Bernard Arnault, o homem mais rico da França, está tentando comprar um grande jornal do país menos de dois anos antes das próximas eleições presidenciais. A empresa do bilionário, LVMH Moet Hennessy Louis Vuitton, anunciou na terça-feira que está em conversações exclusivas para a compra do “Le Parisien“, diário que pertence ao Groupe Amaury. A empresa parisiense, no entanto, não deu detalhes financeiros sobre o possível negócio.
O grupo LVMH já é dono dos jornais “Les Echos” e “Investir”, além da Radio Classique. Eles respondem por uma pequena fração das vendas de € 30,6 bilhões (US$ 33,3 bilhões) da maior fabricante de bens de luxo do mundo.
Adquirindo o “Le Parisien”, que fora da capital francesa circula sob o título “Aujourd’hui en France”, ampliaria o número de leitores e a influência do grupo em meios jornalísticos e políticos, segundo Pierre Lefebure, pesquisador especializado em mídia e política da universidade Paris 13.
– Financeiramente, é difícil identificar uma estratégia industrial por trás desse plano – afirmou Lefebure. – Mas essa compra antes das eleições presidenciais de 2017 levanta algumas questões. Os políticos querem estar nos jornais. O acesso aos eleitores é imenso.
Emilien Amaury criou o “Le Parisien” no fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Na época conhecido como “Le Parisien Libere”, tornou-se um dos mais lidos e influentes jornais da década de 1970. Apesar de as vendas terem encolhido na última década, a circulação regional e nacional da publicação o fez ser o segundo maior da França.
A família Amaury também é dona do diário esportivo “L’Équipe”, assim como das famosas e tradicionais corridas ciclísticas Tour de France e Vuelta de España, entre outros eventos. E estes não estão dentro da negociação com o LVMH.
Os três principais partidos políticos franceses já estão se movimentando para a campanha que antecede as eleições presidenciais de maio de 2017.
O atual presidente François Hollande, que tem o menor índice de aprovação da história política, está multiplicando as visitas a escolas, fábricas e fazendas pelo país. Seu antecessor Nicolas Sarkozy está mudando o nome do partido para as eleições primárias de novembro do ano que vem. Já a líder da Frente Nacional Marine Le Pen está se livrando do pai e dos racistas de linha-dura, para apresentar uma legenda mais renovada aos eleitores.
Arnault não declarou seu apoio político e Gaspard Estrada, especialista em mídia do instituto parisiense de ciências políticas, não espera que ele o faça a esta altura do campeonato.
No entanto, se o LVMH de fato comprar o “Le Parisien”, Arnault vai se unir ao grupo dos bilionários franceses Patrick Drahi e Xavier Niel que investiram em empresas de comunicação antes de eleições. O gigante das telecomunicações Drahi comprou o diário “Libération” em 2014 e a revista semanal “L’Express” este ano. Já Niel e outros investidores adquiriram o “Le Monde” em 2010, dois anos antes de Hollande se tornar presidente da França.
– Ou as empresas de comunicação mudam ou haverá grandes aquisições – afirmou Estrada. – Sempre há movimentações na mídia antes das eleições presidenciais.