‘Os críticos dos telejornais populares são preconceituosos e sensacionalistas, nem sequer assistem a esses programas, diz o novo apresentador do ‘Cidade Alerta’, Marcelo Rezende, que chega para lutar pela liderança da audiência nesse segmento.
O jornalista diz que não mexerá na essência do que encontrou. Agregará investigação e denúncias contra o Poder Público.
Link SP – Você pode voltar a fazer reportagens?
Marcelo Rezende – Acredito que sim, depois que conseguir esquematizar, me adaptar, conhecer quem é quem vou ter mais tempo. Espero de vez em quando fazer uma reportagem ou outra, principalmente entrevistas.
LSP – Por que entrevista?
MR – Ocupa menos tempo. Fiz investigações que demoravam meses. O ‘Globo Repórter’ da CPI do Futebol e do Eurico Miranda demorou oito meses. Hoje tenho que apresentar o telejornal. A grande contribuição é usar a minha experiência para formar o time com uma equipe muito boa que está na Record. O ‘Cidade Alerta’ é o líder de audiência nesse segmento.
LSP – A barreira no ‘Repórter Cidadão’ foi apenas a audiência ou a fórmula do programa não atendia ao que você queria?
MR – Eu tinha dado a minha contribuição durante dois anos. Não tinha mais para onde caminhar. Apareceu o horizonte sem fim da Record. Não podia imaginar que houvesse uma emissora tão bem-equipada. Me impressionou. Ajudei a fazer do ‘Repórter Cidadão’ um programa reconhecido, com grande audiência, grande aceitação, eu e meus companheiros. Meu período havia esgotado. Sou grato à Rede TV! Me deu oportunidade, sempre respeitou meu trabalho, mas eu havia vencido essa etapa.
LSP – O Fernando Mitre diz que é preciso diferenciar a linguagem forte de um programa jornalístico de TV do sensacionalismo. Qual é a sua visão da linguagem e programas do gênero que você tem apresentado?
MR – O ‘Repórter Cidadão’ foi uma experiência gratificante porque entendeu perfeitamente e traduziu a palavra cidadão. Trouxemos questões sociais, críticas frontais aos governantes, apresentamos falsas declarações e promessas de políticos que não resolveram, fizemos vibrar a cidadania. O ‘Cidade Alerta’ é consagrado, tem dinamismo e credibilidade muito grandes. O próximo passo que vai nos fazer avançar é usar a palavra alerta no sentido de alertar a população para outras questões. Como é possível criar o Estatuto do Idoso sem poder cumprir o que está prometido? O ‘Fome Zero’ é um programa de marketing. Vamos prestar serviço, estar em sintonia com a população. Uma frase do Rubem Braga exemplifica a vida do repórter: ‘Repórter é olho’, são os olhos da sua sensibilidade. Vamos usar essa sensibilidade para traduzir o interesse daquele que é o nosso parceiro, que é quem assiste ao ‘Cidade Alerta’. Vamos trabalhar para o interesse público, não do público. Não vamos atender à curiosidade, e sim ao interesse da coletividade.
LSP – O ‘Cidade Alerta’ será diferente dos demais dessa linha?
MR – Só vem a agregar, é um programa muito legal, pela agilidade e pela credibilidade, pela presença instantânea nos acontecimentos. Vamos burilar mais as reportagens, dar profundidade às questões.
LSP – Você se vê fazendo programas assim a vida inteira? Ou há algo diferente que ainda quer fazer?
MR – Sou muito feliz com o que eu faço, os meus projetos estão todos neste momento voltados para o ‘Cidade Alerta’. Gosto, acho fundamental esse tipo de programa. A resposta da população é muito grande, todas as camadas sociais. Faço exatamente o que eu gosto. Mas isso não impede de aparecer um projeto na Record que vá fazê-lo.
LSP – Como levar um programa jornalístico popular sem incorrer no popularesco?
MR (irritado)- Não acredito nisso. É um preconceito, uma bobagem, absoluta falta do que fazer de quem diz isso. São programas populares e refletem a população, o gosto popular. Fazemos jornalismo, em primeiro lugar está a notícia. Geralmente quem escreve isso nem vê, o que é mais grave. ‘Viu tal coisa’? ‘Não’. Então como escreveu? É preconceito, é exploração, é exatamente o oposto: querem fazer sensacionalismo em cima da gente. As pessoas são bobas, cheias de preconceitos, deveriam cuidar de seus afazeres. Eu sei fechar um jornal; muitos não sabem.
LSP – A audiência evolui? O que fazer para elevar a consciência do telespectador?
MR – O simples fato de mostrar provoca a reflexão. O que fazemos aqui não é uma catarse. É trazer a público o que acontece e cada vez mais exigir soluções dessas questões. O ingrediente de trabalhar pelo interesse público é mostrar o dia-a-dia do cidadão.
Esta coluna não conseguiu localizar Rezende para falar da nota oficial da Rede TV! em que a emissora nega o acordo com a Record e anuncia uma cobrança judicial de uma multa contratual de R$ 5 milhões.’
TV PÚBLICA
Antonio Brasil
‘O futuro ‘incerto’ das televisões públicas’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 20/02/04
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A crise na BBC tem provocado um questionamento sobre o papel e o futuro das televisões públicas no mundo. Afinal, para que servem, quais são seus objetivos e principalmente quem estaria disposto a assistir ou a ‘bancar’ esses canais de televisão? Ou seja, a questão mais importante seria perguntar, será que o público de TV realmente ‘quer’ ou ‘precisa’ de uma televisão pública?Todos os defensores das televisões públicas, principalmente aqueles que trabalham e ganham dinheiro nessas instituições, declaram que o público precisa de uma televisão de ‘qualidade’. Mas a verdade é que também não existe uma definição comum do que seria essa tal ‘qualidade’ em televisão. Confundir qualidade com ‘elitismo’, produção de programas culturais com orquestras sinfônicas’ ou documentários do National Geographic em horário nobre, pode não ser necessariamente considerado ‘qualidade’ pelos principais interessados, o público de televisão. Entre assistir a uma novela melosa na Globo ou a um documentário ‘impessoal e distante’ sobre animais desconhecidos em extinção em diversas partes do mundo, pode ser que público prefira e tenha o direito de assistir as novelas. Questão de gosto não se discute. Talvez a questão seja mais complicada, envolve a necessidade de escapismo, alienação e até mesmo de ‘emburrecimento’. Televisão pública educativa ou jornalismo de qualidade não deveria substituir educação de verdade ou partido político.
O modelo BBC
O jornalismo da BBC acreditava que enfrentar um governo legitimamente eleito pelo povo britânico era função de uma televisão pública. O relatório apresentado por um juiz independente, Lorde Brian Hutton foi muito cruel com a BBC mas também foi muito claro. Declarou que os procedimento editoriais da BBC, uma televisão pública não eram aceitáveis. Bom para a BBC e para o jornalismo de qualidade. O relatório indica que até mesmo a BBC pode errar. Instituições públicas devem ser constantemente avaliadas, principalmente pelo público, e índice de audiência não é o único parâmetro de ‘qualidade’ ou de responsabilidade.
A verdade é que a crise está criada e o futuro da BBC é incerto. Segundo o Sunday Times, a ‘vingança’ do governo Blair já está a caminho. O poder da BBC seria drasticamente reduzido na próxima renovação do seu contrato social em 2006. A justificativa do governo britânico é simples. A BBC seria poderosa e rica demais. O governo ameaça mudar as regras do financiamento público independente da rede britânica. Para quem não sabe, essa qualidade e independência da BBC tem um preço. Todos os cidadãos britânicos que compram uma TV são ‘obrigados’ a pagar por uma licença anual de cerca de 116 libras. Em um país com muitos problemas sociais, multi-étnico e com altas taxas de desemprego, essa quantia não é ‘café pequeno’.
Morei muitos anos na Inglaterra durante os anos 70 e 80 e nunca encontrei um único brasileiro que pagasse a tal taxa obrigatória. Todos nos elogiávamos muito a BBC, a melhor TV do mundo e tudo o mais, mas ninguém pagava a tal taxa obrigatória. A desculpa era sempre a mesma. Nós somos brasileiros, temos pouco dinheiro e o mais importante, os ‘ingleses’ jamais nos pegariam cometendo esse tipo de ‘infração’. Nos nos considerávamos ‘acima’ dessas obrigações peculiares do primeiro mundo. Na época, a idéia de pagar por uma televisão de qualidade era simplesmente absurda. Isso seria problema do governo. Mas afinal, quem é o tal governo?
O modelo brasileiro
Esse é o ponto da minha discussão em relação ao presente e ao futuro das televisões públicas em paises como a Inglaterra, Estados Unidos ou mesmo no Brasil. Afinal, quem estaria realmente interessado na sobrevivência dessas televisões ‘de qualidade’? Quem teria que ‘bancar’ essas TVs? A resposta, pelo menos no Brasil, é muito fácil. O governo, é claro. Mas o problema é que o governo somos todos nós. O dinheiro das instituições públicas vem dos nossos impostos. Se criamos uma lei que obriga um governo estadual a repassar uma certa percentagem do orçamento público para uma televisão como a Cultura e o tal ‘governo’ dia que não pode ou que não quer, a não ser que a televisão faça isso ou aquilo, temos muito poucos instrumentos para evitar a ‘chantagem’. O público deixa de ser público para ser estatal. Televisão pública tem que se humilhar e esmolar todos os dias junto aos governos para obter os recursos mínimos que garantam a sua existência.
Obviamente, o modelo público da BBC seria mais conveniente. Ou paga ou vai para a cadeia. Se por acaso alguém comprar uma televisão na Inglaterra e jurar que jamais assistira a BBC porque não gosta, não quer ou mesmo porque entende inglês como tantos imigrantes, pessoas de outras culturas que só querem assistir a ‘outros’ canais ou a vídeos, a questão ainda sim é a mesma. Ou paga ou vai para a cadeia. Não existe uma alternativa para o mundo televisivo. No modelo de televisão pública britânica, o público não tem escolha e a BBC não precisa convencer ninguém a financiar a sua programação. O último orçamento da corporação foi de R$ 12.5 bilhões. Garante a independência mas também garante muitos erros. Tem muitos programas de qualidade duvidosa na programação da BBC, o jornalismo passou a ser muito parecido com o de seus concorrentes, ou seja, competitivo e sensacionalista e a opinião do público é algo sempre muito distante. Índice de audiência passou a ser muito importante no modelo britânico de TV pública. O telespectador britânico paga caro para uma televisão que muitas vezes apresenta programas semelhantes a seus concorrentes.
Não pagou, vai preso
E ainda por cima, existe sempre a ameaça dos ‘olheiros’ da BBC. É gente, hoje, licença de TV no Reino Unido é coisa séria. A cobrança foi terceirizada e quem não paga pode ser preso. Os cobradores agora tem uns carrinhos com antenas sofisticadas do tipo ‘Big Brother’ que denunciam os infratores das leis de proteção à televisão pública britânica. Se você for surpreendido com uma televisão em casa e não tiver a tal ‘licença’, mesmo que diga que ‘odeia’ a BBC, não adianta, paga multa ou …. O impagável Michael Moore, em um dos melhores momentos do TV Nation, fez questão de ‘denunciar’ o cruel sistema de financiamento da TV pública britânica. Na época, ele entrevistou uma mulher que foi para a cadeia na Inglaterra porque não tinha como pagar a licença. Ela declarou que estava desempregada, tinha crianças em casa e que decidiu enfrentar a BBC e a própria sorte. Ela foi presa. Ou seja, o modelo britânico de TV pública é do tipo ou paga ou paga. Não existe opção. Pelo menos até 2006, a independência da BBC está garantida. A rede britânica não precisa se submeter ao governo e ao público.
O público não banca a TV pública
No Brasil, bem que o governo do estado de São Paulo tentou convencer o público a financiar a TV Cultura. Foi sugerida a aplicação de uma taxa extra em todas as contas de eletricidade. A reação do público foi ‘taxativa’ e negativa. O público pode admirar a TV Cultura, mas não estaria disposto a pagar mais pelo canal. Afinal, caberia ao tal ‘governo’ financiar futuro de uma televisão de qualidade.
Em inúmeros seminários sobre o ‘papel das TVs públicas no Brasil’, todos concordam que deveríamos ter televisões públicas com programação diferenciada, de qualidade. O exemplo da BBC é sempre citado para ser adaptado ou copiado. Mas o problema é que o tal público de televisão pública não estaria disposto a financiar ou arregaçar as mangas, ir para as ruas exigir essa tal TV ‘de qualidade’. Aqui entre nós, eu tenho minhas dúvidas, se o tal público realmente ‘quer’ uma televisão pública e se a sua programação sequer tem ‘qualidade’. Afinal, não existe sequer uma definição do que seria essa tal qualidade. A discussão se transforma em um ‘impasse’ e por falta de alternativas, fazemos sempre a pior opção que também é a mais segura, ou seja, tudo continua do mesmo jeito. A TV pública reclama da falta de recursos, reclama do governo, exige qualidade na programação, mas jamais exige uma ‘participação’ dos principais interessados, o público de TV.
O modelo PBS
No entanto, existe um outro modelo de financiamento de televisão pública de qualidade. É o modelo da PBS americana. Apesar do nome, Public Broadcasting System, os executivos da rede fazem questão de dizer que a PBS não é uma rede ‘pública’. A PBS seria uma empresa ‘privada’ financiada pelo ‘seu’ público. A principal diferença entre o financiamento da PBS e da BBC é que o público da rede americana tem escolha. Todos os dias, os funcionários, jornalistas, celebridades que trabalham na PBS pedem, insistem e tentam convencer o tal ‘público’ de uma televisão de qualidade a ‘bancar’ a sobrevivência da rede. É uma situação até certo ponto ‘humilhante’ para quem não está acostumado a ver profissionais ‘esmolando’ frente às câmeras. Mas existe um consenso de que não existe outra alternativa. Uma televisão ‘pública’ precisa estar distante do governo e junto do público. Mas esse tal público tem que estar disposto a bancar a sua própria televisão. E por incrível que pareça, sem licenças obrigatórias ou ameaças de prisão, o público americano que ‘acredita’ na proposta da PBS contribui regularmente. Eles pagam pequenas quantias de 20 dólares ou enormes ‘doações’ póstumas de milhões de dólares. Mas todos confirmam a sua parceria no futuro da rede de televisão. Pagam para ter uma programação que consideram de qualidade e pelo privilégio de não terem que assistir aos famigerados ‘comerciais’.
No entanto, como em todas as TVs públicas do mundo, os executivos da PBS também reclamam muito da falta de recursos. Mas ao contrário das ‘nossas’ TVs públicas, eles não culpam os governos. Eles sabem que a atual situação econômica dos EUA, a competição com os novos meios e até mesmo o envelhecimento do público de TV também são culpados pela redução na arrecadação de fundos. A diferença é que esses tais executivos da rede de TV americana também culpam a si próprios pela qualidade da programação. Eles convocam o público para financiar produções independentes que se tornam alternativas para as suas próprias limitações.
Programação de qualidade, muitas vezes, é diversidade com a criação de oportunidade para jovens produtores com idéias criativas e ousadas. Para a PBS, essa é a única maneira para convencer ao público a sustentar uma rede de televisão. Eles precisam ter certeza de que vão assistir a uma televisão se não melhor, pelo menos ‘diferente’.
A arrogância das TVs públicas
Em verdade, a questão sobre o futuro das televisões públicas não é simples. As ameaças persistem. Mas, em minha opinião, o maior problema é que muitas TVs públicas consideram que possuem o ‘monopólio’ da qualidade no meio. Muitos executivos de televisão pública acreditam que sabem mais sobre as preferências do público do que o próprio público. As pesquisas realizadas são sempre superficiais e tendem a confirmar os privilégios.
Em termos de jornalismo, em casos extremos como a crise recente da BBC, essas televisões públicas confundem jornalismo com militância política. Elas se esquecem dos princípios mais básicos do jornalismo como a investigação cuidadosa dos fatos. Outro pecado mortal é ignorar o ‘pluralismo’ de opiniões ou mesmo considerar-se acima dos governos. Ao desconsiderar a diversidade da opinião pública e prestigiar o sucesso efêmero dos índices de audiência, as televisões públicas se aproximam perigosamente das TVs comerciais. A diferença tende a desaparecer junto com os recursos e o público. Mas de todas as ameaças às televisões públicas, sem dúvida, a maior ainda é a própria arrogância.’
TV CONTROLADA
Claudia Facchini
‘MP deve obrigar TVs a incluírem chip’, copyright Valor Econômico, 20/02/04
‘A introdução de um chip nos televisores, que permite aos pais bloquear programas com cenas de sexo e violência, conhecido como V-chip, se arrasta mais do que as novelas no Brasil. A lei que obriga os fabricantes a colocarem o chip nos aparelhos é de dezembro de 2002 e já deveria ter entrado em vigor em 2003. Mas as indústrias conseguiram persuadir o governo a adiá-la. Em junho deste ano, no entanto, uma medida provisória proibirá que sejam vendidos televisores no país sem o V-chip.
As indústrias estão em polvorosa. Segundo o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Paulo Saab, os royalties cobrados pelas multinacionais pela utilização do V-chip irá encarecer em US$ 50 cada televisor produzido no país. Só o chip, custará outros US$ 4.
As indústrias buscam convencer o governo a fazer com que o V-chip seja um recurso opcional nos televisores e não obrigatório para todos os aparelhos. Os argumento das indústrias é simples: nem todos os consumidores querem ter o V-chip e gostariam de pagar por ele. No entanto, isso poderia inibir o acesso ao recurso de consumidores de baixa renda, que não comprariam o televisor com o V-chip, por ser mais caro.
O pagamento de royalties, porém, viria a ser um problema para os fabricantes de eletroeletrônicos, cujas vendas estão estagnadas há três anos. Como o Brasil produz cerca de 5 milhões de televisores por ano, o V-chip representaria uma despesa adicional para as indústrias de US$ 270 milhões, pelos cálculos da Eletros.
A reivindicação do setor é que o bloqueio de cenas de sexo e violência seja oferecido com a TV Digital, já que a meios de desenvolver o recurso dentro desta nova tecnologia. ‘Do jeito que está, no dia 01 de junho, ficará proibida a venda de televisores no Brasil caso a MP não seja prorrogada’, diz Saab.
Para este ano, a Eletros projeta que as vendas de eletroeletrônicos cresçam acima do PIB devido ao represamento da demanda desde o racionamento de energia, em 2001. Em janeiro, as vendas já foram melhores que as de janeiro de 2003, segundo uma varejista, mas haviam começado o mês de fevereiro mais retraídas.’
O Globo
‘No Brasil, classificação etária domina’, copyright O Globo, 22/02/04
‘No Brasil, a princípio, não há censura. Mas isso não significa que reações conservadoras não desencadeiem certos tipos de repressão, como aconteceu semana passada com a escola de samba Grande Rio. Para evitar polêmica com setores da Igreja, a escola decidiu cobrir alegorias mais sensuais do carro ‘Kama Sutra’ no seu desfile desta noite.
Na área audiovisual, antes de chegar às telas, filmes e programas de televisão têm que passar pelo Departamento de Classificação Indicativa do Ministério da Justiça para a determinação etária das produções. A classificação é baseada no Estatuto da Criança e do Adolescente e o grupo de classificadores é formado por funcionários públicos.
Na TV, as novelas são um caso à parte. A classificação acontece com base na sinopse, mas como se tratam de obras suscetíveis a mudanças durante o caminho há monitoramento eletrônico diário. Se houver problemas, o canal responsável recebe uma advertência. Foi o que aconteceu com a novela ‘Kubanacan’, da Rede Globo, que era exibida às 19h, horário considerado livre, mas, num certo momento, passou a mostrar muitas cenas de violência.
Uma novela que teve que mudar de faixa etária no meio do caminho foi ‘Mulheres apaixonadas’, que passou da classificação livre para a de 12 anos. ‘Celebridade’ começou com 12 anos mas foi reclassificada para 14 anos e hoje só é exibida depois das 21h.
Paralelo ao sistema de classificação, o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana da Câmara dos Deputados, em Brasília, vem promovendo uma campanha contra a baixaria na televisão batizada de ‘Quem financia a baixaria é contra a cidadania’, que tem até um site (www. eticanatv.org.br.), no qual os espectadores podem opinar sobre os programas mais polêmicos da TV. A idéia não é censurar, explicam os organizadores, mas sim alertar.
– O objetivo da campanha é melhorar a qualidade das emissoras para que respeitem a dignidade humana – diz o deputado Orlando Fantazzini (PT-SP), líder da campanha, que é contra o atraso técnico das transmissões ao vivo usado como um recurso punitivo. – Para tentar evitar esses abusos, sou a favor de instrumentos fiscalizadores. Com o atraso, todo mundo é penalizado e não só quem errou.’
PUBLICIDADE CONTROLADA
Agência Câmara de Notícias
‘Propagandas que estimulam sexo podem ser proibidas’, copyright Agência Câmara de Notícias, 19/02/04
‘A exibição de propagandas com cenas que estimulam o abuso e a liberdade da sexualidade poderá ser proibida entre 17 e 24 horas, se aprovado o Projeto de Lei 1622/03, do deputado Almeida de Jesus (PL-CE).
Pela proposta, que está tramitando na Comissão de Seguridade Social e Família, a emissora de televisão que desobedecer à determinação deverá pagar multa de até R$ 20 mil por cada vez que o anúncio for veiculado. No caso de reincidência, a punição será acrescida de um terço.
O projeto proíbe ainda o poder público de patrocinar essas peças publicitárias, mesmo que sejam campanhas para o turismo, o controle de drogas, a discriminação e o uso e a distribuição de preservativos. Os órgãos públicos também serão punidos, pois estarão cometendo crime contra a administração pública se não cumprirem as regras. ‘Os anúncios publicitários que associam determinado produto a imagens de cunho ERÓTICO distorcem completamente o real propósito da propaganda, ao causar falsa interpretação a respeito das potencialidades do bem anunciado e ludibriar o telespectador’, explica o autor.
A proposição está apensada ao PL 5269/01, que também está sendo analisado pela Comissão de Seguridade Social, onde tem como relator o deputado Guilherme Menezes (PT-BA). As Comissões de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática; e de Constituição e Justiça e de Redação ainda avaliarão a proposta, que seguirá para o Plenário se for aprovada.’