Sobre o texto ‘Racismo, socialismo e idiotia’, de Daniel Golovaty Cursino [veja remissão abaixo]: tenho observado na imprensa muitos casos como o do Daniel Golovaty Cursino, que sai se defendendo de supostas ‘investidas anti-semitas’ dos tantos ‘anti-semitas’ espalhados pelo mundo. Vejo que isso tem se dado com maior freqüência dado o posicionamento do Estado de Israel na questão palestina, a respeito do que se pode dizer que é no mínimo ‘polêmico’.
Acho natural que as pessoas tenham a tendência de defender os fracos a despeito desses também exercerem sua agressividade, no entanto, no caso da Palestina, não penso que essa tendência esteja embotando de todo as análises. Não me considero nem pró-palestino nem pró-judeu. Procuro entender e aprender com o conflito. No entanto tenho achado muito injusto esse rótulo de ‘anti-semita’ dado a todos aqueles que se posicionam ‘contra os judeus’ na questão do conflito israelo-palestino. Isto me parece uma forma de colocar o ‘resto do mundo’ ou os ‘não-judeus’ ou, segundo eles, os ‘anti-semitas’, na defensiva. É uma forma de lembrar que ‘você (anti-semita) pode ser acusado de racismo (etc.) e eu estou disposto (e propenso) a acusá-lo disso’. E isso nos nossos tempos de ‘neo-iluminismo’, em que o ‘politicamente correto’ é um movimento representativo, pode significar o cometimento de um crime de racismo. No caso, quase indistinguível de um ‘crime de opinião’, um viés de censura política.
Onde digo ‘contrário aos judeus’ me refiro à freqüência com que os judeus saem em defesa – em massa – de suas causas e, ao mesmo tempo, à baixa freqüência com que os não-judeus defendem causas, aqui sim, sionistas. Além disso, digo ‘resto do mundo’ numa referência direta aos resultados de várias votações na ONU, em que a quase absoluta maioria tem se posicionado contra a política do Estado de Israel no conflito em questão.
Minha posição aqui não é para tratar de detalhes desse texto ou mesmo dessa ou daquela opinião. Desejo simplesmente salientar o contexto histórico em que esse texto está inserido e o quanto, ao meu ver, a posição do Daniel ensopada de malícias e covardias de ordem moral.
Coitadismo
Muitos antepassados meus, ucranianos, morreram na Segunda Guerra, e nunca se ouve falar de genocídio na Ucrânia e nunca alguém da minha família ganhou qualquer espécie de compensação. Ao menos tiveram a dignidade de não transformar sua desgraça num caça-níquel mundial, nem sofreram de coitadismo.
Além da comunidade
Um texto muito erudito do historiador Daniel Golovaty Cursino (‘Racismo,socialismo e idiotia’) que defende os judeus, mas não nos dá nenhuma brecha (ou proposta) para a superação da triste realidade brasileira. O que fazer para diminuir a pobreza, a desigualdade e a ignorância em nosso país, que tanto machucam Marilene Felinto? E a muita gente?
No mundo moderno e democrático em que estamos – mas também um mundo em que os pobres já não aceitam a sua pobreza – não vale defender só a nossa comunidade, temos que ampliar a nossa visão e oferecer propostas (ou sugestões, se quiserem) para pelo menos diminuir as mazelas sociais que estão na nossa cara.
Não é à toa que o nosso presidente da República é tão cético com respeito a cientistas políticos.
Carmen Gomes Simioni, formada em Ciências Sociais, Cachoeiro de Itapemirim, ES
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