Em latim, commentarius era o livrinho em que o commentor escrevia observações e idéias que acompanhavam (com) a sua mente (mens) enquanto lia um texto ou ouvia algum pregador. Na web, é normal que haja espaço para que os leitores deixem seus comentários, elogiosos ou cheios de ira.
Dos elogios sempre gostamos (quem não gosta?), mas o que me atrai são os comentários furiosos, ou simplesmente irritados, ou apenas ranzinzas. O ilustre leitor se sente no direito (e realmente o possui, até certo ponto…) de desancar o articulista, mesmo que mal o conheça. Há até ameaças de surra, como registrou recentemente Reinaldo Azevedo na última edição do ano da revista Veja (edição 1.988).
É certo que também os articulistas costumam provocar, como é o caso das afirmações um tanto agressivas de Reinaldo Azevedo e outros. Ação, reação. Chamativo é que o leitor crítico faça questão de reagir à altura, ou até com mais animosidade! E, por vezes, o que provoca reações desabridas é tão-somente a opinião firme (impopular, quem sabe?) ou o posicionamento claro de quem publicou suas idéias.
Aqui mesmo, no Observatório da Imprensa, leio meio espantado alguns comentários. Este, por exemplo, pretende humilhar o articulista:
Catia Marinho, Recife-PE – estudante
Enviado em 26/12/2006 às 11:44:46 AM
blablabla do dines! não sei o que eu vim fazer aqui nessa página!desisto de ler esse observatório que está com as lentes sujas!
Quase divertido
Ora, neste, como em recados semelhantes, o(a) leitor(a) não teria o trabalho de escrever se não estivesse interessado(a) em voltar a ler aquele que espinafrou. Espinafrar lhe dá a sensação de poder conversar de igual para igual com pessoas cuja carreira profissional foi construída graças ao esforço contínuo da escrita atenta.
Considero salutar que as pessoas se expressem. Os e-mails dos leitores, os comentários online, as sugestões enviadas à redação, a possibilidade de alterar os artigos da wikipédia, a opinião em sites de livrarias sobre os lançamentos… tudo isso faz parte da interatividade, descoberta não tão recente, vitalidade dos meios de comunicação.
Quase acho divertido o modo como os comentaristas mais aguerridos procuram ferir os brios dos autores que escreveram textos incômodos. No fundo, são críticas elogiosas. Certa vez, Luís Carlos Prestes disse ao compositor Taiguara, que acabara de ser duramente criticado: ‘Parabéns, Taiguara, esta crítica é um bom sinal! Sinal de que você está fazendo algo importante!’
******
Doutor em Educação pela USP e escritor (www.perisse.com.br)