Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornais criticam exagero da ‘comitiva da Copa’ na Suíça

Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 31 de outubro de 2007


COPA 2014
O Estado de S. Paulo


Nunca antes na história da Fifa


‘Nada a opor – muito pelo contrário – ao empenho do governo do Brasil e ao de seus Estados mais importantes em tentar mostrar à Fifa e à comunidade internacional de investidores que nós temos – ou melhor, teremos – plenas condições de sediar a Copa do Mundo de 2014. Afinal, é justo que o único pentacampeão mundial de futebol, o maior fornecedor de craques aos melhores times estrangeiros, que estará em 2014 completando 64 anos da maior frustração da história do futebol brasileiro – a ‘perda’ dramática da Copa de 1950 no ‘maior estádio do mundo’ – única vez em que foi sede da competição esportiva mais importante do planeta -, seja escolhido, como candidato único, país anfitrião da Copa, daqui a sete anos.


O empenho de nossos governantes se justifica, sobretudo, pela oportunidade de desenvolvimento turístico, criação de empregos, investimentos em infra-estrutura e demais benefícios que uma megaprodução desse quilate abre para o País. No entanto, est modus in rebus, como diziam os romanos. Há uma medida nas coisas, existem certos limites – especialmente para os que governam, diríamos. Eis por que chega a beirar o ridículo – para dizer o menos – a revoada governamental brasileira, de 1 presidente da República, 12 governadores de Estado e 2 ministros, transportando-se todos para a Suíça, no momento em que a Fifa oficializa o Brasil como sede da Copa de 2014. Certamente, nunca antes na história da Fifa houve algo parecido.


A reunião da entidade internacional que comanda o futebol, em Zurique, para a escolha do país-sede da Copa de 2014 seria para a apresentação de cada candidato, caso o Brasil não fosse o candidato único. Assim, o que poderia ser uma competição, com cada qual mostrando os seus trunfos, tornou-se apenas uma cerimônia homologatória. Nem por isso, no entanto, deixou de tornar-se uma ‘jogada ensaiada’ política, em que no tempo reservado à ‘defesa’ da candidatura do Brasil a CBF exibiu, para os 22 membros do comitê executivo da Fifa, um vídeo exaltando o País e os feitos do governo Lula, destacando as ações federais de combate à pobreza e os investimentos previstos pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).


Entre os governadores, como era de esperar, estavam os mais fortes presidenciáveis tucanos – o governador paulista José Serra e o governador mineiro Aécio Neves -, que levaram para território suíço a que provavelmente será a disputa mais acirrada pela cadeira presidencial. Mas é claro que houve também uma disputa por interesses regionais, visto que o governador paulista pretende que seja no estádio do Morumbi a abertura da Copa – já que concorda que cabe ao Maracanã o direito de encerramento -, enquanto o governador mineiro alimenta a mesma pretensão em relação ao Mineirão.


Forçoso é reconhecer (sem bairrismos) que em São Paulo está a melhor infra-estrutura de transportes, a melhor rede hoteleira, a melhor rede hospitalar, o melhor e mais diversificado padrão gastronômico, a maior movimentação econômica e tudo o mais que possa garantir pleno êxito a um evento dessa magnitude – considerando-se, ademais, o fato de sediar a mais bem-sucedida agremiação futebolística do País, única a conquistar o pentacampeonato brasileiro. Nem por isso o interesse regional dos dois governadores, o paulista e o mineiro, deveria levá-los a perpetrar suas disputas (político-esportivas, digamos) em território estrangeiro, fazendo passar para a comunidade internacional uma imagem assaz provinciana (sempre para dizer o menos).


Também há que se reconhecer, por outro lado, que um grande esforço deve ser feito, nesses sete anos que nos separam da Copa que sediaremos – esforço esse, do poder público, que sem dúvida resultará em benefício permanente para a população brasileira -, especialmente nos campos da infra-estrutura (como transportes e saneamento) e da segurança pública. Bem é de ver que investigações que se façam em torno dos eventuais desmandos da cartolagem futebolística cabocla – o que já leva a propostas de instalação de CPI, com essa finalidade -, ao contrário de ‘espantar’ investidores esportivos, poderão ter efeito positivo. A limpeza que se faça, nestes próximos 7 anos, de tudo o que exista de carcomido em nosso meio esportivo, e, particularmente, no meio futebolístico, só haverá de melhorar a imagem do pentacampeão mundial de futebol.’


 


TV PÚBLICA
Eugênia Lopes


Governo muda tática para aprovar TV


‘Escaldado com a derrubada no Senado da medida provisória que criava a Secretaria Especial de Ações de Longo Prazo, o governo montou uma ofensiva para convencer os parlamentares a aprovar a medida provisória que cria a TV pública.


Ao contrário de Roberto Mangabeira Unger, titular da secretaria que não apareceu no Congresso, a presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Tereza Cruvinel, adotou como estratégia a discussão da nova emissora com os parlamentares e deu sinal verde para que o Legislativo mude a medida provisória. Mas não escapou de críticas ao projeto.


‘Vou explicar muito a TV pública’, resumiu ontem, depois de mais de três horas de debate com integrantes da Frente Parlamentar Mista da Radiodifusão. Uma das principais contestações da oposição foi ao fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter optado por criar a TV pública por medida provisória, e não por projeto de lei. Tereza argumentou que foi necessário lançar mão de MP porque no dia 2 de dezembro começa a funcionar a TV digital no Brasil, especificamente em São Paulo, e o governo tinha pressa. Além disso, alegou que com a MP a situação dos funcionários da Radiobrás e da TV Educativa do Rio de Janeiro será resolvida rapidamente.


Tereza previu que a TV pública demoraria, pelo menos, um ano para ser aprovada na forma de projeto de lei. Ela garantiu ainda que os funcionários da TV Educativa não serão demitidos. A idéia é passar aos poucos esses trabalhadores para os quadros da EBC.


Nas mais de três horas em que esteve com a Frente Parlamentar Mista da Radiodifusão, Tereza evitou polemizar com a oposição. Não respondeu às provocações dos deputados oposicionistas, que levantaram a hipótese de a TV pública ser criada apenas para pavimentar um eventual terceiro mandato para Lula. Os oposicionistas lembraram que o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) tem pronta emenda à Constituição que permite nova reeleição de Lula. ‘É uma máquina bem montada para o projeto do terceiro mandato’, disse o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO). ‘Minha desconfiança é de que estamos fazendo essa TV muito rápido e isso pode representar segundas intenções’, observou Júlio Semeghini (PSDB-SP).


A oposição também questionou o poder de influência de Lula sobre a nova TV. Tereza argumentou que a TV pública será fiscalizada por um conselho curador que terá poder até mesmo para tirá-la do comando da estatal.


Os parlamentares aliados apressaram-se em defender Tereza. Evitaram, no entanto, falar sobre a forma de medida provisória adotada pelo presidente para criar a emissora. ‘Não quero uma TV chapa-branca. Mas também não quero uma TV chapa-preta, que cerceia e não deixa a gente falar’, afirmou o deputado Fernando Ferro (PT-PE).’


 


DENÚNCIA
Fausto Macedo


Zeca do PT desviou R$ 1 de cada R$ 2 aplicados em publicidade, diz promotoria


‘O ex-governador Zeca do PT pagou R$ 56,8 milhões a 13 agências de publicidade em apenas dois anos, 2005 e 2006, os últimos de seu governo em Mato Grosso do Sul. Ele autorizou desembolso de R$ 33,54 milhões em 2005 e de R$ 23,26 milhões em 2006. O Ministério Público Estadual suspeita que R$ 30 milhões desse montante teriam sido desviados por meio de ‘grandioso esquema’ de peculato e atribui a Zeca o papel mais importante no organograma da organização que teria sido montada para tal fim.


Formalmente, a promotoria acusa Zeca do PT por suposto desvio de recursos do Tesouro do Estado e uso de documento falso. A fraude era realizada por meio do uso de notas fiscais frias, sustentam os seis promotores de Justiça que compõem a força-tarefa que o Ministério Público criou para esmiuçar os dois governos de José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, entre 1999 e 2006.


Os promotores argumentam que os contratos de publicidade teriam sido eleitos para fraudes porque os serviços de propaganda são de difícil aferição ou comparação. Isso, segundo eles, dificulta uma eventual constatação de superfaturamento.


A investigação levou a promotoria a uma gráfica, com sede declarada em Uberaba (MG), por onde eram emitidas as notas inidôneas para cobrir despesas que, de fato, não existiram. Os documentos fiscais, acusam os promotores, eram arrumados pela Sergraph – Gráfica e Editora Quatro Cores Ltda., do empresário Hugo Sérgio Siqueira Borges.


O Ministério Público alega que Borges vendia notas fiscais de serviços fictícios ou realizados, porém superfaturados. A parte destinada à Sergraph, estima a promotoria, girava em torno de 17% do valor da nota. ‘A agência ganhava de graça, já que não prestava qualquer serviço, tendo apenas o seu contrato utilizado para maquiagem da operação publicitária’, afirmam os promotores.


SAQUE


Eles calculam que cada agência ficava com 15% de comissão. ‘Para atingir o objetivo final, qual seja, o saque dos recursos do erário, a agência apresentava orçamentos falsos para cumprir item contratual que exigia a apresentação de pelo menos três propostas dos serviços que seriam, em tese, prestados.’


A promotoria já apresentou à Justiça de Campo Grande duas denúncias criminais contra Zeca do PT, assessores do ex-governador e duas agências, a 2000 Publicidade e Comunicação e a Agilitá Propaganda.


A 2000 Publicidade faturou R$ 5,083 milhões entre 2005 e 2006. A Agilitá recebeu no mesmo período R$ 11,446 milhões. O Ministério Público argumenta que Zeca integrava a ‘cúpula do esquema’ e indica que ele e os outros denunciados ‘agiram em unidade de desígnios’.


Geraldo Palhano Maiolino, dono da 2000 Publicidade, e Hugo Borges, da Sergraph, foram denunciados pela promotoria. ‘Mesmo não sendo funcionários públicos, tinham conhecimento do ardil montado para desvio de dinheiro público, participavam ativamente do esquema, além de também serem dele beneficiários’, afirma o Ministério Público.


Mapa obtido pela promotoria revela que Zeca liberou recursos para outras 11 agências – Art & Traço, BW 3, Cabral Comunicação, Compettence, Futura Comunicação, NDEC, Novagência Comunicação, Qualitas, RPS, Slogan e ZN Marketing. Todos os contratos estão sob investigação, mas contra essas 11 agências o Ministério Público ainda não encontrou provas de irregularidades.


TESTEMUNHA


Os inquéritos foram abertos com base na denúncia feita por Ivanete Leite Martins, ex-assessora da Coordenação-Geral do governo. Ela declarou que inicialmente as agências de propaganda tinham que pagar comissão de 10%. Sentindo-se explorados, empresários do setor teriam exigido um desconto.


A testemunha-chave do Ministério Público afirmou que o ex-governador sabia das operações. Segundo ela, Zeca do PT teria participado de reunião com dirigentes do Sindicato das Agências de Propaganda de Mato Grosso do Sul para tratar da redução da comissão para 5%.


Newley Amarilla, advogado de Zeca do PT, diz que ele não cometeu peculato nem nenhum outro crime, muito menos desvio de verba de publicidade em sua gestão. No Tribunal de Justiça o ex-governador já conseguiu suspender, até o julgamento de mérito, uma das denúncias.


O advogado protesta contra o fato de seu cliente ‘jamais ter sido convidado, notificado, ou de qualquer modo comunicado pelo Ministério Público para apresentar-se e dar a sua versão dos fatos’.


Para Newley, o ex-governador ‘é alvo de um processo espetáculo e midiático patrocinado pelo Ministério Público’. Ele argumenta ainda que a promotoria não tem atribuição constitucional para fazer investigação de ordem criminal.’


 


TELEVISÃO
Leila Reis


A hora e a vez dos sessentões


‘Marília Pêra só assiste novela quando ela própria está no ar. Com 60 anos de carreira, 60 espetáculos teatrais no currículo, cerca de 30 filmes e 30 novelas, Marília diz que hoje busca coisas mais delicadas, foge de violência explícita (não viu e não vai ver Tropa de Elite), mas está em plena efervescência profissional. Se prepara para dirigir quatro peças, estrear um musical como atriz e dá os últimos retoques em um livro de auto-ajuda para jovens atrizes. Nesta entrevista exclusiva ao Caderno 2, ela só lamenta não conseguir emplacar, há 13 anos, um programa na tela da Globo: ‘Ele é tão baratinho e simples que não vinga.’


Esta semana coube à Gioconda uma cena de alta dramaticidade. O que dá mais prazer: fazer chorar ou rir na TV?


O que dá mais prazer é interpretar um personagem bem escrito, bem dirigido. O ator sempre é refém do texto e da direção. Não adianta ser bom ator se o personagem não for bom. No teatro, o ator pode dar um jeito, mas na televisão e no cinema, nunca, ele precisa do autor, do diretor, do editor. Receber um bom personagem é como ganhar na megassena.


Gioconda é a sua enésima personagem rica. Você se sente bem no papel de chique??


Eu gosto, as roupas são bonitas, pessoas emprestam jóias, sapatos. Como eu sou magra, por causa da história com balé, tenho a forma que personagem rico pode ter. Gosto de personagens como Maria Callas e Madame Channel.


O que você tem de Gioconda?


Não sei. Tento ter uma ponderação cotidiana, elegância, ser discreta. Eu não sou perua. Gioconda tem um desequilíbrio nervoso por causa da contenção dos sentimentos menos nobres. Não tenho essa identificação com ela.


Ney Latorraca diz que você é a madrinha dele na TV. E quem foi o seu padrinho?


Eu me lembro de ser madrinha dele na formatura na Escola de Arte Dramática da USP em 1971. Não me lembro de ter padrinho na TV, porque eu comecei aos 14, 15 anos, como bailarina do corpo de baile de Johnny Franklin da Tupi. Como atriz, estreei no Teatro de Comédia, com meu pai, Manuel Pêra. Aos 4 anos, fiz o papel de filha de Medéia e Jasão, interpretados por meus pais, no teatro.


De todas as suas personagens na televisão qual é a que traz as melhores lembranças?


Estou muito contente com a Gioconda de Duas Caras, uma personagem misteriosa, que não sei direito quem é: se é santa ou uma bruxa. Acho que ela é a legítima duas caras. Mas adorei Rafaela, de Brega & Chique, e Juliana, de O Primo Basílio.


E qual a que mais frustrou?


Não época da novela Bandeira 2 (1971), reclamei muito com Dias Gomes por causa de minha personagem Noeli. Depois fiz o mesmo com Supermanoela (1974), do Walter Negrão. Acho que eu não soube dar valor a essas personagens. Bandeira 2 era uma novela de homens e foi por causa de Supermanoela que o Hector Babenco me levou para fazer os filmes O Rei da Noite e Pixote.


Você já fez novela fora da Globo, não? Qual é a diferença?


Fiz Beto Rockefeller e Super Plá (1969) na Tupi e O Campeão, na Bandeirantes. Não faz diferença trabalhar aqui ou ali. O que pesa é se se faz um grande personagem ou não. Minha história com a Globo é antiga: quando ela inaugurou, em 1965, eu estava lá.


Parece que pela primeira vez uma emissora entra na teledramaturgia para valer. O que você acha das novelas da Record?


Vi muito pouco, porque só vejo novela quando estou no vídeo para avaliar o meu trabalho. Tiago Santiago (autor da novela da Record) é um amigo, fez o papel de meu filho na peça Adorável Júlia. Não vejo por falta de tempo. Estou dirigindo a peça de Roberto Athaíde, Um Lobo Nada Mau, a nova montagem de Doce Deleite, com Camila Morgado e Reinaldo Gianecchini, vou dirigir mais uma versão de O Mistério de Irma Vap, com Marcelo Médici e Cássio Scapin, e uma peça sobre Dercy Gonçalves para a Fafi Siqueira. Ivald Bertazzo me convidou para fazer um musical, como atriz, em junho. Então não dá para assistir novela.


No teatro você já interpretou muitas divas: Callas, Dalva, Carmen Miranda, Chanel. Qual delas você levaria para a TV?


Se eu tivesse 25, 30 anos, e não 64, adoraria fazer Carmen Miranda, que morreu com 46. Já Dalva de Oliveira eu poderia fazer…


Você apresenta projetos?


Faz 12 ou 13 anos que apresento um projeto de uma escolinha de preparação para jovens atrizes. O programa é tão baratinho e tão simples que não vinga. Depois da novela, eu vou tentar de novo.


O cinema também é sua praia. Seu melhor trabalho foi em Pixote?


Foi sim, mas também gostei muito de fazer Perpétua, no Tieta, e do filme Dias Melhores Virão. Mas agora estou louca para que estréie logo Polaróides Urbanas, de Miguel Falabella, em que faço duas irmãs gêmeas. É uma comédia rasgada, que ganhou prêmio no festival de Miami.


Todo mundo reclama do ritmo da narrativa nas novelas. Você sente essa aceleração?


Não é o caso de Aguinaldo Silva. Acho que ele até se arrisca bastante. Começou a novela com uma história lenta, cenas longas. Como espectadora, não gosto de ritmo frenético, fico cansada. O mundo hoje é elétrico, se você não é veloz, agitado, pode perder postos. Compreendo que seja assim, mas não gosto. Me incomoda as pessoas não se sentarem para conversar. Quando vou a uma festa e vejo cem amigos com quem não posso conversar porque a música é alta, saio na mesma hora. Estou buscando coisas mais delicadas. Não gosto de violência explícita, sangue saindo, não vi e não vou ver Tropa de Elite, não me faz bem.


O que mudou na TV?


Ela melhorou tecnologicamente, há mais pessoas de talento. É maravilhoso ver um time de sessentões – eu, Suzana Vieira, Renata Sorrah, Antônio Fagundes, Stênio Garcia, Marília Gabriela – em papéis importantes, protagonizando, e não como avós, cozinhando, tomando conta de netos. Na novela, as mulheres têm seus homens, vida sexual, pele boa. Então a TV mudou para melhor.


Ser ator é estar exposto profissionalmente à rejeição. Como você lida com isso?


Na TV a gente é exposta a um grande julgamento. E o ator fica triste quando seu personagem não é o ideal, afinal ele quer ser amado. Não acredito nos que dizem que tiram de letra quando não agradam. Mas eu não, sofro mesmo.’


 


TROPA DE ELITE
Alline Dauroiz


Aposta internacional


‘Enquanto Globo, Record, Rede TV! e SBT se digladiam para saber quem fará o seriado do filme Tropa de Elite, o diretor do longa, José Padilha, está de olhos brilhando por uma proposta de terras distantes.


‘Uma produtora estrangeira se ofereceu para fazer comigo a minissérie, que só depois de pronta seria vendida à TV aberta’, conta o diretor.


O interesse de Padilha pela parceria com os gringos está na possibilidade de fazer a série do jeito que quiser. ‘Algumas emissoras propuseram total liberdade de criação e direção. Em outras, porém, teria uma liberdade ‘vigiada’, diz ele.


Sem prazo para definir quem vai arrematar nesse leilão, Padilha dá pistas de qual é sua idéia para o novo programa. Uma delas é a de dividir a direção com outros nomes do cinema e da publicidade, pois ele acha que tocar sozinho uma minissérie é muito cansativo.


Outra certeza é a de que a série não será uma adaptação do longa. ‘Não quero picar o filme em pedaços. Será uma história totalmente nova.’ Independentemente de quem vai levar a melhor nas negociações, Padilha quer começar a gravar a série em junho de 2008.’


 


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 31 de outubro de 2007


COPA 2014
Clóvis Rossi


Orgulhosos, mas cegos


‘ZURIQUE – Por muito que passe o tempo nas estradas da notícia, por muito que o Brasil político convide ao ceticismo, já a caminho do cinismo, ainda assim há coisas que conseguem me espantar. Exemplo: a nutrida comitiva de políticos brasileiros que, chefiada pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, veio a Zurique para a confirmação do Brasil como país-sede da Copa de 2014.


Se fosse disputa, vá lá. Mas para uma mera confirmação?


Até eu já sabia que o Brasil estava escolhido havia meses. De todo modo, o tamanho da comitiva acabou sendo o espanto menor. Ao término da cerimônia oficial, aberta a sessão para perguntas, uma jornalista do Canadá, Erica Bouman, fez a pergunta mais ou menos óbvia sobre como o Brasil poderia garantir a segurança, em sendo um país perigoso, com grande número de mortes.


O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, reagiu como se a pátria tivesse sido ultrajada. Desviou a questão para o tema da violência em outros países, o que é real, mas passa alegremente por cima do fato de que quem vai organizar a Copa de 2014 é só o Brasil.


Foi aplaudido furiosamente pela nutrida comitiva, como se tivesse resgatado a honra verde-e-amarela.


Pior: seus assessores puseram em circulação, como é de praxe no Brasil, uma teoria conspiratória. A repórter (da AP norte-americana) teria sido instruída por seu governo, supostamente interessado em assumir a Copa outorgada ao Brasil, se o país falhasse nas providências necessárias.


O técnico Dunga, um dos que espalhavam a suspeição, batia no peito, lamentava que os jornalistas brasileiros supostamente acreditassem na canadense (que, aliás, apenas apontava fatos reais) e reclamava: ‘Temos que ter orgulho de sermos brasileiros’.


Tudo bem, mas temos também que ser cegos?’


 


DEBATE PÚBLICO
Ruy Castro


Intrépidos e vacilões


‘RIO DE JANEIRO – Intrépido, segundo os dicionários, é quem não trepida, treme, hesita ou vacila. Em compensação, a gíria consagrou vacilar como dar um fora, errar, fazer feio. Pois nossos mandatários estão conseguindo ser intrépidos e vacilões ao mesmo tempo.


Começou pelo governador Sérgio Cabral, que classificou os úteros das mulheres dos morros como uma ‘fábrica de marginais’. Por acaso conheço algumas dessas mulheres -uma trabalha comigo e outras, com pessoas de quem sou próximo. Por ter filhos, que criam bravamente e nada indica que serão marginais, todas se ofenderam com a frase. Todas são também eleitoras. Lamento informar ao governador que ele perdeu 100% dos votos delas.


Dias depois, o prefeito Cesar Maia, não se conformando em ficar para trás, afirmou que o fechamento do túnel Rebouças afetou apenas os proprietários de carros. Da mesma forma, os porteiros do meu prédio e de outros prédios que freqüento, todos moradores da zona Norte e usuários de ônibus que vinham pelo túnel, pareciam enfurecidos pelas palavras do alcaide. Mais votos perdidos pelo ralo.


Por fim, o presidente Lula, sobre um tópico do momento, dividiu as pessoas entre as que ‘fazem um discurso sério’ e outras que ‘só querem fazer carnaval’. Quer dizer que, para o presidente, o Carnaval não é sério? Seus conterrâneos de Pernambuco, que tanto se orgulham de seu Carnaval, devem ter se desapontado com o preconceito presidencial. Imagine então a revolta das comunidades cariocas que fazem do Carnaval uma base, 365 dias por ano, para seu lazer, cultura e economia.


É melhor vacilar -no sentido de hesitar, titubear- antes de abrir a boca do que ter de sair se explicando e pôr a culpa na imprensa, acusando-a de ter interpretado mal os seus, estes, sim, vacilos.’


 


MEIO AMBIENTE
Luiz Flávio Borges D´Urso


Transformando a verdade inconveniente


‘‘UMA VERDADE inconveniente’, título do documentário idealizado pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos Albert Arnold Gore Jr., sensibilizou aqueles que decidem o vencedor do Prêmio Nobel da Paz até a Academia de Hollywood, que lhe premiou com um Oscar.


O filme sobre a degradação do meio ambiente também colaborou para incluir a questão climática na agenda prioritária do mundo e deixou um recado do próprio Al Gore que ecoa em nossos corações e mentes: ‘Enfrentamos uma verdadeira emergência planetária. A crise climática não é uma questão política, é um desafio moral e espiritual para toda a humanidade’.


Para engrandecer o aviso da gravidade do problema, o Prêmio Nobel foi dividido com o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), cujo presidente, o cientista indiano Rajendra Pachauri, se tornou uma das vozes mais atuantes contra o modelo de desenvolvimento que transforma o clima e leva ao aquecimento global.


Mas o que podemos fazer no nosso cotidiano? Sem dúvida, promover a educação ambiental de forma incansável para que as futuras gerações adquiram novos valores e tenham uma transformadora percepção sobre a questão, uma vez que tudo o que comemos, como moramos, como nos deslocamos, o que consumimos e como descartamos nosso lixo impacta todos os seres e o planeta.


É nesse processo de conscientização que se insere a Campanha em Defesa do Meio Ambiente da OAB-SP, a ser lançada hoje. Entre outras iniciativas, pretende mudar hábitos e atitudes dos estudantes da rede pública por meio do projeto OAB Vai à Escola, que há 11 anos vem levando cidadania a milhões de estudantes por meio do trabalho de 10 mil advogados voluntários. Também quer propor medidas simples, como o recolhimento do óleo de cozinha, transformando esse resíduo altamente poluidor em energia ou sabão, uma vez que um litro de óleo basta para poluir 1 milhão de litros de água.


Temos também um imenso arsenal para defender o planeta minuciosamente detalhado na Agenda 21, mas pouco se fez efetivamente nesse sentido. Passados exatos 15 anos desde o estabelecimento do documento-agenda na Conferência das Nações Unidas que debateu o meio ambiente e sua interface com o desenvolvimento, no Rio de Janeiro (1992), precisamos urgentemente fazer um balanço dos nossos avanços no cumprimento de metas e propostas nele contidas.


É hora de calcular quanto cada cidadão e cada país precisa fazer para salvar o planeta de tantas catástrofes ambientais anunciadas em maior ou menor grau. Nisso, o documento traz a sábia divisão das responsabilidades.


A Agenda 21 nada mais é do que um plano de propostas de ações para serem adotadas em níveis local e nacional para chegar num resultado global. Organizações do sistema das Nações Unidas, todos os governos, entidades da sociedade civil e cada cidadão devem fazer sua parte para mitigar práticas que impactam o meio ambiente. Ou seja, constitui-se na mais abrangente tentativa de orientar a sociedade mundial para um novo padrão de desenvolvimento, que tem como base a convergência de ações que tratem da sustentabilidade ambiental, social, econômica e cultural como um todo.


Naturalmente, a Agenda 21 é um dos compromissos assumidos. Além dela, resultaram desse processo quatro outros acordos de abrangência universal -a Declaração do Rio, a Declaração de Princípios sobre o Uso das Florestas, a Convenção da Biodiversidade e a Convenção sobre Mudanças Climáticas, que tem merecido as mais calorosas discussões porque os resultados maléficos do aquecimento global chegam todos os dias. É possível esquecer o furacão Katrina, o derretimento de geleiras milenares, a desertificação de terras antes agricultáveis, a seca na floresta amazônica, para citar as mais contundentes?


Nada é impossível. Mas por que parece tão difícil avançarmos no cumprimento das propostas do ecologicamente correto? Certamente porque ainda não houve, na conduta da elite político-econômica mundial, a verdadeira e necessária integração entre meio ambiente e desenvolvimento na tomada de decisões, com a sublimação do moderno conceito socioambiental a determinar que homem e natureza são entes indissociáveis.


A cegueira torna a verdade da degradação ambiental inconveniente, mas é preciso abrir os olhos para a nossa responsabilidade e para o fato de que todo ato poluidor não é isolado, tem reflexos sobre toda a humanidade e sobre o planeta.


LUIZ FLÁVIO BORGES D’URSO, 47, advogado criminalista, mestre e doutor pela USP, é presidente da OAB-SP (seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil).’


 


Folha de S. Paulo


Assessor de Bush editou texto sobre clima, diz revista


‘O conselheiro científico do presidente dos EUA, George W. Bush, participou da edição de um testemunho dado ao Congresso do país sobre os efeitos do aquecimento global para a saúde, informou o site de notícias da revista ‘Nature’.


Segundo a revista, John Marburger -envolvido no passado em outras denúncias de censura a cientistas- pediu mudanças na versão escrita de um depoimento dado aos senadores pela diretora do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, Julie Gerberding.


Os pedidos acabaram resultando no corte de metade do documento original, que tinha 12 páginas. Menções a impactos potenciais de mudanças no clima, como o efeito das ondas de calor e de doenças infecciosas, além do fato de esses problemas ‘ainda não terem sido atacados’ foram eliminadas.’


 


TV PÚBLICA
Fábio Zanini


Cruvinel diz que TV pública deve se preparar para pressão política


‘A futura presidente da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), gestora da TV pública, Tereza Cruvinel, admitiu ontem que a nova emissora deverá sofrer pressões políticas em sua programação.


Em audiência na Câmara dos Deputados, a jornalista declarou que a solução para evitar a partidarização da TV, que tem estréia prevista para dezembro, é a composição de um conselho curador plural, com poderes reais de interferir.


‘O que nós temos que assegurar quanto à TV pública é a sua natureza pública. Tem risco de o governo querer influir? Tem. Em democracias até mais maduras há tentativas, sim, de governos influenciarem nas programações’, disse ela.


Provocada por deputados da oposição, Cruvinel prometeu um jornalismo ‘sem adjetivos’, mas reconheceu que o governo tentará às vezes emplacar seu ponto de vista.


‘As pessoas perguntam se o jornalismo será chapa-branca. Não, nós vamos fazer jornalismo sem adjetivos. Agora, eu não vou te assegurar que algum ministro não vá querer fazer alguma matéria a favor dele’, afirmou.


A TV foi criada pelo governo por medida provisória, o que gerou protestos de parte dos deputados que compõem o Fórum Parlamentar de Radiodifusão, que promoveu a audiência de ontem.


A TV terá conselho curador de 19 integrantes, dos quais 4 ministros e 15 pessoas de ‘alta credibilidade’, todas indicadas pelo presidente da República. Entre os prováveis componentes estão o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, o ex-governador de São Paulo Claudio Lembo (DEM) e o ex-diretor da TV Globo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni.


A audiência teve momentos quentes entre deputados do governo e da oposição, numa prévia do que ocorrerá no plenário da Câmara. Os governistas saudaram a emissora como um contraponto ao jornalismo comercial. ‘Não quero TV chapa branca, mas também não quero TV chapa preta, aquela que não deixa a gente falar’, disse o deputado federal Fernando Ferro (PT-PE).


Entre os oposicionistas, ACM Neto (DEM-BA) disse que na TV ‘mandará quem paga a conta’, numa referência ao Executivo, que proverá o orçamento anual de R$ 350 milhões. ‘Alguém pensa que o Poder Executivo vai pagar a conta e não vai procurar interferir na linha editorial?’.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


‘Craque’


‘Globo e canais de esportes deram ao vivo. E Bob Fernandes relatou no Terra, ‘craque, Lula botou todo mundo, Blatter, Platini, Beckenbauer, Teixeira’, mais Romário, Dunga, Paulo Coelho e os governadores, ‘no bolso’. Foram dele as fotos, do ‘Le Monde’ ao ‘Olé’, foram sobre ele as reportagens dos correspondentes e os despachos das agências. Em Buenos Aires, causou espécie sua declaração, em títulos, ‘Será Copa para argentino nenhum botar defeito’. A única sombra possível seria o rei Pelé, mas ele não foi. Em entrevista à Globo, o político tratou de dizer, aliás: ‘Acho futebol fantástico porque muita gente pobre consegue subir na vida. Veja a vida do Romário, do Pelé, Ronaldinho’.


NA FEIRA DE PISOS SINTÉTICOS


Ricardo Teixeira reagiu, ‘onde o Pelé está eu não sei, convidei dois jogadores’ que marcam sua gestão. Romário escorregou, ‘nada e ninguém substitui o Pelé, não sei se foi convidado ou se não quis vir’. O Terra, depois, deu que estava na Alemanha, em ‘feira de pisos sintéticos’. Disse que foi convidado, a agenda não deixou, mas está ‘feliz’.


AO ATAQUE, AQUI


Em seu blog no UOL, Juca Kfouri questionou a ‘farra’ da delegação e opinou que ‘podemos fazer a Copa, mas não deveríamos fazê-la com quem está no comando’.


Fernandes também focou Ricardo Teixeira, no Terra, afirmando que ele ‘desandou a maionese’ da cerimônia. No iG, Milton Neves questionou seus ‘asseclas’ e disse torcer para que não se veja ‘dinheiro público escoando pelo ralo’.


E Lédio Carmona postou, no blog da Globo.com, que, se a Copa for ‘organizada com responsabilidade fiscal e social, tem o meu apoio’.


E LÁ


Ao vivo na BBC, Gary Duffy relacionou os temores com infra-estrutura e outros, mas previu ‘torneio espetacular’.


No blog Goal do ‘New York Times’, Jeffrey Marcus citou a ‘falta de concorrência’. No site da ‘Sports Ilustrated’, ele que também escreve no da BBC Sports, Tim Vickery foi mais crítico, dizendo que o país ainda ‘não tem um único estádio’ apropriado à Copa.E Jonathan Wheatley, no ‘FT’, destacou a ‘recepção mista’ no Brasil, destacando internauta que comentou no UOL preferir os recursos em saúde, educação, segurança.


WOLF FALOU


Em forte crítica ao subsídio a biocombustível nos EUA e na Europa, o colunista Martin Wolf, das maiores referências na cobertura econômica no mundo, reuniu dados e quadros para apontar a ‘irracionalidade’ (acima). ‘O Brasil é, por exemplo, o fornecedor de bioetanol com maior eficiência, mas o país enfrenta tarifas de pelo menos 25% nos EUA e de 50% na União Européia.’


Para encerrar, ‘o que deveria ser feito?… acima de tudo, passar a agir para liberar o comércio de biocombustível’.’


 


INTERNET
Camila Rodrigues


Concorrente do Orkut ganha versão brasileira


‘A versão brasileira da rede social MySpace, um dos sites mais visitados da internet, entrou no ar nesta semana, pelo endereço br.myspace.com.


O site, que faz parte do conglomerado de comunicações News Corp, conta com mais de 110 milhões de usuários em 20 países e tem versões em 12 línguas. No Brasil, ela será comandada pelo ex-executivo do Google, Emerson Calegaretti.


Os brasileiros que já forem usuários poderão usar o mesmo login para acessar a versão nacional; no momento do login, aparecerá opções para continuar no MySpace Brasil ou continuar em inglês.


Já aqueles que não conhecem o serviço, poderão recorrer ao pequeno tutorial em português, cujo link está na primeira página.


Ele esclarece dúvidas simples, como mudar a cor de fundo, como inserir música e como alterar a foto quando o mouse estiver sobre ela. No entanto ainda não há suporte do site no país e, por isso, é recomendado que o usuário procure fóruns pela internet.


A proposta do MySpace é bem diferente da do Orkut. O usuário pode personalizar o seu perfil: mudar a cor e inserir imagens e músicas de fundo, escolher quais links do site ficarão habilitados e até mudar a disposição das ferramentas, conforme a sua preferência.


Outra diferença em relação à rede social do Google é que ele está mais bem integrado com outros serviços adicionais, como o mensageiro instantâneo myspaceim (que ainda não tem versão em português) e o MySpaceTV.com, site de vídeos parecido com o YouTube, que é dividido em 16 categorias e está disponível em 15 idiomas. Sua página principal já está em português, mas algumas secundárias ainda são exibidas em espanhol.


Para que os usuários possam acompanhar as últimas atualizações, foi criada a página www.myspace.com/novidades_brasil, que conta inclusive com um logotipo especial. Nela, já estão cadastrado mais de 500 perfis.


Expansão


A empresa, que foi comprada em 2005 pelo magnata das comunicações Rupert Murdoch, por US$ 580 milhões, está ampliando o número de ferramentas que oferece.


Em outubro, anunciou sua plataforma para desenvolvedores externos, fechou uma parceria com o Skype para integrar o programa de chamadas telefônicas na rede social e, na semana passada, anunciou a criação de um canal de jogos on-line, em um negócio com a Oberon Media.’


 


LÍNGUA
Folha de S. Paulo


Academias do Brasil e de Lisboa querem reforma ortográfica já


‘A Academia Brasileira de Letras e a Academia das Ciências de Lisboa encerraram ontem sua reunião de dois dias, no Rio, com um objetivo comum: pressionar seus países para que realizem o quanto antes o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que pretende unificar as grafias das palavras em toda a comunidade lusófona.


Já assinado por Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, o acordo vem encontrando resistências em Portugal, em especial de editores de livros. Eles, segundo o vice-presidente da Academia de Lisboa, Antonio Braz Teixeira, ‘estão, de novo, exercendo pressão sobre o governo português no sentido de adiar, indefinidamente, a data de início de sua [do acordo] aplicação efetiva’.


Teixeira propôs que a ABL se una à sua instituição numa campanha pela implantação da reforma em 2008.


‘Os acadêmicos portugueses se declararam absolutamente favoráveis à implantação já do acordo’, disse o presidente da ABL, Marcos Vilaça. O projeto da reforma prevê a implantação gradativa a partir de 2008, mas, para isso, é preciso que Portugal, Guiné-Bissau, Moçambique, Angola e Timor Leste ratifiquem o acordo.


Quando ele entrar em vigor, acabará o trema, serão reincorporadas ao alfabeto as letras k, w e y, e mudarão regras de uso do hífen e dos acentos agudo e circunflexo.’


 


TROPA DE ELITE
José Ernesto Credendio


Para cineasta, miséria não é a causa da violência no país


‘O DIRETOR DE ‘Tropa de Elite’, José Padilha, 40, disse ontem, em sabatina promovida pela Folha, não concordar que a miséria seja a causa da violência no país, pensamento que vê como ‘padrão’ no Brasil. Segundo ele, cidades com índices sociais piores do que o Rio são menos violentas. ‘Então, existe no Brasil algum processo que converte miséria em violência.’


O cineasta criticou declarações do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), segundo o qual a legalização do aborto ajudaria a reduzir a criminalidade. Padilha, que foi sabatinado pelo editor de Cotidiano, Rogério Gentile, e pelos colunistas Marcelo Coelho, Barbara Gancia e Gilberto Dimenstein, contou que já fumou maconha e defendeu a descriminalização das drogas. Ele fará um filme que pretende retratar a corrupção política no país -’O Corruptólogo’.


O FILME PREGA QUE A VIOLÊNCIA POLICIAL É MAL NECESSÁRIO?


Minha resposta é não. Tentei tirar do filme argumentos pró e contra a posição do narrador. Para as pessoas olharem aquilo e refletirem a respeito. A gente tem que se perguntar por que há policiais que pensam assim.


HEROÍSMO


É muito difícil imaginar que alguém considera o Nascimento um herói. [O filme mostra que] Com o nascimento do filho, ele descobre que a sua ideologia, a violência, não é compatível com a sociedade nem com a sua família. Não consegue verbalizar isso, mas passa o filme todo em crise existencial porque percebeu isso internamente. Isso é a premissa do personagem. Qual é o drama dele? ‘Quero sair daqui.’ O que me incomoda é que as pessoas não vejam isso e, em vez de se identificar com o personagem, se identificam com o discurso do personagem.


MISÉRIA E VIOLÊNCIA


A idéia era tentar descobrir como policiais vêem a violência. Existe um discurso-padrão que explica os altos índices de violência no Brasil pela miséria. O problema é que esse discurso não resiste aos fatos. Se você pegar dados da ONU e comparar índices sociais com os de violência, vai ver que tem países e cidades com índices sociais bem piores do que os do Rio, e os de violência, muito menores. Então, existe no Brasil algum processo, algum fenômeno, que converte miséria em violência em uma taxa alta. No filme ‘Ônibus 174’ a idéia era mostrar como o Sandro ficou tão violento assim. E a tese subjacente era que o Estado produziu aquilo -a polícia matou os amigos do Sandro na Candelária, e o Sandro foi jogado em uma ‘Febem’, onde crianças apanham e são tratadas como escória. Se você faz isso com pessoas por muito tempo, as transforma em violentas. Isso é uma das coisas que convertem miséria em violência. A outra é a polícia. O que leva a polícia a isso? ‘Tropa de Elite’ diz isso: baixa remuneração, corporação corrompida por dentro… A contrapartida da honestidade na polícia brasileira gerou a violência, isso explica o discurso do Nascimento.


SANDRO E CAPITÃO NASCIMENTO


Os filmes [‘Ônibus 174’ e ‘Tropa de Elite’] têm o mesmo enfoque: quero explicar esse comportamento, não quero julgar. O processo que gera uma pessoa como o Sandro [Nascimento] é o mesmo que gera o capitão. Por isso eles têm o mesmo nome [Nascimento].


DROGAS


Não me parece razoável o Estado dizer se devo consumir maconha ou não. Não há lei que impeça o acesso à droga. O que se deve discutir no mundo real é de que forma se dará o acesso. O próximo passo é lógico: tem de legalizar. O Estado não diz se você pode ou não fumar cigarro, no entanto, faz uma campanha maciça explicando o que o cigarro faz. E cobra um imposto elevadíssimo. Acontece que [com isso] caiu bruscamente o consumo de cigarro. No mundo ideal, sou favorável à legalização das drogas e a tratar a questão como de saúde pública.


INGRESSO BARATO


Neste fim de semana devemos ter mais de 2 milhões de espectadores, deveremos chegar a mais de 3 milhões. Mas o público caiu mais rápido do que o do ‘Carandiru’ nos cinemas de classes C e D em razão da pirataria. Estamos propondo para os exibidores jogar o preço do cinema a R$ 5 para ver se esse público vai ao cinema. E não sei se não deveria existir incentivo fiscal para a compra de ingresso de filme brasileiro. Talvez aí não precisasse do incentivo para a produção ou [esse incentivo] seria menor.


COMBATE À PIRATARIA


Poderíamos fazer como o Radiohead [grupo de rock inglês], oferecer o download na internet e cobrar. Teve um cara do Sul do país que me mandou um e-mail dizendo que tinha visto o filme pirata, tinha gostado muito. Queria o número de minha conta para depositar o valor do ingresso. É uma solução genial, direto na minha conta [risos].


PRÓXIMO FILME


[É] ‘O Corruptólogo’, com a mesma maneira de filmar, [olhando o] que gera um certo político típico, como temos no Congresso. O político típico está lá por um motivo, tem a ver com as leis de financiamento de campanha. É uma idéia do Gabriel O Pensador.


IMAGEM DE ONGS


Tem ONGs seriíssimas, mas há também as que não são. Quando fiz ‘Ônibus 174’, olhei a estatística de meninos de rua e ONGs no Rio. Eram 3.400 meninos de rua e 1.615 ONGs. Se cada uma pegasse dois, acabava o problema. As ONGs são importantes, mas desconfio da proliferação. O filme não é tese científica. Uma tese tem metodologia e lógica próprias, mas são simplificações também. No cinema, que não tem a lógica da pesquisa, mas a da dramaturgia, a simplificação é maior ainda. A ONG do filme está inspirada numa do morro Dona Marta. O cara da ONG quase terminou como o do filme.


FUMA MACONHA?


Não. Já fumei.


ABORTO E VIOLÊNCIA


O aborto é uma discussão muito complicada, que não tem só a ver com violência. É um argumento muito ruim [do governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro] dizer que legalizar o aborto diminuirá a violência. É muito complicado entender os fenômenos sociais.


LUCIANO HUCK


Céus…! O artigo dele existiu em um contexto. O Confúcio, vou apelar a ele, fala assim: ‘Em um país justo, a miséria é uma vergonha. Em um país injusto, a riqueza é uma vergonha’. No Brasil existe crítica à riqueza e à ostentação. O que acho que ele quis dizer foi: ‘Posso usar um Rolex, porque não roubei esse Rolex’. Eu não usaria um. Acho que faltou a ele parar para pensar no contexto. Mas discordo do tom do artigo. Dizer ‘chama o Capitão Nascimento’ é uma reação emotiva, mas a idéia é errada, pois o Capitão Nascimento acredita na coisa errada.


EFEITO EM CRIANÇAS


Meu filho de quatro anos canta uma música do filme: ‘Morro do Dendê é ruim de invadir…’. Não é proibindo música que vai reduzir violência. A idéia de que o filme é perigoso é ruim. O filme é para maiores de 16 anos, mas a cópia pirata não é proibida para ninguém.


REAÇÃO NA PUC-RJ


Em um debate na PUC, um cara perguntou o que eu achava que tinha feito com a imagem da PUC. Comecei a rir, e ele disse que eu não poderia rir. Usei lá como locação. Tinha uma pessoa da PUC me acompanhando na filmagem. Aí o aluno disse: ‘Quem foi essa pessoa?’. Respondi: ‘Por que, você vai botar a pessoa no saco?’.’


 


ERRO FATAL
José Eduardo Rondon


‘Morto’ em livro, cantor processa o Piauí


‘‘Você não morreu?’ Foi ao atender ligações de conhecidos com a inusitada pergunta que um cantor popular do Piauí, com 50 anos de carreira e que teve projeção nacional na década de 1960, ficou sabendo que havia ‘morrido’. Ao menos é o que dizia um livro didático adotado pela Secretaria da Educação do Estado.


O caso foi parar na Justiça, com um ação indenizatória por danos morais, psíquicos e materiais contra o governo do Piauí movida pelo cantor Roberto Müller, 70.


‘Ainda em 1963, Roberto Müller, um piauiense de Piracuruca, tornou-se sucesso nacional com a música ‘Entre espumas’. Faleceu ainda jovem e é lembrado com carinho pela sua contribuição’, diz trecho do livro, usado em 2004 por alunos da rede estadual.


A ‘informação’ em ‘Educação Sem Fronteiras’, na página 14, que trata do tema Arte.


‘Vivíssimo’, Müller, que tem dez filhos, disse à Folha ter ficado sabendo que estava ‘morto’ ao começar a divulgação de um show em setembro em Teresina.


Na ação, que não estipula um valor para a indenização, o cantor ‘requer, pasmem, o reconhecimento perante o Estado do Piauí, sua terra natal, de que se encontra vivo’.


Müller, que conta já ter dividido o palco com nomes como Angela Maria e Cauby Peixoto, disse ter se sentido ‘humilhado’ ao saber de sua ‘morte’.


Afirmou que o erro é ‘motivo de chacotas, piadas, brincadeiras de mau gosto’. A ação indenizatória, que diz que o livro continua em circulação, pede o seu recolhimento.


A divulgação na obra da falsa morte do cantor remete ainda a um verso da música citada: ‘Como em sonho, minha vida se acabou’.


Errata


A Secretaria da Educação do Piauí, por meio de nota, informou que ‘assim que tomou conhecimento do fato reuniu os autores da obra [dois professores do Estado] para tomarem as devidas providências e corrigir o erro’. ‘Foi redigida uma errata’, segundo o texto.


Ainda de acordo com a nota, uma das professoras que participaram da elaboração do livro pediu desculpas e prestou os devidos esclarecimentos pessoalmente ao cantor. Müller negou que tenha recebido pedido de desculpas pessoalmente.


Cerca de 10 mil livros foram distribuídos, conforme a pasta, que diz que eles fazem parte de uma coleção adotada em programa de educação de jovens e adultos e tem seu conteúdo regionalizado. O órgão diz que o livro não é mais utilizado.


A secretaria informa que ainda não foi notificada oficialmente da ação.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Prefeituras bancam 33% das TVs do país


‘A cobertura das grandes redes comerciais só atinge quase 100% do país graças ao dinheiro público que 1.604 prefeituras gastam na compra e manutenção de estações que repetem a programação das TVs.


Estudo acadêmico realizado pelo pesquisador James Görgen, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, revela que 3.270 das 9.927 retransmissoras de TV (RTV) do país foram outorgadas e estão sob responsabilidade de 1.604 prefeituras. Os municípios gastam até R$ 21 mil anuais com manutenção. Com a TV digital, terão que investir pelo menos US$ 20 mil em um novo transmissor.


De acordo com o levantamento inédito, 42% (1.358 de 3.222) das RTVs da Globo são mantidas por prefeituras. Outras 1.861 RTVs da Globo são de afiliadas. Apenas três são da própria Globo. Já a TV Cultura, pública, mantém 201 (40%) das 506 RTVs de sua rede.


A Band é a que mais depende de prefeituras (54% das RTVs). Depois vêm Globo, Rede TV! (40%), SBT (37%) e Record (35%). A maior parte das cidades (1.415) retransmite até três redes. As TVs, embora ganhem com a cobertura, não repassam nada para os municípios.


Baseado no sociólogo Max Weber, Görgen aponta dois tipos de relações entre TVs e prefeituras: as dominações ‘patrimonial’ (uso do público em prol do privado) e ‘carismática’ (prestígio da programação e força do jornalismo da TV).


ALFINETE 1 A Record exibiu ontem editorial em que questionava a escolha do Brasil para sede da Copa do Mundo de 2014. ‘Será que a ganância de alguns está fechando os olhos dos nossos governantes para fazer prevalecer o interesse desta minoria, que, com recursos públicos, poderá, sob pretexto de uma obrigação internacional, passar por cima dos verdadeiros interesses do país, que são resolver os problemas de segurança, saúde, educação entre outros?’, perguntava o editorial de Edir Macedo.


ALFINETE 2 Dentro da Record, o uso do termo ‘ganância’ foi interpretado como um ataque à Globo, detentora dos direitos exclusivos de transmissão da Copa de 2014. Mas executivos da Globo disseram que não perceberam nenhuma indireta à emissora.


ROAD SHOW A Disney está oferecendo às redes a transmissão de um reality show que escolherá os dois protagonistas da versão brasileira do musical ‘High School Musical’. Já conversou com a Globo, Record e Band.


BANHO-MARIA O SBT adiou a produção de uma novela escrita por Íris Abravanel. O texto da mulher de Silvio Santos não será mais o substituto de ‘Amigas e Rivais’, cujas gravações terminam neste mês. A novela de Íris deve ficar para 2009. É que o SBT tem acordo com a Televisa em que só pode produzir versões de textos mexicanos.


DÚVIDA O SBT ainda não definiu qual será a novela que entrará no lugar de ‘Amigas e Rivais’, no início de 2008.’


 


João Pereira Coutinho


Os coxos também dançam


‘EU PRECISO de ajuda. Urgente. Três semanas fechado em casa, o telefone religiosamente desligado. Trabalho por fazer. Louça por lavar. Amigos que batem à porta, aguardam, desesperam e partem. E eu, com barba de profeta e cabelo de Tarzan, comendo Cheetos e fedendo como a Cheetah, de pijama e robe, e visionando todas as temporadas de ‘House’. Terei cura? Pior: terei defesa? Sim, eu sei: não existe publicação, site ou mero blog que não diga o óbvio. House é uma reencarnação de Sherlock Holmes. O próprio criador da série, David Shore, não nega as influências e as evidências. Sherlock investigava crimes? House investiga doenças. Sherlock não precisava de recolhas empíricas, optando antes, na boa tradição idealista, por deduções científicas? House também não precisa: o doente é dispensável, a doença é tudo que interessa. Sherlock era um solitário e um celibatário? House solitário é.


Sherlock tinha pouco amigos -um único, na verdade? House tem Wilson e sua paciência de santo. Sherlock, nas horas de lazer, permitia-se a umas notas de violino? House prefere a guitarra e o piano. E se Sherlock não resistia ao ópio e à cocaína, House prefere os analgésicos para matar as dores da perna, ou da alma.


Mas isso não chega. É preciso mais. Eu preciso de mais. Porque o sucesso de Sherlock Holmes e de House também explica a época em que ambos viveram. E então recordo Londres, a capital do mundo no século 19, quando Jack, o Estripador andava à solta para a perdição das mulheres. Tirando os melhores bairros, como Belgravia ou Mayfair, Londres era um viveiro de crime e delinqüência. O sítio perfeito para o detetive perfeito. E o detetive apareceu: uma criação de Arthur Conan Doyle que depressa ganhou existência independente do criador. Ainda hoje o nº 221 B de Baker Street recebe correspondência para ele: novos casos, novas angústias, pedidos de horários e de honorários. A porta é sede de um banco, que tem departamento para responder às cartas.


Que, apesar de muitas, vão decrescendo com o tempo. Elementar, meu caro Watson: o crime foi recuando na vida cotidiana do homem ocidental. Tirando bolsas de pobreza e violência, na África ou na América Latina, é possível que um europeu ou um norte-americano atravesse a vida sem jamais conhecer um roubo, uma agressão, um homicídio. Exceto pela TV. O grande medo do século 21 para o Ocidente rico não é mais o crime, como na Inglaterra vitoriana. O grande medo é a saúde: vivemos mais, vivemos melhor; mas essa longevidade, aliada ao culto do corpo e da juventude, tornou-nos mais medrosos, atentos, hipocondríacos.


Foi assim que Sherlock Holmes deu lugar a Gregory House. E foi assim que eu, um amante de Sherlock, encontro House e vicio-me novamente. Amigos vários murmuram que a explicação para o fato não é histórica; é bem pessoal. E acrescentam que eu nunca resisti a coxos, na medida em que também sou um. Mentira. Coxo, House? Coxo, eu? Como Sherlock cem anos atrás, House relembra ao mundo que a única elegância que fica é a inteligência humana a dançar sapateado.’


 


JORNALISMO CULTURAL
Folha de S. Paulo


Jornalismo cultural é tema de debates


‘A partir de hoje o Instituto Pensarte realiza uma série de debates virtuais sobre a prática do jornalismo cultural por meio do site www.culturaemercado.com.br.


Os internautas poderão fazer considerações sobre os temas propostos no site, que publicará até março do próximo ano artigos de doze acadêmicos, artistas e intelectuais.


Entre os participantes, estão Maria Benites, coordenadora do programa de doutorado em Educação na Universidade de Siegen, na Alemanha, e Massimo Canevaci, professor de Antropologia Cultural da Universidade La Sapienza, de Roma.’


 


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