Mesmo em um mundo cada vez mais digital, os jornais continuam tendo um gosto único. É o que sustenta o presidente do Publicis Groupe, Maurice Lévy, que veio ao Brasil especialmente para anunciar a fusão entre duas das agências do grupo no país: a tradicional DPZ, fundada em 1968, com a Taterka, criando, assim, a DPZ&T. À frente do terceiro maior grupo de comunicação do mundo – que tem metade de suas receitas oriundas de campanhas publicitárias para mídias digitais –, Lévy afirma ainda que os veículos impressos não podem ser deixados de lado, porque são complementares.
– Eu tenho repetido que não podemos opor o digital ao analógico. Eles são complementares – disse o executivo ao GLOBO.
Com relação aos jornais, Lévy garantiu que, apesar dos desafios à frente, eles mantêm um “gosto” único:
– Existem os desafios, mas ao mesmo tempo há o gosto do café, o gosto do café da manhã. Esse gosto é algo único, cada jornal tem o seu e esse gosto é insubstituível.
Mas ele ressaltou a necessidade de os jornais se adaptarem aos novos tempos.
– Os jornais, penso, têm um grande futuro e estão munidos da capacidade de se adaptar ao futuro, de desenvolver aplicativos para os dispositivos móveis, porque isso é indispensável e cria um vínculo com o consumidor, que hoje é muito diferente – disse Lévy, que brincou dizendo que ainda estava “com os dedos sujos de folhear as páginas”. – Meus dedos precisam desse contato físico e sensorial.
O Publicis tem uma forte presença no Brasil, um mercado que, na visão de Lévy, mais do que uma crise econômica, passa hoje por uma crise social.
– É uma crise na sociedade, não unicamente econômica. As consequências são econômicas, mas as dívidas são sociais. Há pessoas que estão insatisfeitas com as direções politicas. Há corrupção, greves, protestos e tudo isso, criando uma inquietação social. É algo além da economia – afirmou.
Essa visão sobre a importância dos jornais para a publicidade é compartilhada por Martin Sorrell, fundador e presidente do grupo inglês WPP, líder global do setor. Em março, Sorrell afirmou que jornais e revistas são meios “mais eficazes do que as pessoas estão supondo”.
Nova agência já é a 12ª maior do Brasil
A DPZ&T, razão da vinda de Lévy ao Brasil, já nasce como a 12ª maior do país. Juntas, DPZ e Taterka investiram cerca de R$ 600 milhões em compra de mídia em 2013, de acordo com ranking do site Meio &Mensagem.
DPZ e Taterka integram a rede Publicis World Wide Brasil (PWW), que reúne ainda a Salles Chemistri, a Talent, Publicis Brasil e a AG2 Nurun. O Publicis ainda controla, no Brasil, a F/Nazca Saatchi & Saatchi, a Leo Burnett Tailor Made e a Neogama/BBH.
Apesar dos cenários econômico e social adversos, Lévy disse acreditar que a operação brasileira da Publicis voltará a crescer a taxas de dois dígitos a partir do segundo semestre de 2016.
– Esperamos avançar mais rápido do que a indústria, e o crescimento real (acima da inflação) virá em 2016. Temos que ganhar mercado, e essa fusão é extremamente importante – explicou o executivo.
A meta, segundo Lévy, é que o Brasil passe da atual 8ª posição para tornar-se uma das cinco maiores operações (top five) do grupo no mundo, dentro de até quatro anos:
– Queremos que o Brasil seja um dos nossos cinco maiores mercados. Essa é a nossa meta.
O executivo afirmou ainda que o Publicis tem condições de se tornar o número um do mercado publicitário brasileiro, posto hoje ocupado pelo WPP.
– O sonho que temos para este mercado é estamos à frente das transformações econômicas. Estamos mais bem preparados, e nosso objetivo é ter a melhor operação deste mercado.
***
Ronaldo D’Ercole, do Globo