Numa semana cheia de assuntos importantes, os grandes jornais conseguiram dar conta dos temas obrigatórios e ainda encontraram energia para alguns ‘furos’ e umas boas pautas exclusivas.
Entre os ‘furos’, o de maior repercussão imediata foi a entrevista do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, a Denise Chrispim Marim, do Estado de S.Paulo, publicada na quinta-feira (24/7). Stephanes negou qualquer importância à Rodada Doha de negociações comerciais, enquanto seu colega de governo, o chanceler Celso Amorim, batalhava numa conferência em Genebra. No dia seguinte foi a vez de Claudia Safatle, do Valor, tomar a dianteira na informação, ao noticiar a preparação de mais duas medidas provisórias para aumentar o salário de mais de 300 mil funcionários federais.
A entrevista com Stephanes foi importante principalmente como informação política. A escolha do comércio agrícola como um dos temas centrais foi uma das grandes novidades da Rodada Doha, lançada em dezembo de 2001. Roberto Rodrigues, ministro da Agricultura no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sempre acompanhou as discussões com muita atenção, municiando, quando necessário, o ministério de Relações Exteriores. O presidente Lula fez da liberalização do setor agrícola uma de suas bandeiras internacionais. De repente, um ministro responsável pela área do agronegócio desqualifica como irrelevante o empenho negociador do governo – e numa semana apontada como decisiva para o sucesso ou o fracasso da Rodada. Nenhum meio de comunicação pôde negligenciar o assunto.
Programas emperrados
O outro ‘furo’, o dos novos aumentos para o funcionalismo, não chegou a causar barulho, de imediato, mas sua importância objetiva é óbvia. O aumento anterior foi destinado a 800.512 funcionários civis e 611 mil militares, além de aposentados e pensionistas. A coluna de Claudia Safatle expôs, além disso, os planos de expansão do quadro de servidores e mostrou como a folha de salários federais é inflada sem regras claras de política de pessoal.
Casualidade ou não, a Folha de S.Paulo repicou no domingo (27/7) com três páginas sobre a evolução de salários e das greves no setor público, tanto na administração direta quanto nas empresas controladas pelo governo. Nem todo o material é novo – o Dieese já havia mostrado, por exemplo, o maior número e a maior duração das greves na área pública –, mas a reunião de todo aquele material produziu um rico volume de informações.
No mesmo dia, o Estadão saiu com uma exclusiva de quatro páginas sobre os investimentos em infra-estrutura, mostrando a predominância do setor privado entre 2001 e 2007, com 54,4% do total investido, e o emperramento dos programas governamentais. Dos 23 projetos do primeiro conjunto de obras das Parcerias Público-Privadas (PPPs), para o período 2004-2007, nenhum entrou em execução, segundo a reportagem.
Estranho detalhe
Assuntos obrigatórios compuseram, como sempre, a maior parte do material publicado na semana. De modo geral, os jornais forneceram ao leitor as informações essenciais, em assuntos como a arrecadação federal (outro recorde em junho), a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), encerrada com mais uma elevação de juros, e os novos capítulos da crise financeira americana. Foi um pouco mais diferenciada a cobertura das negociações globais de comércio em Genebra.
No material sobre o Copom, pelo menos um detalhe estranhíssimo: os jornais deram como surpreendente a elevação da taxa de 12,25% para 13% ao ano. Surpreendente por quê? A maioria dos analistas podia haver apostado num aumento de 0,5 ponto porcentual, mas nenhum economista de respeito havia descartado a hipótese de 0,75. Na véspera da reunião, dois economistas do setor financeiro, entrevistados na Globonews, haviam enumerado argumentos a favor desse aumento maior. Enfim, esquisitices não faltam na imprensa e algumas são bem piores que as outras.
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Jornalista