Li neste Observatório um artigo que me deixou no mínimo intrigada.
Escrito por Adriano Degra, estudante de Jornalismo, o texto ‘A
lavagem cerebral nos jovens‘ falava em alienação de telespectadores do
programa, em imposições da sociedade e outros fatores que justificam tal
argumento.
Como alguém que assistiu o programa desde muito cedo, desde sua primeira
versão, quando era ainda um experimento, e que vez ou outra ainda dá uma olhada
na TV para ver o que se aproveita, achei por bem escrever algo sobre o
assunto.
Malhação foi uma tentativa de experimentação de um novo formato de
dramaturgia, semelhante às soap operas americanas, em que não há uma data
de término. Em função disso, elenco e cenários são constantemente renovados,
seguindo números de audiência e anseios de público-alvo, também servindo como
porta de entrada para novos atores.
O programa, que já reinou absoluto durante as tardes, agora passa por uma
crise nos números, impulsionada pela concorrência de outras emissoras e mesmo
devido à repetitividade dos enredos escolhidos, também sofrendo pela crise das
mídias. E, como a TV em geral, sofre acusações relacionadas à alienação de seu
público etc.
Gravidez precoce e o ‘ficar’
Não vou negar o fato de o programa apresentar problemas em suas histórias,
mas não seria certo falar que ele só retrata as classes sociais mais abastadas.
Muito já foi falado em termos de valores e crises financeiras e famílias mais
pobres, até em núcleos principais.
Também não é simplesmente uma novelinha com assuntos e tramas fúteis. Durante
anos foi o programa que mais teve inserção de merchandising social e dos
mais diversos temas, desde alcoolismo, uso de drogas, doping,
bullying, Aids, gravidez precoce e até invisibilidade social, servindo
como veículo de conscientização.
Talvez seja irreal usar o argumento de que eles refletem imagens erradas
sobre os adolescentes falando em gravidez precoce. O fenômeno existe muito antes
do nascimento do programa, assim como o ‘ficar’ dos adolescentes.
Argumentos vazios
Malhação não era pior que o fenômeno Rebeldes. O programa não é
somente feito de maus exemplos e nem de coisas cuja concordância, existência e
origem sejam duvidosas. No máximo pode ser considerado algo repetitivo, e que
precisa de reformulações no que diz respeito aos núcleos principais.
Polêmicas de nível anti-Globo minimizam a discussão, fornecendo argumentos
vazios. Discussões sérias ocorreriam caso as razões fugissem daquilo que parece
ser algo pessoal contra a emissora. Para falar do assunto, é preciso sair do
âmbito teimoso de anti-fã e procurar pontos individuais de questionamento, caso
contrário todo texto e toda crítica será vazia.
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Jornalista, São José do Barreiro, SP; criadora do blog Limão em Limonada