Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Jornalismo esportivo e as marcas patrocinadoras

Há um ano, a equipe Joinville Unisul, que participava da Superliga Masculina de Vôlei, deixou a categoria alegando que a emissora que detém os direitos de transmissão não citava os nomes reais dos times da modalidade esportiva, evitando a todo custo citar patrocinadores que usam o nome das agremiações como forma de divulgação. A Rede Globo respondeu, alegando que se tratava de uma política editorial tomada como consenso pelos funcionários.

O mesmo acontece no basquete. Na cidade de Bauru, o clube representante nesta temporada tem o nome de ‘GRSA Itabom’ e é referido na maioria dos meios de comunicação como ‘Bauru’ ou ‘Bauru Basquete’. Na Fórmula 1, isso é levado ao extremo. Para quem acompanha a temporada 2010 da categoria máxima do automobilismo, é preciso conviver com um oceano de siglas e nomes fictícios que chegam a confundir até mesmo o narrador oficial por muitas vezes.

É importante salientar que existem dois casos diferentes de patrocínio no nome de uma equipe esportiva. No primeiro, como no caso de Bauru, o anunciante ocupa provisoriamente o título da instituição. Quando isso acontece, frequentemente é apenas questão de tempo para que outro patrocinador se interesse pela propaganda e o nome mude no intervalo entre as temporadas. Acredito que intitular a equipe pelo nome original, neste caso, é válido, visto que anteriormente já havia uma identidade formada no consciente dos torcedores e do público leitor.

Um desserviço para com a verdade

Entretanto, em outras ocasiões, as empresas (ou, geralmente, conglomerados que atuam em várias áreas), compram os times ou escuderias. Há ainda organizações esportivas formadas do zero, de total propriedade desses acionistas. Exemplo disso são as equipes Red Bull e Toro Rosso, da empresa austríaca que produz os energéticos mais consumidos no mundo. Na transmissão brasileira, ‘STR’ e ‘RBR’. Além disso, a Dietrich Mateschitz possui clubes de futebol por todo o mundo, inclusive o campeão da Série B do Campeonato Paulista 2009, ‘Red Bull Futebol Clube’. A Virgin Group, que engloba companhias aéreas, operadoras de telecomunicação e uma gravadora, dentre outros investimentos, tem como dono o megaempresário Richard Branson e também empresta o nome à escuderia de propriedade do investidor na Fórmula 1. Nessa situação, em que a o time é a empresa, não há como fugir e criar siglas e nomes alternativos.

Essas tentativas de evitar a todo custo a citação das marcas criam situações que confundem o público. A Rede Globo recentemente utilizou uma técnica vergonhosa. Antes de ser comprada pelo dono da Virgin, a estrutura e os carros da equipe eram de propriedade da Manor Motorport, uma agremiação automobilística inglesa que já participava de campeonatos em categorias inferiores. Quando houve a conclusão de que não conseguiria arrecadar verba suficiente para disputar o campeonato, o acionista majoritário colocou o time à venda e Branson comprou o espólio e a vaga no grid, criando a ‘Virgin Racing’. Mesmo assim, a Rede Globo (e isso inclui o portal G1 e as emissoras de TV a cabo SporTV1 e SporTV2), continuou se referindo aos carros com a designação de ‘Manor’ – o telespectador esporádico certamente procurou o nome no infográfico da transmissão oficial e ficou se questionando: ‘Que equipe era essa?’ Depois de algumas semanas, essa prática foi abandonada, mas Galvão Bueno agora usava o termo ‘carro do Lucas Di Grassi’, piloto brasileiro que corre pela escuderia desde o início do ano.

Alguns jornalistas, como Flávio Gomes, responsável pelo portal Grande Prêmio (do iG), usam uma forma irônica para alfinetar a emissora que detém os direitos das principais ligas de vôlei brasileiras e internacionais e do Campeonato Mundial de Fórmula 1. Por muitas vezes, para citar o nome da empresa de comunicação, utilizam apenas a sigla ‘RGT’.

Sim, é preciso discutir a mercantilização e a influência excessiva das empresas transnacionais nas modalidades esportivas, e é dever do profissional da mídia levantar essas questões de difícil resolução e consenso. De qualquer forma, negar a existência de algo que é real não condiz com as práticas éticas da comunicação. Usar siglas e nomes que só confundem o público é um desserviço para com a veracidade das informações.

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Graduando em Jornalismo pela Unesp, Bauru, SP