Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornal é alma e coração

Perguntei a um amigo que trabalha lá dentro como será o novo Jornal da Tarde, que começa a circular na quarta-feira (5/4). ‘Mais popular’ disse ele, com certo sarcasmo. O preço de capa vai baixar? ‘Não’. Mas de onde eles tiraram a idéia de que o povo tem grana pra comprar jornal?

O Jornal da Tarde tem 40 anos. Em 1966, revolucionou a imprensa. Parece brincadeira, revolucionar em plena ditadura. O texto e o visual eram inigualáveis. A palavra não era ‘popular’, mas ‘qualidade’. Os melhores editores, os melhores repórteres, os melhores copydesks. Sim, tinha copydesks. Todos mineiros. Os títulos eram inteligentes e não ‘populares’.

Era vespertino, naquele tempo ninguém admitiria um Jornal da Tarde circulando de manhã. Agora, sai de manhã, mas o nome é o mesmo. Quem acredita num jornal que está nas bancas de manhã e se chama ‘da Tarde’? Será o jornal do dia anterior?

Depois que a equipe se esfacelou, depois de várias reformas, circular às 15h ficou impossível por causa do trânsito caótico. O jornal nunca mais foi o mesmo. Esta é a enésima tentativa de voltar a brilhar. Não se falou em qualidade, em melhores editores, repórteres, fotógrafos. ‘Mais popular’. Se é que alguém sabe o que vem a ser isso. Ah, também ‘mais cidade’.

Acho que em primeiro lugar devia mudar o nome. Tudo bem continuar JT, a marca ainda é forte. Mas não Jornal da Tarde. Só as duas letras. JT. ‘Jornal de Todos’, por exemplo. Estou dizendo tudo isso não porque eu trabalhei lá, por alguns meses, em 1971, como foca, mas porque ele faz parte da minha e de muitas vidas de quem mora em São Paulo. 

Jornal não é papel que aceita tudo, como dizem alguns; jornal é alma e coração.

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Jornalista