DIA DOS PAIS
Aquele com quem os filhos podem contar
‘‘O papai tá tão contente,/ E o dinheiro do presente/ De onde é que sai?/ É do papai!’
Estes versos, criados para celebrar o Dia dos Pais, são do radialista Miguel Gustavo Werneck de Souza Martins, mais conhecido pela marchinha ‘Pra Frente, Brasil’, cantada para celebrar a seleção brasileira de 1970, cujos versos iniciais convidavam: ‘Noventa milhões em ação,/ Pra frente, Brasil, do meu coração,/Todos juntos, vamos,/ Pra frente, Brasil, salve a seleção!’
A iniciativa, inspirada ou copiada dos EUA, de instituir aqui também o Dia dos Pais, foi do jornal O Globo, em 1953. Do Rio, o costume veio para São Paulo, em 1955, quando as Emissoras Unidas (Rádio Panamericana e Rádio São Paulo) organizaram uma grande festa no auditório da TV Record.
Na ocasião, foram premiados três pais: o pai mais novo, de apenas 16 anos; o pai mais velho, de 96 anos; e o pai com maior número de filhos, de 67 anos, com 31 filhos. Por influência da mídia, o Dia dos Pais espalhou-se de São Paulo, e não do Rio, para todo o território nacional.
Foi e é ainda o quarto poder que alcança todo o território nacional; é a mídia, especialmente o rádio e a televisão, pois somos um povo que fala e ouve muito, mas lê pouco e escreve menos ainda.
O Dia dos Pais já era celebrado na antiga Babilônia, há 4.000 anos! Mas é claro que não veio da Babilônia, atual Iraque, para o Brasil. Veio dos EUA, como disse no começo da coluna.
Sonora Louise Smart Dood criou o Dia dos Pais em 1909. A idéia surgiu-lhe depois de ouvir um sermão dedicado às mães. Sonora admirava muito seu pai, William Smart, veterano de guerra, que criara os filhos quase sozinho. A mulher morrera no parto do sexto filho, em 1898. Ele e Sonora criaram o recém-nascido e os outros cinco filhos sem ajuda de ninguém.
Em 1910, aquela filha tão amorosa escreveu à Associação Ministerial de Spokane, em Washington, propondo homenagem a todos os pais. Nascia então, nos EUA, o Dia dos Pais, comemorado em 19 de junho de 1910. Foi o presidente Richard Nixon quem tornou oficial a data, em 1972.
Pesquisando em várias línguas, nota-se que ‘mãe’ é palavra cuja pronúncia da sílaba inicial lembra o ato de mamar o seio materno. Em alemão, Mutter; em inglês, mother; em holandês, moeder. Em português, por influência do latim mater, é mãe. Todas as neolatinas preservam este fonema inicial: madre, em espanhol, como no italiano; mère, no francês.
Já ‘pai’, do latim pater, não alude ao toque de carinho que dá, junto com o primeiro alimento, a fala, daí a expressão ‘língua materna’, e não ‘língua paterna’, mas refere a presença e a autoridade. Pater é título de respeito, de reverência, designando deus ou pessoa a quem se deve obedecer, pois, como as monarquias e a Igreja exploraram tão bem, a autoridade tem origem divina!
O étimo da palavra pater está ligado ao verbo patere, manifestar-se. A mesma raiz está presente na palavra patente, com que se anuncia determinada invenção. Patente quer dizer também aberto, acessível.
Em resumo, no Dia dos Pais, lembramos, até por motivos etimológicos, que pai está presente, é aquele com quem os filhos podem contar. E só quem não tem mais pai é que sabe a falta que ele faz!
O pai faz tudo o que pode, o resto não é com ele, como diz Cecília Meireles, em Improviso do Amor-Perfeito: ‘Naquela nuvem, naquela,/ Mando-te meu pensamento:/ Que Deus se ocupe do vento’. [Deonísio da Silva é doutor em Letras pela USP e professor da Universidade Estácio de Sá, onde é vice-reitor de pesquisa e pós-graduação e coordenador de Letras; seus livros mais recentes são Os Segredos do Baú (Peirópolis) é A Língua Nossa de Cada Dia (Novo Século); www.deonisio.com.br]’
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