Será que os eleitores brasileiros (51% são mulheres) estão preparados para votar em mulheres? Será que as mulheres estão interessadas em legislar ou administrar cidades, estados e até o país? Estas são perguntas que surgem com os resultados das eleições municipais do dia 5 de outubro. Perguntas que a imprensa deveria fazer e tentar responder.
Nas 26 capitais brasileiras apenas duas mulheres foram eleitas no primeiro turno: Luizianne Lins, do PT, em Fortaleza e Micaria de Souza, do PV, em Natal. Na maior cidade brasileira, Marta Suplicy, considerada a grande favorita, vai para o segundo turno com 1% a menos que seu opositor, o atual prefeito.
O resultado, por enquanto, mereceu poucas linhas da mídia, que se limitou a divulgar as declarações do presidente do TSE: ‘As mulheres conquistaram 9,16% dos cargos de prefeito nas eleições de domingo. Em 2004 elas obtiveram 7,82% das cadeiras. No entanto, o índice se manteve mais ou menos estável nas Câmaras. Na eleição de domingo, as mulheres ficaram com 12,5% dos postos na Câmara. Em 2004, elas conquistaram 12,64%’. (O Estado de São Paulo, 7/10/08)
Matéria de profundidade sobre o assunto, por enquanto, só a de um suplemento feminino, no dia da eleição. Na matéria ‘Mulheres à margem do poder’, o jornal (O Estado de São Paulo, 5/10/08) diz que a cultura, a falta de incentivo dos partidos e o próprio sistema eleitoral afastam as mulheres da política:
Em nove capitais não há candidatas a Prefeita.
Nenhum partido cumpriu a cota mínima de 30% de mulheres no total de candidaturas para as câmaras municipais.
Na média nacional, as mulheres são 21,2% do total de candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador.
Num ranking de 188 nações, o Brasil ocupa o 14º lugar em relação à presença feminina nos parlamentos.
A cientista política Patrícia Rangel explica a baixa presença de mulheres na política brasileira dizendo: ‘Vem desde o lar, com a sobrecarga dos afazeres domésticos, trabalho e cuidado com os filhos, sobrando pouco tempo para se dedicarem à política partidária. Além disso, nosso sistema eleitoral é prejudicial à mulher, pois os candidatos com trajetórias públicas conseguem captar mais recursos privados’. Outra explicação é da professora da Ciência Política da Universidade de Brasília, Lucia Avelar: ‘As mulheres são invisíveis dentro dos partidos, com exceção daquelas que integram os clãs políticos. As mais independentes e comprometidas com movimentos e trabalhos com comunidades encontram obstáculos na disputa pelo poder, entre eles, o de repartir verbas para as candidaturas’. (O Estado de São Paulo, 5/10/08)
No momento em que a candidata do presidente à sucessão é uma mulher, seria interessante manter o assunto em pauta. Será que o resultado obtido pelas mulheres candidatas nessas eleições é um sinal de que elas continuam sendo preteridas? Por que favoritas como Marta Suplicy, em São Paulo, e Maria do Rosário, em Porto Alegre, vão para o segundo turno com menos votos do que indicavam as pesquisas? Por que a senadora Heloisa Helena, embora tenha sido a vereadora mais votada em Maceió, ficou aquém do esperado?
Tomara que a imprensa leve o assunto a sério e não se limite a destacar personagens folclóricas como a ‘petista da dança da pizza’ ou divulgar poucas linhas vindas do TSE quando o assunto é mulher.