Os petistas ainda cultivam a imagem de perseguidos pela grande imprensa, mesmo estando hoje acumpliciados aos realmente poderosos. Fingem estar vivendo naquele clima da década de 1980, quando os empresários se dispunham a deixar o país caso Lula fosse eleito presidente da República.
Atualmente, pelo contrário, os grandes capitalistas estão todos acertando novas maracutaias e trombeteando os recordes de faturamento que a política econômica companheira lhes proporciona.
Quanto à imprensa, anda cada vez mais dócil, até escondendo os escorregões retóricos de Brancaleone e seu incrível exército.
Refiro-me a duas notícias que foram colocadas no ar pela Folha OnLine, mas sonegadas dos leitores da edição impressa, que é aquela que realmente repercute.
Então, como não saiu na Folha de S.Paulo, ficou mais fácil para as avestruzes enterrarem a cabeça na areia, deixando passar em branco a repulsiva apologia que o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, fez da ditadura de 1964/85.
Faraós e imperadores
Na Europa, historiador que nega a existência do Holocausto vai para a prisão. Aqui, ministro de Estado pode negar à vontade nossa versão particular de holocausto, pois a esquerda finge que o problema não é com ela.
Oportunistas e lacaios do poder, certos progressistas dão muito mais importância à defesa da neo-homófoba Marta Suplicy e dos policiais civis que apanharam da PM de José Serra. Deixaram de seguir os princípios revolucionários, só se mobilizando agora por interesses subalternos. Tornaram-se meros peões no tabuleiro político-eleitoral.
Voltando à censura auto-imposta pela Folha, a mais saborosa de todas as declarações que o presidente Lula deu em Moçambique escapou ao correspondente do jornal, mas não ao competente Daniel Gallas, da BBC Brasil, cujo texto foi aproveitado na íntegra pela Folha On-Line.
Queixando-se da falta de tempo para realizar tudo que pretende, Lula saiu-se com esta: ‘O que eu quero dizer é o seguinte: é que o mandato de um presidente é de cinco (sic) anos. No tempo em que você tinha os faraós e os imperadores, aí as coisas aconteciam. E essa é uma inquietação que eu tenho.’
Viúva da ditadura
Segundo Gallas, foi uma frase proferida em tom bem-humorado.
Mas, claro, nenhum editor de política que se norteasse por critérios exclusivamente profissionais a ignoraria, até pelo que tem de anedótico: não é todo dia que um presidente verbaliza tão candidamente o quanto lhe agradaria permanecer no poder além do que lhe facultam as regras democráticas, inclusive cometendo o ato falho de acrescentar um ano ao seu mandato…
O editor da Folha de S.Paulo, entretanto, preferiu limitar-se ao relato anódino do seu correspondente, deixando de lado o material infinitamente mais trepidante que tinha em mãos.
Então, Brancaleone lhe fica devendo a cortesia de não ter tornado mais conhecida sua fantasia de igualar-se a Ramsés e Calígula; e a um integrante do seu incrível exército, a de não ter tornado mais conhecida sua condição de viúva da ditadura, que até hoje continua fiel ao totalitarismo.
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Jornalista, escritor e ex-preso político