‘A orientação pluridimensional e heterogênea da comunicação em rede, a exemplo do que acontece em sites que permitem a troca de informações com o público através de fóruns, chats, e-mails ou formulários de publicação (blogs) soterra a concepção de uma mídia linear em nome de uma atividade recursiva. A integração de emissor e receptor na figura do interagente permite que cada pessoa seja um só simultâneo de criação, assimilação e reconstrução da mensagem midiática, desenhando um movimento de relações e trocas que assemelha-se a uma espiral. Tal dinâmica, de viés explicitamente complexo, conduz a uma incessante complementaridade graças às ferramentas de incentivo à interação, que possibilitam a participação ativa de qualquer internauta na produção de mensagens’ (Brambilla, A.M., A reconfiguração do jornalismo através do modelo open source. Sessões do Imaginário, 2005).
O jornalismo colaborativo, ou open source, já é prática indispensável nas páginas online dos jornais de grande circulação. Em tempos de crise – da imprensa, diga-se claro – é preciso se adequar à realidade do mercado a fim de não perder posto à concorrência que, aliás, abrange os mais diversos meios, desde os próprios sites de empresas jornalísticas, aos inúmeros portais de notícias e, claro, os cada dia mais popularizados blogs e sites particulares. Não é de admirar, portanto, que alguns veículos tenham ido além do óbvio e apostado em outras possibilidades inovadoras de interação. Intrigantes, por outro lado, são as circunstâncias pelas quais as mesmas novidades se interrompem, sem explicações satisfatórias que justifiquem o ato.
Lógica de mercado
Há cerca de dois anos, o jornal O Globo hospeda, na internet, uma comunidade de relacionamentos que abriga cerca de cinco mil usuários. Trata-se de conjuntos de blogs de distintos temas, mantidos por diferentes perfis de indivíduos cadastrados. Aparentemente uma iniciativa bem sucedida, uma vez que a proposta era justamente a de estabelecer um fórum de debates sobre os mais variados assuntos. No último dia 13, entretanto, a moderação local surpreendeu os comunitários ao anunciar o fim do sítio, dando prazo de um mês aos blogueiros para salvarem o conteúdo de seus posts que, após o período, serão eliminados.
A alegação é de que o referido espaço social já tinha cumprido o seu papel, estando agora necessitado reformulações para melhor se ajustar ao noticiário da rede. O que nos leva, invariavelmente, a pensar que o terreno cedido aos leitores – os quais, com boa vontade e originalidade, trouxeram à baila discussões interessantíssimas e criaram, entre si, fortes vínculos culturais e de amizade – talvez tenha sido mero laboratório de experiências. Ou, numa análise um pouco atrevida, podemos supor que o ‘suicídio’ tenha sido decretado pelo fato de que, ao estimular o livre pensamento, sem censura, o controle possa ter escapado das mãos, ou melhor, da linha editorial da organização.
Em resumo: se o ideal é contrário aos interesses em jogo, torna-se, naturalmente, inviável. Mas, em ambiente dito democrático, não custa nada (por ingenuidade, que seja) perguntar: se a máxima é a da isenção, qual a lógica de pôr freios às francas opiniões? Lógica de mercado, diriam alguns. E não deixariam de ter razão. Afinal, em certos casos, liberdade de expressão é apenas um nome pomposo que, por ora, ainda consta dos manuais.
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Estudante de Jornalismo, Rio de Janeiro, RJ