Sempre que chamado a falar a estudantes de Jornalismo, alguém me pergunta por que fui ser jornalista. Costumo responder, em tom de brincadeira, mas sabendo que lá no fundo há muito de verdade: porque é a única profissão em que é possível ler o jornal na hora do expediente sem levar bronca do chefe. Modernamente, o conceito pode ser estendido à televisão e, com certeza, à internet.
Quinta-feira [27/8] fiz uso desse direito e usei parte do meu horário de trabalho para assistir, pela televisão, a toda a sessão do Supremo Tribunal Federal em que foi decidida a não admissibilidade do processo contra o deputado Antonio Palocci Filho, por violar o sigilo bancário do caseiro. Foi gratificante, por um lado: os dois votos bem embasados e apresentados, o do ministro-presidente e relator, Gilmar Mendes, contra a admissibilidade, e o do ministro Marco Aurélio Melo, este temperado por doses generosas de cáustica, às vezes hilariante ironia, a favor. Os demais se manifestaram, quase laconicamente, sim ou não.
Foi gratificante, mas por outro lado, decepcionante. Ouvindo esses dois e todos os outros votos atentamente dá para entender porque jamais, no Brasil, um caseiro levará a melhor numa disputa com alguém do porte de um ministro da Fazenda, ainda que apeado do poder. E, tão ruim quanto, porque os Sarney da vida têm coragem de fazer o que fazem por aí.
Os jornalistas da imprensa escrita, por melhor que apurem e escrevam, jamais vão conseguir despertar essa sensação. Os da televisão comercial, cortando e editando, idem. Infelizmente, pouca gente pode fazer como nós, jornalistas, e dedicar algumas horas do horário de trabalho para ficar olhando a telinha imóvel da TV Justiça.
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Jornalista, chefe do Núcleo de Redação da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, São Paulo, SP