Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Gol de Ronaldo dá ibope de novela das oito

Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.


************


Folha de S. Paulo


Terça-feira, 10 de março de 2009


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Gol de Ronaldo dá ibope de novela das oito


‘A audiência da Globo subiu 18% no minuto em que Ronaldo fez seu primeiro gol pelo Corinthians, anteontem. A emissora, que marcava 27,9 pontos, saltou para 32,9. No minuto seguinte, cravou 33,8. Essa audiência é próxima da que vem registrando a novela das oito.


A Band, que também exibia Palmeiras x Corinthians, subiu de 9,9 pontos para 10,4 com o gol de Ronaldo. No momento, a Record perdeu 2,0 pontos e o SBT, 1,0. Cada ponto representa 1% dos domicílios da Grande São Paulo (57,3 mil).


Na média do começo ao fim, o jogo rendeu 24,9 pontos à Globo e 7,4 à Band. Foi simultaneamente líder e vice-líder no Ibope, mas não foi a maior audiência do Paulista de 2009 na soma das duas emissoras.


O recorde de audiência dos domingos foi o clássico São Paulo x Corinthians, em 15 de fevereiro, que rendeu 24,6 pontos à Globo e 9,9 à Band, ou 34,5 na soma das duas -o jogo de anteontem totalizou 32,3.


Neste domingo, no entanto, havia menos televisores ligados do que em 15 de fevereiro: 49,4% contra 57,1%. Assim, Palmeiras x Corinthians foi a maior participação da Globo no total de TVs ligadas com futebol paulista em 2009: 50,4%.


Enquanto Ronaldo jogou, a Globo marcou 29,7 pontos e a Band, 9,0, mais do que a média de toda a partida. Mas a audiência praticamente não subiu quando o craque entrou em campo; só quando ele fez o gol.


ÚLTIMA CHANCE


A Globo exibirá em 1º abril, uma quarta, edição especial de ‘Big Brother Brasil’. Às quartas, ‘BBB’ só tem cinco minutos, mas nesse dia será maior. Tudo para atender à área comercial, que já tinha vendido todos os espaços disponíveis no reality show e agora pode oferecer a ‘última oportunidade’.


FESTA ERRADA


No ‘BBB’ do último sábado, Pedro Bial, em material gravado, apareceu com roupa diferente da que estava usando para dizer que a festa daquele dia seria ‘Saudade Não Tem Idade’. Entram imagens ao vivo e a festa, descobre-se, chamava-se ‘Cabeça Dinossauro’. Foi um erro de edição. O editor colocou no ar chamada para a festa de um mês antes, 7 de fevereiro. O erro custou-lhe o emprego em ‘BBB’. Será transferido.


DESOBEDIÊNCIA 1


A Cultura está transmitindo desde domingo, em caráter experimental, dois novos canais digitais, o Univesp (futura universidade virtual) e o MultiCultura, com documentários. A prática afronta norma do Ministério das Comunicações que só permite a multiprogramação às TVs públicas federais.


DESOBEDIÊNCIA 2


A Cultura diz que não está irregular porque o decreto da TV digital, que é superior à norma, prevê a multiprogramação.


HELENA NEGRA


Manoel Carlos já tinha desistido, mas voltou atrás: Taís Araújo será a protagonista de ‘Viver a Vida’, sua próxima novela na Globo. Dessa forma, será a primeira Helena negra e também a primeira protagonista negra de uma trama das oito.’


 


 


Fernanda Ezabella


Série estreia com vida de Kaurismäki


‘É como se o diretor finlandês Aki Kaurismäki virasse personagem de seu próprio filme. Seu pessimismo, suas manias e suas opiniões sobre cinema e Europa conduzem o primeiro documentário da série ‘O Cinema de Nosso Tempo’, que o Eurochannel exibe amanhã.


Kaurismäki, de ‘O Homem sem Passado’ e ‘Nuvens Passageiras’, é entrevistado no meio dos cenários de seus longas realizados na Finlândia. Ele dirige o mesmo carro usado numa produção, cujas cenas se misturam no documentário. Fuma um cigarro num balcão de bar utilizado em quatro ou cinco produções, além de apresentar sua coleção de objetos esquisitos, guardados em gavetas. ‘Talvez não suporte o calor humano, então me escondo entre tudo isso’, diz, após exibir chapéus, tomadas elétricas e uma motosserra. O documentário de 55 minutos seguiu o diretor durante um ano. Registrou atores constantes de seus filmes e também o porto onde Kaurismäki trabalhou como estivador. ‘Se Deus existe, eu lhe suplico que me conceda a possibilidade de um dia fazer pelo menos um bom filme’, diz, sério, à entrevistadora que, por sua vez, também parece um personagem, vasculhando sua casa. ‘Duvido que alguns dos meus filmes perdure. São como os refrigerantes.’


O CINEMA DE NOSSO TEMPO – AKI KAURISMÄKI


Quando: amanhã, às 21h


Onde: Eurochannel


Classificação: não informada’


 


 


PROTÓGENES
Janio de Freitas


A Satiagraha e seus sinais


‘CASO o ministro Gilmar Mendes ainda não tenha definido a nova acusação ao delegado Protógenes Queiroz como outra prova de que, no Brasil, vive-se um ‘Estado policial’, há tempo para uma observação, modesta embora. O Estado policial é aquele em que a polícia prevalece sobre o Judiciário e, portanto, até sobre os tribunais mais altos, como o Supremo Tribunal Federal presidido pelo ministro Gilmar Mendes. Com isso, talvez não fique muito bem para o presidente do STF repetir tanto que vivemos em Estado policial, e para nós outros fica pior ainda, porque não se sabe o que pensar do Judiciário a que tanto temos prezado e quereríamos prezar.


(Receio cometer, nas linhas acima, uma impropriedade ao protocolo oficial. É que, ao saber da explicação de Lula para o seu tijolaço contra o governo e o MST -’o presidente do Supremo deu uma opinião pessoal’-, o ministro respondeu com um míssil didático para Lula e para todos nós: ‘Falei como presidente de um Poder’, que assim ele se situa, e não como mero presidente do Supremo Tribunal Federal. O problema é que o jornalismo é dado a maus hábitos, e, se dermos de falar em presidente do Poder Judiciário, muito poucos identificarão aí o ministro Gilmar Mendes, o que seria muito injusto).


As observações imediatas sobre as novas acusações ao delegado estão feitas, o que não quer dizer que a maioria mereça adesão. Mas ainda se pode fazer ao menos uma a mais.


Como parte do momento mais escandaloso da Operação Satiagraha, a Polícia Federal foi cobrada pelo tratamento discriminatório em benefício de uma só TV, quando das prisões. Em resposta aos protestos, o diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa, instaurou um procedimento para esclarecer responsabilidades na discriminação. Deu-se, porém, que a exibição posterior de cenas mais antigas da operação mostrou que os repórteres privilegiados eram parte ativa da Satiagraha, em função policialesca e não jornalística. Muito provavelmente por essa inesperada identificação, decorrente da gafe do câmera que se fotografou em um espelho, o procedimento esclarecedor deixou de proceder e de esclarecer.


E agora, não houve vazamento? Se houve, haverá procedimento esclarecedor ou até os espelhos sugerem evitar o risco? Da parte de ‘Veja’, não há dívida alguma quanto a fontes, mas desse novo capítulo vêm impressões de mais um artifício esquisito.


A CPI dos Grampos requisitara (à Polícia Federal ou ao Ministério Público em São Paulo), há algumas semanas, cópia do encontrado no material apreendido de Protógenes Queiroz. Só o recebeu na quinta-feira, mas quando já ausentes os deputados que conduzem a CPI. Avisado da entrega por assessores, o presidente da comissão, deputado Marcelo Itagiba, mandou recolher o material ao cofre, tal como recebido, com todo rigor até a retomada dos trabalhos no início desta semana.


Cerca de 24 horas depois, ‘Veja’ começa trazer o que apresenta como partes do mesmo material. Logo, o que cabe deduzir é só isto: ou alguém (alguns?) quis impedir o conhecimento do material pela CPI antes que o desse a uma publicação, no caso, ‘Veja’; ou quis que uma referência na Câmara à chegada do material, talvez uma bisbilhotada de alguns em fim de expediente, servisse depois como alegada pista de quem fornecera o material à publicação, assim cobrindo bem a procedência real.


Nada é simples nessa novela. Cada movimento na Satiagraha é uma razão a mais para perceber-se que não se trata de um caso limitado ao que transparece. Não se sabe o que e o quanto esconde, e que foi a sua razão de ocorrer.’


 


 


CPI dos Grampos quer mais 30 dias para investigar Protógenes


‘Integrantes da CPI dos Grampos fecharam ontem um acordo para prorrogar a comissão por, no mínimo, mais 30 dias. Às vésperas de votar o relatório final, a CPI decidiu investigar novas denúncias contra o delegado federal Protógenes Queiroz, que, segundo a revista ‘Veja’, grampeou clandestinamente autoridades, jornalistas e advogados.


A comissão reúne-se hoje, às 15h, para votar o requerimento de prorrogação. A ampliação dos trabalhos terá de ser chancelada pelo presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP) e, depois, pelo plenário.


No encontro de hoje, a CPI pode votar a convocação de Protógenes e do ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Paulo Lacerda. Os dois foram ‘absolvidos’ no relatório de Nelson Pellegrino (PT-BA), apresentado na semana passada. ‘Os novos dados podem mudar o rumo do meu relatório’, disse o deputado.


Antes de ouvir os dois, no entanto, a comissão quer analisar o conteúdo do inquérito da Corregedoria da Polícia Federal, que investigou as supostas irregularidades cometidas durante a Satiagraha -operação aberta pela PF para apurar supostos crimes financeiros praticados pelo banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity.


A CPI recebeu semana passada documentos da investigação. Segundo a ‘Veja’, o material foi apreendido pela PF nos endereços usados por Protógenes e contém informações até sobre a vida privada da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), que não se manifestou.


‘O PSDB defende que os documentos tornem-se públicos. Se isso não acontecer, dará margem para especulações de que documentos estão sendo usados para chantagear autoridades’, afirmou o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR).


‘Precisamos prorrogar a CPI, pois agora fica incentivada a tese de que é preciso coibir investigação paralela’, disse Temer.


Ontem, o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, afirmou que, nos próximos dias, a polícia concluirá o relatório de investigação contra Protógenes. O inquérito, porém, está na Justiça Federal, que analisa um pedido de prorrogação por mais 30 dias. Corrêa não quis comentar as acusações contra o delegado, mas disse que ‘nenhum mérito, de nenhuma investigação, tem o condão de legitimar o desvio de conduta’.


Outro lado


Protógenes negou ontem que tenha cometido irregularidades enquanto estava no comando da Satiagraha e afirmou que as denúncias têm como objetivo fabricar um escândalo para antecipar as eleições de 2010. Ele deu as declarações ontem à noite, em Recife, pouco antes de dar palestra sobre corrupção nos negócios na Universidade Federal de Pernambuco.


Ele declarou ainda que, em nenhum momento, a ministra Dilma foi alvo da investigação, e que tudo que apurou já consta nos autos da operação.


Ele foi afastado da Satiagraha pela cúpula da PF sob o argumento de insubordinação.


Outro foco de investigação da CPI será a suposta espionagem contra Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). O senador, que disse à ‘Veja’ que membros do partido estão envolvidos em corrupção, afirmou que um detetive disse a ele ter sido procurado pela empresa americana Kroll para investigá-lo.


Colaborou a Agência Folha, em Recife’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


O futuro do capitalismo


‘Do ‘Financial Times’, abrindo a série ‘O futuro do capitalismo’, com textos dos ‘maiores políticos, pensadores e analistas financeiros do mundo’: O modelo de livre mercado que dominou o pensamento por 30 anos foi desacreditado. O Estado está de volta aos negócios e a sobrevivência de uma economia mundial aberta está em questão. Para onde ir? Para não deixar dúvidas, mais à frente: A fé na ideologia do livre mercado que dominou o pensamento ocidental por uma geração foi destruída. Mas o que pode e deve tomar seu lugar? Editorial e coluna de Martin Wolf abriram a série e ontem apareceu no alto da home o link ‘Lula da Silva’: O futuro dos seres humanos é o que importa’. Ele escreve de sua mãe, do sindicato de São Bernardo, para argumentar que, ‘para mim, o capitalismo nunca foi abstrato’. E para indicar ‘o futuro do capitalismo’ na recompensa à produção, não à especulação; sem protecionismo no comércio internacional; com um sistema democrático de governança global etc.


OBAMA VS. EUROPA


Na manchete do ‘Wall Street Journal’ de papel, atenção ao G20 a cúpula de ricos e emergentes que pode definir ‘o futuro do capitalismo’, dia 2 em Londres. O jornal diz que os EUA vão ‘pressionar por aumento no gasto dos governos, para levantar a economia global’ o que pode causar racha com europeus ‘mais atentos a remontar a regulação financeira’.


DÓLAR VS. MUNDO


Na manchete do ‘New York Times’ de papel, ‘Dólar em alta levanta EUA, mas soma à crise no exterior’. Ou seja, ‘no mundo tomado pela ansiedade, o lugar que mais atrai dinheiro é, perversamente, o que iniciou o problema’. Isso empurra ‘todos os países exportadores’ ao risco de colapso cambial, mas evita ‘ajustes muito mais duros nos EUA, à beira do precipício’.


O PRECIPÍCIO


O bilionário investidor americano Warren Buffett leu o ‘NYT’ de ontem e, ao longo de três horas de conversa na CNBC , pela manhã, proclamou que a economia ‘caiu de um penhasco’ nos últimos seis meses. Ecoou mundo afora, até o ‘China Daily’, derrubando Bolsas.


THE NEW RED


A série sobre ‘o futuro do capitalismo’ é parte de uma guinada do ‘FT’, que incluiu um perfil do filósofo marxista Slavoj Zizek, para quem ‘a crise matou a utopia liberal que floresceu após o fim da União Soviética’. Ele antevê o ‘colapso’ de São Paulo, já ‘em mutação para uma versão de ‘Blade Runner’.


ANTI-NOURIEL ROUBINI


O site RGE Monitor foi celebrizado por Nouriel Roubini com oráculos como, no enunciado de ontem, ‘Quanto mais podem cair as Bolsas? Muito mais’. Mas o site traz análises menos apocalípticas nos textos também destacados de Vitoria Saddi, a economista-chefe para América Latina, oriunda de FGV-SP e Universidade da Califórnia. Ontem, avaliou que ‘a dinâmica da dívida do setor público do Brasil está em melhor situação que em toda a sua história recente’. Em outro texto, apontou até ‘um leve alívio no ritmo de contração’.


OBAMA QUER TUPI


Ontem no espanhol ‘El País’, atento às negociações em andamento entre EUA e Brasil, ‘Obama quer o petróleo de Lula’. Como destacado pela BBC Brasil, a ideia é ‘pôr fim à sua dependência energética da Venezuela’.


BRASIL QUER DOHA


Em despacho da Reuters postado por ‘Guardian’ e outros, o Brasil defendeu ontem na OMC, em Genebra, que ‘as atuais propostas’ para a Rodada Doha sejam mantidas. Foi para ‘refutar’ a pressão dos EUA, dias atrás.


DE REPENTE, DEFLAÇÃO


Nas manchetes de sites como a Folha Online e portais como o Terra, a ‘indústria brasileira vê o PIB próximo de zero e as vendas no vermelho em 2009’. Já o site da Reuters Brasil, sobre a indústria, dedicou a submanchete para uma outra notícia _de que o ‘setor automotivo melhora sobre janeiro, mas tomba ante 2008’. E selecionou, para a manchete ao longo do dia, ‘IGP-DI surpreende com deflação em fevereiro’.


OBAMA E OS JORNAIS


Na entrevista do ‘NYT’ com Obama, no fim de semana, ele contou como se informa. ‘Leio a maioria dos grandes jornais de âmbito nacional.’ Em recortes ou no papel? ‘Não, leio no papel. Eu gosto da sensação de um jornal.’ Mais à frente, ‘eu raramente leio blogs’.’


 


 


DEMOCRACIA
Folha de S. Paulo


Líder diz que China não será como Ocidente


‘O presidente do Congresso Nacional do Povo (o Parlamento chinês) disse ontem que a China nunca terá uma ‘democracia ocidental’. Wu Bangguo citou nove vezes o termo em seu discurso para dizer que o país jamais terá um sistema político multipartidário nem um regime de separação de Poderes. O pronunciamento de Wu, mais incisivo do que os discursos normalmente feitos no encontro parlamentar anual, foi recebido por analistas como um sinal de que o governo chinês não tem intenção de ceder às pressões dentro e fora do país por abertura política. ‘O modelo ocidental de sistema legal não pode ser copiado mecanicamente’, afirmou Wu. Para ele, a China não terá um sistema de ‘múltiplos partidos revezando-se no poder’ nem um Judiciário independente ou um Legislativo com câmaras alta e baixa.’


 


 


INTERNET
Bruno Yutaka Saito


Livro comemora 10 anos da revista eletrônica ‘Nerve’


‘São apenas quatro letras, mas sexo tem significados que não acabam mais. É o início da vida, origem de prazeres e de culpas, um elemento com muito apelo de marketing, fonte de inspiração e obsessões… A lista vai longe.


Na internet, sexo é com freqüência pornografia. Uma das exceções é a revista eletrônica americana ‘Nerve’ (www.nerve.com), que ganha um livro comemorativo de seus dez anos, ‘Nerve -The First Ten Years’ (importado, em inglês).


‘Criamos a ‘Nerve’ porque queríamos ler uma revista esperta sobre sexo. A ideia era desafiar os melhores escritores e fotógrafos a criar um trabalho que fosse explícito nos dois sentidos da palavra -honesto e sexy’, escreve no prefácio o publisher Rufus Griscom. O volume, portanto, caminha nesse difícil espaço entre o pornô e o erótico, entre a arte e a pura sacanagem. Não é algo inédito, mas a ‘Nerve’ o faz com excelência e bom humor.


Os contos, por exemplo, buscam surpreender o leitor, muito mais do que chocá-lo. Em ‘Rebecca’, de Vicki Hendricks, vemos o despojado relato de gêmeas siamesas ligadas pela cabeça. Uma delas resolve perder a virgindade com o moço da loja de peixes, e o relato nunca cai no vulgar. Já ‘Fucking His Wife Four Months Pregnant with Their Third Child’ (transando com sua mulher grávida de quatro meses de sua terceira criança), de Paula Bomer, traz um homem que vê na gravidez da mulher uma inesperada volta do vigor sexual.


Há também textos curtos, típicos de internet, além de listas, como o ‘Guia para ser uma Groupie’ e a seção vinda do site ‘Conselhos Sexuais de…’ diferentes profissões, de cantores country a padeiros.


Fotógrafos


Mas, para quem quer ir direto ao assunto e ver as imagens, o livro tem uma seleção democrática. Do já manjado Spencer Tunick, que reúne dezenas de pessoas nuas em cenários inusitados, a Natacha Merritt, jovem que colocava na internet cenas de suas transas casuais, a Nerve cria uma radiografia de pulsões e idiossincrasias.


Glen Glasser mostra uma série em que jovens casais transam em carros. Timothy Archibald entrou em garagens de americanos que construíram máquinas com próteses penianas -quem assistiu a ‘Queime Depois de Ler’, dos irmãos Coen, vai entender.


O livro também tem entrevistas com ‘nomões’ cuja obra tematiza sexo, como o escritores Norman Mailer (1923-2007) e o cineasta David Cronenberg ) -que resume: ‘O corpo humano vem em primeiro lugar na existência’.


NERVE – THE FIRST TEN YEARS


Autor: vários


Editora: Chronicle Books


Quanto: R$ 129, em média (importado)’


 


 


 


************


O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 10 de março de 2009


 


DOPING
O Estado de S. Paulo


Chambers pode ser punido por biografia


‘A polêmica autobiografia do velocista britânico Dwain Chambers, de 30 anos, será analisada pela Associação das Federações Internacionais de Atletismo (IAAF). Se algum sinal de desrespeito à imagem da modalidade for encontrado na obra, diz a entidade, o corredor será punido. O livro ‘Race Against Me: My Story’, em que Chambers conta sua rotina de uso de substâncias proibidas entre 2002 e 2003, chegou às livrarias ontem – um dia depois de o corredor se sagrar campeão europeu indoor dos 60 m rasos, seu primeiro título após a suspensão de dois anos por doping.


‘Vamos comprar uma cópia do livro e pediremos um estudo a nossos advogados’, disse Nick Davies, porta-voz da IAAF. O assunto será discutido na reunião do conselho da entidade, nos dias 21 e 22, em Berlim. Normas da IAAF permitem que um atleta seja punido (até mesmo com o banimento) caso manche a reputação do atletismo.


Chambers foi o primeiro atleta a ser flagrado pelo uso da droga THG, criada pelo laboratório americano Balco para mascarar exames de doping. Além disso, o corredor revela no livro o uso de substâncias como o anabolizante hGH e o EPO, que melhora a oxigenação do sangue.


Uma suspensão poderia tirar o velocista do Mundial de Berlim, em agosto. Mas, ainda que isso não ocorra, o corredor já está fora de uma das provas. A Federação Britânica informou ontem que Chambers não poderá disputar o revezamento 4 x 100 m.


‘Isso não é indício de nenhum sentimento ruim vindo dos velocistas britânicos, nem a resposta sobre a publicação de nenhum livro’, esclareceu Charles van Commenee, técnico-chefe da equipe. ‘Dwain não pode ser selecionado para a Olimpíada de Londres e isso influenciou nossa decisão.’ Uma norma do Comitê Olímpico Britânico determina que atletas punidos por doping sejam banidos dos eventos olímpicos.


TRECHOS


O início: ‘Pouco depois de quatro meses no ?programa? para me tornar o homem mais rápido do mundo, (…) eu era um drogado ambulante.’


Evitando testes: ‘Se um atleta suspeita de que há vestígios de substâncias proibidas no seu corpo, ele lota a caixa de mensagens do celular. Se as autoridades não conseguem deixar um recado, você não faz o teste.’


A rotina: ‘(…) Até outubro (de 2002) tinha aplicado o programa 21 vezes. Não só THG, EPO e hGH, mas testosterona para ajudar a dormir e a reduzir o colesterol. Também injetava insulina, três ampolas na parte baixa do estômago, depois de levantar pesos.’


A notícia: ‘Estava nas Bahamas (…), quando meu telefone tocou. Claro que minha caixa de mensagens estava lotada (…). Do outro lado da linha, um oficial disse rapidamente: ?Sr. Chambers, tenho más notícias. Sua amostra de urina (…) deu resultado positivo para um esteróide recém-descoberto.’?’


 


 


CINEMA
Luiz Carlos Merten


Realidade social no banco escolar


‘Laurent Cantet está de volta ao Brasil. No domingo, o diretor de Entre os Muros da Escola chegou ao Rio. Reviu amigos, passeou. À noite, conversou pelo telefone com o repórter do Estado. Hoje, ele chega a São Paulo, onde seu filme terá pré-estreia amanhã, devendo entrar em cartaz na sexta, dia 13. Entre os Muros da Escola recebeu a Palma de Ouro em Cannes, no ano passado. Foi o indicado da França para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Na mesma semana, Cantet sofreu duas derrotas – perdeu o Oscar e também o César, o Oscar do cinema francês. Cantet não se abalou por nenhuma das duas. ‘Os votantes do César devem ter avaliado que não valia mais a pena investir num filme que já fora lançado nos cinemas com sucesso. Era melhor imprimir a marca do César a outro filme que pudesse se beneficiar disso.’ Quanto ao Oscar, ele admite sua surpresa – ‘Estava certo de que Bashir levaria o prêmio.’ Bashir, mais exatamente Valsa com Bashir, o documentário de animação do israelense Ari Folman, concorrera com Entre les Murs à Palma de Ouro de 2008. Quem levou o Oscar de filme estrangeiro foi o japonês Departures, de Yojiro Takita.


Cantet não se esquece da emoção que foi levantar a Palma de Ouro, cercado por toda aquela garotada que compõe a turma do professor François Bégaudeau. ‘Foi a primeira Palma da França em mais de 20 anos. Premiou o trabalho de uma equipe unida, mas, acima de tudo, eu acho que foi emocionante receber este prêmio do júri presidido por Sean Penn, a quem admiro muito, por suas escolas artísticas e políticas.’ Passou-se quase um ano e Cantet tem feito o ?tour de monde?, acompanhando o lançamento de Entre les Murs, rebatizado como Entre os Muros da Escola, em diferentes países. Agora mesmo, depois do Brasil, segue para a Argentina. Ele ainda não teve tempo de pensar no que será o próximo filme. ‘Não consigo pensar num projeto enquanto não me desligo do anterior. Ainda estou muito ligado a Entre les Murs. O filme trata da escola, e da sala de aula, como espelho da realidade social. Em toda parte, tem promovido debates que dizem respeito a questões essenciais. O ensino, a liberdade dos jovens, a autoridade e responsabilidade dos professores, a comunidade. Não encontrei, em nenhum lugar do mundo, plateias que não fossem sensíveis a esses temas. Espero que no Brasil não seja diferente.’


O Brasil o atrai, particularmente. ‘Não vou dizer que me sinto à vontade no Rio, mas a cidade tem uma energia e ao mesmo tempo expõe desigualdades tão fortes, a favela e o mundo dos ricos, que me estimula a pensar, a criar. Acho que poderia fazer um filme disso aqui.’ Na verdade, Cantet já fez Em Direção ao Sul, com Charlotte Rampling, um drama sobre as relações Norte/Sul, sobre o turismo sexual – e foi, justamente, o filme anterior que o trouxera ao Festival do Rio, onde já se encontrara com o repórter do Estado. Houve outro encontro, depois, em Cannes, na manhã da premiação de Entre les Murs. ?Sim, eu me lembro, mas aquele foi um dia muito intenso. Não exagero se disser que, talvez, tenha sido o dia mais importante de minha vida.’ Há tempos Cantet queria fazer um filme sobre o sistema educacional, sobre adolescentes e seus professores. ‘Sou pai, vivo cercado de jovens e sei como é difícil fazer com que essa garotada fale, mesmo em família. Os jovens dizem só o que querem. Me parecia interessante a ideia de um filme em que eles verbalizassem seus desejos e apreensões, não apenas entre eles, mas em relação à autoridade, também. Mas eu não queria fazer um filme conceitual. Queria algo real, vivido. Foi quando descobri o livro de François (Bégaudeau), lançado na França, no fim de 2006.’


François relata sua experiência como professor na escola pública. ‘Ele é alguém de dentro, que pode falar na primeira pessoa. François foi decisivo porque me forneceu um ponto de vista para a abordagem naturalista que queria fazer. Gosto de um cinema que se constrói na pele dos atores, na sua sensibilidade.’ No livro de François Bégaudeau, Laurent Cantet percebeu que poderia usar a escola para falar do país e poderia fazer tudo isso – seu filme sonhado sobre os jovens – sem sair da sala de aula. ‘François trocou o magistério pela literatura, mas eu ouso dizer que seu objetivo foi sempre o cinema. Ele fez crítica, realizou alguns curtas e agora vai fazer seu primeiro longa. É alguém que vem se preparando para ser cineasta.’ Já que François, o professor, virou literato e cineasta, o que ocorreu com os garotos e garotas de Entre les Murs, no dia seguinte? Eles estão seguindo carreira no cinema? ‘Não, porque não era uma prioridade nem um desejo da maioria deles. Talvez Suleymane ainda vire um ator, pois ele tem temperamento e foi o mais exigido, dramaticamente. Mas todos gostaram muito da experiência. Foi uma convivência tão intensa, tão prazerosa, que acho que muitos gostariam de repeti-la, como grupo e não para investir em carreiras individuais.’


Em Cannes, ao ser entrevistado pelo repórter do Estado, François Bégaudeau confessara que muitos produtores o haviam abordado, após a publicação do livro. Mas ele, com sua experiência de crítico, fez a sua seleção. Somente Cantet, ele achava, poderia prosseguir na vertente do cinema francês que vai de Jean Renoir a Maurice Pialat, e que seria – é – a melhor para contar essa história. ‘Desde Cannes, no ano passado, venho encontrando jornalistas e espectadores, em geral, que se impressionam com o que lhes parece o realismo à flor da pele de Entre les Murs. Muitos definem o filme como uma mistura de documentário e ficção. É uma ficção, mas muito bem documentada.’ A questão da língua é fundamental. Um mal-entendido em relação a uma palavra sela o abismo entre a linguagem erudita e a das ruas e vai levar ao principal incidente dramático de Entre les Murs, a expulsão de um dos garotos.


Esse incidente está no livro e Cantet sempre soube que não poderia faltar no filme. ‘A França é o país de Molière, mas há um linguajar muito rico nas ruas. Num certo sentido, poderia dizer que ele está corrompendo a língua clássica, mas o filme não formula juízos de valores. Não queríamos julgar – nem François no livro nem eu no filme’, já dissera o diretor em Cannes. De toda essa magnífica experiência Cantet retirou um método que gostaria de repetir. Ele filmou com três câmeras dentro do exíguo espaço da sala de aula para obter o máximo de realismo e frescor das réplicas entre estudantes e entre eles e o professor. Os garotos foram escolhidos por meio de testes. Muitos já se conheciam da escola que frequentavam (e que não é a mesma em que François Bégaudeau lecionava). Cantet só encontrou seu norte quando achou que o próprio Bégeaudeau deveria fazer seu papel – nenhum ator profissional teria incorporado ao filme o que ele lhe dá. Pois é isso, agora, que Cantet sonha repetir – outra filmagem com várias câmeras, outro roteiro flexível para ser (re)criado por meio da improvisação. Mas, para complicar, ele gostaria de fazer isso num filme de época, de gênero. Por enquanto, é só um projeto vago. Convencer seus produtores – sua produtora, com quem trabalha num relação de confiança – é fácil. Difícil será encontrar o dinheiro. ‘Teremos tempo. Esse filme não é para agora’, conclui.’


 


 


 


************