Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Leila Cordeiro

‘A novela Celebridade não deixa de ser uma crítica ao próprio meio televisivo. Na trama, que bem poderia ser chamada de Vale Tudo II (tal a semelhança com a novela do mesmo autor, Gilberto Braga, nos anos oitenta), os vilões jogam pesado para conseguir poder e dinheiro, nem que para isso seja necessário roubar, chantagear, caluniar, fingir, ameaçar, enfim tudo de ruim que um ser humano decente não deve fazer na vida. Os ingênuos querem ser famosos a todo custo e tornam-se ridículos com tentativas fracassadas para conseguir alguns poucos minutos de fama. O fato é que a novela, mesmo não sendo lá muito educativa, agrada aos telespectadores e garante a audiência da emissora, já que a receita é infalível e mexe com a cabeça das pessoas. Afinal, quem não gostaria de tornar-se uma celebridade da noite para o dia?

Pois não é que um garoto americano de 13 anos, Tyler Crotty, morador da Florida, conseguiu a façanha sem ter que fazer praticamente nenhum esforço. Tudo que fez foi bocejar várias vezes, fazer exercícios de alongamento no pescoço, olhar o relógio de pulso e demonstrar cansaço e enfado. Isso não seria nada demais, não estivesse ele imediatamente atrás do presidente Bush num palanque de campanha na cidade de Orlando. Com o discurso do presidente transmitido em todos os noticiários, a imagem do bocejador insaciável (de boné na cabeça com a letra W ) espalhou-se de costa a costa dos Estados Unidos e ganhou o mundo, foi vista até nos noticiários brasileiros.

As imagens estão realmente entre as coisas mais engraçadas que a TV mostrou ultimamente. Tyler roubou a cena e ninguém prestou atenção no que o presidente dizia. Parecia uma montagem tal a espontaneidade dos gestos do garoto. Ele virou celebridade de hora para a outra e acabou convidado para o programa de David Letterman, o mais popular apresentador de talk show da televisão americana. Na entrevista, Tyler disse que não sabia que estava sendo filmado e que tinha dormido cedo na noite anterior, mas acabou cansado de ficar tanto tempo de pé (ou o culpado seria o orador?). O fato é que Bush mandou uma carta para o pai do garoto, minimizando o fato e confessando que o discurso ficou mesmo maior do que ele esperava.

Outro que ficou famoso sem querer foi um torcedor do Chicago Cubs, tradicional equipe de beisebol americana. Num jogo em casa, já numa fase decisiva, o torcedor da arquibancada esticou o braço e segurou a bola impedindo que o jogador de seu time prosseguisse a jogada. Resultado, o time foi eliminado da disputa e o lance decisivo foi notícia em toda a mídia americana no ano passado. O desastrado torcedor ficou muitos dias sem sair de casa, com proteção da polícia pois estava ameaçado de linchamento. Dizem até que mudou-se da cidade.

No Brasil, lembro de uma freirinha que virou celebridade ao furar o bloqueio da segurança para chegar perto do Papa João Paulo II, durante a visita que ele fez ao país em 1980. A religiosa ganhou evidência e foi notícia e foto de primeira página em todos os jornais. Nesse caso, a fama veio sem querer, tudo que ela queria era se aproximar do seu ídolo. Ela foi ousada em nome da fé.

Tem também a história do beijoqueiro, aquele que aparecia de repente nos mais diversos lugares e beijava artistas, políticos e atletas. Ganhou fama, é verdade, mas de vez em quando era expulso e levava uns safanões de suas vítimas.

Mas voltando à história do americaninho, fica a dúvida se ele bocejou de cansaço mesmo ou se a culpa foi do orador. Se os eleitores americanos tiverem a mesma reação de Tyler, o presidente Bush corre o sério risco de não conseguir a reeleição. (*) Começou como repórter na TV Aratu, em Salvador. Trabalhou depois nas TVs Globo, Manchete, SBT e na CBS Telenotícias Brasil, como repórter e âncora. É também artista plástica e tem dois livros publicados. É colunista do site Direto da Redação.’



PRODUÇÃO REGIONAL
Maurício Hashizume

‘Conselho de Comunicação Social enfrenta empresas com parecer’, copyright Agência Carta Maior (www.agenciacartamaior.com.br), 5/04/04

‘Depois de ter sido palco do episódio em que o vice-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Darc Costa, anunciou a intenção de liberar uma linha de financiamento específica para a reestruturação de dívidas bilionárias da grandes empresas privadas do setor de comunicação social (leia: Socorro à mídia, de R$ 4 bilhões, permitirá pagamento de dívidas), o Senado Federal abrigará um novo capítulo de grande relevância para a mídia nacional.

No próximo dia 19 de abril, o Conselho de Comunicação Social (CCS) – previsto na Constituição de 1988, mas criado apenas em junho de 2002 – deve votar o parecer pela aprovação do projeto de lei 256, de 1991, da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que propõe cotas obrigatórias de programação para a produção regional e independente nas emissoras de rádio e televisão.

‘O debate sobre esse assunto trouxe, pela primeira vez, tensão política ao Conselho de Comunicação Social. O projeto da deputada Jandira é, de fato, uma tentativa formal de definir critérios para a comunicação de massa no Brasil’, afirma Geraldo Pereira dos Santos, do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Cinematográfica do Rio de Janeiro (Stic), conselheiro titular da cadeira reservada às categorias de profissionais de cinema e vídeo.

A proposta foi aprovada na Câmara em 2003 após completar 12 anos de trâmite na Casa. Ainda no ano passado, o presidente do Senado, José Sarney, atendeu à solicitação do presidente do conselho, José Paulo Cavalcanti, e encaminhou o projeto da deputada ao conselho para que este último pudesse emitir um parecer.

Apesar da rotina intensa de trabalho da instância responsável pela elaboração do parecer – a comissão de regionalização e qualidade de programação do CCS, que se reuniu cinco vezes no mês passado, ouviu 18 pessoas convidadas e recebeu mais de uma dezena de constribuições por escrito sobre o tema – , as grandes empresas do setor se recusaram a avançar em pontos cruciais da negociação e apresentaram a versão final de um substitutivo do projeto de lei em reunião realizada na terça-feira (30) passada.

‘O substitutivo apresentado pela Abert [Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão] desconsiderou as nossas propostas e foi por nós considerada mais que protelatória e acabava piorando o projeto original’, relata a coordenadora e relatora do projeto na comissão do CCS, Berenice Mendes, representante da Associação Nacional dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões (Aneate). ‘Nós chegamos a um impasse incontornável’. Para o conselheiro Santos, ‘a verdade é que os empresários não querem perder espaço algum.’

Berenice e Santos se somaram a outros quatro conselheiros – a suplente Assunção Hernandes, do Congresso Brasileiro de Cinema (CBC), Daniel Herz, da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), Francisco Pereira, da Federação Interestadual de Trabalhadores em Radiodifusão (Fitert), e Ricardo Moretzsohn, do Conselho Federal de Psicologia (CFP) – em um comunicado de resposta às propostas apresentadas pela Abert, principal interlocutora da conquista de créditos especiais no BNDES.

De acordo com o documento divulgado na reunião extraordinária do Conselho nesta segunda-feira (5), o substitutivo elaborado pelos empresários ‘piora de forma inaceitável’ em pelo menos dez pontos a proposta da deputada Jandira. Um dos principais deles, segundo Berenice, é o descumprimento da exibição de pelo menos uma obra cinematográfica ou videofonográfica nacional por semana. ‘A obrigação de exibição do cinema brasileiro e o estímulo à produção independente – duas medidas que geram emprego, criam um novo segmento de mercado nessas regiões e fortalecem a própria publicidade local – fortalecem e salvaguardam a cultura brasileira e regional, que é preocupação da Constituição de 1988’, argumenta. ‘Tem muita coisa que precisa entrar na televisão. Há quinze anos, o Congresso está devendo isso à população.’

‘A regulamentação do artigo 221 tem um alcance muito grande para a nossa população e vai ter reflexos, acreditamos, muito benéficos. Não só para a população como para artistas, técnicos, produtores, etc. Até agora, de tudo que esse Conselho já fez, esse é o trabalho mais importante’, completa a coordenadora, que pretende apresentar o relatório pela aprovação do projeto de lei até a próxima segunda-feira (12).

Pela posição do presidente do CCS, que ainda aposta em uma convergência na votação, pode se inferir que as empresas podem ser derrotadas na disputa entre os 12 membros do Conselho. ‘É importante para o país definir uma legislação que valorize a diversidade regional e apoie a produção independente. Se o projeto, porventura, não atender os requisitos técnicos e puder ser melhorado, que isso ocorra. Mas que não seja um pretexto para que o Congresso não avance na regulamentação de uma matéria tão importante como essa.’

Os dois conselheiros que representam os empresários do setor – Roberto Wagner (representante das empresas de televisão e diretor da Rede Record) e Paulo Machado de Carvalho Neto (representante das empresas de rádio e presidente da Abert) – sustentam que o projeto de lei é inconstitucional, apesar da matéria já ter sido aprovada na Comissão de Constituição de Justiça da Câmara. Nas reuniões da comissão de regionalização, Carvalho Neto sustentou que a lei criará ‘reserva de mercado para produções sem controle e sem parâmetros’ e pediu ‘garantia de preço, qualidade e audiência’ das produtoras regionais e independentes.

Fazem parte ainda, como titulares do CCS, Jayme Sirotsky – que apesar de ser presidente do conselho de administração da RBS (Rede Brasil Sul), dona de 7 emissoras de televisão, 23 emissoras de rádio, 6 jornais diários (Zero Hora, Diário Gaúcho, O Pioneiro, Diário de Santa Maria, Diário Catarinense e Jornal de Santa Catarina), é representante da sociedade civil -, Fernando Bittencourt (da classe dos engenheiros do setor) e os jornalistas Alberto Dines e Carlos Chagas. Paulo Cabral de Araújo, ex-representante das empresas de imprensa escrita e presidente do Condomínio dos Diários Associados (que controla 12 jornais, 13 canais de rádio e 7 de televisão, além de empresas de prestação de serviços, uma agência de notícias e duas produtoras de vídeo), renunciou em dezembro do ano passado do posto de conselheiro, deixando vaga a 13a cadeira de titular do CCS, já que seu suplente, Carlos Berlinck – da Editora Abril, ex-presidente da Associação Nacional Editoras de Revistas (Aner) – também renunciara quatro meses antes.

O resultado da votação será remetido ao senador César Borges (PFL-BA), relator da matéria na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa.’



ÉTICA NA TV
Márcia Schmidt

‘Ética na TV será tema de seminário internacional’, copyright Agência Câmara de Notícias, 5/04/04

‘A Comissão de Direitos Humanos e Minorias promove no próximo dia 13 o seminário internacional ‘A ética na televisão em países democráticos’. O objetivo é trocar experiências com outros países sobre o controle democrático das concessões públicas de televisão.

O deputado Orlando Fantazzini (PT-SP), organizador do seminário, é autor de projeto de lei (PL 1600/03) que estabelece o Código de Ética da Programação Televisiva. O projeto propõe criar também a Comissão Nacional pela Ética na Televisão, com competência para impor penalidades administrativas às concessionárias. A secretária nacional de Justiça, Cláudia Chagas, do Ministério da Justiça, determinou a criação de um grupo de trabalho para analisar a proposta.

O seminário ocorrerá no plenário 9.

Programação do seminário

9:00 – Abertura

Presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha

Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos

Ministro das Comunicações, Eunício Teixeira

Coordenador da Campanha ‘Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania’, deputado Orlando Fantazzini

9:30 – Conferência

‘O que significa a liberdade de expressão na TV e no Rádio?’

Eduardo Bertoni, relator especial para o direito à liberdade de expressão da Organização dos Estados Americanos (OEA).

10:30 – Painel I: Liberdade de Expressão, Ética e Controle Social

Presidente da Mesa: deputado Fernando Gabeira (sem partido-RJ)

Muniz Sodré, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Venício Arthur de Lima, professor do Instituto de Educação Superior de Brasília.

Milton Nogueira, funcionário aposentado da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido).

14:00 Painel II: As democracias ocidentais e as concessões públicas para Rádio e TV

Presidente da Mesa: deputado Dr. Evilásio (PSB-SP)

Jean-Michel Dubernard, presidente da Comissão de Assuntos Culturais, Familiares e Sociais da Assembléia Nacional da França.

Representantes da Alemanha, Espanha, Reino Unido e Canadá

18:00 Painel III: Possibilidades de um regramento ético-jurídico para a televisão no Brasil

Presidente da Mesa: deputado Gilberto Kassab (PFL-SP), presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia

Celso Antônio Bandeira de Melo, professor de Direito Administrativo da PUC/SP.

Orlando Fantazzini, deputado federal, autor do Projeto de Lei 1600/03, que institui o Código Brasileiro de Ética da Programação Televisiva e a deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), relatora do projeto.

Representante do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional

Representante do Ministério da Justiça

20:30 Sumário e Encerramento:

Presidente da Mesa: deputado Orlando Fantazzini

Laurindo Lalo Leal Filho, Ong TVER e Escola de Comunicação e Artes da USP.’