Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

La Nación e o ‘mal-estar’ entre Brasil e Argentina

A matéria ‘Cristina Kirchner recibe al presidente brasileño em la Casa Rosada’, publicada pelo periódico argentino La Nación (23/4) dá conta de um ‘mal-estar’ político que existe entre o Brasil e a Argentina (leia-se, entre o governo do presidente Lula e a administração da presidente Cristina (Fernández) Kirchner). Se refere, entre outras coisas, ao ‘posicionamento de interlocutor regional com o resto do mundo’ assumido pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva.

De fato, me parece muito pertinente que o governo argentino se sinta ‘invadido’ pelo governo brasileiro quando este, sem consultar o primeiro, resolve intervir no sentido de buscar estreitar os laços entre Argentina e Estados Unidos, na 5ª Cúpula das Américas realizada em Trinidad y Tobago este mês.

O presidente do Brasil, bastante sagaz, tem se notabilizado no cenário internacional como o grande líder da América Latina. É interessante como países da Europa, Estados Unidos e outras nações lhe ‘rendem homenagens’ neste sentido. Ao acompanharmos os noticiários destes países em assuntos pertinentes à região latino-americana, quando não encontramos as tentativas de desqualificar as administrações de Cuba e da Venezuela, vemos, ao contrário, uma supervalorização do governo Lula, colocando-o como exemplo.

E as iniciativas?

Como brasileira, ficaria feliz se, de fato, o nosso país e a administração realizada pelo presidente Lula fossem exemplos tais como querem essas nações e suas respectivas mídias. Mas, ao contrário, me causa indignação e sensação de impotência, ao ver como esses discursos são disseminados e, pior, assimilados pela maioria dos brasileiros – bem como por uma parcela da comunidade internacional. Indignação pelo fato de perceber, aqui no Brasil – apesar de todos os discursos favoráveis –, como a nossa sociedade carece de um governo realmente preocupado com o destino de seus cidadãos.

Ao assistir à edição do dia 23/4 do programa jornalístico matinal da TV Record, o Fala Brasil, senti-me tão indignada e ultrajada por pagar uma fortuna em impostos e ter que ver os meus pares tratados como lixo nos hospitais públicos administrados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Foi mesmo ultrajante ver como pessoas – inclusive, idosas – que buscavam atendimento na rede pública de saúde foram desrespeitadas, ignoradas e até agredidas pelos prepostos de um Estado que geralmente costuma dar o ‘ar de sua graça’ com o braço da violência.

E o que está fazendo a administração do presidente Lula? Onde estão as iniciativas governamentais para sanar questões tão graves quanto a que mostrou muito bem hoje a Rede Record (exceto quando no comentário final, o âncora Celso Freitas apelou para o juramento hipocrático, como se os médicos tivessem culpa de tal situação)?

‘Assessoria’ de governos de plantão

Este é somente um exemplo do caos que se instala no Brasil. Poderíamos relatar a situação desastrosa da Segurança Pública, por exemplo – reflexo da falta de investimento em setores cruciais como Educação, Habitação, Esporte e Lazer, entre outros –, mas este não é o nosso objetivo neste momento.

A matéria do jornal La Nación serve como um alerta – pelo menos para alguns: o presidente Lula deveria estar muito mais preocupado em buscar soluções para os problemas graves que enfrenta a sociedade brasileira, como os da área de saúde, concentrando suas energias e ações governamentais neste sentido, em vez de querer firmar-se como protagonista na América Latina ante o cenário internacional.

Nossa mídia, por sua vez, necessitaria realizar uma cobertura mais crítica acerca destas questões; deixar de atuar como uma espécie de ‘assessoria’ dos governos de plantão, dando à sociedade certos subsídios para que esta tenha condição de refletir de maneira menos superficial a respeito de questões que lhe dizem respeito.

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Doutora em História da Comunicação pela Universidad Complutense de Madrid, professora da Faculdade 2 de Julho e da rede estadual de ensino, em Salvador, BA