa de Filadélfia criada em 2009 e que mostra na CES ampla linha de tablets baseados no sistema Android, desenvolvido pelo Google.

Há desde aparelhos que usam o Android 2.3, que também equipa smartphones, até uma linha que chega ao mercado no mês que vem e vai funcionar com o Honeycomb, versão do Android especialmente desenvolvida para o uso em tablets.

Os preços variam muito. O eLocity 7, já disponível nos Estados Unidos, custa US$ 349 e tem memória de 4 Gbytes. O próximo dessa família, que tem telas de sete polegadas, chegará ao mercado no mês que vem, terá o dobro da memória e deve custar US$ 399.

Esse será o preço do modelo mais simples da família mais sofisticada, a eLocity 10, que tem tela de 10,1 polegadas de alta resolução e vem com o Android 3.0 Honeycomb.

Equipados com o novo processador da NVidia, o Tegra 2, de 1 Ghz, os modelos são oferecidos com memória de 4 Gbytes a 256 Gbytes; conforme a capacidade, o preço pode chegar a US$ 999.

O vice-presidente de vendas da empresa, Leo Riley, informou que está em negociações com a Synergy, da Califórnia, para acertar a distribuição dos aparelhos no Brasil.

Outro executivo da empresa havia afirmado anteriormente que a chegada dos tablets eLocity ao Brasil já estava acertada, mas Riley preferiu não adiantar nada oficialmente, dizendo apenas que há negociações em andamento.

O jornalista RODOLFO LUCENA viaja a convite da Motorola

 

INTERNET

95% dos usuários do Twitter têm menos de 500 seguidores

Mais de 95% dos usuários do Twitter são seguidos por menos de 500 pessoas, segundo pesquisa da empresa Sysomos, que monitora estatísticas de redes sociais.

Segundo o estudo, isso poder ser reflexo da adesão maciça de internautas ao microblog entre janeiro e agosto do ano passado, período no qual 44% dos que hoje têm perfil no microblog abriram sua conta.

Os perfis considerados inativos, com cinco seguidores ou menos, diminuíram de 46% em 2009 para 32% em 2010.

Mesmo com a expansão, os dados mostram que poucos usuários concentram o tráfego de mensagens do site, já que 22,5% fazem 90% das postagens, e que só 2,2% respondem por quase 60% delas.

 

TELEVISÃO

Mauricio Stycer

‘Sansão e Dalila’ é incapaz de seduzir novos espectadores

Qual o interesse em adaptar a lenda bíblica de ‘Sansão e Dalila’, em 2011, para o público brasileiro?

O que explica o investimento de R$ 13 milhões em uma minissérie com 18 capítulos? Por que o programa com o custo por capítulo mais elevado da televisão no Brasil vai ao ar às 23h? É viável economicamente?

Diante da qualidade mambembe do que foi exibido na primeira semana, haveria ainda outra pergunta a fazer: como e onde se gastou tanto dinheiro?

Acompanhei os primeiros capítulos da minissérie sem encontrar respostas seguras para estas indagações. Arrisco, a seguir, algumas hipóteses.

Este é o segundo grande investimento da Record em minisséries bíblicas. A primeira adaptação, em 2010, foi de ‘A História de Ester’ e seguiu o mesmo modelo: custo alto, roteiro e direção decepcionantes, audiência mediana.

As histórias do Velho Testamento se prestam às mais variadas interpretações, ao gosto de cada freguês.

No caso de ‘Sansão e Dalila’, até o momento, duas ideias têm sido enfatizadas: 1. o herói é incapaz de cumprir a sua missão divina porque prefere os prazeres terrenos; 2. a vilã foi conduzida para o mau caminho por culpa de seu próprio poder de sedução. São temas que, a qualquer momento, deverão ser debatidos no ‘Fala Que Eu Te Escuto’, programa religioso que vai ao ar no início da madrugada da Record.

É apresentado, como se sabe, por bispos da Igreja Universal de Reino de Deus, comandada, como a emissora faz questão de dizer, pelo ‘empresário Edir Macedo’.

O programa religioso tem tanta sintonia com a Record que, há três semanas, no final de ‘A Fazenda’, entrou ao vivo, entrevistando o vencedor do reality show minutos depois que o apresentador Britto Jr. anunciou o resultado.

VICE-LIDERANÇA

Ao expor os seus altíssimos investimentos em ‘Sansão e Dalila’, a Record parece dar satisfação ao seu público e, também, aproveita para reforçar a mensagem que vem transmitindo nos últimos anos: não se contenta, como o SBT fez por muitos anos, com a vice-liderança.

Mas não basta divulgar que investiu mais de R$ 700 mil por capítulo. Precisa saber investir. A minissérie apresenta um roteiro escolar, com frases pomposas declamadas sem convicção e sotaque carioca por atores perdidos em cena.

O ritmo frenético do primeiro capítulo deu lugar a uma trama arrastada nos episódios seguintes.

Sansão perambula pelo deserto, indo e vindo, sem parar. O seu famoso duelo contra um leão, no terceiro capítulo, pareceu filmado por algum discípulo rejeitado de Roger Corman, o rei do chamado ‘filme B’ norte-americano.

Dalila foi dar uma volta pela cidade, encontrou uma amiga, por acaso, viu o padrasto malvado na feira e aproveitou para, com seu poder de sedução, preparar uma armadilha mortal para ele. Ao voltar para o palácio foi punida pela chefe das cortesãs e servida de banquete para um grupo de soldados famintos.

‘Sansão e Dalila’ está longe de ter a força do herói ou o poder de sedução da vilã. A minissérie talvez seja capaz de impressionar o público fiel da emissora, mas não convida novos espectadores a entrar.

MAURICIO STYCER é repórter e crítico do portal UOL

NA TV

Sansão e Dalila

QUANDO ter. a sex., 23h, Record

CLASSIFICAÇÃO 10 anos

AVALIAÇÃO ruim

 

Ana Paula Sousa

TV Cultura deveria fazer infantis e comprar o resto

O empresário Andrea Matarazzo chegou à secretaria de Estado da Cultura, em maio do ano passado, para cumprir um final de mandato. Chegou como quem tateia em terreno pouco conhecido. Oito meses passados e confirmada sua permanência no cargo, Matarazzo fala como quem, ao tomar pé de algumas coisas, não gostou muito do que viu. Na entrevista a seguir, ele revela alguns de seus alvos.

Folha – O senhor já declarou sua insatisfação com o MIS. Pretende mudar sua gestão?

Andrea Matarazzo – Não, mas pedi um novo plano para a atual gestão. O MIS deve manter a posição de vanguarda das novas mídias, mas precisa ampliar seu público. Não dá para receber 60 mil pessoas por ano. Ele precisa fazer um trabalho educativo e ampliar o acervo.

As obras do Teatro da Dança (projeto orçado em R$ 600 milhões) serão suspensas?

O projeto será analisado dentro do conjunto de investimentos do Estado. Como ele está modulado em três fases, vamos redefinir quando cada etapa vai começar.

A política cultural do PSDB, em SP, tem como marca a construção de grandes obras. Qual é, a seu ver, o principal papel do Estado na cultura?

Oferecer cultura de qualidade a quem não tem acesso. Estamos fazendo a infraestrutura. As oficinas culturais também são fundamentais.

Quando o senhor assumiu, houve uma crise nas Oficinas. Mas elas foram reformuladas e estão indo em outra direção. O conteúdo dos cursos foi atualizado, com a inclusão, por exemplo, de atividades voltadas ao ensino de novas mídias e tecnologias.

O contrato com a OS que cuidava das oficinas foi desfeito?

Foi. E nós estamos criando, na Secretaria, uma controladoria para avaliar todas as Organizações Sociais que prestam serviço para o Estado. Quero que a prestação de contas seja mais precisa e que melhorem os indicadores de avaliação.

Ao assumir, o senhor não parecia muito certo de que a OS era o melhor meio para se administrar a cultura. Qual é agora sua posição?

A OS nos dá agilidade administrativa e a possibilidade de fiscalizar as políticas públicas. São irreversíveis.

Vindo de outras áreas da administração pública, o que mais o surpreendeu na cultura? Seu antecessor, João Sayad, ficou impressionado com a fragilidade financeira.

Não, acho que, nos últimos anos, houve uma grande mudança na visão dos governos sobre política cultural. Nosso orçamento é de R$ 1 bilhão, incluindo a Fundação Padre Anchieta (mantenedora da TV Cultura). Me surpreendi com a qualidade da produção cultural, a criatividade dos artistas. A quantidade de criatividade em São Paulo é muito grande.

É difícil atender às demandas dos artistas?

As demandas são muito razoáveis. E estou muito acostumado a conviver com esse meio porque eu praticamente morava com meu tio, o Ciccillo [Matarazzo, fundador da Bienal de SP]. Ele não tinha filhos e eu ia almoçar com ele todos os dias. Coisa de família italiana.

O que o senhor acha do projeto de reforma da Lei Rouanet?

Tenho que falar a verdade para você. Nunca olhei em detalhes o projeto.

A TV Cultura está passando por nova crise. O senhor pretende fazer alguma coisa?

Não. A Fundação Padre Anchieta é independente e quem delibera é o conselho. Só repasso o dinheiro.

Mas, em outros momentos, a secretaria fez pressões por mudanças na TV…

Não na minha gestão. Até porque quem está lá é o meu antecessor aqui [João Sayad].

O que o senhor acha da TV?

Minha opinião pessoal é que, por ser uma TV pública, a Cultura deveria estimular a produção independente, comprando programas de terceiros. Também deveria comprar programas prontos de canais como o The History Chanel ou a Futura, para torná-los acessíveis a quem não tem TV a cabo. A Cultura é referência em produção infantil. Deveria se manter nisso e comprar o resto. Mas isso é uma opinião pessoal porque, como disse, não tenho ingerência nenhuma sobre a TV.

 

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