Jornalistas franceses ficaram revoltados com a decisão atribuída ao empresário Arnaud Lagardère, proprietário da companhia Hachette Philipacchi Media, de censurar um artigo sobre a mulher do presidente recém eleito Nicolas Sarkozy. Na semana passada, o Journal du Dimanche, que pertence à Hachette, iria publicar uma reportagem afirmando que Cécilia Sarkozy não teria votado no segundo turno das eleições presidenciais – na França, o voto não é obrigatório.
Um jornalista da publicação havia descoberto que a assinatura de Cécilia não aparecia no registro dos eleitores. A matéria havia sido aprovada pelos editores do jornal, mas foi retirada depois que Lagardère supostamente pediu ao chefe de redação Jacques Esperandieu para fazê-lo. Esperandieu, por sua vez, afirma que tomou a decisão sozinho, porque votar é ‘uma questão particular’, afirmou à AFP.
Carta de protesto
Em uma carta publicada no diário de esquerda Liberation, jornalistas do Journal du Dimanche acusam o magnata de cometer uma ‘censura inaceitável’ e de agir ‘contra a liberdade de imprensa’. ‘O senhor interveio para evitar que este artigo fosse publicado. Nós acreditamos que isso constitui uma censura inaceitável, que vai contra a liberdade de imprensa. Todos os jornalistas do Journal du Dimanche protestam contra esta prática retrógrada’, dizia a carta, que também foi enviada ao escritório de Lagardère.
Profissionais de outros veículos da empresa, como a rádio Europe 1 e as revistas Paris Match e Elle, rapidamente expressaram apoio ao protesto. Eles pediram ao empresário que garanta independência editorial em suas publicações.
Lagardère é amigo próximo de Sarkozy. A controvérsia reacendeu o debate na França sobre um suposto favorecimento da mídia ao hoje presidente durante a campanha contra a candidata socialista Ségolène Royal. Informações de Gwladys Fouche [MediaGuardian, 17/5/07].
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Istambul barra fotos publicitárias de biquínis
A proibição de fotos publicitárias de modelos em trajes de banho causou polêmica em Istambul, maior cidade da Turquia. A prefeitura de Istambul determinou que as lojas que vendem biquínis da marca Nelson tinham que pedir permissão para estampar fotografias da coleção em vitrines localizadas em avenidas de grande movimento. As autoridades então negaram a permissão.
A atitude causou controvérsia, com jornais e parte da população acusando a prefeitura de tentar inserir as regras do Islã no cotidiano local. A Turquia é uma república secular com uma enorme população muçulmana. O governo de Istambul é controlado pelo partido AK, de base islâmica. Secularistas afirmam que o partido está tentando minar a separação entre Estado e religião.
Acidentes de carro
‘Estamos nos tornando uma terra de mulás, como o Irã?’, questionou o diário Vatan, comentando a polêmica das fotos de biquínis. O diário Cumhuriyet também comparou o país com o Irã e ressaltou que ‘anúncios de lenços [que as mulheres usam para cobrir a cabeça] acham espaço facilmente em Istambul’.
Moris Eskinazi, um dos donos da marca Nelson, afirmou que a necessidade de pedir permissão para pendurar fotografias é algo novo. ‘Nós nunca tivemos que fazer isso, e agora eles querem ver com antecedência as fotos que nós planejamos exibir’, reclamou. ‘Eles disseram que as imagens não estavam nos padrões da União Européia e que causariam acidentes de carro’, continuou Eskinazi, citando o Departamento de Planejamento Urbano de Istambul. Informações de Thomas Grove [Reuters, 17/5/07].