Advertência: este texto contém filosofia explícita e pode ser inapropriado para escolares ou adultos sensíveis ao conceito de nação.
Todos os dias a imprensa propaga, também com o sentido de propagandeia, a noção pós-medieval de Estado, simplesmente por delimitar os eventos descritos às circunscrições convencionais das fronteiras geopolíticas. Embora essa forma de classificar seja tão nefasta quanto a discriminação étnica, e igualmente avessa aos princípios humanistas, por enquanto a sua problematização não faz parte do horizonte de possibilidades do jornalismo predominante.
Fala-se de Brasil e de outros países como se se tratassem as frutas. “A política do Brasil” é considerada ontologicamente idêntica ao “amadurecimento da melancia”: como se países e as frutas deliciosas fossem entidades igualmente naturais; como se Rússia, Polônia e Estados Unidos fossem territórios equivalentemente auto-determinados; como se todo o mês lunar não durasse sempre vinte e oito dias; como se o natal aqui transcorresse no inverno.
Pesadas as respectivas importâncias, infelizmente, naquilo que diz, a imprensa é tão responsável pelos genocídios quanto o indivíduo que, confortavelmente assistindo, se cala.
***
[Rodrigo Panchiniak Fernandes é filósofo, linguista e professor universitário, Florianópolis/SC]