Não acho admissível que o país do Nelson Rodrigues e de mais uma série de cronistas (se não tão originais ou geniais) combativos, interessados, apaixonados e polêmicos tenha hoje – à guisa de cobertura e crítica do futebol – esse bicho disforme, sem sal, sem açúcar, sem pimenta e cooptado pelo marketing tico-tico que vampiriza o esporte.
Quem ama o futebol tem fome de visões muito mais generosas, mais agudas, de opiniões mais informativas, discordantes e estimulantes sobre o jogo. Hoje, ou lemos, vemos e ouvimos a ‘monocórdia’ da unanimidade ou generalidades interjetivas para adular as ‘galeras’ desse ou daquele clube (sempre tendo a perspectiva mercadológica como mira).
Inveja monumental
O tom dos pretensos cronistas é geralmente entre bonachão e apologético – quando não se apresenta um ‘louco’ cujo truque (de marketing, sempre) é o próprio desparolamento descabelado (mesmo assim, o assunto desses polêmicos mandraques nunca é realmente o jogo, o futebol e suas essências).
Eu leio jornais e sites americanos falando lá dos esportes deles e, sinceramente, sinto uma inveja monumental. Porque ali a figura do crítico esportivo surge como o torcedor interessado espera: eles analisam fundamentos, jogadas, planos táticos, citam as benditas estatísticas, estados de espírito dos atletas, preparo físico, políticas de investimentos dos clubes, falam de místicas do esporte, alertam para as corrosões em curso – enfim, fazem o papel de analistas profissionais e nunca esquecem que seu objeto de análise é um organismo, em que todas as partes têm importância e merecem atenção. Resumindo, não dá para ser burro e ser cronista esportivo. Ou dá?
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Publicitário, São Paulo