Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Informar ou lutar pela audiência?

Vamos sediar uma Copa do Mundo, ganhamos cinco títulos mundiais, nossos jogadores estão na elite do esporte e ainda assim nossos jornalistas cobrem mal a maior paixão nacional. Há informações excessivas a respeito de determinados clubes, enquanto outros são relegados ao ostracismo. A pluralidade é inexistente.

Quem mora na periferia deste imenso país e tenta assistir à televisão local percebe uma cobertura nos moldes do que se faz nacionalmente, dando grandeza demais a quem é pequeno.

A globalização chegou a todo planeta, mas no país do futebol poucos clubes monopolizam as telinhas. Negar-lhes a importância no cenário futebolístico seria irresponsabilidade. No entanto, sou obrigado a relembrar aos comentaristas, pois nem todos são jornalistas, de que no esporte a grandeza do vencedor depende do vencido.

Deixemos de romantismo

Outro fator importantíssimo a ser lembrado é a questão financeira. Dando exclusividade a certas equipes, somente seus patrocinadores conseguem lucrar com o investimento, enquanto outras de menor expressão, mesmo fazendo um bom trabalho dentro de campo, têm de se contentar com migalhas de patrocínio por não terem destaque na mídia, impedindo-as de se estruturarem e de se tornarem realmente grandes dentro do futebol brasileiro.

Em relação aos jogadores, também é um crime o que se faz. Críticas excessivas sobre uns, proteção absurda a outros. Dependendo da simpatia do comentarista, quem está em campo pode ser herói ou vilão, independente de sua atuação. É difícil alguém avaliar um João como um João e um Garrincha como um Garrincha.

Futebol tornou-se extremamente profissional. Deixemos de romantismo, que só é aceitável vindo de torcedores. A cobertura jornalística deve ser isenta e igualitária. Projeção na telinha não significa apenas audiência para emissora, mas também dinheiro para os cofres do clube, de onde geralmente partem para o bolso de dirigentes corruptos e bons contratos para os atletas.

Futebol é business

Vivendo num país que privilegia quem não merece ser privilegiado, gostaria de ver a crônica esportiva, em nome da melhoria do esporte nacional, ser no mínimo justa. Futebol, além de um ótimo assunto a ser debatido nos bares da vida, é um negócio que faz girar fortunas. Caso tivéssemos um governo disposto a aproveitar bem as potencialidades do país, dos nossos gramados sairiam, além de craques, altas receitas para custear obras sociais, sem a necessidade de uma CPMF absurda, tendo nos clubes ótimos parceiros na criação de portas de acesso à cidadania a quem está nas camadas mais baixas de nossa sociedade.

O Brasil precisa de um exemplo moral para ver se escapamos desse mar de lama. A mídia valorizando a quem realmente tem valor, ao invés de ficar batendo insistentemente na mesma tecla para atrair audiência e patrocinadores, faria um grande serviço a toda nação.

Futebol é business, merecendo ser tratado com tanta seriedade quanto a política econômica. Deixem de bairrismo, preferências injustas, busca pela audiência. Trabalhem com justiça e verão como se tornarão craques do jornalismo.

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Funcionário público, Sanharó, PE