Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Jornal popular forma novo leitor

Com tiragem que alcança cerca de 300 mil exemplares ao dia, o jornal Super Notícia, de Minas Gerais, é reconhecido como um fenômeno da mídia brasileira. Para a jornalista Lúcia Castro, editora-geral do grupo O Tempo, que publica o diário, seu diferencial é conseguir atingir uma parcela da população que não tinha o hábito de ler jornais. ‘O grande mérito do Super Notícia foi criar um novo público leitor. Ele permitiu a inclusão dessas pessoas’, afirma a editora.


Para exemplificar sua análise, Lúcia Castro – que participou na terça-feira (24/3) do Seminário ‘Periferia da Comunicação’, promovido pelo Jornalirismo e pelo Senac São Paulo – lembrou da história de uma empregada doméstica analfabeta que decidiu aprender a ler para acompanhar o Super Notícia, fonte da maioria dos temas nas rodas de conversas de seus colegas de profissão. ‘As pessoas que acompanham o jornal têm mais condições de exercer sua cidadania’, disse Lúcia.


O Super Notícia, lançado em maio de 2002, é hoje o segundo jornal diário com maior tiragem no país, atrás apenas da Folha de S.Paulo, de acordo com dados do IVC (Instituto Verificador de Circulação), o que equivale a mais de 7% do mercado nacional. Somente no ano passado, a circulação do jornal mineiro cresceu 27% em relação a 2007.


Segundo avaliação da editora, quatro fatores foram essenciais para assegurar o sucesso do empreendimento: o formato tablóide; o preço de R$ 0,25 o exemplar; o noticiário enxuto, com conteúdo objetivo; e as promoções oferecidas (clique aqui para conhecer o Super Notícia).


Lúcia destaca que o conteúdo do diário é focado na prestação de serviços, além de oferecer uma abordagem objetiva e regionalizada em suas matérias. ‘O Super virou um apoio da comunidade’, explica. Para ela, o Super Notícia, como primeiro jornal na vida de uma larga fatia da população, pode servir, no futuro, como trampolim. Esse novo leitor, quando sentisse necessidade, procuraria outros jornais, em busca de conteúdos como política, para o qual o Super Notícia destina espaço pequeno. ‘Esse leitor pode migrar depois para O Tempo [diário de Minas, também do grupo O Tempo], para a Folha de S.Paulo, para o Estadão‘, avalia.


Para dialogar com seu público, o Super Notícia aposta também em uma estratégia diferenciada de venda: além de ser oferecido pelas tradicionais bancas de jornais, também é vendido por ambulantes, que abordam os possíveis compradores nas ruas. Também dispensa as vendas por assinaturas e aposta na distribuição em todas as regiões do estado de Minas Gerais.


Lúcia ressalta que, apesar de atender a uma faixa mais popular da população, o Super Notícia respeita os mesmos padrões de qualidade de publicações dirigidas a fatias mais abastadas da população. ‘Ainda se confunde produto popular com produto ruim.’ Mesmo assim, a jornalista reconhece que é muito difícil publicar um jornal sem erros. ‘Mas meu sonho é ter um jornal sem erros, e o Super está tomando o caminho certo.’


Moda para mudar


O também jornalista Flávio Lenz falou, no Seminário ‘Periferia da Comunicação’, sobre sua experiência como gestor da comunicação e marketing da grife de roupas Daspu.


Ele destacou que a criação da marca nasceu da necessidade de se obter recursos para o desenvolvimento de projetos da ONG (organização não-governamental) Davida, destinada a promover a cidadania de prostitutas do Rio de Janeiro.


‘Nosso projeto não visa tirar as prostitutas dessa vida, mas, sim, garantir melhores condições de trabalho, de saúde, de inserção na sociedade e de redução do preconceito’, afirma Flávio. Para isso, a organização tem utilizado a força que a marca Daspu ganhou desde o seu lançamento, em 2005, para angariar recursos para iniciativas como o Mulheres Seresteiras (de inserção social), o bloco de Carnaval Prazeres da Vida ou o Projeto Sem Vergonha (de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis e Aids).


Autor de Daspu – A moda sem vergonha (Editora Aeroplano), livro que conta a história da Daspu, Flávio explica que a grife tem obtido boa exposição, especialmente pela receptividade positiva da mídia brasileira e até internacional.


Além disso, ele lembra que a marca foi beneficiada pela polêmica protagonizada pela loja produtos de alto luxo Daslu, de São Paulo, que tentou impedir o registro da Daspu pela similaridade entre os nomes. ‘A Daslu deu uma grande força para nós. [Após a polêmica gerada pela tentativa de uso da marca Daspu], a própria Daslu acabou desistindo de nos processar’, lembra o jornalista, citando que a repercussão na imprensa deu o grande impulso ao lançamento da grife e estimulou simpatias pela causa.


A Daslu, depois da polêmica, reviu a estratégia de confronto e ofereceu à Daspu ‘um córner’ em sua sede, para que vendesse produtos dela, de acordo com o responsável pela comunicação e marketing da Daspu. ‘Fizemos a opção certa ao não aceitar’, avaliou Flávio.


Para ele, o grande desafio tem sido transformar a Daspu em um negócio mais estruturado, que gere recursos para a Davida. ‘A ONG passou a ser muito mais conhecida depois da Daspu. Deu muito mais visibilidade. Agora, o desafio é juntar a causa com o produto e trabalhar o ativismo sempre com humor’, avalia.


O jornalista também defendeu a necessidade de mudança na grife, para assegurar seu diferencial criativo. Uma das medidas deverá ser o lançamento de coleções que fujam do calendário tradicional da moda, marcadamente sazonal: primavera/verão e outono/inverno.


O Seminário Jornalirismo ‘Periferia da Comunicação’ aconteceu no auditório do Senac Lapa Scipião, em São Paulo, e teve a participação de 80 estudantes, acadêmicos e profissionais da comunicação.

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Jornalista