Acredito que a presidente Dilma Rousseff esteja disposta a combater os malfeitos em seu governo, como ela afirmou à revista CartaCapital (12/8/2011). De acordo com a revista, a presidente declarou que “(…) o governo não vai abraçar a corrupção. Um governo que se deixa capturar pela corrupção é altamente ineficiente”. Em outro trecho, ela disse ter afastado as pessoas dos ministérios quando achou que o caso era grave. E mais: “Não acho que somos pautados pela mídia em nenhum desses casos.”
É claro que Dilma não é pautada pela mídia. O que a distingue é que a imprensa não lhe é indiferente, como mostra a sua imediata reação às notícias publicadas nos meios de comunicação, cujos dados lhe serviram de base para afastar ministros e auxiliares próximos envolvidos em práticas que pudessem solapar os fundamentos da sua administração. Uma demonstração de que a presidente quer corrigir as deformidades, sejam elas apontadas pela mídia, ou outra entidade qualquer inconformada com a bandalheira.
Se a presidente não esmorecer, vai se consagrar na opinião pública nacional como aquela que enterrou de vez a molequeira institucionalizada no país. Caso contrário, se ceder às pressões dos “amigos” e deixar tudo como está para manter a sua base de apoio no Congresso Nacional, não só vai passar à história como uma governante que nada fez para impedir a proliferação de ratos que empestam as atividades políticas no Brasil, como vai ter o repúdio da sociedade.
Este é o melhor momento para ela agir e afastar os maiores inimigos do seu governo que, aliás, não estão na mídia, nem na oposição. Estão ao seu lado. São aqueles responsáveis pelas indicações de afilhados para ocupar cargos nas diferentes esferas governamentais, principalmente nos ministérios, sem uma análise criteriosa nas vidas e nos currículos dos candidatos. O resultado é o que se vê: maracutaias amplamente noticiadas pela imprensa. São esses “amigos”que ameaçam boicotar votações de interesse do governo no Congresso se a presidente insistir em trilhar o caminho de combate à corrupção.
Desanimar ou enfrentar as adversidades
Para essa gente, pouco importa a decomposição moral continuar enrubescendo a nação, desde que não os impeçam de tirar uma “lasquinha” no dinheiro público e se locupletar. Foi contra isso que se colocaram diversos representantes da sociedade civil na audiência pública na Comissão de Direitos Humanos (CDH) no dia 23/8/2011. O encontro contou com representantes do Movimento de Combate à Corrupção; Associação dos Magistrados do Brasil (AMB); Associação Nacional dos Delegados de Polícia; Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); Transparência Brasil; Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Associação Nacional dos Procuradores da República; Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE); Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (Conic); Associação dos Juízes Federais (Ajufe); e Associação Nacional dos Membros do Ministério Público”. Os dados são de Paulo Sérgio Vasco, da Agência Senado (23/8/2011).
Entre os presentes, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) disse ser este “o momento ideal para a sociedade fazer uma grande transformação na política brasileira, tendo em vista que a conjuntura atual, aliada à atuação da presidente Dilma Rousseff, favorece o combate à corrupção”. Não deve ser fácil à presidente administrar um Estado loteado entre os partidos que lhe dão apoio no Congresso e aparelhado com enorme quantidade de apadrinhados políticos espalhados pelos 38 ministérios e empresas estatais. “Só no governo federal, são 21.635 funcionários que, em maior ou menor grau, foram escolhidos por critérios exclusivamente partidários” (Veja, ed. 2231, de 24/08/2011).
Entretanto, para quem prometeu colocar a moralidade pública no centro de sua política de combate à corrupção, nada melhor do que a presidente continuar a assepsia e prevenir-se de pessoas que insistem em viver em estado larvar. Mas cabe a ela, somente a ela, escolher entre desanimar diante de tantos desafios e submeter a credibilidade do seu governo aos parasitas que a cercam, ou enfrentar as adversidades com altivez e continuar demitindo qualquer um que apresente indícios de ilicitudes. Só esta opção pode fazer o seu governo fugir da sina de ser mais um mercador de sonhos – tão comum à tradição política brasileira.
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[Luiz Carlos Santos Lopes é jornalista, Salvador, BA]