A BBC e o Wall Street Journal se estranharam por conta de um artigo opinativo sobre o seqüestro de Alan Johnston, correspondente da rede britânica. O jornal americano publicou um texto, assinado pelo membro do conselho editorial Bret Stephens, onde a BBC é acusada de ‘falhas de prudência e discernimento’ que teriam colocado a vida do jornalista ‘em perigo’. Fran Unsworth, chefe de reportagem da BBC, classificou o artigo do Journal de ‘uma peça jornalística grosseira’.
Alan Johnston foi levado por homens armados na Cidade de Gaza, em 12/3. Desde então, não se teve notícias de seu paradeiro. Apesar de um grupo palestino ter assumido a responsabilidade do seqüestro, as investigações não foram conclusivas. A Autoridade Palestina diz ter informações de que o jornalista continua vivo.
Sob o título ‘O destino de um repórter’, o artigo do Journal afirmava que a rede ‘pareceu agir na Autoridade Palestina com um senso de impunidade política’, e que deve ‘ter se sentido relativamente confortável colocando o senhor Johnston em um lugar onde nenhuma outra agência de notícias ousava ir’. ‘Agora, podemos apenas rezar para que o senhor Johnston seja libertado com segurança. Mais tarde, a BBC poderá se perguntar se suas próprias falhas de prudência e discernimento colocaram a vida de seu repórter em risco’, concluiu Stephens.
Lembrando Daniel Pearl
A BBC reagiu na mesma moeda, citando o seqüestro e assassinato do jornalista do Journal Daniel Pearl, no Paquistão, em 2002. ‘Além da falta de solidariedade exibida pelo Wall Street Journal, que deve ter se feito algumas questões na época da terrível tragédia de Daniel Pearl, [as afirmações] são completamente infundadas’, afirmou Fran no sítio da rede. ‘Nós, como chefes [de Johnston], nos perguntamos repetidamente o que mais podíamos e deveríamos ter feito para protegê-lo, incluindo a questão sobre se ele deveria estar lá [em Gaza]’, admitiu, completando que, ‘entretanto, apuração jornalística não é, nem nunca poderá ser, uma atividade inteiramente segura’.
Troca de farpas
No artigo do Journal, publicado na semana passada, Stephens lembra de um incidente em 2005, quando o correspondente da BBC o emprestou seu escritório para que pudesse entrevistar um porta-voz do Hamas. ‘[Johnston] me perguntou se eu continuava a editar o Jerusalem Post. Ele parecia genuinamente ignorar a noção de que minha ex-associação com um jornal israelense não era o tipo de informação que eu gostaria de anunciar em uma sala cheia de stringers palestinos’. Stringers são jornalistas locais que trabalham para veículos ocidentais em regiões de conflito. São repórteres que vão a lugares considerados excessivamente perigosos para jornalistas estrangeiros.
‘Eu fico surpresa que um dos principais jornais dos EUA, de grande tradição, pareça acreditar que o desejo de fornecer reportagens em primeira mão ao público, em uma história de grande importância, seja mais uma iniciativa tola ou complacente do que a função do jornalismo’, alfinetou Fran. Informações de Leigh Holmwood [The Guardian, 29/5/07].