Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Ismael Pfeifer

‘A Rede Record, terceira emissora brasileira em audiência, que no início de março apresentou com pompa seu maior investimento em teledramaturgia, a novela ‘Metamorphoses’ – R$ 20 milhões entre custos de produção e marketing -, com o que pretendia brigar pelo segundo lugar no horário nobre, tenta compensar com novos produtos o fracasso de audiência da produção. A média, segundo o Ibope, entre 3 a 4 pontos diários, gerou crise e a saída nas últimas semanas de vários profissionais. Na tentativa de recuperar índices e fugir do empate técnico com Bandeirantes e Rede TV!, a emissora modificou sem sucesso a grade de programação entre as 19 horas e as 22 horas, com a transferência do maior faturamento da emissora, o ‘Jornal da Record’, do jornalista Boris Casoy, das 19h30 para as 21 horas.

Ontem, o diretor de programação, Hélio Vargas, apresentou oficialmente as novas atrações, o ‘Domingo Espetacular’, uma revista semanal (ao estilo do ‘Fantástico’), que vai ao ar a partir deste domingo, das 18 horas às 20 horas. Outro lançamento, ‘Raízes do Campo’, com a dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó, estréia sábado, dia 24, às 21h45.

A expectativa da direção da emissora, sob o controle da Igreja Universal do Reino de Deus, era obter média em torno de 10 pontos com ‘Metamorphoses’, feita com câmeras de alta definição, o que resulta imagens de qualidade próxima à do cinema. Mas o drama, que envolve uma clínica de cirurgia plástica às voltas com a máfia japonesa, não caiu no gosto da audiência. Os índices entre 3 e 4 pontos jogam a emissora distante dos 8 a 10 pontos do SBT e colocam a novela mais na briga pela manutenção do terceiro lugar com Rede TV! e Band.

A diretora Tizuka Yamazaki, respeitada principalmente por Gaijin, um clássico do cinema nacional nos anos 80, deixou ‘Metamorphoses’ logo na primeira semana de exibição, descontente com o encaminhamento do enredo, que passou a ser escrito pela própria dona da produtora Casablanca, Arlete Siaretta. Logo em seguida, deixou a emissora o superintendente de programação, Luciano Callegari, considerado um dos culpados pelo fracasso. Saiu também o diretor de comunicação, Roque Freitas, depois da publicação de críticas na imprensa à qualidade da novela. O diretor artístico, Del Rangel, também deixou a emissora há uma semana, igualmente insatisfeito com os rumos da produção.

A própria mudança do ‘Jornal da Record’ não surtiu o efeito desejado. Pretendia-se fazer com que a maior audiência do jornalístico/policial ‘Cidade Alerta’ alavancasse a audiência de ‘Metamorphoses’ e por isso os dois programas foram colados. Mas os 8 pontos de média de Cidade Alerta não estão sendo transferidos à novela.

Para o ‘Jornal da Record’, cuja média de audiência girava ao redor dos 5 pontos, não houve perdas significativas – nos últimos dias tem registrado 4 pontos. Mas teme-se que o novo horário enfraqueça o produto ao tirar dele a característica histórica de informar antes do ‘Jornal Nacional’, da Rede Globo. A perda de status poderia fragilizar receita publicitária, que faz do telejornal o maior faturamento da emissora – hoje, ao lado da programação esportiva.

Na segunda-feira, outra crise foi detonada nos bastidores de ‘Metamorphoses’. A dona da produtora Casablanca, Arlete Siaretta, demitiu toda a equipe técnica da novela diante dos atores. ‘Sabíamos que voltar à teledramaturgia daria trabalho. Demanda tempo reconquistar o público’, contemporizou ontem à tarde durante coletiva o diretor Hélio Vargas. Outro fator atenuante foi a venda antecipada das cotas de patrocínio da novela.’



Renata Gallo

‘Record aposta em ex-globais para elevar audiência’, copyright O Estado de S. Paulo, 18/04/04

‘A Record montou um time de grifes para tentar angariar mais alguns pontos no ibope. Estréia hoje na rede a revista eletrônica Domingo Espetacular e, no próximo sábado, Raízes do Campo, programa sertanejo ancorado por Chitãozinho & Xororó. Segundo o diretor de Programação da emissora, Hélio Vargas, a meta é que ambas alcancem 10 pontos no Ibope.

O Domingo Espetacular, que vai ao ar hoje, às 18 horas, entra na vaga do Cine Maior, que registra cerca de 7 pontos de audiência (em São Paulo). Já o Raízes do Campo, a partir do próximo sábado, às 21h45, ocupa o lugar da série Robocop.

A revista eletrônica terá, no comando, Otaviano Costa, Lorena Calábria (atual Multishow e ex-Cultura), o ator Nill Marcondes, que irá conciliar o trabalho com Turma do Gueto e Metamorphoses, Amália Rocha e Celso Freitas.

Com contrato na Globo até 30 de junho, Freitas confia que será liberado de multa contratual. ‘Não acredito que as pessoas não tenham sentimento com um profissional que trabalhou 32 anos na empresa’, diz.

Domingo Espetacular não terá quadros fixos. ‘É claro que existirão comparações com o Fantástico, mas buscamos um caminho próprio’, explica o diretor Carlos Amorim, que prefere comparar a atração com a extinta revista Realidade. Mas o Domingo Espetacular vai concorrer, não com o Fantástico, e sim com Faustão, Gugu e Pânico, que vem elevando o ibope da RedeTV!

‘Queremos entrar na disputa com um programa competitivo. Estamos olhando para cima’, diz Amorim, referindo-se ao Pânico.

Marlene – Se o Domingo Espetacular não tem quadro fixo, o Raízes do Campo tem 10 idéias para revezar em suas edições. Detalhe:

todas criadas por Marlene Mattos, atual diretora da Band.

Segundo Chitãozinho, a atração começou a ser desenvolvida pela diretora quando ela ainda estava na Globo. A intenção era que o Raízes do Campo – nome que ela mesmo criou – fosse ao ar na TV dos Marinhos, mas, com a saída de Marlene para a Band, a dupla decidiu procurar outro canal, com o aval da diretora. O SBT chegou a mostrar interesse, mas a Record ganhou a disputa. A atração é produzida pela GGP, produtora de Gugu Liberato.

Além da presença dos ‘Amigos’, como Zezé Di Camargo, Luciano e Leonardo, haverá muitos anônimos nos quadros do programa como o Rainha do Campo (versão rural do Dia de Princesa, de Netinho de Paula) e Momento de Felicidade, que mostrará os cantores chegando de bicicleta à casa de algum homem do campo.

Também haverá concurso de dança country, ‘causos’ sertanejos e culinária caipira. ‘É um programa para matar a saudade, para quem tem gosto pela lavoura e pelo campo’, completa Xororó.’



Leila Reis

‘‘Vamos provar que notícia boa dá audiência’’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/04/04

‘Depois de 32 anos, Celso Freitas, ex-Jornal Nacional, ex-Fantástico, ex-Você Decide, ex-Globo Repórter, deixa a Globo para ser um dos âncoras do Domingo Espetacular, que vem sendo chamado de ‘Fantástico da Record’. Nesta entrevista so Estado, ele diz que a revista que estréia neste domingo, às 18 horas, vai compensar o cansaço provocado pelos programas de auditório e pegadinhas em uma parcela da audiência.

Estado – O que levou você a trocar a Globo pela Record? O dinheiro?

Celso Freitas – O dinheiro faz parte, mas não foi só isso. Queria muito voltar para a TV aberta, porque minha produtora (Hipermídia, especializada em programas e propagandas institucionais), na qual fiz um pesado investimento, se ressentiu com a crise no mercado. Assim, depois de 23 anos, volto a São Paulo para fazer o Domingo Espetacular.

Estado – Trabalhar no ‘Fantástico da Record’ não é trabalhar em uma cópia do programa do que você já fez?

Celso – A imprensa é que está chamando o Domingo Espetacular assim. Como o Domingo é uma revista, o Fantástico torna-se uma referência. Mas nosso programa é outra coisa. Teremos uma flexibilidade grande na montagem do programa, assim teremos entrevistas mais aprofundadas, notícias e grandes reportagens. É uma proposta nova no horário para tornar o domingo melhor.

Estado – Vocês concorrerão com o ‘Domingo Legal’, do Gugu Liberato, com o ‘Domingão do Faustão’ e com o ‘Pânico na TV’. Que tipo de telespectador vocês querem conquistar?

Celso – A idéia é oferecer uma alternativa para o público que não quer auditório e nem pegadinhas, e sim programas mais inteligentes. Viemos para explorar o cansaço que os programas de auditório causam em uma parcela da audiência.

Estado – ‘Domingo Espetacular’ terá humor em sua fórmula?

Celso – Sugeri ao Carlos Amorim e estamos estudando a possibilidade de inserir o programa Plantão de Notícias, comandado pelo jornalista Maurício Menezes, já exibido na Record do Rio de Janeiro. Plantão faz uma sátira dos acontecimentos e notícias da semana. É um programa muito bom.

Estado – Qual é o seu grande receio em mudar de emissora?

Celso – Não tenho receio porque já apresentei grandes programas da TV brasileira – Globo Repórter, Jornal Nacional, Fantástico, Você Decide. Aos 50 anos, quero propor idéias, desenvolver projetos como fazia na minha produtora. Quero criar.

Estado – Qual é a maior vantagem que a troca trará para você?

Celso – Queria trabalhar na TV aberta para ter mais exposição e assim facilitar outros negócios. A proposta foi tão boa que me fez abandonar uma estabilidade de 32 anos na Globo para somar em uma equipe entusiasmada. Além disso, vim para uma emissora que tem bons nomes: Boris Casoy e Paulo Henrique Amorim. Minha responsabilidade é fazer bem feito. E melhorar o domingo com o que aprendi fazendo o Via Brasil (na Globo News). Mostrar que este é um país maravilhoso, com pessoas inteligentes, conscientes e solidárias. Vamos provar que notícia boa também dá audiência.’



Daniel Castro

‘Record fará concurso de Miss Brasil negra’, copyright Folha de S. Paulo, 14/04/04

‘Ressuscitado pela Band, que amanhã o exibe pela segunda vez, o concurso de Miss Brasil, tradicional na TV dos anos 70, vai ganhar uma versão negra. O projeto está sendo tocado pela Record, que exibirá todas as eliminatórias estaduais, com toques de ‘reality show’, a partir de junho.

O Miss Brasil Negra foi encampado na Record pelo apresentador Netinho de Paula.

As eliminatórias estaduais começarão pela de São Paulo e serão mostradas no ‘Domingo da Gente’, de Netinho de Paula. Afiliadas da Record em todo o país serão mobilizadas pelo concurso, que deve se encerrar em setembro ou outubro, com a final nacional, em evento de gala em uma grande casa de shows em São Paulo.

‘Vamos fazer nos moldes dos tradicionais concursos de miss, mas só com mulheres negras’, diz Hélio Vargas, diretor artístico e de programação da Record.

Netinho de Paula deve emplacar outro projeto na Record. A emissora planeja exibir um especial de fim de ano sobre o cantor Wilson Simonal, morto em 2000, primeiro ‘pop star negro’ do país.

A vida de Simonal será tema de um dos dois longas-metragens de Netinho de Paula que a Record Filmes irá co-produzir. ‘Vou aproveitar a pesquisa para o cinema para fazer um especial de TV’, afirma Vargas. A rede também deve exibir a sexta temporada da série ‘Turma do Gueto’, sobre a periferia e com atores negros.

OUTRO CANAL

Filme

A Globo vai produzir um longa-metragem baseado em uma novela em comemoração dos seus 40 anos, em abril de 2005. A escolhida sairá de ‘Roque Santeiro’, ‘O Astro’ ou ‘Pecado Capital’. Entre tantas opções, a Globo decidiu homenagear Dias Gomes ou Janete Clair, os autores que criaram seu padrão de telenovela.

Marcação

Apesar de já ter montado seu time de apresentadores do ‘Domingo Espetacular’, sua versão do ‘Fantástico’, a Record continua assediando Zeca Camargo, da Globo. Executivos da emissora telefonaram para o jornalista em pleno feriado de Páscoa.

Bastidores 1

Ex-secretário de Cultura do Estado de SP, Marcos Mendonça não apresentou sua candidatura à presidência da TV Cultura, até as 18h de anteontem, quando acabava o prazo. Mas o tucano não desistiu. Sua estratégia é fazer uma ‘composição’ com Jorge da Cunha Lima, candidato à quarta eleição.

Bastidores 2

Mendonça quer fazer com que Cunha Lima renuncie a seu favor e marque outra data para as eleições, previstas para segunda-feira. As eleições, em tese, podem ocorrer até 12 de maio.

Regional

O ator Walmor Chagas será o narrador e apresentador da série ‘A Conquista do Oeste’, da RBS (afiliada da Globo no RS e SC), que mostrará a saga dos gaúchos que desbravaram o Centro-Oeste.’



HUMOR NA TV
Leila Reis

‘Marinete é versão feminina de Ribamar’, copyright O Estado de S. Paulo, 18/04/04

‘Faz tempo que o gênero humor não estava tão em alta na TV.

Voltaram ao ar esta semana Casseta & Planeta Urgente! e A Grande Família, acompanhados de A Diarista e Sob Nova Direção, cuja carreira começa hoje depois do Fantástico, no horário que um dia foi do Sai de Baixo. Sem falar em Zorra Total, que continua firme no sábado e do qual derivaram A Diarista, de Cláudia Rodrigues, e Sob Nova Direção, de Heloísa Perissê e Ingrid Guimarães, ambas zorristas de carteirinha.

O SBT, que remexe sua programação de tempos em tempos, mantém intocada A Praça É Nossa. Além disso, colocou no ar Meu Cunhado, um seriado de 52 episódios que já estava criando teia de aranha na gaveta. A Rede TV! abriu o domingo para as loucuras do Pânico na TV.

A TV brasileira faz bem telenovelas, minisséries, programas de auditório, mas até hoje não consegue acertar a mão nas comédias de situação, aquelas que os americanos chamam de sitcoms e que sustentam a programação de vários canais pagos.

Assim como Os Normais e Sexo Frágil, A Diarista demonstra a pretensão de ser sitcom, mas, a se medir pelo primeiro episódio, passa longe. Cláudia Rodrigues, a protagonista da série, tem talento para o humor, qualidade já comprovada em Zorra na interpretação da Ofélia e Talia (‘quero beijar muuuuiiito’). Aliás, foi esse desempenho que lhe abriu o caminho para um programa próprio. Seus coadjuvantes na estréia, Dirá Paes e Sérgio Mamberti, são atores tarimbados. Cenário e figurino também são bons.

No entanto, A Diarista não funcionou como comédia. O ritmo foi rápido como nas sitcoms, mas faltou graça e ironia nos diálogos de Marinete com a colega Solineuza, com o patrão, com o namorado de Solineuza, com o marchand de Sérgio Mamberti.

Por descuido ou força do hábito, a diarista Marinete saiu uma versão feminina do porteiro Ribamar (Sai de Baixo e Zorra Total). Marinete é espertalhona e atrevida como seu colega, interpretado por Tom Cavalcante.

Isso por si só não comprometeria se o texto não fosse engraçado de menos e a situação escolhida para a estréia, batida demais.

Desde meados do século passado, confundir arte com lixo – a questão central do enredo do episódio – é explorado ad nauseam pelo cinema, teatro e até mesmo pela TV. Mas este não é o grande problema porque, em humor, o importante não é a piada que se conta, mas a maneira pela qual ela é contada. Como pontuou bem no ibope (29 pontos de média na Grande São Paulo), redatores, diretor e atriz têm tempo para acertar o tom e chegar no ponto do Casseta & Planeta.

Casseta também já tropeçou muito na vida, mas amadureceu. Por isso, a turma do Bussunda fez gol (40 pontos de média) e demonstrou grande inspiração. O cartoon Os Suplicympsons foi uma delícia. Casar a big brother Solange (que tem seríssimos problemas com a língua pátria) com o Seu Creysson foi uma grande sacada, assim como lançar o programa do Professor Pasqualula.

Mesmo veterano, Casseta conseguiu mostrar a atualidade que faltou ao novato A Diarista.’