Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

José Carlos Abrantes

‘1. O leitor Silva Pereira escreveu ao provedor ‘Já não é a primeira vez que não consigo encontrar, na edição online do Diário de Notícias, quer os artigos de opinião de Vasco Graça Moura, às quartas-feiras, quer os de João César das Neves, às segundas-feiras. Seria possível que o jornal desse uma justificação para esse facto?’ Perguntei ao director que resposta a dar ao leitor. António José Teixeira respondeu ‘Posso pedir desculpa. Há demasiados erros na nossa edição on-line. Estamos a trabalhar numa nova edição, que esperamos mais eficaz.’ Um director pedir desculpas a um leitor não é inédito. Mas trata-se de um gesto profissional distante da velha atitude, useira e vezeira no jornalismo como noutros domínios, de querer tapar o Sol com uma peneira. Um leitor, Nuno Barradas, em Dezembro, escreveu que nunca vira os jornalistas reconhecer os erros. Há uma frase por vezes citada que reflecte esta descrença no comportamento dos jornalistas ‘Errar é humano, persistir no erro é jornalismo.’ A atitude do director mostra que este aforismo está, felizmente, ultrapassado, pelo menos no novo DN.

2. Um outro exemplo é o da Tribuna Livre de dia 30 de Janeiro. Depois de uma notícia sobre um espancamento na Casa do Gaiato que ocupou destaque na primeira página, o DN incluiu três cartas de leitores que reagiram ao tratamento noticioso ‘Não foi bonito o espaço excessivo dado à agressão do aluno da Casa do Gaiato’, opinou Manuel Baptista, leitor de Cascais. Os leitores José da Cruz Santos e José Duque preferiram sobretudo realçar a boa organização e o mérito da Casa do Gaiato, o que o leitor citado também fizera ‘O DN, sendo muito mais antigo, não poderá nunca igualar o benemérito serviço da Casa do Gaiato.’ António José Teixeira explicou que ‘o nosso critério sobre a Casa do Gaiato baseou-se na convicção de que maus tratos infligidos a crianças e jovens devem ser valorizados enquanto denúncia pública. Acresce que o caso aconteceu numa instituição destinada à protecção de crianças e jovens em risco, o que o torna ainda mais pertinente. O espancamento foi relatado por uma testemunha credível, funcionária pública, que deu a cara pelo que observou e o comunicou às autoridades. Um testemunho raro. Habitualmente, poucos aceitam dar a cara. Naquele mesmo dia ouvimos também o responsável pela Casa do Gaiato, que confirmou que o funcionário em causa ‘talvez tenha exagerado’. Ouvimos ainda o juiz responsável por um grupo de acompanhamento da instituição. Aliás, como é público, há antecedentes na denúncia de irregularidades e maus tratos na Casa do Gaiato.

Se me permite, o zelo pelos cuidados dispensados aos mais desprotegidos da nossa sociedade não nos fica mal, deve é responsabilizar-nos mais’.

Estas razões não podem ser subestimadas. É essa a missão do jornal, sendo apenas possível matizar, como faz o leitor Manuel Baptista, que não questionou a notícia, apenas considerou que ‘há outras páginas para informar sem ‘matar’.

3. Outro erro foi corrigido de modo mais justo do que é habitual na imprensa. Na Tribuna Livre do dia 26 de Janeiro, corrigiu-se o nome de Idália Moniz, a quem havia sido atribuído outro apelido. E a correcção não se ficou pelo texto foi publicada novamente a fotografia usada no dia anterior. É melhor não errar, mas corrigir de forma equivalente ao erro é de louvar.

4. Pode ver-se que esta atitude desponta aqui e além nos media. Na noite das eleições houve o atropelo da declaração de Manuel Alegre pela declaração do primeiro-ministro, José Sócrates, bem como da declaração de Jerónimo de Sousa, cortada pela saída de Cavaco Silva da sua residência. No dia seguinte, o director da SIC Notícias veio reconhecer a responsabilidade das televisões, pois foram estas que tomaram a decisão editorial de porem uns no ar retirando outros. O que importa, neste caso, é que os jornalistas reconhecem que falham, discutem os seus critérios, encaram, publicamente, a possibilidade de outras decisões serem mais acertadas ou, pelo menos, possíveis.

5. Neste enquadramento assume também alguma importância a coluna de opinião que os profissionais dos media assinam à sexta-feira neste jornal. É um terreno vital para os leitores compreenderem melhor a narração jornalística e os contextos mediáticos em que estão permanentemente mergulhados.’