Que interesses estão por trás dessa troca de acusações entre Globo e Record?
Os telejornais brasileiros se tornaram território para a livre promoção de campanhas presidenciais dentro das próprias redes de TV. Os interesses do telespectador se tornaram secundários. O modelo de gestão das nossas TVs se assemelha ao das capitanias hereditárias.
A Record gastou muito dinheiro em contratações, preparou telejornais com cenários e linguagem semelhantes aos da Globo e, quieta, esperou os primeiros ataques da plim-plim para fazer o que sempre quis fazer: aproveitar a oportunidade e expor o passado da Globo. Ok. Nada contra. Ao poder da TV, acresce-se o poder do dinheiro, o poder da religião e o poder da política. Principalmente às vésperas do pleito presidencial. Faz parte. É do jogo.
A rede de Edir Macedo se preparou para enfrentar a liderança e os ataques da emissora líder. Agora chegou a hora da verdade, ou, melhor dizendo, chegou a hora da grande batalha. As eleições estão chegando e os principais telejornais brasileiros se preparam para jogar pesado, pois o futuro dessas redes de TV depende do resultado das próximas eleições. E a gente, aqui do outro lado da telinha, se pergunta: por que SBT e Bandeirantes só observam de longe essa briga entre Globo e Record? O que faz Sílvio Santos e Johnny Saad se contentarem com as sobras desta batalha entre Record e Globo? E as TVs públicas, que poderiam ser uma alternativa para o público na guerra dos telejornais, mas continuam muito mais preocupadas em garantir bons empregos para os amigos dos amigos, irão se mexer quando?
Uma briga de titãs
Resumindo: faz-se muita política e pouca produção hoje na televisão.
Este duelo entre Record e Globo não tem hora para terminar. Está só começando. No início. Quando tiveram algo melhor para noticiar, o farão. Espere pra ver. Por enquanto, nenhuma novidade no front. Tomara que neste embate entre Globo e Record, ambas percam. Não se pode nem se consegue permanecer no topo o tempo inteiro. Uma hora a casa desaba. E tomara que eu esteja vivo para ver este desabamento.
Enquanto Record e Globo brigam por mais dindim, a platéia – estarrecida – se pergunta: o que faz uma rede de TV aberta vender espaços publicitários em sua grade de programação para igrejas, missionários, pastores e bispos? Até quando teremos que aturar tanta baixaria na TV?
Nesta briga, entre Record e Globo, inexistem mocinhos. Também não há mentiras nos ataques de uma contra a outra. A família Marinho sempre teve uma relação espúria com o poder. E a Record, uma promíscua interação com a Igreja Universal do Reino de Deus. Mas o problema central nessa guerra é que estão guerreando com armas alheias. Estão guerreando com armas públicas.
É ingenuidade de pouco eco crer que não existem interesses econômicos e ideológicos guiando os grandes grupos de comunicação do país. A comunicação de massa tem papel estratégico na organização social de uma nação. Ela cria valores, mas também manipula e é manipulada. Não tem jeito. Não se pode acreditar em tudo que se lê, em tudo que se escuta, em tudo que um jornalista diz quando apresenta um telejornal. Uma dose de ceticismo nessas horas é sempre bem-vinda, pois assim a ‘mosca-azul’ não nos pica. Lutar pela democratização da comunicação é preciso. Mas esta luta entre Globo e Record visa a interesses próprios. É um duelo por mais verba publicitária. Uma briga de titãs.
A mídia tupiniquim é um feudo
O povo tem que prestar atenção na informação. Não pode se deixar levar por falsas impressões. O problema é que vivemos num país de iletrados com diploma e também de analfabetos. A arraia-miúda se informa basicamente pela TV. Ou através do rádio. Brasileiro raramente lê jornal. Revista semanal? Compra de vez em quando; quando dá.
O problema da comunicação no Brasil é um verdadeiro dilema. Porque os muitos veículos de comunicação de massa que existem acham-se concentrados na mão de poucas famílias. Este quadro tem que mudar. O monopólio da informação restringe a visão do mundo.
Quando dois gigantes brigam, os pequenos podem tirar proveito – imagina-se. Só que esta ‘guerra’ entre Globo e Record escancara, de uma forma sem precedentes, uma prática ilegal e imoral: os interesses privados de cada uma dessas firmas. Eles estão sendo defendidos com armas públicas. O que é errado. Ao fazerem o que fazem, Globo e Record comprometem a função social dos meios de comunicação. Mais: infligem normas de utilização de uma concessão pública de radiodifusão, pois, diferentemente de um jornal, que é um veículo impresso e responde somente às leis dos códigos Civil e Penal, as redes de TV operam por meio de concessões públicas e, como tais, estão obrigadas a cumprir determinações legais para o seu funcionamento. Não podem fazer o que bem entendem com a sua programação. Mas a gente fala/escreve isso dezenas, centenas, milhares de vezes e ninguém toma providência.
A Globo é o que é, não por acaso. Tem a melhor estrutura de todos os conglomerados midiáticos, mas também pisa em ovos. E se borra. Com as concorrentes, não é diferente. Só que a briga fica restrita a pequenos nichos de audiência. Porque a programação é fraca e as emissoras estão endividadas. A mídia tupiniquim é um feudo só. Compactua com o poder. Porque do poder vive.
Problema do SBT Brasil é de investimento
A briga entre Globo é Record não é uma luta pela quebra do monopólio da informação, e sim, uma briga por mais verbas de publicidade. Que emissora não quer que o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, a Petrobrás ali anunciem?
Para finalizar, responda-me:
a) Para que serve a concessão de uma TV no Brasil?
b) Os canais brasileiros de TV produzem telejornais com que objetivo?
c) Como regular e monitorar o conteúdo das emissoras de TV em nosso país?
d) Quando teremos no Brasil uma agência reguladora que monitore os serviços prestados pelas nossas emissoras de TV?
Quando alguém me responder essas indagações, me darei por satisfeito.
Falta de investimento!
Por que o SBT não lança – em rede nacional – um telejornal matutino para concorrer com o Primeiro Jornal e com o Bom Dia Brasil?
Que mal tem o canal de Sílvio Santos exibir – em rede nacional – um telejornal entre oito e nove e meia da manhã? E um noticiário – em rede nacional – na hora do almoço (entre meio-dia e duas da tarde)? Quando a edição da manhã do Jornal do SBT deixará de ser gravada? Por que as edições do Jornal do SBT repetem as mesmas informações do SBT Brasil? O problema do SBT Brasil não é de horário, e sim, de investimento.
Alterar a linha editorial
E os telespectadores se perguntam:
Quando o SBT Brasil terá um horário fixo para começar e para terminar?
Quando a emissora de Sílvio Santos investirá pesado no SBT Brasil e o aprimorará?
Quando reverão a linha editorial do SBT Brasil?
Por que Karyn Bravo deixou de apresentar a previsão do tempo do Jornal do SBT (edição da noite)?
Por que o principal telejornal da emissora de Sílvio Santos chama-se SBT Brasil, se ‘de Brasil’ pouco tem?
Por que o SBT Brasil raramente exibe matérias fora do eixo São Paulo-Brasília-Rio?
Se o SBT Brasil é o principal telejornal da emissora de Sílvio Santos, por que recebe menos investimento que o Jornal do SBT?
O que leva a edição da manhã do Jornal do SBT a ter mais share (audiência) que o SBT Brasil e que o Jornal do SBT (edição da noite)?
A emissora de Sílvio Santos precisa entender que não bastam vinhetas e cenários novos ao SBT Brasil. É preciso investir também em tecnologia, comprar aparelhos eletrônicos mais modernos. E valorizar as aptidões dos jornalistas.
O SBT Brasil caminha para o popular. Jornalismo popular não é um bom negócio.
O SBT Brasil tem que valorizar mais o telejornalismo regional; exibir mais matérias das afiliadas do SBT. Tem que passar mais reportagens das regiões Norte, Nordeste, Centro Oeste. Investir em reportagens investigativas; denúncias. E mostrar curiosidades. O reforço da Karyn Bravo na bancada foi bom, mas não há tantos motivos assim para a emissora de Sílvio Santos comemorar, até porque o SBT Brasil fica atrás de vários telejornais que recebem bem menos investimento. E o exemplo claro se encontra dentro do próprio SBT.
De nada adianta o SBT Brasil dispor de uma dupla de apresentadores carismática e bem entrosada se não investem pesado em tecnologia (aquisição de novos equipamentos) nem na valorização dos profissionais e no jornalismo regional.
Enquanto o SBT Brasil não alterar sua linha editorial, não priorizar o jornalismo das afiliadas do SBT e bater de frente com a novela das oito da Globo, dificilmente emplacará em termos de audiência.
O horário em que o SBT Brasil é exibido, para mim não é problema, pois detesto novela.
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Jornalista, Curitiba, PR