A história estuda o passado e o jornalismo trata do presente. Verdadeiro? Falso? As duas certas? As duas erradas? Não sei? A múltipla escolha é método recente; para a história, uma criança; para o jornalismo, nem tanto. Para quem gosta de fazer análises sem se complicar é o muro largo que faltava. Subir nele, morar e entrincheirar-se ali era tudo o que faltava e ele, o método, veio então para ficar. Juntar episódios, alinhavar opiniões de outros, não concluir ou concluir pouco, apelando mais para a indução; eis o quase-melhor dos mundos. Mas o bicho-homem é danado e o jornalista dele descendente pode ser ainda mais. Então, do fim do século passado para cá, bons repórteres, jovens ou mais veteranos, enveredaram pelos caminhos do passado e bamburraram bons filões de preciosidades para contar. A descoberta, as batalhas para manter a lusitana colônia, as invasões dos invejosos e ambiciosos de variadas matizes europeias, os sonhos de independência, a vergonha da escravidão, o país finalmente partejado por Napoleão, séculos, ciclos idades e eras, varguismos e outras modernidades.
Tanto mar, vasta pauta. Que sorte a nossa! O que se segue é um brevíssimo resumo de alguns desses exemplos, pesquisas, debates e livros. E se os ventos forem servidos, mais haverá.
Livros têm aprovação acadêmica
Ver com bons olhos e perceber até um positivo e certo desafio aos historiadores. Essa posição, do professor José Otávio Nogueira Guimarães, da Universidade de Brasília, não é unânime entre seus pares, mas parece indicar uma leve tendência majoritária, porque, na dialética da questão, jornalistas e historiadores teriam muito mais convergências no trabalho deles do que o contrário. A conversa com o professor, mesmo rápida, indicou com clareza vários elementos da dialética que norteia essa convivência, que pode bem começar pelo trato com a fonte ou pela natureza da dúvida de cada um.
A historicidade vem de Heródoto e Tucídides, gregos que fizeram autópsias de guerra. O jornalismo veio bem depois, com perguntas que desorganizavam certos relatos para buscar, talvez em outras fontes, versões distintas para os mesmos fatos. Historiadores não trabalham em “off”. Jornalistas precisam reinventar-se diante da disciplina dos documentos, datas, detalhes. A dificuldade diminui porque o rigor moderno da profissão não eximiu repórteres da obediência aos fatos, embora muitas vezes a pressa e o prazo do fechamento tenha obrigado um esgarçamento tênue nessa teia.
O jornalista pode proteger o sigilo da fonte. O historiador se fragiliza se não mostrar provas dos seus estudos e pesquisas. Aqui não se esconde nada. Quanto mais evidências, melhor. Aprender tudo isso e se aproveitar, na prática dessas ferramentas só traz vantagens ao trabalho do jornalista que escreve sobre história.
Enfim, “ampliar o público, chamar atenção para temas históricos mal estudados na educação básica, tudo isso ajuda muito, enriquece o debate e a agenda”, encerra o professor.
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Luiz Recena, do Jornal ANJ