Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornais se reinventam para sobreviver ao mercado

Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 29 de outubro de 2007


O FUTURO DOS JORNAIS
Pedro Doria


É hora de os jornais contra-atacarem


‘Há duas novidades na história de luta pela sobrevivência dos grandes jornais perante as novas tecnologias de comunicação. Estas duas últimas semanas marcaram uma nova estratégia para dois dos mais tradicionais diários do mundo, que acabam de se reinventar. O primeiro é o espanhol El País; o segundo, o britânico The Guardian.


El País é um jornal de esquerda. Fundado em finais dos anos 70, quando o franquismo começava a deixar o país, aquele era um jornal de vanguarda, um bocado a cara da nova Espanha que nascia. Durante os últimos 30 anos, circulou todos os dias com o slogan ‘Diário independiente de la mañana’ impresso no cabeçalho. El País cresceu com a Espanha e lhe ensinou, após umas quatro décadas de ditadura, o que era liberdade de expressão.


Hoje é um dos jornais mais respeitados e influentes do mundo – nesta lista, o único em espanhol.


E agora El País circula com o slogan ‘El periódico global en español’ no cabeçalho. Rompeu com suas fronteiras nacionais e quer noticiar o mundo a todos que falam espanhol: ou seja, El País agora circula em toda América Latina e EUA e passa a ter mais repórteres locais para falar do que interessa a essa comunidade, não importa onde for.


A estratégia, ousada, conta com a internet. Para divulgação, por exemplo. Onde andam anúncios do Google – aqueles bloquinhos de texto AdSense -, mesmo aqui no Brasil, lá está um convite para assinatura local do jornal espanhol. (São três vezes de R$ 79 para quem quiser receber as edições de sábado, domingo e segunda – que são as mais bem fornidas.)


Mas o site também é importante. Foi todo remanejado: quer ser a portada – a página inicial – de todos que falam espanhol e se interessam pelo que se passa no mundo. Não será jamais substituto para um jornal local. Mas garante que nenhum jornal local será tão cosmopolita e sofisticado quanto ele. É o jornal que faz, por exemplo, uma das melhores coberturas atuais do Oriente Médio. Ou das coisas da literatura.


Esse empurrão para a globalização foi o que sentiu o Guardian. Também de esquerda, mas um quê mais velho – foi fundado ainda no século 19 para falar dos interesses dos operários na Revolução Industrial britânica -, o Guardian partiu para o Oriente Médio pesadamente após o 11 de Setembro. E, nos tempos da internet, seus editores perceberam que vinham recebendo um notável número de visitas de leitores dos EUA.


Mais especificamente: 40% dos leitores que o diário britânico recebia pela internet vinham dos EUA. Esse era um comportamento inusitado. Americanos sempre leram – e satisfeitos – a sua própria imprensa. (Estão, diga-se, bem servidos de bons jornais.) Mas, com a retração da imprensa dos EUA perante a agressiva política de George W. Bush, algo mudou para uma parcela dos leitores.


Não foi só o Guardian que percebeu leitores vindos dos EUA. A BBC também o sentiu no site. Mas o percentual de leitores americanos era tão alto no velho jornal fundado em Manchester que seus editores decidiram ousar.


Assim nasce o site GuardianAmerica.com. O conteúdo de política externa é o mesmo do Guardian britânico. Mas agora há uma redação de bom porte em Washington, com correspondentes em Nova York, Los Angeles e grandes cidades.


É isso mesmo: foram competir pelo poupudo mercado publicitário americano com o New York Times, a Time, o Washington Post. Empáfia? Aparentemente, não. Há mercado. E, assim, um jornal parece que garantirá sua sobrevivência.’


 


RÁDIO
O Estado de S. Paulo


Rádio Eldorado dá início a projeto de rede nacional


‘A Rádio Eldorado, empresa do Grupo Estado, atravessou a fronteira de São Paulo e passa a ter sua programação reproduzida em Curitiba a partir de hoje, por meio da Rádio Clube B2 AM. Com essa afiliada, a rádio inaugura uma nova etapa em seus 50 anos de existência: dá largada ao projeto de implantação de uma rede nacional de rádio. Um projeto que, em breve, pretende chegar ao Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília.


A emissora, que já tem parte de sua programação disponível via internet (www.radioeldorado.com.br), amplia agora seu público com a formação de uma rede de emissoras associadas. ‘O rádio em geral vive um ótimo momento, graças à possibilidade de ser ouvido em outros suportes, como até mesmo no celular’, diz Miriam Chaves, diretora-executiva da Rádio Eldorado. ‘Para nós, que estamos implantando um projeto de rede, que oferece formatos e conteúdos flexíveis, o momento é ainda mais animador’, completa.


CUMPLICIDADE


‘A intimidade que só o rádio consegue criar com o ouvinte é um ponto favorável num mundo multifacetado, já que, cada vez mais, queremos fazer mídia segmentada para atingir públicos locais’, diz o diretor-geral de Mídia da Talent, Paulo Stephan. ‘ O rádio é um grande parceiro ao aproximar os anunciantes desses ricos microcosmos. Por isso, aqui na Talent consideramos sempre relevante esse canal para nossos clientes.’


O único medo do publicitário Stephan é o fato de a formação de uma rede poder vir a comprometer a produção local, justamente a que gera esse clima de cumplicidade com a comunidade. Mas, no caso da Eldorado, não há risco disso vir a acontecer, diz Sérgio Santos, gerente da rádio. A proposta de negociação com as futuras afiliadas tem a intenção de preservar a programação produzida pela própria afiliada.


‘Vamos, isto sim, agregar valor retransmitindo a nossa programação jornalística, esportiva e musical’, explica Regiane Santos, executiva recém-contratada para a Rede Eldorado, antes responsável pela gerência de rede nas rádios Antena 1, Band e Transamérica.


A programação jornalística da Eldorado é respaldada pelos profissionais que produzem conteúdo para as empresas do grupo – os jornais O Estado de S.Paulo, Jornal da Tarde e Agência Estado. Há dois modelos de negócios sendo oferecidos nessa fase de negociação com as emissoras: receber programas separados ou ter acesso à retransmissão completa.


Localmente, caberá a cada emissora do sistema a comercialização dos espaços publicitários, sobre os quais terá participação na receita.


REDE


O formato de rede para as rádios é adotado com freqüência em muitos países da Europa e também nos Estados Unidos, entre outras razões, por proporcionar redução de custos e simplificação de comercialização de cotas de propaganda nacionais e locais , sempre a partir da abrangência de cada emissora regional.


A Rede Eldorado será beneficiada com a cobertura dos principais eventos esportivos, entre outras razões, por conta da parceria entre o Grupo Estado e o canal de TV por assinatura ESPN Brasil. As afiliadas do sistema terão acesso às transmissões de campeonatos regionais, Brasileiro, Copa do Brasil, Copa América, Copa Libertadores, Sul Americana, amistosos da Seleção e Eliminatórias da Copa. Toda essa programação será oferecida pela Rádio Clube, a emissora mais antiga do Paraná, que iniciou suas transmissões em junho de 1924.


‘Este novo passo da Rádio Eldorado representa um grande avanço na distribuição nacional de um conteúdo jornalístico relevante e de credibilidade elaborado em conjunto com as redações do jornal O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde e Agência Estado’, explica o diretor de Conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour.


Do repertório da programação jornalística estão nomes respeitados do jornalismo, como Sonia Racy, Alexandre Garcia, Celso Ming, Geraldo Nunes, José Marcio Mendonça, Saul Galvão e Luiz Carlos Merten. Fora isso, a Eldorado disponibilizará ainda suas campanhas de educação e conscientização ambiental, que integram o projeto de fomento à cidadania.’


 


PUBLICIDADE
Marili Ribeiro


‘A era digital está mudando a publicidade’


‘Para o presidente mundial da rede de agências de publicidade Young & Rubicam (Y&R), Hamish McLennan, dentro de cinco anos, as mídias digitais – como internet ou telefones celulares – vão ter um espaço substancial no planejamento de publicidade das empresas. E lidar com essa mudança, segundo ele, exige novas habilidades dos grandes grupos de propaganda. A Young & Rubicam, presente em 81 países, tem cerca de sete mil funcionários e conta com clientes como Ford, Colgate-Palmolive, Danone, Xerox e Telefónica. A rede integra o maior conglomerado de comunicação do mundo, o WPP. McLennan esteve no Brasil na semana passada e conversou com o Estado:


As novas mídias estão em alta. Quais seriam e como quantificar esses canais de comunicação?


O que acho interessante nesse processo de transição que vivemos é perceber que as pessoas já aceitam que tudo é mídia, que mídia é conteúdo e que tudo está mudando. Uma forma simples de responder a essa questão é entender que novas mídias são tudo o que está aparecendo em formato digital. A era digital está mudando a maneira como as pessoas consomem a mídia. E isso veio para ficar. É para sempre. O que eu vejo é que a maneira como as pessoas consomem mídia vem mudando aceleradamente.


Qual é o desafio para as agências nesse momento?


O grande desafio está em conseguirmos talentos e treiná-los para essa realidade. Na Austrália, há três anos, começamos a viver a experiência da renovação. A nossa agência trabalhava muito bem com a publicidade em papel e em rádio. Passamos então a redefinir nossas ofertas para os clientes, estimulando-os a encarar ações digitais. Três anos depois, 10% de nossa equipe dedica-se apenas aos formatos digitais. Com essa mudança, conseguimos gerar a maior receita que a agência já havia obtido na Austrália.


Quanto tempo levará para a consolidação das mídias digitais?


Os padrões de comportamento em relação à forma como as pessoas consomem tecnologia são similares em todo o mundo: uso intensivo da internet, o público se afastando das mídias convencionais, os jovens se comunicando por celulares e serviços de mensagens rápidas… Em cinco anos o cenário de mídia estará irremediavelmente alterado. Uma empresa com presença global, como a Y&R, tem de ter conhecimentos e procedimentos para construir marcas para seus clientes nesses novos canais de comunicação. A mídia está se fragmentado rapidamente e precisamos ter um tipo de profissional que saiba trabalhar todas essas possibilidades.’


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Dança de mutantes


‘Buscando dar uma turbinada na audiência da novela – que estacionou na casa dos 13 pontos -, o autor Tiago Santiago começa a promover uma ‘ dança de mutantes’ em Caminhos do Coração, da Record.


Uma leva de personagens está deixando a novela nos próximos capítulos, para a chegada de outros, novos. Na lista dos que deixam o folhetim estão Ricardo Petraglia e Gisele Policarpo.


‘A trama policial, com várias vítimas, já apontava para essa direção. O que eu não tinha certeza que iria acontecer, mas vai, devido à aceitação, é a entrada de mais mutantes, no caso, mutantes do mal’, conta Santiago. ‘O primeiro mutante do mal a ser escalado será Vlado, um mutante vampiro.’


O autor acredita que com a chegada de novos personagens a novela tende a ficar mais divertida. Haverá também um aumento nas cenas de luta entre mutantes do mal e do bem, ganhando mais ação. A trama estará mais X-Men do que nunca.


‘Também começam as cenas de amor de Marcelo (Leonardo Vieira) e Maria (Bianca Rinaldi). Temos uma boa média de ibope, mas aposto que vai subir.’’


 


CULTURA
Francisco Quinteiro Pires


Silvio Da-Rin assume o Audiovisual


‘O cineasta carioca Silvio Da-Rin assume nesta semana o comando da Secretaria do Audiovisual, órgão subordinado ao Ministério da Cultura. O atual secretário, Orlando Senna, no cargo há cinco anos, será o diretor-geral da TV Brasil, emissora pública federal, cujas atividades têm início em 2 de dezembro.


Da-Rin afirmou que atuará como continuador dos planos e das ações da secretaria. ‘Existem muitos programas em curso dos quais preciso me inteirar’, diz o cineasta sobre a conciliação entre a continuidade e aprofundamento dos atuais projetos e a apresentação de novas idéias para o setor audiovisual brasileiro.


O cineasta carioca recebeu o convite de Orlando Senna no dia 17 deste mês. ‘Vou atuar dentro do espírito de trabalho em equipe, implantado por Senna’, diz Da-Rin. ‘Novas propostas vêm com o tempo, o caminho se faz andando, como diz o poeta’, ele continua.


Nomeado representante da sociedade civil, em 2004, no Conselho Superior do Cinema, Silvio Da-Rin vai se licenciar da vice-presidência da Associação Brasileira de Cineastas (Abraci), cargo que ocupa atualmente. O conselho formula e implementa políticas públicas para o desenvolvimento da indústria cinematográfica nacional.


As principais metas pretendidas por Da-Rin passam pelo incremento dos investimentos da secretaria, pela universalização do acesso aos bens culturais produzidos pelo setor, pelo aumento dos pontos de exibição de obras audiovisuais e pela aplicação descentralizada dos recursos federais. ‘A função do Estado passa pela difusão e acesso às obras audiovisuais, embora a distribuição de recursos públicos não mude sozinha a situação.’


A continuação de programas como Revelando Brasis, cuja terceira edição foi lançada na semana passada e que oferece oficinas sobre produção de vídeos em cidades de até 20 mil habitantes, e a Programadora Brasil, que exibe um catálogo de 179 filmes em mais de 360 pontos de um circuito não-comercial, espalhados em 224 municípios, são fundamentais para alcançar essas metas, de acordo com o futuro secretário.


Da-Rin estará no cargo quando forem abertas, em 5 de dezembro, as inscrições de sete editais que vão liberar quase R$ 10 milhões para o fomento da produção audiovisual. As categorias contempladas são: longa-metragem ficcional de baixo orçamento (R$ 5 milhões); desenvolvimento de roteiros inéditos (R$ 500 mil); curta-metragem ficcional, documental ou experimental (R$ 1,6 milhão); curta-metragem de animação (R$ 600 mil); curta infanto-juvenil (R$ 1,2 milhão); curta para participantes de projetos sociais (R$ 600 mil) e série de animação para televisão (R$ 300 mil).


Ao aceitar o convite para assumir a Secretaria do Audiovisual, Silvio Da-Rin abortou um projeto cinematográfico sobre o sertanista José Carlos Meirelles, que há 30 anos trabalha com índios isolados na fronteira do Acre com o Peru. Lançou neste ano o documentário Hércules 56, que virou livro homônimo (Jorge Zahar, 352 págs. R$ 49) e que trata do seqüestro, em 1969, do embaixador norte-americano Charles Elbrick por militantes da luta armada contra o regime militar. Ele também é autor do livro Espelho Partido (Azougue, 248 págs., R$ 36), um marco no estudo da evolução do documentário no Brasil.’


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 29 de outubro de 2007


CELEBRIDADES
Ruy Castro


Onipotentes


‘RIO DE JANEIRO – Mera coincidência. Vários aeroportos que freqüentei nos últimos anos foram brindados dias depois com a presença de um (com perdão pelo oxímoro) cantor de rap chamado Snoop Dogg. Aos 36 anos, Dogg não se limita a ladrar -morde também. Está sempre com uma arma ou droga no bolso ao passar por aeroportos. Ao ser revistado, irrita-se, depreda a Sala Vip, acerta o nariz de três funcionários, vai preso, paga uma fiança de US$ 200 mil e sai livre, até novo fuzuê no aeroporto seguinte.


Outra celebridade, Britney Spears, 26, é famosa por tomar porres cósmicos, quebrar boates, agredir fotógrafos, descer do carro sem calcinha, entrar e sair de clínicas para dependentes, raspar a cabeça, perder a guarda das filhas e atropelar gente na rua e fugir sem prestar socorro. Nunca a ouvi, mas parece que Britney também canta -é até chamada de ‘princesinha do pop’.


E há Amy Winehouse, que, pelo pouco que escutei, sabe cantar, mas não creio que chegue aos 100 anos -ou aos 24. Amy é uma antologia ambulante de birita, cocaína, maconha, heroína e Special K, este um remédio para cavalo. Seu aspecto é terrível. Está sempre machucada, as overdoses são freqüentes e, naturalmente, ela não admite se tratar. Seu organismo já não suporta alimento. Tem 23 anos.


Snoop, Britney e Amy não são ‘rebeldes’ -apenas pessoas doentes. Mas são também à prova de ajuda porque, pelos milhões que representam, se julgam onipotentes. Nas décadas de 40 e 50, a tolerância era menor. Por causa de heroína, Charlie Parker e Billie Holiday ficaram anos proibidos de trabalhar nos clubes de Nova York -quase uma morte profissional. Cumpriram a sentença, mas, falidos e tristes, já não lhes restava muito tempo: Parker morreu em 1955, aos 34 anos; Holiday, em 1959, aos 44.’


 


HUCK, FERRÉZ E O ROLEX
Zeca Baleiro


O rolo do Rolex


‘NO INÍCIO do mês, o apresentador Luciano Huck escreveu um texto sobre o roubo de seu Rolex. O artigo gerou uma avalanche de cartas ao jornal, entre as quais uma escrita por mim. Não me considero um polemista, pelo menos não no sentido espetaculoso da palavra. Temo, por ser público, parecer alguém em busca de autopromoção, algo que abomino. Por outro lado, não arredo pé de uma boa discussão, o que sempre me parece salutar. Por isso resolvi aceitar o convite a expor minha opinião, já distorcida desde então.


Reconheço que minha carta, curta, grossa e escrita num instante emocionado, num impulso, não é um primor de clareza e sabia que corria o risco de interpretações toscas. Mas há momentos em que me parece necessário botar a boca no trombone, nem que seja para não poluir o fígado com rancores inúteis. Como uma provocação.


Foi o que fiz. Foi o que fez Huck, revoltado ao ver lesado seu patrimônio, sentimento, aliás, legítimo. Eu também reclamaria caso roubassem algo comprado com o suor do rosto. Reclamaria na mesa de bar, em família, na roda de amigos. Nunca num jornal.


Esse argumento, apesar de prosaico, é pra mim o xis da questão. Por que um cidadão vem a público mostrar sua revolta com a situação do país, alardeando senso de justiça social, só quando é roubado? Lançando mão de privilégio dado a personalidades, utiliza um espaço de debates políticos e adultos para reclamações pessoais (sim, não fez mais que isso), escorado em argumentos quase infantis, como ‘sou cidadão, pago meus impostos’. Dias depois, Ferréz, um porta-voz da periferia, escreveu texto no mesmo espaço, ‘romanceando’ o ocorrido. Foi acusado de glamourizar o roubo e de fazer apologia do crime.


Antes que me acusem de ressentido ou revanchista, friso que lamento a violência sofrida por Huck. Não tenho nada pessoalmente contra ele, de quem não sei muito. Considero-o um bom profissional, alguém dotado de certa sensibilidade para lidar com o grande público, o que por si só me parece admirável. À distância, sei de sua rápida ascensão na TV. É, portanto, o que os mitificadores gostam de chamar de ‘vencedor’. Alguém que conquista seu espaço à custa de trabalho me parece digno de admiração.


E-mails de leitores que chegaram até mim (os mais brandos me chamavam de ‘marxista babaca’ e ‘comunista de museu’) revelam uma confusão terrível de conceitos (e preconceitos) e idéias mal formuladas (há raras exceções) e me fizeram reafirmar minha triste tese de botequim de que o pensamento do nosso tempo está embotado, e as pessoas, desarticuladas.


Vi dois pobres estereótipos serem fortemente reiterados. Os que espinafraram Huck eram ‘comunistas’, ‘petistas’, ‘fascistas’. Os que o apoiavam eram ‘burgueses’, ‘elite’, palavra que desafortunadamente usei em minha carta. Elite é palavra perigosa e, de tão levianamente usada, esquecemos seu real sentido. Recorro ao ‘Houaiss’: ‘Elite – 1. o que há de mais valorizado e de melhor qualidade, especialmente em um grupo social [este sentido não se aplica à grande maioria dos ricos brasileiros]; 2. minoria que detém o prestígio e o domínio sobre o grupo social [este, sim]’.


A surpreendente repercussão do fato revela que a disparidade social é um calo no pé de nossa sociedade, para o qual não parece haver remédio -desfilaram intolerância e ódio à flor da pele, a destacar o espantoso texto de Reinaldo Azevedo, colunista da revista ‘Veja’, notório reduto da ultradireita caricata, mas nem por isso menos perigosa. Amparado em uma hipócrita ‘consciência democrática’, propõe vetar o direito à expressão (represália a Ferréz), uma das maiores conquistas do nosso ralo processo democrático. Não cabendo em si, dispara esta pérola: ‘Sem ela [a propriedade privada], estaríamos de tacape na mão, puxando as moças pelos cabelos’. Confesso que me peguei a imaginar esse sr. de tacape em mãos, lutando por seu lugar à sombra sem o escudo de uma revista fascistóide. Os idiotas devem ter direito à expressão, sim, sr. Reinaldo. Seu texto é prova disso.


Igual direito de expressão foi dado a Huck e Ferréz. Do imbróglio, sobram-me duas parcas conclusões. A exclusão social não justifica a delinqüência ou o pendor ao crime, mas ninguém poderá negar que alguém sem direito à escola, que cresce num cenário de miséria e abandono, está mais vulnerável aos apelos da vida bandida. Por seu turno, pessoas públicas não são blindadas (seus carros podem ser) e estão sujeitas a roubos, violências ou à desaprovação de leitores, especialmente se cometem textos fúteis sobre questões tão críticas como essa ora em debate.


Por fim, devo dizer que sempre pensei a existência como algo muito mais complexo do que um mero embate entre ricos e pobres, esquerda e direita, conservadores e progressistas, excluídos e privilegiados. O tosco debate em torno do desabafo nervoso de Huck pôs novas pulgas na minha orelha. Ao que parece, desde as priscas eras, o problema do mundo é mesmo um só -uma luta de classes cruel e sem fim.


JOSÉ DE RIBAMAR COELHO SANTOS, 41, o Zeca Baleiro, é cantor e compositor maranhense. Tem sete discos lançados, entre eles, ‘Pet Shop Mundo Cão’.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


‘Caos’, ‘farra’


‘No site da Fifa, ‘todo o Brasil estará atento’ amanhã à confirmação da Copa. ‘Lula defende candidatura’, destacou o ‘Le Monde’ de Annie Gasnier, e ‘brasileiros não têm mais dúvida’.


Já no ‘Financial Times’ de Jonathan Wheatley, que ouviu Juca Kfouri, ‘Futebol pode vir para um caos’ de estádios e infra-estrutura. E o ‘tamanho da delegação com presidente e vários governadores dá uma pista do que pode vir por aí: farra, como dizem em português’. Na Reuters, com foto da torcida (acima), o enviado até relatou o ‘caos’ que viveu em Congonhas. No Terra da Espanha, questões de segurança e outras ‘ameaçam Brasil’. Na manchete do Terra daqui, ‘Brasil receberá a Copa sem previsão de gastos, diz consultor da Fifa’.


CACHAÇA


Ontem no ‘New York Times’ e com tradução destacada no UOL e no Terra, a reportagem ‘Uma cidade em que o mundo inteiro é um bar’. É ‘Beagá’ ou Belo Horizonte, ‘a capital dos bares do Brasil’. Mas não qualquer um, só ‘botecos’.


PETROBRAS LÁ E CÁ


No ‘FT’, entrevista com o gerente de fundos do Murray International, dizendo que investimento ‘nos emergentes nunca foi tão alto, com ações como a brasileira Petrobras, hoje a maior posição do fundo’. Petrobras que, segundo a ‘Veja’, ‘está muito, muito adiantada’ para levar a Exxon na América do Sul, barrando Hugo Chávez, e ‘prestes’ a se unir à também ‘gigante’ Vale no leilão do gás por aqui.


US$ 1,17 TRI


A Bloomberg fez longo perfil de André Esteves, escolhido para a cúpula do ‘maior banco da Europa’, UBS. Por sua ‘melhor percepção de risco’, com a experiência no Brasil e emergentes, ele foi para um dos lugares vagos após os prejuízos com a crise nos EUA comandar US$ 1,7 trilhão.


TECNOLOGIA BRIC


Sob o título ‘Mudando dos EUA aos emergentes’, o ‘FT’ noticiou a crescente demanda por alta tecnologia na África do Sul e outros, com aquisição cada vez menor dos serviços dos EUA -e maior dos Brics.


E a Microsoft teve ‘forte salto’ em vendas, noticiaram ‘Wall Street Journal’ e o ‘NYT’. ‘Especialmente na China, Índia, Rússia e Brasil’.


BUSH BLOGS


Na cola do Departamento de Estado, dois secretários -ou ministros- dos EUA, de saúde e segurança, iniciaram blogs na semana passada.


‘EL PAÍS’ GRÁTIS


E o espanhol ‘El País’ anunciou que, na trilha de ‘NYT’, ‘FT’ e talvez ‘WSJ’, abre o acesso a todo o seu conteúdo no próximo dia 15.


MICO FORA


O blog de Marcelo Leite no UOL postou na quinta-feira e jornais do exterior deram no sábado uma nova relação dos primatas ‘mais ameaçados’, com a ‘boa notícia’ de que o mico-leão-da-cara-preta e os outros dois do Brasil ‘saíram da lista’, no único ‘avanço’ ou ‘êxito’ citado por ‘NYT’ etc.


E no ‘Guardian’ o príncipe Charles saudou que o Brasil ‘está trabalhando duro para reduzir o desmatamento e com êxitos recentes’. Mas ‘não pode resolver sozinho’.’


 


TROPA DE ELITE
Valdo Cruz


No cinema, ministros vêem ambigüidade da violência no filme ‘Tropa de Elite’


‘Um filme ‘magnífico e sério’, nada ‘reacionário’, que mostra a ‘ambigüidade’ do tema da violência e ajuda a ‘refletir’ sobre segurança pública e a questão social.


Assim os ministros Tarso Genro (Justiça) e Fernando Haddad (Educação) definiram o filme ‘Tropa de Elite’. Os dois assistiram à obra do diretor José Padilha no sábado, num cinema de Brasília.


Presente à sessão, a reportagem da Folha convidou os dois para falar do filme ao final da exibição. Demoraram um pouco para se levantar das cadeiras e pediram um tempo para respirar.


Responsável pela área de segurança pública do governo, Tarso foi o primeiro a falar: ‘A grandeza do filme é mostrar essa ambigüidade, essa complexidade, de que a delinqüência é questão social, tem raízes sociais, mas não é só resolvida por ação social ou policial.’


Depois, Haddad, que também levou o filho de 15 anos, disse que a ‘virtude do filme é não cair em simplificações’.


Em sua avaliação, ‘Tropa de Elite’ não pode ser classificado de reacionário no sentido de que defenderia a violência como solução.


Sobre a participação de estudantes, que têm um trabalho social na favela e se drogam, os dois avaliam que o diretor quis mostrar como o crime se retroalimenta.


Tarso ainda disse acreditar que o filme lhe dá a consciência de que o Programa Nacional de Segurança Pública, lançado por ele, estaria no caminho certo ao tentar ‘cortar as veias de alimentação do crime’ por meio da qualificação da polícia e da busca de inclusão social das pessoas que são satélites do tráfico.’


 


FUTEBOL
Juca Kfouri


A notícia é o Corinthians


‘O QUE É mais notícia?


O São Paulo cinco vezes campeão brasileiro, o Palmeiras e o Santos novamente na Libertadores ou o Corinthians pela primeira vez na segunda divisão?


Quem responde é o jornalista, não o corintiano: a notícia é o Corinthians. E não porque nós, jornalistas, gostamos mais das más notícias.


Entre outras razões porque não são poucos os são-paulinos, palmeirenses e santistas que trocariam suas conquistas neste Brasileirão pela queda do time mais popular do Estado, isto é, consideram o possível rebaixamento uma ótima notícia.


O Santos cumpriu sua obrigação no sábado, o São Paulo jogou como autêntico pentacampeão no Recife e o Palmeiras fez bela figura no Rio.


Para o Corinthians dava tudo certo, porque todos os times que brigam para não cair perderam.


Só faltava o Corinthians.


Que saiu atrás do Figueirense, graças a um lance de aqualouco de Iran que redundou em pênalti.


E empatou, em seguida, também de pênalti -que até agora não consegui ver, embora não afirme que não tenha acontecido.


O primeiro tempo tinha sido apenas mais uma demonstração cabal da fragilidade técnica corintiana, embora o Figueirense só tenha chutado uma bola ao gol, exatamente a do pênalti.


Já o segundo tempo foi de amargar, porque os catarinenses se deram conta de que não havia o que respeitar. E jogaram melhor e obrigaram Felipe a fazer pelo menos uma grande defesa até que Dentinho, em linda jogada, acionou Finazzi, que teve frieza para coroar a rodada corintiana, em belo gol.


Quer dizer, a rodada foi mesmo tricolor, santista ou alviverde. Mas que vira corintiana porque, ao menos, a esperança ainda sobrevive, por mais que as cinco próximas rodadas sejam dramáticas.


É isso. A rodada foi corintiana.


E olhe que o Corinthians permanece na zona do rebaixamento…


Centroavante para quê?


Volto ao tema porque mestre Tostão, em sua infinita modéstia, discordou do que escrevi e porque, provavelmente, não fui claro.


Não quero abrir mão de atacantes e concordo com outro mestre, Armando Nogueira, que atacante é quem ataca.


Apenas defendo que, se não temos um tanque que faça diferença, podemos abrir mão desta antiga referência para ter outra, mais habilidosa. Como o próprio Tostão, em 1970, ou, como ele mesmo demonstrou ontem em sua coluna, hoje faz o Manchester United, com Rooney e Tevez.


Quanto à Copa de 2014, que Tostão quer, mas sem maracutaia, voltamos a concordar. E sei que ele não acredita em Papai Noel.


A frase do ano


O ano nem acabou, mas já tem sua frase, imbatível, não só pela originalidade como, principalmente, pela adequação.


Foi dita por Ricardo Teixeira, de Nazaré, em entrevista ao ‘Globo’. Quando lhe perguntaram se ele estava preparado para as críticas que certamente virão em relação à Copa de 2014, no Brasil, perpetrou a frase imorredoura: ‘Até Jesus Cristo foi crucificado’.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


No bastidor, redes agem contra TV de Lula


‘Preocupadas com a eventual perda de publicidade oficial, as principais redes do país deflagraram uma campanha nos bastidores políticos para modificar a medida provisória (MP) que criou a Empresa Brasil de Comunicação _a futura rede pública do governo federal.


Integrantes da Abert (a associação das TVs), Globo, Record e SBT decidiram na semana passada pedir a parlamentares para que apresentem emendas definindo o que é publicidade institucional e apoio cultural. A idéia é limitar o financiamento da TV pública com publicidade.


A MP proíbe na EBC ‘anúncios de produtos e serviços’, mas libera a captação de ‘publicidade institucional de entidades de direito público e privado, a título de apoio cultural, admitindo-se o patrocínio de programas, eventos e projetos’.


‘A radiodifusão não é contra a TV pública. Nossa preocupação é com a captação de publicidade. Ou as emissoras são comerciais ou sobrevivem só de recursos oficiais’, diz Daniel Pimentel, presidente da Abert.


A EBC terá R$ 350 milhões do Orçamento da União e pretende arrecadar R$ 60 milhões com publicidade. ‘Isso é um desvirtuamento’, protesta.


As redes querem que a futura TV pública só possa citar os nomes dos apoiadores de projetos e programas, sem anúncios nos intervalos. A Globo também defende que a EBC seja obrigada a tornar público todo valor recebido de patrocinador.


CRUCIFIXO As primeiras cenas de ‘Amor e Intrigas’, próxima novela da Record, foram gravadas em Ouro Preto (MG), conhecida por suas igrejas católicas. A emissora de Edir Macedo irá mostrar pelo menos duas delas (Santa Efigênia e Rosário), que serviram de cenários para externas.


BELEZA Já a Globo se prepara para iniciar as gravações de ‘Beleza Pura’, próxima novela das sete. As primeiras cenas serão rodadas em Niterói, na segunda quinzena de novembro. A estréia será em fevereiro.


PROJEÇÃO Intérprete do playboy Edu em ‘Tropa de Elite’, Paulo Vilela atuará no próximo ‘Linha Direta – Justiça’, sobre uma menina de Brasília que foi encontrada morta em 1973.


SELEÇÃO A Record exibirá oito filmes no projeto ‘Dezembro Especial’. O pacote tem ‘Garfield’, ‘Crash – No Limite’, ‘King Kong’, ‘Lutero’ e ‘Ray’.


HOMOFOBIA 1 A Secretaria de Direitos Humanos tem recebido denúncias contra o pastor Silas Malafaia, que em seu programa (Band, Rede TV!) faz campanha contra projeto de lei que torna crime a discriminação a homossexuais. Mas não pode fazer nada porque homofobia não é crime.


HOMOFOBIA 2 O programa também é alvo de procedimento administrativo no Ministério da Justiça _que não pode reclassificar atrações ao vivo, mas enviará pareceres ao Ministério Público para eventual ação. Malafaia diz que não ofende gays.’


 


DOCUMENTÁRIO
Thiago Ney


Falta Love nas últimas horas de Cobain


‘Enquanto ‘Sobre um Filho’ (que esteve nesta edição da Mostra de Cinema de São Paulo) tenta entender Kurt Cobain por meio de seus próprios depoimentos, o documentário ‘As Últimas 48 Horas de Kurt Cobain’ pretende desvendar os momentos finais da vida do líder do Nirvana com a ajuda de entrevistas feitas com pessoas que estiveram próximas a ele.


‘As Últimas 48 Horas…’ será exibido hoje, pelo canal VH1. Até chegar aos dias imediatamente anteriores a 5 de abril de 1994, o filme volta no tempo -resgata imagens de Cobain quando criança, relembra o início da banda e o estouro com o álbum ‘Nevermind’ (1991).


Uma ex-namorada, Jack Endino (produtor do primeiro disco do Nirvana), Charles R. Cross (autor da biografia ‘Mais Pesado que o Céu’) e Everett True (jornalista inglês que fez a primeira grande reportagem sobre a banda) falam sobre o comportamento de Cobain, escarafuncham seus problemas…


Entra até Duff McKagan (ex-Guns N’ Roses), que se sentou ao lado de Cobain quando o ex-Nirvana saía de uma clínica de reabilitação de Los Angeles e voltava a Seattle, quatro dias antes de ser encontrado morto em sua casa.


As fonte são várias. Parece que só faltou mesmo a versão de Courtney Love.’


 


 


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