Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

José Paulo Lanyi

‘Paulista de Dois Córregos, Carlos Nascimento é um dos principais jornalistas de televisão do País. Começou na profissão em 1974, aos 19 anos, como narrador esportivo de uma emissora de rádio de sua cidade. Na capital, formou-se pela Cásper Líbero, trabalhou em rádio e ingressou na TV Globo, onde permaneceu por quase trinta anos, como repórter, editor e apresentador, com passagens pela TV Cultura e pela TV Record. Ganhou os prêmios APCA, Wladimir Herzog e Comunique-se.

Na segunda-feira, ele enfrenta mais um, entre tantos desafios de seu cotidiano. ‘Sempre fui para a emissora sem saber o que me aguardava durante o dia’, afirmou em entrevista coletiva esta semana. ‘Nesses anos todos, matei um leão por dia’, concluiu, para gáudio de um piadista que lembrou, ao som das gargalhadas: ‘Na Band, não pode matar o Leão’, referindo-se ao apelido do apresentador Gilberto Barros.

O editor-chefe e âncora do ‘Jornal da Band’ inspira serenidade. O bom humor será a moldura do novo formato do programa (leia ao lado ‘Band apresenta Nascimento e Joelmir’).

Link SP – Por que a opção pela análise no telejornal?

Carlos Nascimento – O formato atual, narrativo, descritivo já está superado. As pessoas não se contentam em saber o que aconteceu, mas quais são as relações entre os fatos. Vamos mostrar como isso toca a vida de cada um. Nesse monte de informações que a gente recebe todo dia, 80% não têm a menor utilidade, a não ser na segmentação. Tirando isso, é um bombardeio, as pessoas não sabem o que é importante e o que não é.

LSP – Qual será o grau de interpretação nas reportagens?

CN – Vai depender do entrosamento dos repórteres, da capacidade de absorver o formato. Não é do dia para a noite, não é uma prática comum. Existe uma delicadeza ao separar a análise da opinião, eu diria no sentido de explicação.

O texto tem um segredo. O Lucas Mendes tinha um texto diferente de todos, desde a primeira frase estava explicando a que veio, não apenas descrevendo. Dá mais trabalho, tem que ser mais econômico com as palavras. Temos de cuidar da edição, das imagens, do tipo de entrevista na rua. Será mais parecido com uma reportagem da Veja, em que tudo se encaixa com perfeição, conduz o leitor para o raciocínio.

LSP – A análise, a interpretação, a opinião estarão sujeitas a uma linha editorial. Qual é essa linha?

CN – Nós tivemos uma conversa com a direção da Band. Não existe uma linha, a não ser aquela de dizer tudo sem partidarismo, sem torcer para um lado ou para o outro. Sempre há um consenso. Nós somos uma sociedade com um jeito peculiar, o que leva a um senso-comum da forma como processamos a informação. O telejornalista é um prolongamento do cidadão, de modo que o telespectador se veja na tela, sem a imposição de uma cor política.

LSP – A Bandeirantes, tradicionalmente, tem o chamado público qualificado nesse horário. As pautas serão dirigidas a essa faixa ou o alvo é mais amplo?

CN – Pelas paredes aqui da Band tem uns posterzinhos dizendo que o nosso público são mulheres acima de 25 anos, classe C. Há várias delas falando do que gostam de ouvir, os pôsteres estão esparramados pela casa. Se existe um público cativo vamos considerar, mas não é só. É um engano pensar que o ‘Jornal da Band’ é feito para um público específico, mas para um público extenso. Vamos fazer para todos: homem, classe A, classe B… Aprendi uma coisa na Globo, toda vez que ia analisar um jornal. Uma moça que cuidava do Ibope fazia um amplo painel de todo mundo que te assiste. No fim, a pergunta era: qual é o nosso público? ‘Para nós o público é todo mundo. Queremos falar para o Brasil’. Aqui na Band não é diferente.

LSP – Você fez menção ao bom humor no novo ‘Jornal da Band’ e se disse um exemplo na direção oposta, em outros tempos. Como será esse humor?

CN – Foi uma experiência bem-sucedida no ‘Jornal Hoje’. Eu fazia o jornal sozinho, era editor-chefe e apresentador. Há uns dois anos procurei a direção da emissora para dizer que o jornal estava muito pesado, requeria a presença de uma mulher e a possibilidade de dialogar de forma suave, brincando, que é o que o público deseja na hora do almoço. Foi extraordinário. Tivemos um aumento expressivo de audiência e a confirmação, por e-mail, de que as pessoas adoram. Todas as conversas do brasileiro caminham para o humor. Até mesmo nas situações muito graves, no dia seguinte tem um monte de piadas. Nós não nos martirizamos.

LSP – O Joelmir disse que vocês conversaram antes de acertar com a Bandeirantes. Se um fosse, o outro também iria. Como foi isso?

CN – Na verdade os convites foram feitos separadamente. Acho até que conversei primeiro do que ele. Fiquei satisfeito porque soube que ele havia decidido parar com a televisão e disse textualmente, que, como se tratava de mim, mudaria os planos da vida dele e viria. Foi motivo de muito orgulho para mim. Como profissional de televisão, âncora, comentarista, ele é uma das pessoas mais completas, assim como o Renato Machado.

LSP – Que projeto o teria segurado na Globo, depois de tantos anos de casa?

CN – Uma coisa que não fiz no tamanho certo foi ser correspondente internacional. Morei um ano na Espanha em 82. Fui correspondente em Madri, fiz cobertura em quase toda a Europa Central e voltei para o Brasil. Viajei, fiz várias coberturas, mas não fui correspondente por um prazo mais longo. Recebi convite para Londres, Nova York, mas acabei recusando, tinha quatro filhos pequenos. Faltou essa experiência porque não quis. Pode ser que no futuro faça isso. Pode ser que more em Roma, tenho cidadania italiana. Neste momento, me interessei mais pelo projeto daqui.’



ENTREVISTA / JOELMIR BETING
José Paulo Lanyi

‘O regresso de Joelmir’, Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 12/03/04

‘Joelmir Beting é um dos maiores comentaristas econômicos da história do jornalismo brasileiro. Não bastasse, poucos traduzem com rigor o sentido de uma expressão algo surrada por seu uso exagerado: o dom da palavra. Em TV, isso não é pouco. Bom para o ‘Jornal da Band’, que contará com os seus comentários a partir da segunda-feira (Leia ‘O Bem-Humorado Nascimento’ e ‘Band apresenta Nascimento e Joelmir’).

A excelência de seu trabalho, aliada à sua imagem multimídia, atraiu uma proposta que, aceita, provocou um Vasco x Flamengo, um Grenal, um dos clássicos mais renhidos dos últimos tempos na discussão da ética jornalística. Grosso modo, metade da categoria apoiou-lhe a decisão de fazer comerciais para o Bradesco; a outra foi-lhe contrária. Alguns abusaram, espinafram-lhe com fúria e sarcasmo inauditos. Bem que lhe tentaram arrancar um de seus maiores trunfos: a credibilidade. Não deu.

Pode-se até discordar de sua atitude, a do colunista econômico que faz propaganda e despreza uma implicação evidente: o público tende a desconfiar de suas intenções, a cada realce, a uma simples menção da palavra-tabu: Bradesco.

No entanto, o superávit de confiança acumulou-se em mais de quarenta anos de exercício. Joelmir Beting ainda é Joelmir Beting. O de sempre.

Nascido no município paulista de Tambaú, em 1936, formou-se pela USP e começou no jornalismo em 1957, pela imprensa esportiva. A sua coluna econômica, criada em 1970, perdurou até janeiro deste ano. Joelmir garante que a extinção nada teve a ver com a quizumba, ainda fresca. A decisão de encerrar a coluna fora pessoal e anterior. Reproduziam-na: Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, O Globo, Zero Hora, O Estado de Minas e Folha de Londrina, entre outros.

Creditam-lhe o pioneirismo na informação econômica diária em rádio, na Jovem Pan, na Gazeta, na Bandeirantes e na CBN; em televisão: na Gazeta, na Record, na Bandeirantes, na Globo e na GloboNews. Joelmir Beting faz palestras há muitos anos; por isso também é criticado. ‘É um outro tipo de mídia muito interativa’, classifica, em tom de resposta antecipada.

Escreveu os livros ‘Na prática a Teoria é Outra’ e ‘Os Juros subversivos’. Os prêmios mais recentes: Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo Econômico, em 2002, e Prêmio Apimec de Jornalismo em 2003.

Na entrevista ao Comunique-se, Joelmir foi cristalino: não engoliu a forma com que se viu obrigado a interromper a sua coluna nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo. Os diários evocaram razões éticas para barrá-lo, em razão da publicidade que fez para o Bradesco.

Plácido e direto, Joelmir chamou a Globo.com de caloteira (‘Seria bom que os editores de O Globo dessem uma espiada no que anda acontecendo com isso’) e ironizou a divergência entre o Estadão e a Agência Estado, empresas do mesmo grupo: o jornal não quis mais a sua coluna; a agência quis contratá-la pagando muito mais. ‘Que tipo de avaliação ética o jornal fez a meu respeito e que tipo de avaliação ética a Agência Estado fez a meu respeito? Aí eu devolvo a bola quadrada’.

Link SP – Os últimos tempos foram significativos na sua carreira. O que você assimilou desse período, considerando-se tudo o que aconteceu?

Joelmir Beting – Eu fiz uma reavaliação geral da carreira em função de um projeto chamado ‘data de validade vencida’. Eu deveria estar me aposentando literalmente agora, com 67 anos de idade e 45 de jornalismo, mas resolvi tocar o bonde. Só que não dá mais para carregar tudo aquilo que eu vinha carregando.

Como profissional multimídia eu cheguei a fazer, durante décadas, jornal, rádio, televisão, palestra, tudo ao mesmo tempo e diariamente cada coisa. Então, era uma sobrecarga de 15 horas por dia nos últimos trinta anos, inclusive sábado, domingo e feriado. Quem é da família sabe o que eu fiz nesse período. Então, chegou num momento em que aparecem quatro netos sem aviso prévio, embora desejados a vida toda, e esses netos me ocupam a agenda também, sobretudo a agenda do fim de semana que eu não tive. Resultado: eu comecei a avaliar a possibilidade de descarregar da minha agenda primeiramente a televisão, que não me somava mais nada, e em segundo lugar a coluna diária, que me ocupava em demasia, me absorve de cinco a seis horas por dia.

Para quem não vive só disso, tem que fazer também televisão, tem que fazer quase que uma palestra por dia, um dia sim, um dia não, em São Paulo e fora de São Paulo, estava sobrecarregado em detrimento da qualidade do trabalho. Se não da qualidade do produto, mas da qualidade do trabalho com certeza estava baleado. Então, eu tive de fazer essa exclusão pela TV e pela coluna, sobrando o mercado de palestras, que até do ponto de vista profissional também tem um grande retorno, e do ponto de vista jornalístico tem um grande retorno porque é um outro tipo de mídia muito interativa, onde você mais se informa do que informa na frente de quatrocentas pessoas da indústria automobilística falando com eles. Eu tive que tomar essa decisão, por uma limitação também de idade, limitação de fadiga do material. Eu tomei essa decisão, rompi com TV e depois rompi com a coluna.

A despeito do episódio que cercou a coluna, ela já estava com a decisão tomada de ser encerrada no dia 31 de janeiro de 2004. Eu tomei em janeiro de 2003 a decisão: vou ficar mais um ano só fazendo a coluna, quando ela completar 35 anos de publicação diária, eu encerro. Foi o que aconteceu. Eu tinha saído da televisão em julho e, depois de meio ano fora, começou a me dar uma coceira de voltar. No momento em que eu encerro a coluna, abro na agenda espaço para voltar a fazer televisão.

LSP – Você disse que, em um dado momento, não havia mais nada a fazer em televisão.

JB – Não havia nada a fazer no ‘Padrão Globo’. Nada contra o ‘Padrão Globo’, merece todo o respeito, mas no qual eu não me encaixava mais (ou não era encaixado). Então, como não tinha mais nada a acrescentar, nada mais a fazer, aquilo só me subtraía na minha agenda particular. Aliás, cinco anos atrás, eu decidi sair da TV, a Globo não deixou sair, e queria que eu continuasse agora por mais três anos. Mas aí não deu mais e eu saí, em julho do ano passado. Estou voltando para a Band porque tenho condição de trabalho e um projeto de telejornalismo que a Globo não fez, não faria e acho até que nem deveria fazer. Mas a Bandeirantes pode fazer, e está do meu jeito, como está do jeito do Nascimento. É um projeto que eu converso com o Nascimento e o Nascimento conversa comigo há mais de dez anos. Agora, juntos, vamos fazer. Até a decisão de chegar aqui, foi quase que nessa base, um telefonou para o outro e disse: se você for, eu vou, se você for, eu vou.

‘Economia é tendenciosa’

LSP – Como telespectador é difícil entender que mudança seria essa, porque o que se espera de um comentarista é que ele comente. E isso você fazia na Globo. Qual é exatamente a diferença que a gente vai perceber na Bandeirantes?

JB – O comentário da Globo era marcado, único, com tempo determinado, não raro gravado. Ponto. Na Bandeirantes, você fica ao vivo na bancada pontuando, grifando os assuntos principais não só da minha área econômica, mas também da área política, porque hoje as grandes áreas de interesse estão interpenetradas. Se você pegar um noticiário internacional e jogar para a análise econômica, funciona; se pegar o noticiário econômico e jogar para a área internacional, funciona; e se você pegar as duas áreas e jogar para a área política, está tudo dentro.

Eu acho que um cara com a experiência de jornalismo e de cultura de jornalista de quarenta anos de janela pode transitar pela política, pela economia e pelo internacional. É claro que a minha marca registrada está na economia, e na economia eu vou dar o tratamento adequado que eu sempre acho que a televisão deveria dar e não vem dando. É dar a notícia, explicar a notícia e, depois, até comentar a notícia. Mas, sobretudo, na economia explicar o que acontece é a forma superior da informação. A informação não se esgota dando a notícia, ela se esgota explicando a notícia. E na economia, sobretudo, está havendo uma desinformação organizada, tendenciosa que a gente teria que combater, ainda que individualmente, ainda que bancando o Pirro da batalha, ou o Davi do Golias. Você tem que entrar nessa guerra, como eu estava entrando na coluna diária, eu estava sozinho, às vezes, na contramão da análise econômica estabelecida querendo fazer essa guerrilha. Na televisão a gente pode fazer isso.

‘Calote’

LSP – O episódio do Bradesco ainda se reflete no seu dia-a-dia? Se a gente chutar, metade da categoria considerou a sua atitude natural, de fazer publicidade para o banco, apesar de ser comentarista econômico, e metade disse que isso não era compatível. Depois daquela repercussão toda, como é que você considera esse passo que você deu? Eu gostaria, até hoje, de entender os motivos pelos quais você fez isso e saber qual é o reflexo disso sobre o comentarista do ‘Jornal da Band’.

JB – Sem querer pegar o fio da meada da polêmica, eu acho que eu não dei um passo errado, nem fiz um tropeço na minha carreira, apenas tomei uma decisão madura, pensada (é um juízo de valor que eu tenho) de quem não via nenhum conflito de interesse. É uma questão pessoal que só poderia ser pessoal, até porque o relacionamento formal com os jornais que trombaram comigo era de fornecedor de um produto através de um atacadista que é a Agência Estado. É como seu eu estivesse fornecendo como fabricante de sapato o meu produto para uma rede de varejo lá do Nordeste, uma outra rede de varejo lá do Paraná, através de um atacadista, eu nem sei qual é a rede de varejo que está comprando o meu sapato. Que relação eu tenho com a rede? Eu não posso seguir o padrão de ética da rede de varejo ou de todas as redes de varejo. Como é que eu vou seguir o manual de conduta de 38 jornais ao mesmo tempo no Brasil inteiro? O manual de conduta é a minha conduta, e o meu produto está ali no espaço, no palco, diariamente submetido ao crivo de todo mundo.

Então, eu sempre digo que o que sobrou da polêmica (inclusive alguns colegas já estão me passando essa idéia) é que existe uma ética de jornalismo que não é a mesma ética do jornalista, assim como a ética do jornalista não é a mesma ética do jornal. O resumo da ópera: a ética do jornalista é meridiana e absoluta: é a verdade. A ética do jornalista é a ética da consciência, é absolutamente individual o conceito de consciência. E a ética do jornal é a ética da conveniência. Nada contra a conveniência do ramo, a conveniência do negócio. O jornalismo para o jornal é negócio. Por que ética da conveniência? O jornal muda de ética quando troca de dono, de editor, de patrocínio, de governo, de partido e, mais recentemente, quando troca de religião. E, não raro, troca de ética dentro do mesmo grupo. Eu vou dizer aqui duas coisas duras, mas verdadeiras, então aqui é a ética da verdade: o jornal O Globo me coloca para fora por um problema que ele considera ético, dentro de uma organização onde a Globo.com não me paga, desde maio, o que me deve em contrato, como se isso fosse ético, dar calote num fornecedor.

JPL – Quanto lhe deve?

JB – Duzentos mil, sem correção e sem juros, e não tem data para pagar, não quer aceitar nenhum plano de pagamento parcelado. Então isso é calote configurado, até prova em contrário. Seria bom que os editores de O Globo dessem uma espiada no que anda acontecendo com isso, para ver como está a ética da coisa. Na organização Grupo Estado: na quarta-feira o jornal corta a minha coluna, na quinta-feira a Agência Estado me oferece, por escrito, [ênfase] por escrito, está na minha gaveta, um contrato mirabolante, onde ela me pagava quinze por cento de faturamento líquido da rede nacional de jornais, ela passava a me oferecer, a partir daquele dia, cinqüenta por cento do faturamento líquido. Só que a Agência Estado não é do bispo Macedo. A Agência Estado é do Grupo Estado, e não me interessa, do lado de fora, como público, saber se há conflito de interesses entre a agência e [o jornal] Estado, dentro do mesmo grupo. Ali existe um conflito de interesse. Tanto é que está caracterizado nesse episódio, no meu caso, que é um episódio apenas residual, mas está ali configurado. Então, que tipo de avaliação ética o jornal fez a meu respeito e que tipo de avaliação ética a Agência Estado fez a meu respeito? Aí eu devolvo a bola quadrada.

JPL – Quando houve aquele episódio, a gente ficou se perguntando: qual é o futuro do Joelmir Beting no jornalismo? Eu soube que você recebeu várias propostas de trabalho e a gente percebe que esta foi uma delas. A decisão de voltar à televisão teve alguma relação direta com uma necessidade de mostrar para o seu público que, jornalisticamente, você nunca saiu do prumo?

JB – Eu tive condição de voltar para o mercado da mídia impressa quando encerrei a coluna na Agência Estado, e tive condição de voltar para o mercado de televisão quando eu saí da Globo. Só que eu saí da Globo escondido. Estou fora da Globo desde julho e somente agora, nesse episódio, é que vazou a idéia para todo mundo que eu estaria fora da televisão, como se eu tivesse saído do jornal O Globo e da TV Globo. Mas como o mercado por dentro já funciona, e o pessoal sabe disso, eu venho recebendo propostas de televisão desde agosto, setembro e outubro.

A Bandeirantes fez isso desde outubro. Eu acabei optando pela Bandeirantes, até porque eu não sabia se voltaria para a Bandeirantes, eu não sabia se voltaria para a televisão. Com o passar do tempo, e chegando o fim do ano, ano novo, vida nova, eu resolvi voltar a fazer televisão. Até porque tive a coragem de terminar a coluna que eu tinha programado terminar, encerrar a carreira dela e não sabia se ia ter coragem, na hora H, de fazer isso, sobrou tempo, agenda, espaço e cabeça para voltar a fazer televisão, como eu voltaria a fazer televisão na Globo. A porta da Globo está aberta, mas eu preferi a Bandeirantes, por conta do projeto que a Bandeirantes permite desenvolver. Essa foi a condição, não tem nada a ver de querer mostrar que eu estou vivo. Ao contrário.

Na própria mídia impressa, tenho propostas de jornais outros, de revistas semanais, quase todas elas, e estou avaliando, porque eu gostaria de voltar a escrever. Escrever uma página por semana numa revista semanal me interessa. Estou avaliando essas duas propostas, pedi até abril para acertar isso. Até porque agora vou desovar a televisão, então em abril acerto com a revista, se volto a fazer e qual delas.’



TV GLOBO
Daniel Castro

‘Boni negocia libertação do ‘Bom Dia SP’’, Folha de S. Paulo, 15/03/04

‘A pedido de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, a Globo está negociando com afiliadas a regionalização do ‘Bom Dia Praça’ (em SP, ‘Bom Dia São Paulo’; no Rio, ‘Bom Dia Rio’). O telejornal matinal, que em São Paulo foi lançado em 1977, é estadual. Deve passar a ter edições em algumas das maiores cidades do Estado, feitas por afiliadas. Boni, ex-vice-presidente da Globo e atualmente dono de duas afiliadas da emissora no Vale do Paraíba (São José dos Campos e Taubaté), já se prepara para lançar em abril um ‘Bom Dia’ local. ‘Hoje, o ‘Bom Dia SP’ fica mostrando o trânsito na marginal do Tietê. Isso não é útil para o Vale. Vamos mostrar como está o trânsito na Via Dutra, as escolas e os hospitais da região, fazer um telejornal de serviço local’, diz Boni. A TV Tem, do empresário J.Hawilla, que controla as afiliadas da Globo de Bauru, Sorocaba, São José do Rio Preto e Itapetininga, também negocia a exibição de edições locais do ‘Bom Dia’.

A Globo começou a sondar afiliadas pela regionalização do telejornal no início deste mês. Se isso se concretizar, a emissora irá abrir uma brecha na apertada grade para programas locais.

O novo ‘Bom Dia’ deverá ter um bloco estadual e dois locais. Está em negociação também a inclusão de um bloco estadual nos dois ‘Praça TV’ (em SP, ‘SP TV’), que hoje são totalmente regionais (feitos pelas afiliadas).

OUTRO CANAL

Cantoria A Record está estudando lançar uma reedição de ‘O Fino da Bossa’, apresentado nos anos 60 por Elis Regina e Jair Rodrigues. A emissora gostaria de ter João Marcello Bôscoli, filho de Elis, à frente da atração. O programa, ainda na fase ‘embrionária’, teria clássicos da MPB interpretados por novos artistas.

Telona 1 A Band acaba de comprar um pacote de 15 filmes inéditos distribuídos pela independente Imagem Filmes. Os títulos, todos recentes, serão exibidos na sessão ‘Domingo no Cinema’.

Telona 2 No pacote da Band estão ‘A Última Ceia’, que rendeu o Oscar de melhor atriz a Halle Berry, e ‘Entre Quatro Paredes’, de 2001, que teve cinco indicações ao Oscar. Há ainda ‘The Guys’ (2002), drama sobre um bombeiro de Nova York que perdeu oito subordinados no atentado ao World Trade Center, em 2001.

Intriga A evangélica Monique Evans, que vive dizendo que vai deixar de apresentar o erótico ‘Noite Afora’, na Rede TV!, propôs à emissora se tornar repórter do ‘TV Fama’. Executivos do canal, então, sugeriram rebaixar seu salário. Ela não topou, é claro.

Adiado Ficou para 11 ou 18 de abril o lançamento do ‘Domingo Total’, o ‘Fantástico’ da Record, inicialmente previsto para o dia 28. Janine Borba e Otaviano Costa serão os âncoras. Falta mais um.’



QUALIDADE NA TV
Daniel Castro

‘Pesquisa aponta princípios que os programas de TV devem ter’, Folha de S. Paulo, 14/03/04

‘O programa de TV perfeito para crianças e adolescentes, de acordo com os critérios dos pais, não existe na TV comercial e está escasso nas deficitárias emissoras públicas. É o que mostra pesquisa qualitativa, que será divulgada hoje, feita em São Paulo com 60 pais de filhos de 4 a 17 anos.

O estudo, feito pelo instituto MultiFocus, especializado em comportamento infanto-juvenil, sob encomenda da ONG Midiativa, traçou o que seriam ‘dez mandamentos de um programa de qualidade’ assistido por crianças e adolescentes.

Entre os mandamentos, está o óbvio ‘não ser apelativo’, mas há outros que chegam a surpreender por indicar que os pais reconhecem o que todo bom profissional de TV educativa deveria saber: mais importante do que informar, um programa de qualidade tem de ‘gerar curiosidade’, estimular a criança ou o jovem a pesquisar em outras fontes.

A lista completa inclui os mandamentos ‘ser atraente’, ‘confirmar valores’, ‘ter fantasia’, ‘gerar identificação’, ‘mostrar a realidade’, ‘despertar o senso crítico’, ‘incentivar a auto-estima’ e ‘preparar para a vida’.

Os dez mandamentos serão agora ‘ranqueados’. Uma segunda etapa do estudo, que começa no dia 22, com pesquisa quantitativa, irá ouvir 270 pessoas -180 pais e 90 filhos. Nela, será determinada a ordem de importância desses mandamentos. Também serão apurados quais os programas da TV que merecem o selo de qualidade. O ranking dos melhores será divulgado em abril, na 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes, no Rio. O projeto todo será concluído em julho, com a premiação de profissionais, veículos e anunciantes, no Prêmio MídiaQ.

Preocupação

Os dez mandamentos da TV de qualidade podem até ser cumpridos, pelo menos parcialmente, por programas infantis. Mas há um problema: os programas mais vistos por crianças e adolescentes não são feitos para eles.

Segundo o instituto Datanexus, que mede audiência da TV, dos dez programas mais vistos por crianças de até nove anos na Grande São Paulo, entre 1º e 10 de março, nenhum era infantil.

Já entre os dez mais vistos por pessoas de 10 a 17 anos, apenas o seriado ‘Malhação’, da Globo, se enquadra no perfil de programa para adolescentes.

‘Os programas adultos são assistidos também pelas crianças. A preocupação dos pais com valores não se restringe aos programas infantis’, diz Ana Helena Meirelles Reis, 53, diretora da MultiFocus, responsável pela pesquisa. ‘A ânsia dos pais é por novas produções voltadas para esses valores [os dez mandamentos]. Eles querem programas de debates e entrevistas para crianças.’

Reis evita citar maus exemplos de programas, mas enumera os gêneros. Embora ‘Malhação’ cumpra o mandamento ‘gerar identificação’, por abordar os anseios dos jovens, há muitos deslizes em telenovelas. ‘A novela cria uma ilusão quando mostra uma realidade que os filhos não podem ter’, diz. E, quando exibem vilões que vivem aplicando golpes e se dão bem, dão um golpe no mandamento ‘confirmar valores’.

‘Reality shows’ também são condenados pelos pais, ‘quando mostram o lado ruim das pessoas e a sexualidade’. Ana Reis afirma que o que mais preocupa os pais são a ilusão e a realidade vistas na TV. A classe C, diz, não proíbe que seus filhos vejam telejornais policiais. ‘As famílias da classe C acham que a TV tem de passar a realidade, porque seus filhos vivem em um ambiente violento, vão à escola sozinhos. Mas condenam a forma como a violência é mostrada. Já as classes A e B preferem preservar seus filhos.’

As preocupações variam conforme a idade. Pais de crianças de até oito anos valorizam programas com ‘fantasia’, como desenhos animados, embora rejeitem os violentos. Já os pais de adolescentes valorizam o real responsável. ‘A faixa que mais preocupa é a dos oito aos 13 anos, por ser a mais vulnerável. Antes dos oito anos, os pais conseguem controlar mais, e a criança se interessa mais pelo lado lúdico. Depois dos 13 anos, os filhos têm outras atividades e interesses’, conclui Reis.’

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‘Prêmio vai incentivar produção’, Folha de S. Paulo, 14/03/04

‘A pesquisa que listou os ‘dez mandamentos da programação de qualidade’ é apenas a primeira fase de um projeto amplo, que será concluído em julho, com a entrega do Prêmio MídiaQ.

Em uma próxima pesquisa, o instituto MultiFocus irá perguntar a 270 pessoas quais são os programas de TV que elas consideram que cumprem alguns dos mandamentos e não desrespeitem nenhum deles.

O resultado dessa pesquisa será divulgado na 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes, a Rio Summit 2004, evento que irá reunir no Rio, em abril, especialistas do mundo inteiro.

Lançada em 1995, com edições já realizadas na Austrália, Inglaterra e Grécia, a ‘Summit’ é considerada o mais importante fórum internacional sobre a qualidade da mídia infanto-juvenil, novas tecnologias, políticas públicas e acordos legais e comerciais.

Depois, a lista dos programas de qualidade apontados pela pesquisa irá passar por um corpo de jurados, que irá escolher programas, profissionais, veículos e anunciantes que merecem receber o Prêmio MídiaQ, em julho. A premiação será anual.

O Projeto MídiaQ será lançado hoje, com a apresentação dos dez mandamentos, em evento no Instituto Itaú Cultural, em São Paulo, seguido pelo debate ‘Mídia de Qualidade – A Responsabilidade Social da Mídia nos Valores Transmitidos para Crianças e Jovens pela Televisão’.

O Prêmio MídiaQ será uma forma de incentivar a produção de conteúdo de qualidade.

‘Faltam novelas e documentários para crianças. A TV comercial nunca se interessou em gastar com essa programação, que elas limitam ao período da manhã. São escassos os anunciantes que se interessam por essa faixa’, diz Beth Carmona, presidente da TVE (TV educativa) e do Midiativa – Centro Brasileiro de Mídia para Crianças e Adolescentes, idealizador do Prêmio MídiaQ.

Carmona, ex-diretora de programação da TV Cultura, onde foi uma das responsáveis por programas elogiados, como ‘Castelo Rá-Tim-Bum’, afirma que a crise das TVs públicas, mantidas por governos, está prejudicando a formação de profissionais para programas infanto-juvenis.

‘A falta de investimentos na TV pública impede a formação de novos profissionais. Hoje, eles vêm da televisão comercial’, diz.’