Na disputa eleitoral pela Casa Branca, as táticas de ataque são as mais diversas. A mais recente contra a pré-candidata democrata Hillary Clinton é um documentário intitulado Hillary: The Movie (Hillary, O Filme, tradução literal), lançado pelo grupo conservador Citizens United. Um painel de três juízes – os republicanos A. Raymond Randolph e Royce C. Lamberth e o democrata Richard W. Roberts – analisa o filme a pedido da Comissão Federal Eleitoral (FEC, sigla em inglês), para decidir se ele constitui propaganda política.
Segundo as leis eleitorais americanas, os financiadores de qualquer anúncio político devem ser revelados. Além disso, sua transmissão na TV tem horários restritos e deve conter uma indicação de que se trata de propaganda política. Exibições do documentário estão programadas para cinemas na Califórnia, Nevada, Carolina do Sul, Arizona, Nova York e Washington. O filme também é vendido em DVD. Nenhum destes meios de divulgação é regulamentado pelas leis de campanha eleitoral. Os comerciais de TV, entretanto, programados para ir ao ar durante as primárias, devem ser regulados.
Documentário temático
Em audiência, o advogado James Bopp, que representa o Citizens United, argumentou que o filme deve ser considerado apenas um ‘documentário temático’, pois não indica ao público que vote contra ou a favor dos democratas. O juiz Randolph discordou e questionou qual seria então o tema em questão, no que ouviu como resposta que ‘Hillary Clinton é uma socialista européia’. O juiz Lamberth rebateu que isto está, portanto, relacionado à campanha política, pois pode influenciar em uma votação contra ela. Bopp, por sua vez, não concordou, comparando o filme a programas de reportagens de TV como Frontline e 60 Minutes. Segundo ele, o documentário não traz a palavra ‘votar’, e por isso não influenciaria os eleitores. O comentário provocou risadas em Lamberth. Os juízes não chegaram a uma decisão final, mas informaram que o farão em breve, indicando que o documentário será provavelmente considerado propaganda política.
O filme traz comentários de conservadores, alguns dos quais afirmando que Hillary não tem as características necessárias para ser presidente. Em um dos anúncios, a comentarista conservadora Ann Coulter diz: ‘Primeiro, um comentário gentil a Hillary Clinton. Ela fica bem em terninhos’. Então o narrador diz: ‘Agora, um filme sobre as outras questões além desta’.
Pimenta nos olhos dos outros
Curiosamente, em 2004, o Citizens United apresentou queixa na Comissão Federal de Comunicações (FCC, sigla em inglês) contra o documentário Fahrenheit 9/11, dirigido por Michael Moore. O grupo alegou, na ocasião, que os comerciais de TV do filme mostravam George W. Bush a menos de 30 dias da convenção partidária em que foi oficializado como candidato republicano à presidência dos EUA. Informações de Matt Apuzzo [Associated Press, 10/1/08].