Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornal denuncia operação secreta dos EUA no Iraque

O Los Angeles Times publicou nesta quarta-feira [Mark Mazzetti e Borzou Daragahi, 30/11/05] artigo em que denuncia que o exército americano vem pagando secretamente a jornais iraquianos pela publicação de matérias elogiosas à missão dos EUA no país. Escritos por soldados do setor de operações de informação, os textos são apresentados pela imprensa local como notícias imparciais e elogiam o trabalho das tropas americanas e iraquianas e os esforços de reconstrução do Iraque, além de denunciar insurgentes.


O LATimes afirma ter conseguido as informações sobre a operação secreta a partir de depoimentos de membros do próprio exército – que falaram sob condição de anonimidade – e de documentos obtidos pelo jornal. Embora as matérias, que são traduzidas para a língua árabe, ‘sejam basicamente factuais, elas apresentam apenas um lado da história e omitem informações que podem ser prejudiciais aos governos dos EUA e do Iraque’, afirma o artigo.


A operação tem como objetivo disseminar propaganda dos EUA na imprensa iraquiana e esconde qualquer ligação dos jornais com o exército americano. O Pentágono teria contratado uma pequena empresa com sede em Washington, responsável pela tradução e distribuição das matérias. Os empregados da empresa no Iraque costumam se passar por repórteres freelancers ou executivos de marketing quando entregam os textos. Gravações e entrevistas indicariam que dezenas de textos foram repassados para jornais locais desta maneira desde o começo do ano.


Democracia?


O artigo do jornal americano ressalta que a operação é feita enquanto o governo, oficialmente, luta pela promoção dos princípios democráticos, transparência política e liberdade de expressão após décadas de ditadura enfrentadas pelo Iraque. O departamento de Estado dos EUA lançou um programa de treinamento em habilidades jornalísticas e ética profissional para jornalistas iraquianos. Ironicamente, o programa inclui um seminário intitulado ‘O papel da imprensa em uma sociedade democrática’.


Para dar destaque à importância das tropas americanas no desenvolvimento de uma mídia no estilo ocidental, o secretário de Defesa Donald Rumsfeld citou, no início da semana, o aumento no número de organizações de mídia no Iraque como um dos grandes sucessos no país desde a saída de Saddam Hussein. Segundo Rumsfeld, as centenas de jornais, emissoras de TV e outras ‘mídia livres’ oferecem uma ‘válvula de escape’ para o público iraquiano no debate de questões sobre ‘sua democracia florescente’.


Operação psicológica


Um dos militares que falou ao LATimes afirmou que a inserção de matérias em veículos de comunicação iraquianos é parte de uma campanha de operações psicológicas que incluiria ainda a compra de um jornal e uma rádio locais pelo exército americano. Os veículos, que não têm sua ligação com o governo identificada oficialmente, seriam usados como canais de divulgação de mensagens pró-EUA.


A lei americana proíbe que militares executem operações psicológicas ou plantem propaganda através de veículos de mídia americanos. As fontes do jornal afirmam que o plano de inserir ‘notícias’ na imprensa estrangeira levou em consideração que, com a globalização da mídia com a internet e as emissoras de notícias a cabo, a cobertura feita pela imprensa internacional chega, inevitavelmente, aos grandes veículos americanos.