As explosivas crises nos mercados financeiros e na Bolívia, abafaram ontem, quinta-feira, as repercussões da sessão da CPI dos Grampos no dia anterior. As tensões internacionais eram (e ainda são) tão grandes que não sobrou emoção nem espaço para escancarar uma perigosa crise institucional iniciada a partir da descoberta dos grampos na presidência do STF.
As revelações do diretor licenciado da Abin, Paulo Maurício Fortunado Pinto e do ex-responsável pela Operação Satiagraha, o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, são preocupantes: o diretor da Abin admitiu abertamente que 52 agentes seus atuaram durante quatro meses na operação Satiagraha e ajudaram a PF a realizar os grampos com a ajuda do araponga aposentado Francisco Ambrósio de Nascimento.
Como se não bastasse, o delegado Protógenes confirmou que pagou pelos serviços do ex-araponga do SNI com a verba da Operação Satiagraha. Significa que a Abin e a PF subverteram a ordem, as normas e a Constituição ao executar tarefas incompatíveis com as suas funções.
A grande imprensa não pode ignorar ou minimizar as implicações destes perigosos desvios de conduta porque esta crise começou na imprensa, no segmento dos semanários. A grande imprensa foi mais uma vez usada para divulgar denúncias que não investigou.
O grupo que vazou para Veja o teor da escuta ilegal da conversa entre o presidente do STF, Gilmar Mendes, e o senador DemóstenesTorres é certamente o mesmo que passou para a IstoÉ o nome do araponga aposentado, Francisco Ambrósio que fez os grampos.
Há grupos dentro da Policia Federal e dentro da Abin se digladiando abertamente, sem que as autoridades superiores consigam impor um mínimo de disciplina. Nosso sistema de segurança está sendo detonado pelos resíduos da Operação Satiagraha. Isto é mais grave do que a perigosa situação na Bolívia.