O esporte tem sido uma das preferências populares em termos de audiência no rádio cearense, pois o número de programas voltados para o futebol em nosso rádio é crescente e tem grande participação de ouvintes que geralmente emitem opiniões, questionam o futebol e discutem o tema com muita veemência. Um problema, porém, tem sido constatado nessa forma de comunicação: a parcialidade de quem faz a notícia, ou seja, muitos locutores e apresentadores de programa são torcedores e não usam coerência em suas opiniões, provocando os torcedores de outros times e efetivando zombarias e chacotas em meio à informação, o que não é coerente com o papel do rádio na construção da cidadania.
Há uma proliferação de programas de torcida onde alguns locutores torcedores se esquecem do papel do rádio, que é informar, e passam a desferir agressões verbais a autoridades, sejam da Federação de Futebol, do Tribunal de Justiça Desportiva, ou do Ministério Público, em fatos ou decisões que teoricamente prejudicam seus times. Isto é correto? Tem relação com a informação e com a comunicação verdadeira? Faz parte do verdadeiro sentido do rádio?
O problema é que a maioria destes programas de torcida é arrendado e não é acompanhado pelos diretores de programação que, infelizmente, não acompanham o que é dito em suas emissoras e permitem a baixaria, a agressão e as acusações gratuitas que somos obrigados a ouvir sem ter o direito de questionar nem opinar, pois como já disse um dos apresentadores ‘o programa é meu e aqui eu falo o que eu quero!’ Será que é esta a comunicação que queremos?
Informação coerente e desapaixonada
As equipes esportivas que dominam a audiência em nossa terra procuram sempre ser simpáticas a um time e até as transmissões esportivas são caracterizadas pela parcialidade, pela torcida e por opiniões que são baseadas no interesse do torcedor, e não na verdadeira característica do jogo. Alguns juízes de futebol são acusados, julgados e declarados culpados pela derrota dos times de forma interesseira e totalmente parcial. Não é essa a função do rádio, pois a informação deve ser verdadeira, abalizada e segura para que todos tenham o conhecimento da verdade e do sentido real do esporte.
Nas reportagens setoriais, os repórteres de times são na verdade torcedores que muitas vezes se perdem no objetivo de torcer e geralmente não trazem a informação de forma real, procurando satisfazer os torcedores, crucificando jogadores e até os hostilizando em relação aos torcedores. Não é esse o sentido de uma reportagem de rádio…
Alguns programas dedicados ao futebol são baseados exclusivamente no elogio fácil a quem tem dinheiro e criticam veementemente quem fere seus interesses ou o dos times que dizem preferir. Não é esse o papel do rádio…
Algo precisa mudar no rádio cearense. Os programas esportivos devem buscar uma maior identificação com a informação verdadeira e têm de colocar a informação de forma coerente e desapaixonada para que todos possam conhecer a verdade dos fatos sem paixão futebolística e com coerência nas informações.
Ética e cidadania
Os programas dedicados à torcida organizada devem ser investigados pelo Ministério Público e pelas as autoridades, pois vemos situações de incitação à violência e opiniões que com certeza conduzem a um processo de hostilidade de torcidas que certamente desencadeará a violência que tem sido tão comum no futebol e em outros setores da vida, pois alguns consideram o torcedor de outro time seu inimigo mortal ou desafeto.
Há programas dedicados ao esporte que têm se caracterizado por deixar os torcedores falarem o que querem e agredir verbalmente a todos aqueles que não têm relação com seu time ou contrariam interesses em termos de justiça desportiva ou atuação de juízes em jogos do campeonato.
O futebol precisa ser um elemento de união dos povos e a violência no futebol não pode ser incentivada em programas de rádio que devem ter informação verdadeira, imparcial e de qualidade para todos.
Para concluir, dói muito ouvir um programa comandado por um vice-presidente da Associação dos Cronistas Desportivos do Ceará ser conduzido de forma a permitir que os torcedores se agridam no rádio e cometam todo tipo de atitudes que certamente são maléficas para nosso combalido rádio e para o futuro da comunicação que tem de ser ética e completamente cidadã. Não é essa certamente a comunicação que queremos…
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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE