Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Impressos ainda tateiam na internet

O Estado de S.Paulo fez mas depois voltou atrás, mesmo mantendo. O Jornal do Brasil fez. O Globo fez. O baiano A Tarde, o sul-matogrossense Folha do Estado e o piauiense Meio-Norte fizeram. Agora, a IstoÉ também anuncia sua edição digital. Ela permite ‘folhear’ a publicação na tela e ler tudo conforme a diagramação original.

Esse tipo de edição tem duas desvantagens:

1) Não é possível copiar o texto ou enviá-lo para os amigos – o que é certamente uma das intenções da mudança;

2) Demora demais para carregar, inclusive travando alguns computadores.

A moda pegou forte no Brasil, embora em nenhum país do mundo isso aconteça.

The New York Times? Não usa; tem uma versão digital disponível para assinantes, mas continua prestando o serviço de colocar seus textos no ar. E a revista Time? Só assinantes podem ler o texto completo, mas sem artifícios especiais. E o jornal espanhol El País? Também deixa tudo aberto e em texto. The Guardian? Tem uma versão digital assim para assinantes, mas continua mantendo seu texto aberto para a patuléia. É uma forma de aumentar sua influência, julgam.

Serviço ao leitor

As publicações brasileiras estão na vanguarda? Em termos. É, digamos assim, mais sofisticado que ler em texto puro.

Especialmente nos Estados Unidos, um país onde a leitura de notícias na internet já vem ultrapassando o acesso ao noticiário nos jornais impressos e na TV, a moda não mostra nem sinais de pegar.

Vanguarda por lá é a coordenação do material online com o material impresso. De várias formas:

** O online dá flashes das últimas notícias durante o dia e o impresso publica a reportagem consolidada;

** O impresso deixa de publicar cotações da Bolsa (caso do New York Times, por exemplo), que são publicadas basicamente pelo online, que dispõe de facilidades maiores para encontrar exatamente a informação que se quer;

** O impresso remete o leitor ao online, que armazena documentação extra, links para outros cantos da internet e gráficos animados em alguns casos (o El Pais já recebeu prêmios por isso);

** Além de reproduzir o conteúdo do impresso e trazer notícias de última hora, o online traz vídeo e áudio;

** O online armazena um eficiente sistema de arquivos das notícias publicadas nas edições de anos anteriores; no caso do New York Times, assinantes podem ter acesso até a páginas publicadas pelo jornal no século 19.

Isso é vanguarda na edição de material jornalístico para leitura na internet. Presta um serviço muito mais valioso ao leitor. Prefiro pagar por acesso a um volume consistente de edições passadas, para pesquisar, do que pra ‘folhear’ na tela.

Potencial desperdiçado

Ressalte-se que os três principais jornais brasileiros seguem a tendência dos EUA, embora de maneira compartimentalizada, não integrada.

O Estadão foi o primeiro jornal brasileiro a criar sua ‘versão digital’, há dois ou três anos. Era um saco de folhear. Acabaram voltando atrás e criaram três formas de leitura: texto puro (com alguns textos abertos a todos os leitores e a íntegra do material disponível para assinantes), ‘versão digital’ e PDF. Na transição, perdeu-se o valioso acesso ao noticiário publicado pelo jornal desde 1995, quando pela primeira vez foi ao ar. Em um sítio separado, o jornal paulista também tem alguma coisa em termos de gráficos animados, muitas notícias de última hora e alguns blogs.

A Folha de S.Paulo, para quem sabe achar direito o link, permite acesso a material desde 1994. Também tem o Folha Online, à parte da edição do dia, mas com notícias atualizadas e colunas extras, incluindo blogs de colunistas.

O Globo tem isso e mais um pouco, embora sua versão digital seja apenas versão digital. Ela abre cada um dos textos ao lado, mas demora para carregar. É parte do G1, portal das Organizações Globo que une texto, vídeo e gráficos para assinantes. Também tem blogs de colunistas.

Dificilmente esses jornais julgariam que apenas a ‘versão digital’ seria sua vanguarda – o único que chegou perto disso acabou voltando atrás. Pessoalmente, acho que esse tipo de mudança é bastante desinformado e, embora trabalhoso, é até preguiçoso. Usa mal as potencialidades da internet para o conteúdo jornalístico.

Mas, enfim, essa é só uma opinião, pessoal e intransferível. O que o leitor acha?

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Jornalista, coordenador do projeto Deu no Jornal, da Transparência Brasil