Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Legado de um militante pela democratização da comunicação

Morreu em Porto Alegre, na terça-feira (30/5), aos 51 anos de idade, vítima de câncer, o jornalista Daniel Herz, personalidade histórica na luta pela democratização dos meios de comunicação no Brasil. Cidadão absolutamente político e visionário, Herz encabeçou, enquanto viveu, todas as questões nacionais sobre comunicação. No capítulo da Constituição Federal de 1988, esteve à frente na composição das propostas para o setor. Foi um dos idealizadores do Conselho de Comunicação Social e principal negociador da Lei de TV a Cabo.

Um dos principais líderes da história da democratização das comunicações, Daniel Herz esteve sempre à frente em idéias, produzindo inteligência incessantemente, através de fundamentos teóricos. Projetava uma sociedade autônoma, capaz de propor soluções para suas próprias demandas. Trabalhava com a idéia de controle público, com a qual buscava formas de trazer para a arena pública o debate e sobre o domínio dos meios de comunicação, e de estabelecer a interlocução entre o Estado e o setor privado, capaz de incluir os cidadãos brasileiros no acesso a uma informação plural. Critico e autocrítico, planejou e reformulou seus próprios projetos, sempre que necessário, com vistas ao avanço da democratização da comunicação. Foi um dos fundadores do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC). Travou luta extensa por uma comunicação mais justa e igualitária e deixa, por todo o Brasil, centenas de colegas, admiradores, que hoje lamentam sua partida.

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Celso Augusto Schröder, coordenador geral do FNDC – Hoje, com o distanciamento de um dia, podemos dizer que o Daniel fundou o debate da democratização da comunicação. Aos 20 anos de idade, ele percebeu que a comunicação era um elemento essencial para a democracia. E a ausência da democracia na comunicação comprometia a democracia do País. Ele é um marco fundante. Tenho que a ausência do Daniel causará a necessidade de uma enorme quantidade de pessoas engajadas nessa luta, com muita vontade para suprir esse misto que ele tinha de elaborador e militante, sempre tendo como referência a realidade. Poucos teóricos no Brasil tiveram essa militância que ele teve e poucos militantes tiveram a vivência de produção teórica.

Pedro Luiz Osório da Silveira, jornalista, professor – Levo do Daniel uma herança que não se pode sintetizar em palavras. Era uma das pessoas mais indignadas que eu já conheci, uma das pessoas que mais respeitava o ser humano. Conhecia a condição humana e, um amigo e companheiro, porque lutava com a gente, era solidário. Porque dividia o pão com a gente, muitas vezes. E cada um dos que estão presentes aqui, eu acho, tiveram respeitava as peculiaridades, mas estava sempre a exigir que fôssemos melhores. Era um camarada as suas vidas modificadas depois que conheceram o Daniel, pela força do seu caráter, pela sua retidão e pela dedicação com que ele se jogava, em todas as tarefas, em todas as dimensões.

Sérgio Murillo, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas – O Daniel vai fazer falta para a Fenaj. Foi um diretor que prestou uma importante contribuição para a entidade. Era solidário, ajudava em todas as situações. Sua ausência dificilmente vai ser preenchida. Eu li, na semana passada, alguma coisa assim: ‘A melhor maneira de viver os últimos dias ainda é no combate’. E foi isso que o Daniel fez. Combateu até o fim. E nos resta reconhecer e seguir naquilo que ele nos deixou, no seu conhecimento.

Murilo César Ramos, jornalista, professor da UnB – Eu tive um privilégio na vida, que foi ter iniciado minha carreira acadêmica pós-doutorado, numa circunstância do destino que foi decisiva para mim, em que eu orientei a tese de mestrado do Daniel. E assim eu conheci o Daniel Herz. Numa condição que até hoje eu não sei se eu fui orientador dele ou se ele me orientou. Porque a partir dali, daquele trabalho que nós fizemos juntos, que gerou a dissertação dele, pela Universidade de Brasília, que gerou o livro História Secreta da Rede Globo, que é o primeiro capítulo da dissertação de mestrado dele, talvez eu tenha passado a orientar o meu trabalho acadêmico, e que foi feito sempre ao lado dele e com ele, na militância do movimento pela democratização da comunicação, no período da Constituinte, em 1987, 1988, na histórica jornada da TV a Cabo, mais recentemente, e todas as jornadas posteriores e atuais, então eu devo, como pessoa e como acadêmico, muito ao Daniel, apesar de, na aparência, ter sido uma relação em que eu seria o orientador e ele o orientado. Eu tenho um carinho enorme pelo ser humano, pela pessoa que o Daniel era. Ter sido amigo do Daniel, é uma das circunstâncias da minha vida que eu vou guardar com mais carinho no meu coração.

Berenice Mendes, cineasta – Sinto-me comovida, quero apenas lembrar um pouco mais de nosso amigo: lembro-me dele indignado, rosto vermelho, fala gaúcha, lúcida, justa, ética, irônica, inteligente, assustando todos – até nós – na defesa da soberania brasileira, dos direitos democráticos e de um desenvolvimento econômico não troglodita, não predador – e lembro-me também do seu sorriso, para nós sempre era doce, de força, incentivo, cumplicidade, acolhimento e aceitação. Saudades de Daniel Herz, que ele esteja na luz!

Christa Berger, jornalista e professora – Conheço o Daniel há muitos anos, desde sempre. O admirava, nesta luta contra a doença, assim como em sua trajetória pessoal foi exemplo de coragem, foi racional, foi ético. Uma pessoa rara. Enfrentou todas as boas brigas, pensou as grandes questões em sua área, talvez um dos motivo para o sofrimento que vemos entre as pessoas. Ele era imprescindível para a comunicação do país. Se foi muito jovem, fará falta, mas hoje eu choro a perda do meu amigo.

Gustavo Gindre, jornalista – Seria uma hipocrisia se eu não assumisse nossas discordâncias e o afastamento nos últimos anos. Apesar disso, tenho o dever moral de reconhecer que Daniel foi um dos três mestres que tive na minha formação acadêmico-militante… Conheci o Daniel ainda como estudante, mas nosso contato aumentou muito dentro do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (a grande paixão do militante Daniel Herz). Questões como a digitalização, o cenário de convergência tecnológica e o inovador conceito de ‘rede única e pública’ foram vistos por ele antes de qualquer outro no Brasil. De Daniel vou guardar a indignação (sem jamais perder a educação), o humor discreto, a dedicação germânica ao trabalho, a inteligência arguta e o desprendimento com que largou a herança empresarial da família para se dedicar à democratização da comunicação. Foi uma honra tê-lo conhecido e tenho certeza que sua jornada não terminou.

Airton Kanitz, jornalista – Acompanhei de perto alguns momentos da trajetória do Daniel, principalmente na universidade. Acho importante neste momento, não qualquer homenagem, que isso é de cada um, mas justiça, o reconhecimento pelo que ele fez pelo país, dedicando toda sua vida a luta pela democratização da comunicação. Sem dúvida o grande brasileiro dedicado a esta causa.

Olívio Dutra, ex-governador do Rio Grande do Sul, ex-ministro das Cidades – O Daniel é um lembrança indelével na memória dos lutadores sociais do Brasil. Um bom combatente, lutou pela democracia, pela informação plural, contribuiu enormemente para a liberdade da informação. O Daniel tinha uma dimensão política e humanística e por isso é uma perda que buscaremos compensar com a continuidade da boa luta.

Santiago, cartunista – Me dedico ao jornalismo há cerca de 33 anos. Eu acho que o Daniel é um cara que vai fazer muita falta, porque a luta dele na democratização da comunicação é uma luta muito importante, que cada vez vai ter que haver mais gente nesta parada. O Daniel era uma pessoa foi um excelente presidente do Conselho da TVE, do qual eu faço parte. Um cara muito democrata, conduzia muito bem as reuniões. Era uma pessoa admirável, principalmente pela luta política e pela luta pessoal dele. Foi um calvário que eu me comovo quando lembro de tudo que ele passou.

Victor Necchi, professor de jornalismo – Acho que a grande marca do Daniel, e o que faz todo mundo lamentar muito a perda dele, é uma composição rara, cada vez mais, hoje em dia, que é de um profundo conhecimento, profundo talento e sabedoria, aliado a um caráter completamente íntegro, uma permanente indignação, num mundo que é cada vez mais complexo e cada vez mais embrutecido. O Daniel conseguia aliar a sua sabedoria, o seu conhecimento e o seu talento com uma garra solidária, com uma compulsão para tornar esse mundo – e abusando de um clichê – cada vez melhor, cada vez mais solidário. Daniel é daquela linhagem de homens que marcam sua época, marcam sua geração, não só numa perspectiva profissional, mas numa perspectiva absolutamente pessoal e subjetiva também.

Airton Centeno, jornalista – Eu conheci o Daniel quando eu fui professor na Universidade Federal de Santa Catarina, nos anos 80. O que chama a atenção na trajetória do Daniel, além da coragem demonstrada ao logo da vida, é a contínua batalha para desatar um dos nós gorgeos da democracia no Brasil. O Daniel sempre trabalhou pela democratização da comunicação, partindo do pressuposto de que sem um maior controle público da mídia é impossível ter uma plena democracia no Brasil. A batalha do Daniel, durante todo o tempo, foi para transformar isso. Essa é uma luta que continua, além dele, e com um destino incerto. Mas que deve ser lutada e ele fez isso muito bem.

Beth Costa, Fenaj – Acredito que qualquer palavra para definir o Daniel vai ser sempre muito pouco. Ele vai ser sempre lembrado como um grande amigo, um grande jornalista e um mestre para muitos de nós, não só na maneira como ele se comportou intelectualmente em relação aos grandes temas nacionais, mas como uma grande lição de vida. Foi uma pessoa que nunca negou doar. Muito. Do que ele podia e do que ele sabia.

Valci Zucolotto, jornalista e professora – Lá na Universidade de Santa Catarina, onde ele foi professor, ele deixou muitos amigos. Nós perdemos nosso amigo, nosso companheiro, colega. Perdemos nosso líder, porque o Daniel era para tudo um amigo muito querido. Em termos de militância política, militância sindical, ele foi um grande guerreiro, um grande professor. Grande em tudo, ele foi. E ele vai ficar com a gente, porque ele deixou uma obra e a gente vai estar sempre junto com ele através desta obra.

Elmar Bonés, jornalista – O Daniel Herz é uma figura insubstituível, principalmente nesta luta pela democratização da comunicação no país. Ele empreendeu isso há muitos anos, eu acompanho desde o início, desde que ele se formou. A tese dele, de formatura, já foi neste sentido, o tema dele era a questão dos monopólios, das estruturas oligopolistas de comunicação. E durante todos estes anos ele batalhou inflexivelmente por isso, e nos últimos anos com muito sacrifício pessoal, por causa do problema seriíssimo de saúde. Então, eu diria que o Daniel é um mártir dessa coisa. Uma figura que não tem substituição, uma grande perda para todos que batalham nesta área. Uma referência que se perde.

Coletivo de comunicação Intervozes – O jornalista Daniel Herz é uma das principais referências, senão a maior, para toda uma geração de jovens militantes – dos quais vários(as) integram hoje o Intervozes – que abraçaram a luta pela democratização da comunicação. Era conhecido e respeitado pelo vigor com que defendia suas idéias e posições, sempre fundamentadas de forma densa e qualificada. Destacou-se, sobretudo, como militante incansável e formulador de propostas de políticas públicas voltadas à democratização da comunicação. Atuou fortemente na batalha da Constituinte de 1988 e, anos depois, na mobilização em torno do processo de elaboração da Lei do Cabo. Dedicou muita energia à construção do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e fundou o Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação (Epcom).

Odilon Lima, jornalista – Daniel Herz, homem de família nobre, poderia estar vivendo muito feliz e despreocupado com as coisas do mundo, com as realidades dos excluídos da terra. Fez uma opção por estar na luta pela democratização da comunicação no nosso país. Daniel da visão futurista da internet, Daniel da luta por uma nova lei para reger as comunicações no país, da Lei de Informação Democrática, emperrada no Congresso Nacional até hoje. Daniel do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, amigo e companheiro de muitos de nós que sonha com o Brasil vendo a comunicação como um direito humano e não uma mercadoria.