Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Globo impõe BBB goela abaixo aos fãs de futebol

Não bastasse infestar a programação de verão com o formato importado do reality show Big Brother Brasil (evento que por sua grandiloqüência e mistura de gêneros consegue reunir e mobilizar a Central de Produção e a Central de Jornalismo da emissora), a Globo decidiu inovar este ano: nos jogos de futebol das quartas-feiras, sejam dos campeonatos regionais, Copa do Brasil ou Libertadores, insere no intervalo das partidas (originalmente destinadas aos melhores momentos ou ao Baú dos Esportes), entradas ao vivo com os participantes do que considera com orgulho ser ‘a casa mais vigiada do Brasil’.

O programa tem seu público, mas a Globo teima em universalizá-lo. É polêmico, mas a Globo o trata como unanimidade, embora a maldade, por enquanto, esteja sendo feita somente com os telespectadores de São Paulo.

Os convivas do BBB são instados a torcer por um time, dar palpites e comentar lances do jogo. Uma lástima. (Todos têm aquela identidade básica com Pedro Bial: são belos, sarados e afinados com essa cultura de frivolidades de que este tipo de atração é o fruto mais maduro e consumido.) Se eu não tivesse lido sobre voyeurismo e exibicionismo no básico de Psicologia da faculdade teria dificuldades em compreender os sujeitos que compram pacotes de 24 horas desta bisbilhotice autorizada.

Marketing de si mesmos

Mas o gênero merece estudos aprofundados, aquém e além do que pensa uma torcedora irritada, principalmente pelo fascínio que exerce sobre camadas iletradas (particularmente aquelas não chegadas a um bom livro), classes médias entediadas e editores de cadernos B.

Enfim, a Globo faz o que quiser de sua grade de programação para alavancar a audiência, mesmo correndo o risco de aborrecê-la: alguém deve achar muito inteligente trocar informação dos lances da partida por aspirantes a celebridades fazendo marketing de si mesmos.

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Jornalista e pesquisadora