‘O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nós extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens… levantou no mundo as muralhas do ódio… e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.’ (Charles Chaplin – discurso final de O Grande Ditador)
A grave crise em que se encontra o rádio cearense decorre de fatores que vão desde a passividade dos ouvintes até a total falta de investimento por parte de seus dirigentes que tem gastado muito na aparência e pouco na qualidade das emissões e das mensagens obtidas. No rádio que temos, o problema é grave e merece reflexões, pois somente uma discussão séria sobre o problema poderá criar alternativas que viriam de todos os setores organizados que têm pelo rádio o respeito necessário e que fazem a luta pelo rádio-cidadão uma bandeira que deve ser a de todos os cidadãos sérios de nossa terra.
Oportunidade de se promover
No momento, não acreditamos que os problemas de nosso rádio serão resolvidos pelos que o administram, pois há entre estes uma fumaça que oculta os dilemas da radiofonia cearense; muitos só olham para si próprios, não tendo uma razão maior de luta e nunca procuram se organizar em torno de uma luta coletiva. No caso da Rádio Dragão do Mar, os que perderam seu horário na rádio simplesmente procuraram outros prefixos e quando o conseguiram acabou a luta. Os sindicatos envolvidos não levaram adiante nenhuma providência, pois a coisa esfriou e os ouvintes simplesmente mudaram de estação. Nosso egoísmo é grave, precisamos urgentemente mudar hábitos e comportamentos e pensarmos coletivamente. Os que puderam mudar de prefixo não se preocuparam com os colegas que perderam espaço e não houve sequer uma ação mais forte por parte do Ministério das Comunicações ou do Trabalho que foram convocados, porém por pessoas pequenas que na visão deles não valiam nada.
Esta luta por um rádio-cidadão parece muito fraca no momento, pois apenas um grupo de pessoas a pratica, quando deveria ser de toda sociedade. Os homens não pensam nos outros, pensam em si, no caso de ouvintes, mesmo que seja falando na rádio que ninguém ouve; desde que possam falar o tempo que quiserem, está tudo resolvido. A luta não pode ser individual. No momento em que criamos a Associação de Ouvintes, pensávamos que estaríamos provocando a sociedade a se organizar por uma comunicação séria, verdadeira, ética e, sobretudo, democrática… Ledo engano… As pessoas não têm interesse coletivo, pensam apenas na oportunidade de falar e se promover sem se preocupar com uma luta maior que é por uma sociedade digna, democrática e verdadeira.
Passividade e falta de interesse
Há no nosso país grupos que lutam por uma comunicação democrática e verdadeira, mas ainda imperam neles o corporativismo, o individualismo e o interesse político, em detrimento dos verdadeiros interesses populares. O rádio tem de ser democrático, tem de ter qualidade, tem de ser acreditado pelos seus personagens, porém não é com bravatas que conseguiremos uma luta verdadeira, que só será possível a partir de um processo de organização que seja pautada na lógica de construção da cidadania sem propósitos individualistas nem na busca de interesses.
O rádio merece respeito, o povo merece respeito, porém respeito se conquista com organização, solidariedade, engajamento e eliminação de todos os processos de individualismo, tão comuns numa sociedade doente e carcomida pelos interesses do capital, que transforma pessoas, que muda opiniões e deixa muitos à mercê de anomalias, mensagens estapafúrdias e idéias que não servirão nunca para construir um mundo melhor…
As outras mídias desprezam o rádio – jornais, revistas, televisão não dão oportunidade para a discussão dos problemas do rádio nem valorizam o papel do rádio diante das sociedades e sua importância nas comunidades. Quantas vezes nós, da Aouvir, tentamos espaço na grande mídia local e fomos desprezados? A luta pelo rádio-cidadão é ocultada pelos meios de comunicação e pela opinião pública em geral. Esta situação é grave e poderá levar ao fim do rádio, tanto em termos de programação como em termos de papel cidadão.
Atitudes isoladas certamente não resolverão os problemas de nosso rádio. Precisamos urgentemente mudar nossas atitudes e ter uma preocupação maior com o problema que não é de uma só pessoa que não tem oportunidade de falar no rádio. O momento é grave, pois o rádio antidemocrático que temos agora resulta de um processo de passividade dos ouvintes e uma total falta de interesses dos grupos de poder em uma comunicação democrática para o bem de todos e para uma sociedade que tem de crescer, mas com dignidade, solidariedade e união…
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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE