Robhson Abreu é formado em Jornalismo (FAFI-BH) e pós-graduado em Comunicação e Marketing (UNI-BH). Ex-repórter dos jornais Estado de Minas e Hoje em Dia (ambos de Belo Horizonte, MG), trabalhou também como correspondente da Veja Minas e é assessor de comunicação do Conselho Regional de Psicologia (Minas Gerais), Centro Industrial e Empresarial de Minas Gerais e do Sindicato das Empresas de Informática de Minas Gerais.
O jornalista é editor e fundador da revista PQN (Pão de Queijo Notícias), criador da newsletter PQN, com mais de 150 mil cadastrados, e do Prêmio PQN de Ouro. Atualmente, ministra oficinas de comunicação em diversas instituições de ensino superior.
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Fale sobre a sua vocação e escolha pela comunicação social?
Robhson Abreu – Desde adolescente, eu sempre ficava fascinado pelo jornalismo, principalmente a mídia impressa. Gostava de ser âncora nas apresentações de trabalho dentro de sala de aula, de escrever para os jornais da sala, além de ler, ler muito. No segundo grau tive a certeza do que queria e nos três vestibulares que fiz, a comunicação social foi o curso escolhido. Gosto de todas as áreas da comunicação, mas me identifiquei mais com o jornalismo.
Como foi o começo da revista PQN?
R.A. – A revista PQN (Pão de Queijo Notícias) nasceu após um ano de circulação da newsletter PQN. Senti a necessidade de ir além com todos os assuntos que tratávamos diariamente na news. Fiz alguns contatos com importantes jornalistas mineiros, falei da minha intenção em criar um novo veículo segmentado para os comunicadores e todos gostaram da ideia. Nascia assim o primeiro número com uma grande expectativa para nós mineiros. A receptividade foi tão boa, que colegas de outros estados viram a edição e logo exigiram que a publicação fosse nacional e não mais regional. Estava aí um novo desafio que eu não estava preparado ou que seria uma consequencia mais para a frente e não na edição seguinte. Mas, como gosto de desafios, topei a parada e a segunda edição veio mais facilmente e com temas ainda mais importantes para a categoria.
O projeto gráfico
Quais as dificuldades para realizar uma revista impressa de qualidade?
R.A. – A primeira dificuldade é fazer com que os comunicadores acreditem naquilo que você está se propondo a fazer. A segunda é encantar o mercado publicitário e mostrar que temos em mãos um produto diferenciado de tudo o que ele já viu editorialmente. A participação dos colaboradores é fundamental para que todo o projeto da revista seja alcançado. Não é difícil conseguir um bom colaborador, mas nem sempre eles estão disponíveis a tempo e hora.
Qual é o perfil dos leitores da PQN?
R.A. – No início, acreditei que meu principal público seriam os estudantes. Após a terceira edição constatei que não e percebi que os leitores são os comunicadores que trabalham em redações diversas, empresas (assessorias e agências de publicidade), professores e aposentados, ou seja – jornalistas, relações públicas, publicitários, marqueteiros e até mesmo áreas afins da comunicação. Um ou outro estudante compra a revista, mas raramente. A faixa etária que consome a PQN vai dos 26 aos 70 anos, principalmente aqueles das classes A, B e C. São potenciais consumidores de cartões de crédito, compra de livros, leitores de mídias diversas e literatura, possuem cursos de pós-graduação ou querem fazer um, e, buscam novidades no mercado editorial.
Sei que é um trabalho e tanto, mesmo assim no campo das artes: poderia falar um pouco sobre o projeto gráfico, diagramação, ilustrações e o designer da revista?
R.A. – A intenção de todo o projeto gráfico da PQN é aliar todas as áreas da comunicação, principalmente a publicidade. Procuramos sempre dar um ar publicitário ao projeto gráfico, como se cada página fosse uma peça publicitária. Todas as páginas são cuidadosamente pensadas e planejadas de acordo com a reportagem, casando fotos de boa qualidade com infografias e ilustrações. Cada página tem tratamento especial e fruto de muita criatividade. Em todo o projeto são obedecidos critérios específicos de fonte, tamanho, posição de fotos, legenda e abertura de matérias, como se fossem capas da reportagem.
Responsabilidade triplicada
Qual é a importância da PQN para os jornalistas, RPs, publicitários e escritores?
R.A. – Atualmente, a revista PQN se tornou uma referência para os bons profissionais da comunicação e parcela de escritores. A publicação procura seguir uma linha editorial que fale de forma humana e mais natural do e sobre o comunicador, sem ficar preocupada com as celebridades do momento. Procuramos dar um tratamento especial para cada reportagem, fazendo com que o leitor reflita sobre o tema tratado e, com isso, possa aplicar em seu dia a dia. E isso vem agradando aos comunicadores que cada vez mais se identificam e se vêem na publicação.
E do prêmio PQN realizado anualmente?
R.A. – O Prêmio PQN de Ouro nasceu com a missão de elevar a auto-estima do comunicador, além de ser um reconhecimento ao trabalho bem feito ao longo do ano. Muitos profissionais se sentem orgulhosos só de serem indicados, outros fazem campanhas para pedir votos e alguns nem acreditam quando o nome é divulgado na relação de finalistas. Estamos caminhando para a sexta edição do prêmio (agora em julho/agosto de 2009) que tem reunido anualmente cerca de 400 comunicadores por edição. Vale lembrar que esta é a única iniciativa para os comunicadores e, o mais importante, são comunicadores votando em comunicadores.
Após cinco anos, uma interface saudável, a revista dialoga com o livro-reportagem. Qual é a importância de uma boa reportagem?
R.A. – Estamos na era das reportagens curtas, textos relâmpagos que por si só não informam e ainda deixam o leitor confuso com informações partidas. Cada reportagem da PQN tem começo, meio e fim. Mesmo que a matéria gaste cinco ou sete páginas da edição. O objetivo é informar e fazer refletir. Isso é importante, pois você forma opinião, difunde conceitos, ideias e filosofias. Um jornalismo sério é possível, fugindo de clichês, celebridades e os pilares do jornalismo popular. Nada de matérias superficiais, de oba oba. A responsabilidade é triplicada, já que o nosso público é altamente crítico e formador de opinião.
Sites e blogs
Fale sobre as presenças dos colunistas e articulistas, pelo visto a maioria não está presente na grande mídia…
R.A. – Todos os colunistas e articulistas foram escolhidos por seu profissionalismo e não por serem celebridades da comunicação. São profissionais com conteúdo e que muitas vezes não possuem espaço em seus locais de trabalho para falar sobre aquele assunto tratado na edição. Eles são livres para escrever, desde que estejam em sintonia com a linha editorial da publicação. Optamos por profissionais que são reconhecidos por seu trabalho e não pelo grande público.
Agora, a revista tem um site que é muito visitado. Inclusive no último número da revista observamos uma reportagem sobre os blogs. Na sua opinião, quais são as vantagens e desvantagens da internet e dos blogs no campo da comunicação social?
R.A. – Há um ano, o portal PQN entrou no ar e o crescimento em acessos tem me surpreendido bastante. Diariamente mais de três mil internautas acessam o portal PQN. Muita gente fora de Minas Gerais e até mesmo de fora do Brasil consulta o site. A internet revoluciona nosso modo de comunicar, é um processo irreversível. O único ponto negativo é a superficialidade da notícia e a banalização de algumas coisas, principalmente das pessoas. No caso dos blogs, acho que a comunicação ainda caminha a passos lentos. Nem todos os comunicadores se aventuraram nesta questão de novas mídias ou redes sociais como os blogs. Existem blogs sérios como também aqueles que são uma perda de tempo em leitura. Para manter um blog é bom ter em mente que a ferramenta precisa de constante atualização. Não adianta ir pelo modismo como alguns fizeram. A credibilidade da informação e também a do blogueiro andam lado a lado.
Sites de notícias ou blogs de notícias?
R.A. – Depende… Se for feito com segurança, profissionalismo e dedicação, os dois são válidos. E o mais importante: tempo para atualizar os sites e os blogs!
‘B’ ao lado do ‘H’ me ‘mineirizou’ mais
A coluna social pode desempenhar um importante papel na informação? Seja na área de comunicação e/ou literatura?
R.A. – Sim, com certeza! A revista PQN mostra esta possibilidade. Temos nossas colunas sociais que mais informam do que contam fofocas. É importante informar e gerar conhecimento.
Sua opinião objetiva sobre a Lei de Imprensa do Brasil e o Conselho de Federal de Comunicação Social?
R.A. – A Lei de Imprensa precisa e precisava, sim, de modificações, mas não tão demoradas assim e muito menos jogada para o escanteio daqueles que a gente acha que decide. Nossa Lei é da época da ditadura e só de pensar nisso, modificações são mais que necessárias. Quanto ao Conselho, sempre fui a favor de sua criação. Só não sou a favor do jeito que ele estava sendo pleiteado. Precisamos regulamentar a profissão de jornalista, não podemos ser colocados em um ‘balaio de gatos’ como estão fazendo conosco atualmente.
Ética e estética sempre?
R.A. – Mais ética que estética. É difícil às vezes falar como empresário da comunicação, como hoje sou, sem ter uma reflexão ética mais ampla, pois existem outras variáveis em todo o percurso. Mas tento ser na medida do possível uma pessoa transparente e ética neste mercado competitivo, pelo menos com aqueles próximos a mim.
Vejo que acrescentou um H em seu nome. A curiosidade: por que a mudança para Robhson Abreu?
R.A. – Tudo começou com uma brincadeira! Um repórter que trabalhava na redação da PQN um dia chegou e me disse que esotericamente meu nome precisava de mais uma letra que proporcionasse mais dinheiro e também sucesso. Em seus estudos, ele descobriu que a letra ‘H’ seria o ideal e pediu que eu a incluísse em meu nome. Então achei legal inseri-la ao lado do ‘B’ do Robson, formando o ‘BH’. Me ‘mineirizou’ ainda mais.
Existem ONGs sérias
Além da revista e o site tem a news da PQN, lida por mais de cento e cinquenta mil pessoas do Brasil e exterior. Qual é a sua importância, além de apresentar uma gama enorme de empregos e concursos (prestação de serviços) para os profissionais brasileiros em várias áreas?
R.A. – Muita gente fala que gostaria de ter tido a ideia da news bem antes. Acho que acertei no veículo que nada mais é que uma ferramenta de marketing de relacionamento. Um espaço onde podemos falar sem censura, coisa que não tínhamos e ninguém havia pensado ou ousado fazer. A newsletter começou sem a pretensão de seguir adiante em 2003. Nem eu acreditava ter tanto fôlego assim. De 300 e-mails cadastrados hoje somam-se mais de 150 mil de comunicadores de diversas partes do mundo. É incrível! Basta colocar a ‘fornada’ no ar que os comentários começam a pipocar na caixa postal. Pode parecer banal, mas isso me proporciona uma alegria imensa. Ver que um veículo simples atinge tanta gente assim. Muitos profissionais já conseguiram emprego ou estágio e também se conheceram por intermédio da newsletter. Não existe um profissional da capital mineira que nunca tenha ouvido falar da news da PQN. Todos os dias recebemos pedidos de cadastro. Os comunicadores antes não possuíam um espaço, uma arena tão democrática para expor suas ideias e anseios. A news da PQN veio suprir isso e muito mais, aproximando profissionais e se transformando em uma grande comunidade. Antes de se falar em termos da moda como mídias sociais, wiki wiki, marketing de relacionamento, a PQN já desempenhava este papel com grande ousadia.
E o Terceiro Setor… Sua opinião sobre a atuação do Terceiro Setor no fortalecimento da sociedade civil brasileira?
R.A. – Ainda precisamos caminhar muito em prol do Terceiro Setor, mas não para pedir, e sim tomar medidas sérias. Existe muita gente fantasiada de Terceiro Setor só para se dar bem e desviar recursos. Como também existem ONGs super-sérias, como a Ramacrisna e os Institutos Xopotó e Hartman Regueira, ambos mineiros e com trabalhos fascinantes. Mas o comunicador ainda não se sente engajado no Terceiro Setor. É preciso conhecer de perto estes novos conceitos que são fontes de trabalho que poucos têm acesso.
Profissionais que respeito e admiro
Como você vê a atuação da imprensa brasileira nos últimos anos? Está mais investigativa?
R.A. – Não vejo muito como investigativa, há mais boatos e briga pela audiência que investigação. Essa mídia das celebridades é o que mais entristece. Tomara que não precisemos utilizar dela para aumentar a venda dos produtos. Os veículos de comunicação têm perdido fôlego, mas não creio que nenhum substituirá os outros, assim como profetizam alguns comunicadores afoitos. A internet veio para somar e não para tirar lugar de ninguém.
Por que você – além de jornalista – é editor?
R.A. – Eu trabalhei em alguns veículos e assessorias de comunicação em Belo Horizonte e após idealizar a PQN vi que meus projetos precisariam mais de mim. É mesmo o velho ditado que ‘os olhos do dono é que engordam a boiada’. Editar todo o material que recebemos, seja para a revista ou o portal é muito gratificante. Mesmo sendo editor eu não perco meu lado de repórter, de ser um bom jornalista. Aí que pratico ainda mais minha função como jornalista.
Jornalistas, teóricos, RPs, editorialistas, publicitários e escritores que fazem a sua cabeça?
R.A. – São tantos os profissionais, principalmente os mineiros, que eu respeito e admiro. Vou escolher um de cada: jornalista – Dídimo Paiva (um mestre); RP – Valdeci Ferreira (um RP moderno e honesto com sua categoria); editorialista – Pedro Paulo Taucce (outro mestre em minha vida); publicitário – Roberto Justus (inteligente e corajoso); escritores – Machado de Assis (claro) e o paulistano Rodrigo Capella (jovem e meu amigo).
O papel do comunicador
Minas Gerais ainda tem muito a oferecer ao Brasil em termos de imprensa?
R.A. – Com certeza! Temos ótimos profissionais aqui no estado de Minas Gerais que produzem excelentes matérias. Pena que ainda vivemos cercados pelas nossas lindas montanhas. Foi por isso que criei o PQN, para mostrar que temos muito o que mostrar em termos de imprensa. Se o Rio e São Paulo deixassem, o Brasil conheceria muito mais a potencialidade dos comunicadores e da imprensa mineira.
Sua opinião sobre os ombudsmans e ouvidores no campo da comunicação social?
R.A. – Acho muito importante ter um ‘olheiro’ dentro dos veículos. Mas é complicado já que alguns comunicadores não gostam de receber críticas. De certa forma, a PQN é um ombudsman da comunicação, pois estamos de olho em tudo o que acontece.
Vemos resenhas de livros e literatura na PQN: qual é a importância da resenha?
R.A. – O processo de leitura e informação é essencial na constante formação do profissional de comunicação e eu como jornalista, editor da revista, tenho que proporcionar isso aos leitores. É o mínimo para pluralizar os assuntos direcionados aos comunicadores. A resenha é ideal, pois alia conhecimento e opinião, formando ainda melhor um conceito sobre o assunto tratado.
Qual é o verdadeiro papel do comunicador social?
R.A. – Comunicar com ética, sabedoria, simplicidade e, acima de tudo, responsabilidade. São essas as principais metas da PQN.
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Jornalista e escritor