O problema é saber onde caem as aspas. Se em cima de ‘jornalismo’ ou se em cima de ‘cultural’. Ou, quem sabe, em uma ambição totalitária, sobre ambos.
Anunciado com destaque no portal do UOL no domingo (31/5)
Prêmio São Paulo anuncia finalistas em disputa por R$ 200 mil
Da redação
Dez finalistas em duas categorias disputam o Prêmio São Paulo de Literatura 2009. Os 20 autores que concorrem aos dois prêmios de R$ 200 mil foram anunciados neste sábado, durante o II Festival da Mantiqueira – Diálogos com a Literatura, em São Francisco Xavier, distrito de São José dos Campos à 138 km de São Paulo.
Na categoria ‘Melhor Livro do Ano’, referente a obras editadas em 2008, nomes como Milton Hatoum, João Saramago e Moacyr Scliar figuram entre os finalistas. A segunda categoria anunciada ‘Melhor Livro do Ano – Autor Estreante’ traz Contardo Calligaris, Vanessa Bárbara e Emilio Fraia na disputa. O resultado será conhecido nesta segunda-feira (30/06) em cerimônia no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.
O Prêmio São Paulo de Literatura é subsidiado pelo Governo do Estado de São Paulo e está em sua segunda edição. Este ano, foram 217 inscritos para as duas categorias e a escolha dos finalistas, segundo a assessoria de imprensa do Festival, evidenciou livros muito comentados em 2008 como ‘Orfãos do Eldorado’, de Hatoum e ‘A viagem do elefante’, de Saramago.
O júri que avaliou as obras foi formado pelos professores Ivan Marques e Marcos Moraes, pelos escritores Menalton Braff e Fernando Paixão; por Paula Fabrio e José Carlos Honório, livreitos; pelos críticos literários Marcelo Pen e Josélia Aguiar e por Márcia de Grandi e Mario Vitor Santos, leitores. A avaliação final será feita por um segundo grupo de jurados.
A primeira edição do prêmio, ano passado, teve como vencedores o curitibano Cristóvão Tezza com a obra ‘O filho Eterno’, na categoria ‘Melhor Livro do Ano (de 2007)’ e Tatiana Salem Levy, com o texto ‘A chave de casa’, levando o prêmio para estreantes.
Observem que já no primeiro parágrafo, ou, digamos, paráfrago, há uma briga entre a redação e a lógica:
‘Dez finalistas em duas categorias disputam o Prêmio São Paulo de Literatura 2009. Os 20 autores que concorrem…’.
São 10 ou 20, afinal? Se fosse escrito ‘dez finalistas em cada uma de duas categorias disputam o Prêmio São Paulo de Literatura 2009….’ haveria uma concordância da aritmética com a notícia. Depois, ainda no primeiro paranaúfragos, põe-se um acento grave onde não cabe: ‘à 138 km de São Paulo’.
No segundo vem ‘na categoria `Melhor Livro do Ano´, referente a obras editadas em 2008, nomes como Milton Hatoum, João Saramago e Moacyr Scliar figuram entre os finalistas…’. Ao errar o nome de José Saramago, um Nobel de Literatura, carimba-se uma autoria da notícia: quem escreveu a frase não tem a mínima noção de Zé, Juão, Sara ou Mago da literatura. Pior: ‘O resultado será conhecido nesta segunda-feira (30/06) em cerimônia no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo’. Estávamos no dia 31/5, segunda-feira é 1º… mas tudo é junho, não é mesmo?
Honesto e digno
O terceiro parágrafo então é um banho:
‘O Prêmio São Paulo de Literatura é subsidiado pelo Governo do Estado de São Paulo e está em sua segunda edição. Este ano, foram 217 inscritos para as duas categorias e a escolha dos finalistas, segundo a assessoria de imprensa do Festival, evidenciou livros muito comentados em 2008 como `Orfãos do Eldorado´, de Hatoum e `A viagem do elefante´, de Saramago.’
Passemos ao largo da definição técnica da palavra subsídio, em ‘subsidiado’, que no texto deve significar custeio total. Mas olhem: ‘Este ano, foram 217 inscritos para as duas categorias e a escolha dos finalistas…’. Duzentos e dezessete se inscreveram e todos foram finalistas?! Ou ‘a escolha dos finalistas, segundo a assessoria de imprensa do Festival, evidenciou livros…’? Mas, putz, a escolha evidenciou livros ou NA escolha evidenciaram-se livros…? E, neste caso, a evidência anterior desses livros determinou a sua escolha? Quem sabe?
No próximo pradiabos, vemos, afinal:
‘O júri que avaliou as obras foi formado pelos professores Ivan Marques e Marcos Moraes, pelos escritores Menalton Braff e Fernando Paixão; por Paula Fabrio e José Carlos Honório, livreitos; pelos críticos literários Marcelo Pen e Josélia Aguiar e por Márcia de Grandi e Mario Vitor Santos, leitores. A avaliação final será feita por um segundo grupo de jurados.’
É mais honesto e digno bater em bêbado descendo a ladeira: livreitos por livreiros, nomes de críticos literários que se misturam aos de leitores, sem que se tenha a certeza do fim de uns e começo de outros.
Chamem o síndico.
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Jornalista e escritor, Recife, PE