Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Governo aperta cerco ao uso da internet

A Síria apertou o cerco ao uso da internet no país, passando a impor uma maior monitoração sobre os internautas. Blogueiros críticos ao governo foram presos e sítios como o YouTube, bloqueados em nome da segurança nacional.


Nos últimos dias, as autoridades ampliaram as restrições ao uso da rede, passando a exigir que donos de cibercafés mantenham registros detalhados de seus clientes. A nova regra, anunciada por agentes de segurança nos estabelecimentos, parece ser uma tentativa de facilitar a identificação de qualquer internauta que seja considerado uma ameaça ao Estado. Agora, o acesso à internet nestes lugares requer que o cliente informe seu nome completo, documento de identidade ou número do passaporte – é anotado ainda o computador usado e o tempo gasto na rede. Os registros devem estar prontos a ser apresentados aos agentes de segurança, caso sejam pedidos.


Pressão psicológica


‘É uma nova maneira de pressão psicológica e faz parte da intimidação sistemática do governo aos usuários da rede’, afirma Mazen Darwish, jornalista que dirige a organização independente Syrian Media Center. ‘[Este tipo de ação] Funciona, na medida em que cria uma autocensura entre os internautas’. O próprio Darwish é um exemplo de como funciona a repressão no país: detido em janeiro por reportar uma agitação popular por conta de um assassinato em Adra, perto de Damasco, enfrenta agora julgamento em um tribunal militar sob acusação de difamar instituições do Estado. Se condenado, pode pegar até um ano de prisão.


Quando se trata de liberdade de expressão, a situação na Síria é bastante paradoxal. O presidente Bashar Assad, que sucedeu o pai, Hafez Assad, há oito anos, afrouxou um pouco a rigidez do governo anterior ao permitir o uso de internet e telefones celulares. Ao mesmo tempo, Bashar passou a perseguir a dissidência política, prendendo escritores e ativistas pela democracia. Quase todos os veículos de mídia impressos e televisivos são controlados pelo Estado.


Em 2006, a organização Repórteres Sem Fronteiras incluiu o país no ranking dos ‘inimigos da internet’, como a ‘maior prisão para ciberdissidentes’ do Oriente Médio. De acordo com o Syrian Media Center, pelo menos 135 sítios já foram bloqueados pelas autoridades sírias. Entre eles estão páginas da oposição, jornais críticos ao regime, sítios de compartilhamento de vídeos e redes sociais. O sítio oficial do ex-primeiro-ministro do Líbano Rafik Hariri, assassinado em 2005, também foi proibido na Síria. Facções políticas libanesas contrárias à influência síria acusam Damasco de estar por trás do crime, o que é veementemente negado pelo governo sírio.


Repressão e progresso


Segundo o estudante de economia Ahed al-Hindi, que em 2006 foi retirado de um cibercafé algemado e vendado por criticar o regime em um fórum online, agentes de segurança costumam fornecer softwares para que os proprietários destes cafés espionem a movimentação dos clientes na rede. Al-Hindi, que tem 23 anos, foi libertado depois de um mês na prisão sem direito a julgamento. Após três meses de muita intimidação por parte de agentes de segurança, ele deixou a Síria. ‘Eles tornaram a minha vida impossível’, diz o jovem, que hoje vive no Líbano.


Ainda que a repressão incomode bastante, os sírios reconhecem que a situação evoluiu muito nos últimos anos. ‘Eu lembro que há alguns anos nós nem sabíamos o que era internet’, conta Rami al-Saadi, gerente de um cibercafé em Damasco. Segundo dados do Human Rights Watch, cerca de um milhão dos 18 milhões de sírios têm acesso à rede – em 2000, eram apenas 30 mil internautas. Informações de Zeina Karam [AP, 25/3/08].