O interesse da nossa imprensa pela disputa eleitoral americana tem várias explicações, a primeira delas é óbvia: a sucessão de George W. Bush é, em si, uma das mais disputadas desde a de 1961 – quando pela primeira vez um católico, John Kennedy, entrou no páreo.
Agora, diante da possibilidade efetiva de um uma mulher ou um negro ocupar a Casa Branca, é natural que uma imprensa paroquial como a nossa dedique tanta atenção a um fato internacional.
Mas o que importa nesta alteração é que há pouco mais de dez anos os grandes jornais brasileiros decretaram que o leitor brasileiro não gosta de política internacional. Fizeram pesquisas, chamaram consultores e, de comum acordo, reduziram o espaço da cobertura e diminuíram drasticamente o número de correspondentes internacionais.
Lucro certo
O Brasil ficou de costas para o mundo justamente quando se iniciou o processo de globalização da economia. Agora, mesmo sem fazer pesquisas, nossa imprensa percebeu o auto-engano. A escalada autoritária de Hugo Chávez, o drama dos seqüestrados pelas FARC, a sucessão de Fidel, a erupção de violência no Quênia, sem falar no conflito no Oriente Médio que completa 60 anos consecutivos, estão exigindo mais atenção, mais espaço (ou mais tempo) e melhores coberturas.
Hillary Clinton, Barack Obama e John McCain ficarão nas manchetes até novembro e, com isto, vão ajudar a imprensa brasileira a reencontrar-se com o mundo. Quem vai lucrar é o Brasil.