Enquanto a seleção brasileira fazia um jogo amistoso oportuno, aproveitando a festa de despedida de Ronaldo Nazário, dia 7 de junho último, a Venezuela jogava contra nada mais nada menos do que a atual campeã do mundo, a seleção da Espanha, que surpreendeu sonhadores venezuelanos ao aceitar um convite para jogar em Puerto de La Cruz. Mas uma pesquisa de opinião no país do ditador Hugo Chávez (afeito a plebiscitos), logo após este jogo, revelou que 65% dos torcedores não estão satisfeitos com os 30 jogadores pré-selecionados. A Venezuela é o primeiro adversário do Brasil na Copa América, dia 3 de julho.
Antes de embarcar para a Argentina, a Vinotinto (vinho tinto), como é chamada pelos seus fanáticos torcedores a seleção, viaja para Las Vegas, onde jogará um amistoso contra a seleção sub-23 do México, seleção esta que disputará a Copa América.
Uma varredura na imprensa esportiva da América Latina, desde a crioula venezuelana à guapa cisplatina uruguaia, à portenha tanguera de “mi” Buenos Aires querida, à andina chilena, à inca peruana até a asteca mexicana, incluindo todas as demais hispano latino-americanas, revela um mesmo tom de texto refinado (pelo menos na intenção), àla Gabito, apelido do Nobel de Literatura colombiano García Márquez, inspirador de jornalistas no mundo todo.
A Vinotinto e a bandeira nacional
Lá, a imprensa revela matizes similares à imprensa brasileira quanto ao relacionamento da torcida com as suas seleções, a preferência febril, e às vezes insana, por certos jogadores e a pressão sobre seus treinadores. Só se diferencia mesmo é nos textos, pois aqui a coisa vai de mal a pior. A cobertura de Venezuela e Espanha ponteou os periódicos impressos e digitais com descrições literárias sobre a colcha cor de vinho com que a população por sua vez cobriu Puerto de La Cruz. Vale informar que o Ministério dos Esportes da Venezuela quer impor a troca das cores da camisa da seleção, a Vinotinto, paixão do povo há 60 anos, cores da bandeira da Guarda Nacional, para as cores da bandeira do país de Chávez, vermelha-amarela-verde, o que demanda um pedido de autorização à Fifa e a ressurreição de um conflito cromático antigo, com outras seleções hispânicas.
Não bastassem esses entretenimentos, a imprensa de lá ainda pode utilizar suas páginas para reclamar, por exemplo, que no jogo inédito contra a seleção campeã do mundo foi obrigada a cumprir o seu papel de informar tendo que superar falta de energia, acesso à internet, comodidade de ar condicionado, alimentação e até hidratação. Nem água os jornalistas ganharam no estádio José Antonio Anzoátegui.
Mas, segundo as descrições irônicas dos periodistas venezuelanos, castigados nos últimos anos pela repressão chavista à liberdade de expressão, as atrações da organização do evento, produzidas pelos patrocinadores, conseguiram misturar flamenco e salsa, na apresentação de joropo (dança típica venezuelana, com fortes características de valsa), “sem ser um nem outro”, e rap (latino, claro), para uma plateia de “34.000 almas, bipolar, acostumada a reverenciar as vitórias alheias e onde o amor exacerbado pelo estrangeiro segue sendo uma realidade, por outro lado cresce cada vez mais o fanatismo, sobretudo pelo futebol, a Vinotinto e pela bandeira nacional…”
A Espanha é a sensação
Ao final da “despedida de gala”, manchete venezuelana, Vinotinto 0, Espanha 3, com um banho de água fria na torcida pelo gol marcado por David Villas aos 5 minutos, todas aquelas almas, incluindo as dos jornalistas, dedicaram atenção a um único homem: o treinador César Farias, 38 anos e desde 2007 comandando a seleção do país.
Todos os problemas dos venezuelanos, naquele momento se resumiram em discutir a razão de César Farias ter iniciado com um esquema 4-2-3-1 e, no segundo tempo, mudar para 4-4-2. No segundo tempo, César Farías colocou Miku, Di Giorgi, Arango e Meza “que teriam dado um certo equilíbrio ao jogo” [equilíbrio entre a Venezuela e Espanha? Observação do signatário]. E parte da atenção procurava ainda justificativa para a demora no tratamento da lesão do craque atacante venezuelano Salomón Rondon e se ele estará em forma para a Copa América.
Segundo César Farias, sua seleção está sendo preparada para a Copa do Mundo no Brasil em 2014 e há muita coisa a acertar. Podemos dizer, então: se a sua despedida em direção à Copa América foi de gala, sua estreia também será.
A “inteligência do futebol” é uma demanda imperativa. A Espanha (leia-se, escola Barcelona) é a sensação e exemplo do momento, mas ainda é uma vontade indomável de ganhar que faz a diferença num jogo de futebol. Para nós, o objetivo também é a Copa do Mundo em 2014 em nosso chão e, considerando todas as circunstâncias friamente, chegar à final da Copa América jogando bem com a Argentina, será a vitória. Qualquer outro resultado será um detalhe.