George Sanguinetti voltou a rebater as críticas às suas qualificações profissionais. Em mensagem enviada a este jornalista, o médico alagoano acrescentou uma informação que parece ser desconhecida do público (não foi citada nem mesmo pelo próprio Sanguinetti na entrevista a este Observatório): ‘Fiz centenas de necropsias no Instituto Médico Legal Estácio de Lima na época em que era professor auxiliar’, afirma o professor da Universidade Federal de Alagoas no novo texto encaminhado.
Depois de conceder entrevista respondendo a questões polêmicas, parte delas aventadas pelo jornalista Joaquim de Carvalho em artigo publicado neste Observatório, o médico George Sanguinetti, professor de Medicina Legal da Universidade Federal de Alagoas encaminhou espontaneamente a este articulista o que diz considerar ser uma série de outros importantes esclarecimentos sobre a sua carreira como legista.
Crítica ao laudo necroscópico
No site da Associação Brasileira de Medicina Legal (ABML), lêem-se estas informações acerca de Sanguinetti, em uma nota de esclarecimento: ‘Não é, nunca foi médico legista em nenhum estado brasileiro; (…) Nunca realizou exame necroscópico ou de lesões corporais em qualquer IML do Brasil.’
Ex-repórter da revista Veja, Joaquim de Carvalho afirmou o seguinte sobre o trabalho do alagoano:
‘Um detalhe curioso: na época do caso PC, Sanguinetti dizia coisas absurdas. Aí, eu fui ao Instituto Médico Legal de Alagoas e pedi para que me informassem quantas necropsias ele já havia feito lá. Sabe o que me responderam, por escrito? Nenhuma. Ele havia feito dois exames de corpo de delito e esse tipo de exame pode ser feito por qualquer médico, na ausência de um legista. Já a necropsia, por lei, só o legista pode fazer. Como Sanguinetti não era legista, nunca tinha feito uma necropsia.’
Na mensagem que se segue, Sanguinetti diz ter feito ‘centenas de necropsias no Instituto Médico Legal Estácio de Lima’, na época em que era professor-auxiliar.
Contratado pelo casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, ambos suspeitos do assassinato da menina Isabella Nardoni, Sanguinetti também voltou a criticar o laudo necroscópico produzido pela equipe de peritos paulistas.
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A mensagem de George Sanguinetti
‘Gostaria de esclarecer que o CRM (Conselho Regional de Medicina) de Alagoas certifica que sou especialista em Medicina Legal, ou seja, médico-legista, de acordo com resolução do Conselho Federal de Medicina 998/80 que registra no livro número 14, às folhas 054, sob número 1273, minha qualificação nesta especialidade e emitiu certificado com validade por tempo indeterminado.
Além disso, para os que não sabem, fiz centenas de necropsias no Instituto Médico Legal Estácio de Lima na época em que era professor auxiliar, basta ter um pouco de trabalho e procurar nos arquivos. Muito mais fácil é falar sem conhecimento de causa e tentar desacreditar as pessoas emitindo críticas pessoais e não ao trabalho.
Aproveito o ensejo e envio alguns escritos sobre equívocos no Laudo Oficial do caso Isabella Nardoni:
1.
Conclui a causa da morte asfixia mecânica por esganadura, ocorrida no sexto andar do Edifício London, e politraumatismo, após a precipitação.Não houve esganadura porque não havia evidências externas (escoriações, marcas ungueais em redor do pescoço, equimoses etc.), nem internas. O hióide, as cartilagens da tireóide, laringe, faringe, túnica interna das carótidas estavam íntegras. A asfixia foi conseqüência do politraumatismo, quer por ação central no encéfalo (centro respiratório no bulbo), como por intensa embolia gordurosa que reduziu a microcirculação pulmonar.
Quando há esganadura os níveis de tireoglobulina ficam significativamente altos, mas não dosaram. Não pesquisaram digitais latentes no pescoço da vítima com vapores de ácido ósmico, ou outro método.
E o pior, a fotografia anexa ao laudo onde o pescoço de Isabella é visível aparece coberto por uma placa de identificação, não permitindo a inspeção do pescoço. Conduta atípica, estranha. Este não é o local de colocar placa de identificação. Qual a finalidade da placa no pescoço de Isabella? (ver página 14 do laudo necroscópico, página 640 dos autos);
2.
Registraram os peritos que as fraturas no ramo isquiático (bacia) e fratura distal do rádio (punho) à direita não foram conseqüências da precipitação do sexto andar, e sim resultantes de violência no interior do apartamento (página 11 do parecer médico-legal, página 1173 dos autos), ou seja, alguém jogou Isabella de altura considerável dentro do apartamento e produziu as fraturas. Outro erro.Não há lesões externas no corpo da vítima que seja compatível com fraturas no sexto andar (interior do apartamento). E não foi apresentado pontos de impactação, epitélio, material orgânico no assoalho que permitisse esta afirmação. Obrigatoriamente teria que haver contusões nas extremidades, nos membros para embasar da possibilidade.
Necessário citar que a energia liberada pelo impacto no solo é de 4.400 joules, e no interior do apartamento, se jogada com violência, seria aproximadamente de 47 joules. É só calcular a energia. A fórmula é simples E=mgh, m = peso de Isabella, g=aceleração da gravidade em m por segundo e h= altura do sexto andar (aproximadamente 20m).
Claro que as fraturas foram conseqüência da precipitação do sexto andar.
3.
Outro erro cometido pelos senhores peritos. Ao responder quesitos à delegada em documento equivocadamente chamado de parecer médico-legal, acrescenta lesões que não estavam relatadas no exame cadavérico. Se não houve exumação, se o laudo cadavérico contém por metodologia todas as lesões existentes, como ocorreu o acréscimo (vide página 1173 dos autos)?4.
Questões relevantes:** Luminol não comprova sangue e não dá recenticidade. É método sugestivo. As pretensas manchas de sangue no carro não têm existência legal (comprovação por DNA). Não houve episódio de violência no carro.
** As lesões em torno da boca e língua resultaram das manobras de massagem cardíaca, reanimação, entubação, uso de Ambu.
** A perícia de local com o luminol encontrou sangue na faca. Não havia ninguém ferido por faca, claro que foi reação do luminol com resíduo de carne, galinha, detergente, dando falso positivo.
** Depoimento do porteiro: ‘Vê carro entrando na garagem, mas não sabe de quem é; os sensores da cerca elétrica do edifício não estavam instalados. A cerca elétrica nunca foi ativada!’
** Vistoria do local realizada pelo tenente pedófilo que cometeu suicídio. [Ele] disse que revistou todos os apartamentos possíveis (?) e os que tiveram autorização dos moradores.
** O edifício London é de fácil acesso, vulnerável. No interior do edifício há vários locais para não ser visto. Na parte posterior, muro de fácil acesso a terreno baldio, construção civil em andamento, etc.
** Cópia da chave é uma possibilidade real.
Maceió, 24 de junho de 2008. George Sanguinetti.’
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Jornalista